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MINUA N.

O DE MOURA

Participação nos Lucros


Problema Econômico e Social da Constitui_ão

RIO
19 50
INDI CE

Pig
Titulos
sôbre Obra anterior
Outros trabalhos do Autor ..
7
Trabalhos a publicar
11
Introdução 13

-I-

A Mesa Redonda das Classes Produtoras


27
Causas e Objetivos da sua Convocação....

O Conceito da Participação na Carta da Paz Social das Clas

ses Produtoras 31

Orientação e Subsídios da Constituinte quanto à Participação 35

- IV

Subestrutura
Bases das Leis Supremas- Estrutura Poliitica e

Econômica Constituições Sólidas e Seculares


41
Constituices Frágeis e Efêmeras.
- V-

na Discussão
Econômica
agio Politico e A Contundência
A7
da Projetada lei
106

VI

A Legislaão Projetada:

1) Em face da Democracia Política


53
2)
2) Em face da Justiça Social
55
3)
31 Em face da Ordem Econômica
58
4) Em face do Comunismo 65

VIl

A Partiicpação de lucros na legislação Comparada 71


- VIl-

A Revisão Constitucional 85

Bibliograf.a. 99
II
o CONCEITO DA
PARTICIPAÇÃO NA
SOCIAL DAS CARTA DA PAZ
CLASSES PRODUTORAS
O fåto de haver a
reunião da Mesa Redonda projetada legislação provocado a
deu lugar a que
apenas os meros espectadores, como nós, seindagassem, não
as Classes Pro-
dutoras eram contrárias
pregado no
ao
principio da participação do em-
lucro da emprêsa, inscrito na
sileira, e ora em vias de Constituição Bra-
Nacional. regulamentação pelo Congresso
A resposta imediata e decisiva que se impoz, embora
pudesse, à primeira vista e sem explicação, parecer
xal, foi a seguinte: as Classes Produtoras são, não parado-
sòmente,
favoráveis, como até as pioneiras da adoção desse
e salutar
pacifico
principio nos costumes trabalhistas do Brasil.
Na verdade, aföra o uso, já por várias formas correte.
em numerosas
organizações do país, da distribuição perió-
dica de gratificações, na conformidade de
saldos apurados
em balanço, um episódio de significativo valor haveria de
demonsrtrar o intuito dos empregadores brasileiros de trans
ferirem para a prática permanente essa adjudicação de lu-
cros aos empregados de suas emprêsas.
Isso teria ocorrido, sem nenhuma imposição ou pressão
da parte dos empregados, e por compromisso expontâneo,
formal e solene dos empregadores, através da Carta da Paz
Social, de 10 de Janeiro de 1946; isto é, antes de qualquer
movimento tendente a inculcar a prática désse postulado e
mesmo da sua consagração na Constituição Federal.
E essa altruistica e memorável Carta, desde logo tomada
deve-
para modêlo básico da fórmula da Paz SoCial, que se
Tia elaborar, para o continente americano, na Conferência
de Lima, tinha, entre outras ,as seguintes finalidades:

neles senti-
"fraternizar os homens, fortalecendo
os

mentos de solidariedade e confiança;

entendimento entre em-


conseguir o mais estreito
permitindo àqueles o
pregadores e empregados,
suas atividades e a es-
exercicio livre e estável de
e a crescente participação
tes uma existência digna
na riqueza produzida;
32

ão dever ser o capital considerado, apenas .

ento produtor de lucro, mas, princinnstru-


meio de expansäo econömica e bem estar c te,
criacão de um Fundo Social, mantido pelos vo
vo
liquidos da emprésa, na conformidade do
isso fôsse destinado, tanto pelo balanço, como nolo
legislação adotada, para ser aplicado em obras
serviços, que beneficiassem os empregados de to-e
das as categorias, e com a promoção de
medida
que, não só melhorassem continuamente o'nível de
vida dos empregados, nas Ies
facilitassem os
meios para seu aperfeiçoamento cultural e
pro-
fissional;
destinar aos trabalhadores e empregados, preferi-
velmente, e sempre que possivel, os beneficios cor-
respondentes à cota dos lucros da emprésa a que
pertencessem."
Nessa mesma oportunidade em que a Carta da Paz So-
cial tão nobremente se lançava, e
quando da posse da pri-
meira diretoria da Confederação Nacional do
seu digno presidente haveria de
Comércio, o
proclamar não se visar, com
aquela, apenas um ato de Justiça Social, mas idealizar o
melhor instrumento para erguer a capacidade de produção
e de consumo do
assalariado, por ser certo que
"além dos objetivos de incentivo à produção e de
acumulação de capital, o lucro tinha um destinop
social ligado diretamente ao melhoramento da vida
dos empregados, que contribuiram com o seu es-
fôrço e dedicação para produzi-lo". (9)
Além de atingir, assim, esse
duplo fim de fortalecer a
produção e aumentar a capacidade aquisitiva do
dor, a distribuição de lucros, no conceito da Cartatrabalha- de Paz
Social, acudia ao seu verdadeiro objetivo e
essa forma, o que poderia redundar frustrava, por
$a0 apenas numa disper
do capital e na desigualdade remuneradora
Não se do trabalh0.
detinham,
Tormula brasileira ainda, ai, os requisitos de
perfeição da
pois, dispondo que cada emprèsa
resse com uma cota proporcional conco
aos seus lucros, para
norar o padrão de me
vida dos empregados em
campo, como da
cidade, e não apenas dos seus geral, tanto a
pregados, ela culminava em atingir, também. e de
proprios
maneira
Discurso do presidente da C. N. C., perante o
epresentantes da Conselho d
de
março de 1948. Confederação Nacional do Comércio em
-33
inegualavel, a utiidade econômica da providência;' a' pari-
dade da Justiça Social e o dilatado critério da. Democracia
Politica.
E por ésse modo expontänco e formal, diligenciado para
na prätica, correspondesse à realidade dos
que o conceito,
beneficios, é que as Classes Produtoras se anteciparam em
das em-
pregoeiras da participação do empregado no lucro Carta
prêsas, no regime de trabalho no Brasil, por meio da mem-
da Paz Social assaz, assim, louvada por conspícuos
dos
bros de. instituições que tanto se dignificam na predica
ideais de solidariedade humana.. (10)

10-
10 C. TORRES GONÇALVES, do Apostolado da Igreja Pozitivista
do Brasil. "PARTICIPAÇÃO COMPULSORIA DOS EMPREGA-
EMPREGADORES".
DOS NOS LUCROS DOS
É disposição da Constituição de 1946; porém, contrária à
mo-

ralidade de patrões é proletárioos.


