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Ronaldo Baltar

DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO


DECENTE

Ronaldo Baltar*

O objetivo do artigo é discutir alguns desafios para o projeto brasileiro de desenvolvimento, baseado
no consumo de massas dos três últimos Planos Plurianuais, que consiste na busca de equacionamento
entre a ampliação da renda nacional através do trabalho, com aumento da empregabilidade e
eliminação da precarização do trabalho. A pesquisa procura avaliar e comparar alguns indicadores
sobre qualidade no emprego formal, tal como definido pela proposta da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) para a Agenda do Trabalho Decente, em conjunto com dados que mostram a
trajetória de inserção do Brasil no comércio internacional. O estudo levanta questões sobre as
possibilidades de se garantir uma política de maior inserção no processo de globalização e, ao
mesmo tempo, rever as consequências diretas da internacionalização da produção e do comércio
sobre a qualidade do trabalho e a geração de renda. O texto conclui apontando que a formação de
uma política de desenvolvimento centrada na ampliação do mercado interno, com propostas de
expansão do consumo de massas, requer a definição de metas, não apenas de empregabilidade,
mas voltadas à formação de empregos que atendam aos direitos fundamentais dos trabalhadores,
seguindo os parâmetros da Agenda do Trabalho Decente.
PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento. Trabalho Decente. Indicadores de Monitoramento.

A AGENDA NACIONAL DE DESENVOLVIMEN- Sob a noção de Trabalho Decente, a OIT


TO E O TRABALHO DECENTE unificou diferentes campanhas promovidas pela
própria organização no último quartel do século
O objetivo do trabalho é discutir como a XX. Unificou o combate à precarização das condi-
Agenda do Trabalho Decente pode ser um cami- ções de trabalho e redução do salário real dos tra-
nho para a análise e instrumentalização de pro- balhadores, com a promoção dos Direitos Funda-
postas de monitoramento para o desenvolvimento mentais do Trabalho – liberdade sindical; direito
brasileiro centrado no Plano Plurianual do gover- de negociação coletiva; eliminação de toda forma
no federal. de trabalho forçado, do trabalho infantil e de todas

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O conceito de Trabalho Decente foi propos- as formas de discriminação (gênero e raça, sobre-
to pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) tudo) relativas ao emprego (Fields, 2003, p. 242).
pela primeira vez em 1999. Na mensagem do Dire- A estas campanhas, adicionou os temas proteção
tor Geral da OIT, Juan Somavía, na Conferência social ao trabalhador e o diálogo social.
Internacional do Trabalho em 1999, o Trabalho Em 2003, o governo brasileiro assinou um
Decente foi definido como um trabalho com justa Memorando de Entendimento com a OIT para cri-
remuneração, realizado em condições adequadas, ação de um Programa Especial de Cooperação Téc-
em regime de liberdade, equidade e segurança. O nica e para a promoção de uma Agenda Nacional
Trabalho Decente deveria permitir ao trabalhador de Trabalho Decente. Três anos depois, em 2006,
e sua família uma vida digna e saudável. o Ministério do Trabalho e do Emprego iniciou a
elaboração da Agenda Nacional de Trabalho De-
* Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
Professor associado Departamento de Ciências Sociais e cente com a participação de diversas associações
membro do Programa de Pós-graduação em Ciências
Sociais da Universidade Estadual de Londrina. empresariais e sindicais. Entre as medidas inclu-
Rodovia Celso Garcia Cid. Campus Universitário. Caixa sas na Agenda Nacional do Trabalho Decente esta-