Os empregadores têm, sem dúvida, o dever de proporcionar
viver com decôro,
salários que permitão a seus colaboradores
lhes assegurarem o
de os assistírem em cazo de molestia, de
retiro remunerado, de subsidiarem suas familias, quando
ve

compuls0-
nhão o s respetivos chefes a faltar. Porém, impor des-
deles nos lucros, será violeência
riamente a participação
e estímulo aos emprega-
moralizadora para os empregadores
do
desinteressem dos preços de
abaixamento
dos para que se de
alravés das emprêsas, ou dos preços
serviços, que préstam Concorrerá,
utilidades, que produzão.
entrega ao público das para transformar proletá-
quando grandes forem os lucros,
riosem pequenos burguezes,
aumentando o número destes,
contrariamente à sua necessária estinção gradual.
dignidade de empre-
Sofreria a economia geral. Sofreriaa

gadores e empregados. Àqueles é que pertence decidir, em


exceden-
söbre a aplicação dos lucros
plena responsabilidade, e das do respetivo
tes dasnecessidades dos empreendimentos
devem servir a aperfetçoú-los e desenvolvê-los;
pessoal: si re-
parte de capital acaso de empréstimo, para
a resgatar a
a baixar
os preços de venda;
dução de produção;
dos custos
aposentados e as
principalmente, assistëncia aos empregados
na falta deles.
famílias necessitadas, beneficios em amparo material que re-
Por essa forma, aos
sultem para os empregados e suas familias, juntar-se-ão van-
ordem: quan-
morais inestimáveis como interessando a
tagens
to aos empregadores, pelas reações inerentes ao dever cum
bondade com o reconhe-
prido, fundado em combinação da na
cimento de que "o capital é social origem e deve ter des-
tino social"; quanto aos empregados, por sentirem-se ampa-
com seus s u
rados, 0 que desenvolverá neles a veneração para
de r c -
periores gerárquicos. E é a veneração, nestes tempos
volta de todos contra todos, o mais enfraquecido dos laços

morais, não obstante o que mais dignifica, disciplinando, aju-


dando a fazer a concórdia social.
louvável projéto de assis-
Esiste, entre nós, nesse sentido, um
denominado "Carta de Paz
tência coletiva aos empregados,
34

atual Presidente da
Social", de autoria do "Confederacka Na
cional do Conércio".
A propósito, ponderaremos o seguinte, Em uma
dustrial normal, a cada empr sa ou empregador, situação
individnin
mente, caberá a assisténcia em apreço. A dos poderes pih
cos se dará entáo em relação aos seus próprios funcionári
eu quando, por qualquer motivo, venha a faltar a dos p a t r
particulares.
En ambos os casos, assistência independentemente de gual.
quer fundo financeiro específico formado por contribuicoes
as despesas saindo dos cofres públic05, ou das emprêsas
empregadores. Mas, também sômente caberá ela aos efetiva
mente necessitados; não, como acontece hoje, prestada indis-
tintamente. Quando se dá aos que não precisão, acaba-se por
ficar impossibilitado de atender aos que precisão
E a soBução normal. Supõe uma educação fundada em con
cepção social da indústria, ainda não prevalecente. E, até
lá, a sugestão da "Confederação Nacional do Comércio", uma
vêz praticada, poderá vir a ter alta eficácia, nas relações entre
empregadores e empregados: protetora, acalmadora, digni-
ficadora."
ORIENTAÇAO E SUBSIDIOS DA CONSTITUINTE BRASI
LEIRA QUANTO À PARTICIPAÇAO

A Constituição Brasileira de 18 de setembro de 1946


ultimou-se assim inscrevendo a participaç o no seu texto:

"a legislação do trabalho e a da previdència social


obedecerão aos seguintes preceitos, além de outros
que visem a melhoria da condição dos trabalha
dores:
participarão obrigatória e direta nos lucros da em-
présa, nos termos e pela forma que a lei deter-
minar." (11)

Preliminarmente, sem maiores e desnecessárias explana-


ções, o que ai se consagrou sob o titulo impróprio "da or-
dem econômica e social'", é uma originalidade, não désse
tipo, mas, de ordem politica, importando na adoção drás-
tica e imperativa de um direito absoluto, individual e ex-
clusivo de uma determinada classe, e da menor parte dela,
como ulteriormente se verificará.
Essa incongruencia corresponderá por cérto, á sobrie-
dade com que o assunto foi encarado nas suas bases.
No entanto, o magno problema ainda é de infinita dis-
cussão, principalmente entre juristas e economistas, na ân
sia sempre incontida de dar solução adequada para as re
lações entre o capital e o trabalho, e as novas fórmas da
distribuição da riqueza, como assinalaria o autor de uma
das mais preciosa monografia escrita, no Brasil, sobre a ma-
téria. (12)
o debate amplo e profundo tem abrangido todas as mo-
dalidades e repercusões do sistema, firmando téses consti-
tucionais, planos economicos, reivindicações sociais, pågi-
nas de doutrina e programas de partido, tudo numa efer-
vescencia ainda não curtida, nem tão pouco aquietada.
E o grau da sua excitação pode-se avaliar pelo humour
de Leroy-Beaulieu ao conceituar que a participação está para

11 Constituição artigo 157 e inciso IV.


de 1946, págs. 1.907/8.
12 NELIO RÉIS-"Participação Salarial nos Lueros da Emprêsa".
36

o salário, assim como a pimenta para


o alimento: iat.
sto é
mas não nutre o organismo.
estimula o apetite
Näo é de admirar, pois, que em época de tão ilósas
reformas sociais os politicos prescindissem da substancia
para mais se
esnmerarem no tempêro.
Interessante, portanto, será conhecer os subsidios
que
levaram a Constituinte brasileira a essa avançada orientacão.
Foram eles de três espécies diferentes: doutrinária, de
justiça social, e de programática partidária.
Como doutrina forrou-se, ela, na prédica do
professor
Universitário italiano Giuseppe Tontolo que, no século pas
sado, assim a sustentava:
"o trabalho há de ser
cada
natureza há de ser cada vez mais
vez
dominante; mais a
dominada; o ca-
pital cada vez mais proporcionado."
Ajustiça social foi perquirida, em 1931, na
ificia do "Quadragésimo Ano", de SS. Pio enciclica pon-
tindo o dôce conselho da XI, assim repe-
Igreja:
"todavia, hodiernas condições sociais,
nas
mos seja mais prudente que, na medida do julga-
vel, o ajuste do trabalho venha possi-
contrato de sociedade,temperado
um pouco com o a ser
conforme
já se principiou a fazer em diversas
muitas vantagens para os maneiras, com
mesmos operários e pa-
trões; dest'arte os operários se tornam
sados ou na cointeres-
propriedade ou na administração, e
compartes em certa medida nos lucros auferidos."
Quanto à programática ela assim se
da palavra de um dos seus ilustres enunciou atraves
constituintes:
"a
sas
participação obrigatória nos lucros das empre-
é
principio defendido até
Vadores; há muitos anos tal por partidos conser
sendo
defendida, se não me
reivindicação já vinna
do partido do engano, no prograna
eminente Sr. Arthur
Em face desses Bernardes (ld
a 1raca
substânciafundamentos, desde logo» cons
que concorreu para
avançado princípio
tuição brasileira como
a
inscrição do no
diretoe obrigatório na Lous"

13 Diário da Assembléia
de 1946. Nacional Constituinte de 19 ae maio
JOSE DUARTE- Constituição
III, págs, 200 de 1946.
e
seguintes. Comentada,
37
A triade doutrinária, que teria sido, a seu tempo, uma
conquista futurista, é hoje uma realidade pacífica e
rada, no dominio econômico das nações progressistas.supe-
Por
sua vez ela é contemporânea, e elemento esclarecedor, do
Rerum Novarum". E dêste a enciclica do
"Quadragésimo
Ano" é apenas umsingelo delicado
e colorário.
Na realidade, a célebre enciclica de 1891, de Leão XIl
"sobre a condiço dos operários" (Rerum Novarum), a bo-
nançosa semente de então, que é hoje árvore de copada
Sombra no campo da justiça social, sustentava que acima da
livre vontade (dos patrões e dos operários no contrato de
trabalho) há uma lei de justiça natural mais elevada e mais
antiga, isto é,: "o sálário deve sero suficiente para manter
o operário sóbrio e honesto".

Prevendo, porém, que nesse caso, como em outros aná-


logos, por exemplo no que diz respeito às horas de trabalho,
0s poderes públicos não interviessem com oportunidade,
por causa, sobretudo, da variedade das circunstâncias de
tempo e de lugar, é que a Rerum Novarum, com acentuada
cautela, também adotada pela enciclica do "Quadragésimo
Ano", iria ao ponto de concluir:-"seria preferivel que, em
principio, a solução desses casos se reservasse às corporações
ou sindicatos". (14)
E quanto à parte programática é o práprio e indigitado
chefe partidário, o eminente senhor Arthur Bernardes que,
como constituinte, assim a elucida:

"parece-me será êsse um passo acertado que ire-


mos dar. Entretanto, não será possível generalizar
a medida, de uma vez. Cumpre considerar o meio
brasileiro e examinar em que campo deve come-
çar a ser aplicado o novo principio. Nas capitais,
onde há emprêsas bem organizadas, com perfeita
contabilidade, poderá éle ser observado, desde já.
Nas atividades rurais, porém, nas industrias agri-
colas. ainda deficientemente organizadas, parece-
ne desaconselhável. Os proprietarios agricolas,
em maior número, não têm regularmente escri-
turadas a sua Receita e a sua Despesa.
De maneira que, no meio agricola, não parece
exequível, desde já, essa medida, que deverá ser
adiada para quando as circunståncias a permi-
tirem." (15)
14 Charles Gide e Charles Rist "História das Doutrinas Eco-
nômicas", págs. 565 nota 279.
15 Diário da Assembléa Constituinte, citado.
-38

vê, .cifrou-se a singeleza


uma destoncertani.
Por ai se
para atingir a transcedan
todo o subsidio da Constituinte e
medida da participação.
E embora a participaçao nos lucros, por parte do . in-
pregado registrasse exemplos precursores que datam do do
em 1843, seguid
século passado, como fossem o
de Leclare,
Barche", em Paris, e o da indústria Zeiss
da "Maison Bon
na Alemanha,
nao se molestaram os constituintes em inves.
tiga-los, para que a providencia se apresentasse fundada-
mente estudada, como o fizeram, na Mesa Redonda, em or
celentes produções, além de outros, o professor Luiz Dods-
worth Martisn, presidente do Instituto de Economia, e
. José Luiz de Almeida Nogueira Pórto, brilhante mem-
bro da delegação do Estado de São Paulo.
Zeiss, era a obra especializada, dependendo da requin-
tada pericia do seu operário, que encontrava na participa-
ção do lucro um estimulo para mais esmerá-la. A "Maison
Bon Marché" era o sonho de uma viuva, sem descendentes,
celebrizado num romance de Georges Onhet, empenhada na
perpetuidade do nome da sua Casa que, por meio de ações,
correspondentes aos lucros de cada ano, iria paulatinamente,
como aconteceu, passando à posteridade, e para propriedade
dos seus empregados. E Leclaire era o ardiloso fiscal do seu
oficio, de natureza externa, sôbre vidros e tapetes nas re-
sidencias dos clientes, que divisára na participaç o dos lu-
cros a prestação de contas, imediata, em cada serviço. O su-
cesso do ardil, sempre
o livrou,
proclamado enquanto houve lucro, nao
porém, do desastre, em face de posterior prejuizo,
que arrastou os operários à revolta e Leclaire à cadeia.
Todos esses casos, tipicamente diversos,
traram os seus eruditos reveladores, correspondiam a obje-
e como demons-
tivos
preponderantes dos empregadores
emprega
e não dos
dos, não servindo assim para subsidio do pretendido, mas,
a omissão não deixaria de
sua
importar numa
de esquecimento para com os fatos históricos do ingratida
passad
bastante orientadores para os
artifices da nova ordem..
essa ingratidäo não foi diversa para com as rea
des do
presente, pois, muito embora o titulo
em que constitueo
se assenta a participacão nos lucros, vise
da
condição dos trabalhadores, a estas também a metno
Sensiveis os
constituintes. Desprezando a exubera foram da
atualidade,
perado, os
para se apoiarem num
passado já larganmen su-

lhorias: legisladores nuo divisaram as seguintes mne

a) salário minimo;
-39-

limite horário do trabalho (oito horas);


c)descanso minimo de onze horas consecutivas entre
duas jornadas de trabalho;
d) intervalos para repouso ou alimentação;
e) repouso semanal de 24 horas;
fy remuneração do trabalho suplementar;
g) proibição do trabalho em dias feriados;
h) férias remuneradas;
i) medidas de higiene e segurança, para o trabalha-
dor, nos locais de serviço;
j) proteção ao trabalho da mulher e do menor;
1) proteção à maternidade;
m) vedação de transferência, sem consentimento do
empregado;
n) aviso prévio da despedida e recisão indenizada;
o) estabilidade para o empregado que conte mais de
dez anos de serviço;
direitos da gestante, antes e depois do parto, sem
prejuízo do emprêgo» nem do salärio;
reconhecimento das convenções coletivas de tra-
balho;
r) assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica
preventiva;
s)assistência aos desempregados;
t) seguro obrigatório, contra os acidentes do trabalho,
por conta do empregador;
u) igualdade de salário, independente de idade, sexo,
nacionalidade ou estado civil;
v) ensino primário gratuito, extensivo aos filhos;
w) aprendizagem dos trabalhadores menores;
x) direito de greve;
previdência contra as consequências da doença, da
velhice, da invalidez e da (16)morte.
não pertence ao nosso
Pelo corte natural do "K", que
do "Z" essa mais nova
abecedário, e colocando sob a égide
dos dias em
das regalias que é a remuneração obrigatória
trabalha (repouso semanal e feriados), e desti-
que não se econòmicos do
nada a imensas repercursões nos dominjos
Constituição Brasileira arts. 157, 158 e 168 III e IV. Cons0
16 lidação das Leis do Trabalho arts. 58, 66, 67, 70, 76 e seguin-
e 492.
tes, 132, 154, 372, 402, 469, 477
40

pais, ter-se-ú restabelecido e esgotado, em tóda a sua


tude, com uma correspondente ordenação de melhamp?
para a vida do trabalhador, todo o alfabeto nacional, anto
rior à reforma ortográfica adotada pela Academia Brasile
de Letras em 1931.
A discussão vazia, da matéria, na Constituinte
brasilei
ra, não se restringiria a
relegar o que nela havia, de maia
objetivo, para uma ídönea afirmação de principios.
Tratando-se de matéria de cunho trabalhista e de fina
lidade assistencial, nela haveriam também de ser
repudia-
dos, em indesculpável silêncio, os mais avançados dos mes-
tres,no mais adiantado dos povos.
Em todo curso do debate, para implantação dessa
o
no-
vidade, no direito brasileiro, não se encontra o menor
tigio das idéias de Haroldo Laski e da técnica de ves
William
Beveridge.
Pouco
importaria que ambos, em face do assunto e das
suas opulentas produções, pudessem ser classificados, hoje,
como os mais autorizados
sustentadores da participação in-
direta do lucro, como a mais eficiente
para regular e atin-
gir os verdadeiros méritos da justiça social.
O que não se
poderia deixar de reconhecer é que o emi-
nente professor
da Universidade de
fico do Partido Londres, mentor filosó-
da
.rabalhista, é o mais
consagrado doutrinador
democratização do poder econômico e da
da riqueza, muito embora disseminação
sòmente as entenda possíveis pela
fôrça e
planificação do Estado,
do mais
e que
formidável plano de assistência social, conhecido Beveridge, como autor
no mundo, assenta a realidade dessa
linha reta e distribuição naquela
tranquila, por êle traçada, e que vai "desde -

o
berço até o túmulo" permitindo aos indivíduos viver
seguros e morrer
descansados!
E por essa forma
se verifica
quanto foi reticente
o a
Constituinte brasileira ao tirar de frágeis premissas
Conclusões para implantar uma novidade
funest
Siva aos
interêsses econômicos do extravagante,
Se
verá, aos dos pais, e, inclusive, co
pertar e
próprios beneficiários que ela resolveu des
erroncamente acudir!
IV
BASES DAS LEIS SUPREMAS. ESTRUTURA
POLITICAE
SUBESRUTURA ECONOMICA- CONSTITUIÇOES SóLI-
DAS E SECULÁRES.
CONSTITUIÇOES FRAGEIS E
EFEMERAS.
Com evidente objetividade, atilados observadores alie-
niginas já assinalaram que, no Brasil, a sua fraca base eco-
nômica sustenta o seu imenso mundo politico. (17)

Ainda que inexcedível, o brilho político que se encon-


tra na nova Constituição de 1946 há de concorrer para que
mais se firme a justeza do
diagnóstico.
Não inovou a Constituinte de 1946 a linha das anteriores
dando preferência aos problemas polticos, 0 que
entao se
justificava, pela premência de dotar o pais com o requisito
primordial da democracia política, qual seja o da repre-
sentação.
Para os países civilisados Harold Laski creditou o sé-
eulo XIX como o realizador da democratização politica e,
ao mesmo tempo, debitou ao século XX a responsabilidade
ser a demo-
consequente da obra complementar, que deverá
tenha sido ainda aiingida.
cratização econômica, onde ela não
Salvo se nos dispuzéssemos a nos atrazar, de novo,
em
imperdoavelmente,
outro século, é que se suportaria, mas,
a negligència ou o desprëzo da ordem_económica.
a ali-
Na atualidade, e, principalmente, dado que tóda
se apoia na atividade eco
vidade, mesmo não econômica,
se trate da primeira sem
nomica, nao mais se permite que
considerar a consistëncia da segunda.
que se cuide, antes, de
aquela deve asentar.
como a parte inferior cm que
fàcilmente compreender que, s«

Hoje, a experiência faz


economia
subestrutura.
é
a
a politica é estrutura, dos
idéias, o problema é de lógica, e no
No domíniodas alicerce, depois a cons-
o
fatos é de bom s e n s o : primeiro
trução. venha a s e r um
significativo exemplo
Talvez o Brasil acarretar,
desvio dessa ordem pode
dos percalços, que um das s u a s Constituições.
c o m o à sorte
tanto á vida da nação, desvêlo e o pa-
em duvida o
Ninguém, por certo, porá
Economic Types".
A Study of
J. F. NORMANO --"Brazil
- -

17-
42
triotismo dos nossOs constituintes, de tôdas as épocas.
deixará de se extasiar com a beleza de suas obras, nem
constm.
soes das mais pomposas que, porem, por falta de base.
frequentemente desabamn.
A raca, o meio, o clima e os
costumes fizeram do
tipo, máximé, do homem de elite, uni ser que ferve nosso
anto
as ideologias, mas que
emudece, e ate córa, diante do sen-
tido prático e utilitário das coisas.
Dai, talvez, essa imensa desconformidade entre o
se pensa e o que se realiza; entre o
que
que se deseja e o que
na verdade, pode ser feito.
Por essa deformidade de construção, as nossas
leis bá-
sicas tornam-se analiticas, descendo aos mínimos
detalhees
ideológicos, para que näo se admitam esquecidas ou frau-
dadas na exuberåncia dos seus intuitos.
Por esse feitio, as nossas
Constituições são verticais,
elevando-se febrilmente, preocupadas em criarem um com-
partimnto próprio para tôda conquista nova ou atraente,
ainda que, alhures, apenas,
esboçada.
Ao contrário, outros povos, de
temperamento diverso,
tangivel à realidade da vida, tomando
obra a simplicidade e a para principio da
segurança das coisas, conseguem
realizar construções planas e duradouras,
versidade dêsses métodos as
resultando da di-
Constituições frágeis efêmeras
e
e as
Constituições
túria dos anos.
sólidas e seculares, já bafejadas pela cen-
O exemplo típico desse paralelo encontra-se no contraste
que oferecem as nossas sucessivas leis básicas e
a Consti-
tuição dos Estados Unidos da América do Norte.
Como todos sabem, a
de 4 de julho de Independencia Norte-Americana,
1776, resultou da rebeldia e da luta das
Colonias Inglêzas, contra a
metrópole que, porautônomos.
negociada, foram reconhecidas como Estados fôrça da paz
Isso significa
que, histórica e politicamente, os Estados
Cnidos deveriam resultar em uma
1adada ao desregramento, em face das "Confederação", mas
lutas intestinas, en
tão, ali reinantes.
Nessa época, preocupações
Clal, comercial e financeira pesavamordem
de
internacional, so-
sôbre os espiritos mas
esclarecidos, tornando-se incerto o futuro dos
da
Estados.
ra intenso o culto pela soberania local, mas, à somDra
,

"Confederação", campeava
eal do homem do campo anarquia.
a

e 1orga armada. A parte culta daera a ausênciaaode govern


CXgla a implantação de um govêrnopopulação, contrar
Norte era centralizado e Tor
industrial, protecionista e
emaneipaao
43
o Sul era agricola,
A situação económica livrecambista
reclamava
e
escravagista.
Os portadores de
titulos de providência heróica.
faderacão" viam responsabilidade
arruinar-se, dia a dia, o seu da "Con-
Tais titulos deprecavam-se patrimônio.
do respectivo valor nominal. consideravelmente, perdendo 80%
Nessa situaça0, caótica, é que haveria de se
iberar a Constituinte reunir de-
e
Norte-Americana.
Bom. portanto, e útil será recordar
e como deliberou. No agora o que ela foi
seu seio não havia nenhum homem
do campo, nenhum operário urbano.
O oeste não contára um só
A frente popular, representante.
um só delegado.
preponderante até então, não enviára
Jefferson estava na Europa; Johm
e Patrick Henry nela no
Jay, Samuel Adams
tiveram assento. (18)
Interessante, pois, serå saber com0 se compôs e que di-
retriz seguiu essa Assembléia, depois tão notabilizada
grande e imperecível obra que elaborou.
pela
Cenáculo de intelectuais» de ricos e de juristas, no seu
total de 55, èle assim se compunha:- vinte e quatro eram
capitalistas; quinze, negociantes de escravos; onze, repre-
presentantes do comércio, da indústria e dos armadores de
navios; cinco, vendedores de terras no Oeste.
Washington, presidente da Assembléia, era o homem
mais rico da America: latifundiärio, capitalista, credor do
Estado, negociante de terras no Oeste, em suma, um gran
de homem de negócios. (19)
Rico apenas em espírito, mas um grande patriota, e
imbuido de doutrinas econômicas proprias, que o levavam
a sustentar o princípio segundo o qual a prosperidade do
pais devia assentar na estabilidade das Classes Conserva-
doras, era Alexandre Hamilton.
todos sabem,
da memorável assembléia, como
E no seio
nova obra desti-
Viria Hamilton a ser o grande artifice da
Diante da perspectiva
ada a salvar os destinos da nação. poderia dizer, como
naufrágio da "Confederaçäo", éle
sem incutir, nem convencer,
I1zera antes, em 1748, mas,
Lois"- "j¢ parle de la repu-
Ontesquieu, no "L'Esprit des
blique federative".
e diante
do culto da soberania
Tal dizendo, porém,
o
engenhar o "Federalismo"
OCal, tão acalentada, o levaria a
Federal" São
BARROS-"Do Regime
0 RENATO PAES DE
Paulo 1940. - " D o Regime Federal".
19 RENATO PAES DE BARROS
44

comoninguem, e por maneira irrecusável, assim exnósta


Constituinte: a

a Constituição proposta, longe de abolir os


dos
Estados, torna-0s partes
nos gover-
soberania nacional, constituintes da
concedendo-lhes
tacão direta no Senado e os deixa
uma
represen-
mente de vários e gozar exclusiva-
importantes atributos da sobe-
rania, o que se harmoniza
idéia que se forma de um perfeitamente com a
govêrno federal". (20)
Plasmada pelo mestre incomparável ai estaría a
dade da "Federação", divizada reali-
por Kelsen, no Estado Fe-
deral e soberano,
levada para a Europa por Tocqueville, e,
aqui no Brasil, superiormente compreendida por João Men-
des Junior, não como uma composição de partes, separadas
ou
separáveis, mas como a
disposição de partes inerentes
ao todo. (21)

No engenho da obra havia,


de porém, um objetivo certo,
e
dos por
todos conhecido, ao qualconstituintes eram impeli-
os
fatores de
ordem econômica, e que envolvia até
a
própria situação pessoal da sua quasi totalidade.
Dos cincoenta cinco
e membros, que integravam aCons-
tituinte, quarenta deles eram credores do Estado e mostra-
vam-se aflitos sôbre a sorte dos seus patrimônios. (22)
Urgia, assim a medida que os preservasse de tais pre-
Juizos, por meio de uma autoridade maior, responsável e
capaz, para assumi-los e resgata-los, qual fôsse a "Federa-
ção".. E como signo dêsse objetivo, a
ria, e até hoje conserva, esta Constituição registra-
disposiçao:
"Quaisquer dividas contraidas e compromissos
assumidos antes da adoção desta Constituição, se-

20.
ALEXANDRE
Publius. HAMILTON-"The Federalist" n. IX, de

21-HANS KELSEN- u"Teoria General del Estado". Barcelona


1934.
ALEXIS DE TOCQUEVILLE- "De la Democratie en Ane
rique".
JOAO MENDES JUNIOR- "Estudo'" in Rev. da Faculdade
Direito de S.
Paulo, vol. XX, págs. 347-259.
22
of the
United
United Sconomic
States". Interpretation of The Constituion
rão tão válidos
contra os Estados Unidos
Constituição, cono sob esta
sob a
E. para
confederação". (23)
que o abuso não
4
aditamentos, que se seguiramdeixasse
á
de ser contido,
Constituição, os
nos
do artigo XIV, assim estipulariam: dos $ 4

"a validade da divida


pública dos Estados Unidos,
autorizada por lei, inclusive
para pagamento de pensões oudividas acarretadas
para abafar bonus por serviços
rém nem os
insurreições,
está fóra de dúvida;
po-
Estados Unidos, nem
Estados fará ou pagará divida ou qualquer dos
acarretada para manter obrigação alguma
insurreição
contra os Estados Unidos, nem ou rebelião

perda ou emancipação de escravos,reclamação


pois tais
por
dívi-
das, obrigações e reclamações são consideradas
ile-
gais e nulas".

"O Congresso terá plenos


poderes para pôr em vi-
gor, mediante legislaço apropriada, as clasulas
dêste artigo".

Certamente, fundado nos esclarecedores elementos dêsse


preterito é que o Secretário de Estado Norte-Americano no
presente, o senhor Dean Acheson, ainda que falando sôbre
propósito diferente, em 19 de setembro do ano findo, na
Sociedade Pan-Americana, qual fôsse o papel que devem
desempenhar o govêrno e o capital particular no desenvol-
econômico de outras nações, com ên-
vimento
fase e como estadista, a seguinte verdade:
proclamaria,
"êste pais foi construído pela iniciativa particular
e continua sendo pais da iniciativa particular".

Essa incursão nos quadros constitucionais do passado


se veja com ni-
p o r fundo e encanto proporcionar que formidá-
ser uma das mais
u e aquilo que se supõe não passa d0 simples re-
CIS Conquistas de ordem politica, econômica. E a moral do
tado de um obietivo de ordem básica dos povos, es-
O, COmo utilidade para a legislação se enpenhavam em
e m verificar que, agueles que já efetiva à
p e l a parte econômica, para dar consistência

23 UNIDOS DA AMERICA Do
CONSTITUIÇAO DOS ESTADOS
NORTE, art. VI.
46
narte politica, conseguiriam realizar obra sábia imnere-
ivel, ainda tida, no seu
que nascedouro, como
e

repleta de imperfeições. suspeita e

Fácil será invocar a enorme resistncia que os


E'stados opunham ao novo regime, neles dominando grandes
prevenção contra os romens de fortuna, que haviam insni. forte
rado a Constituião. Temendo pelas liberdades
duas tendencias dividiam a opiniáo.
públicas.
A seu 1ado estava a influëncia dos seus
os quais Washington; os interêsses dos
autores, entre
ricos e dos comer-
ciantes, desejosos de um govêrno forte, que lhes
os haveres. garantisse
E contra,
favoráveis
os
adversários, proclamando que
somente lhes
eram da "Ordem dos Cincinatos", os
os
ros, os juristas e os portadores dos titulos do banquei-
E que ela tinha defeitos, mas não
Estado.
guardar as liberdades públicas
impossiveis de res-
e atender às
liticas, solenemente, os proclamaria, ao exortarconquistas po
os constituin-
tes a apör as suas assinaturas no célebre
documento, o velho
patriota Benjamin Franklin, ao, assim, se dirigir a Was-
hington:
"dados estes sentimentos, Senhor, aceito a Consti-
tuição com todos os seus defeitos, porque penso
um govêrno que
geral é necessário para nós, e que não
hå fornma de govêrno que não possa tornar-se uma
benção para o povo, se êle fôr bem administrado
durante longos anos e não possa acabar
potismo, como outras formas o fizeram antes dêle,
no des
desde que o povo se tórne tão corrompido que te-
nha necessidade dum
govêrno despótico» incapaz
de qualquer outro".. (24)

E êsse é
monumento de 17 de setembro de 1787, marco
o
perene eluminoso do mundo civilisado e Constituição
Secular que, tendo inspirado a do Brasil, de 1891, acaba na
atualidade de servir de modélo à mais nova das Constitu-
oes, da maior de tôdas as democracias, a da nascente fie
pública da India.

JACOUES LAMBERT «listoire Constituitionnelle de


i
Americaine". 4 vols. Paris 1930.
O ESTAGIO POLTICO E A CONTUNDENCIA ECONOMICA
NA DISCUSSÃO DA PROJETADA LEI
Ao se acompanhar o desenvolvimento civico do pais não
haverá hesitaçao para se concluir que, com as eleições reali-
zadas para a Presidência da
República e para a nova Cons-
tituinte de 1946, o Brasil ating1ra, em definitivo, a sua ma-
turidade de democratização politica.
O espetáculo eleitoral, desde a
propaganda até à con-
tagem derradeira do voto popular, que é a última compro
vaçao de sua eficiência, realizou-se num clima de tranqu1-
lidade e garantias suficientes para demonstrar que, afinal,
Brasil
o
alcançara térmo
o
objetivo da sua redençãopolitica.
O que isto custou à nação, em campanhas, lutas e sofri-
mentos, impostos ao povo pela brutalidade dos governos e
pela mentalidade retardatária e egoísta dos mandões poli-
ticos, está ainda à vista nessa estrada dolorosa, verdadeira
via-crucis, percorrida desde a proclamação da República até
esta metade do século XX, onde, no dizer dos mestres e em
confronto com os povos civilisados, teriamos, por fim, che-
gado com o atrazo de cêrca de cincoenta anos.
Simplesmente ainda não se fez, como já seria tempo, an-
tecipando-se ao juizo seguro da posteridade, foi identificar a
quem cabe o mérito da memorável conquista, fruto penoso
dos mais cruentos embates.
Cabe êle ùnicamente a um pugilo de bravos, a uma mi-
noria destemida que, como porta-estandarte da democracia,
traria, desde as coxilhas do sul até ao seio da legislação na-
cional, os germens sadios de uma nova vida politica, que
daria liberdade ao pensamento e garantia ao voto, como
dois dos mais importantes símbolos da dignidade humana,
na vida civica dos povos.
Coube a realização dêsse faustoso acontecimento à ala
meridional do Partido Democrático Nacional que Antônio
Prado fundára, em São Paulo, e que Joaquim Francisco de
Assis Brasil vanguardearia no Rio Grande do Sul, ao des-
fraldar a bandeira vitoriosa do Partido Libertador. (25)
Mantida e consolidada. daqui por diante, a grandiosa

25 TRABALHOS DA COMISSAO DE LEGISLAÇÃO ELEITORAL


DO PARTIDO LIBERTADOR: Bruno Mendonça Lima, Carlos
Brasil, Louréiro Lima, Minuano de Moura e Walter Jobim,
48

obra, pelo voto secreto, pelo escrutinio indevassável pela


iustica eleitoral, os pleitos eleitorais e a disputa nas urna
no Brasil, deixarao de ser os espetàculos deprimentes e
nestos do passado, para se transtormarem na simplicidade
tranquila dos acontecimentos civicos, capazes de induzir à
compreensão, até os mais inacessiveis ou desmemoriados.
do quanto viria a valer para o povo a introdução da "Re.
presentação e Justiga como principio e nos imétodos poli-
ticos da incipiente democracia brasileira
O oportuno registro désses fästos seria bastante para
permitir que a Constituinte de 1946, diferentemente das ou-
tras, ainda disso impedidas pela mística precipua de salvar
e estabelecer a ordem politica, já passasse a se preocupar,
também, com o lançamento básico da democratização eco
nômica, cuja efetivação, segundo autorizada doutrina, é
dever indeclinável dos povos adiantados, no decorrer deste
século XX.
Restringindo-se o balanço da matéria à parte especifica
da tese ora tratada, verifica-se, melancólicamente, que os
lançamentos da Constituinte de 1946, a seu respeito, são con-
tristadores, senão negativos, segundo juizo dos seus mais ca-
pacitados censores.
Avaliando-os na sua temeridade e nas suas consequén-
cias, ao assinalar que o Brasil precisa ser impulsionado para
a trilha da prosperidade, onde ainda se mostra hesitante,
sobre os mesmos, assim se manifestaria um ilustre e devo-
tado brasileiro:

"com esse fim impõe-se reformar os processos de


rendimento e de apuração de todo o nosso trabalho,
agricola e industrial, nos seus vários aspectos,
para tanto, precisamos de capitais, que são a ener
e.

gia acumulada, capaz de desencadear as outras


energias adormecidas".
E tendo por certo que a melhor fonte dêstes, e tano
assim as portas e os mercados que nos indicam, estara
livre iniciativa
privada, deste módo acresceria o comena
no entanto, o enriquecimento individual, fonte do
enriquecimento coletivo, é visto aqui com i .
de extra-legal, que convem perseguir, evitar e
ficultar".
E, por fim, bem divisando o estrangulamento, se al-
meja prepara, assim
e
se ultimaria a sua lação:
fundada
ae>
-49-

"vem se criando estranha mentalidade, em


uma
que formação dos capitais brasileiros
a
é tida como
inimiga do próprio Brasil". (26)
O que ai se
assinala
cunho perigoso da nova quanto
ao aspecto
inquietante e o
ainda que já legislação não se limitaria a ser,
suficiente, a critica fundada de um autorizado
observador.
Os fatos
previstos e
apontados
própria defesa, que se pretenderiaganhariam
na luz
e corpo
fazer do projeto.
Resumindo os fundamentos, que contra èle se levanta-
ram e tomando
por destaque a
representa» face á legislação dasoriginalidade, que a medida
mais adiantadas nações do
Universo, encontrar-se-a, na defesa, a
seguinte proposição:
"idênticaprovidência nâo foi anda tomada
nhum dos velhos países civilizados da por
ne-

nem pelos Estados Unidos".


Europa,
A simplicidade desse exórdio equivale, apenas, ao da
confissão de que a novidade pretendida carece de exemplos
autorisados.
Não paira, porém, aí a argumentação desastrada dos seus
eminentes patronos, porquanto, ao contrário do
desejado,
ela, ainda mais, se realça nesta transparente contra-indicação:

se é verdade que a legislação dos povos cultos


ainda não adotou a idéia com o caráter de com-
pulsoriedade, leis francezas e alems, desde o co-
meço do século a disciplinaram, permitindo que
mpregadores remunerassem seus assalariados, por
de do ne-
meio lucros
participação_noscomo a líquidose a
göcio; e em
outras nações, inglèsa norte-
americana, tem sido posta em prática, em escala
limitada independentemente de legislação regula-
dora da espécie".

Onde, porém, a defesa de todo se trái e em tudo se mal-


barata, é quando exibe, às escâncaras, o objetivo da nova
legislação, até então velado, qual seja o de seguir o preco
nicio de filósofias e sociólogos, estrangeiros e nacionais, preo-
cupados em estabelecer a estrutura juridica do futuro que

26 "Speech" citado sob o n.° 8.


50-

se assentarà sôbre o trabalho e não sôbre a


propriedade
privada ".
E partindo désse
pressuposto,
os da fundamentos
legislaçao exortam e mobilizam as falanges de uma nova
era, cometendo à verde experiëncia dos brasileiros onova
se-
guinte e destruidor messianismo:

"porque não ir, desde logo, abrindo caminho, pre-


parando o advento das novas formulas legais"?
melhor que o façamos agora, enquanto
estamos
ainda em formação, enquanto não se
entre nós um
pode fixar
sólido sistema capitalista, resistente
e
refratário a tôda a concessão, que importe no seu
enfraquecimento";
"é èste, aliás,
o destino dos
povos jovens: serviremn
de pioneiros das idéias novas, daquelas que os con-
servadores ferrenhos acoimam de revolucionárias
e perigosas". (27)
Nêsse arremêsso audaz, fàcilmente se constata o
caminho
que Constituinte de 1946 preferiu
a
to à ordem econðmica e no dominio
palmilhar, no caso, quan-
dessa ciència.
Preterindo tôda a evolução da matéria, constantemente
sempre tão renoyada, deliberou, ela, porém, retroceder ate
as mais
longinquas épocas para se acomodar com a opiniao
escaklante de Thomaz Carlyle ao considerar a Economia, ao
tempo em que a estudou, e ao mergulhar no oceano do so-
rimento human0, como ciència nefasta, por verificar que
ela servia
apenas para proteger os fortes e martirizar os de
samparados.
Eao considerar os seus
agentes mais diretos aqueles
ue movem as
no passado
riquezas e ensejam o trabalho, seria ainda
que iria rebuscar a sua caracterização, para
Zer causa
comum com o conceito da economia
d-
para a qual- "o homem de negócios era um ladrão lhcemedievals
ciado". (28)
ertamente, ninguem há de se (atemorisar ,nem
pouco de
ofender, conm êsse pungente retrospeeto, co mo
se

27- PROJETO N. 1.039 A 1948 da dos Fe-


derais Câmara dos e
mércio de Parecer do Relator da Comissão de Industria Co
28 23-4-1949.
NORMANO
Norte "As Idéias Econômicas na Amerie o

o A FRANCIS A. WALKER- "Ciência das Riquez


51

ninguem molestaria com a obra artificiosa de um


se
rito malsão, que ora n0s apavorasse com o espi-
rataria, como norma de comércio universal. ressurgir da pl-

E quanto aos homens


das Classes Produtoras do Brasil,
em
particular, acaso turbados, sobejar-hes-ão, em consólo,
a
evolução da ciência e a eloquência dos fatos, pois,
já ao fechar do século
de Simon Newcond e Arthurpassado, cconomistas do tomo
T. Hadley fariam a
ção do "entrepreneur", e a Economia glorifica-
o homem de
Moderna proclamaria
negócios como um benfeitor público. (29)
Ea evidência
do maior criador de disso se faria diante da formidável obra
vias férreas, assim
aos demais dos seus explicada, por um,
operários:
"é parao meu e
para o vosso bem que Vanderbilt
não césse de ganhar dinheiro"!
(30)
Não seria, porém, necessário ir buscar
nos Estados
Unidos, por mais eloquente que fôsse o exemplo, a obra do
grande criador de vias férreas, ali, tida como da própria
base da civilisação, para com ela recordar e
reflorir as bene
merências de um homem de negócios, pois, como
self made
man, simbolo da honradez e do trabalho, exemplar comer-
ciante. alentador das industrias, fundador de bancos, finan-
ciador da produção, saneador de cidades, montador de fá-
bricas, construtor de portos e vias férreas, precursor da
mineração, e outras inúmeras atividades, que não tinham,
para êle, limites geográficos, empolgando os espiritos, do-
minando e arrebatando o panorama econðmico da America,
transformando econômicamente toda a costa do Atlantico,
do Amazonas ao Prata, dando traballho ao povo e riqueza à
patria, e como numen tutelar da Classe e patrono de sua
Casa, aqui bem perto estaria na sua inegualavel benemerên-
cia de suas obras e pela
püblica, atestadapela grandiosidae
veneração dos brasileiros, o glorioso Visconde de Mauá! (31)

29- SIMON NEWCOND "A Plain Man's Talk on the Labour


Question". N. York 1886.
30-ARTHUR T. HADLEY "Economies"- in Prefácio. New
York -896.
31-RENATO COSTA- "Sintese de uma vida-Mauá".

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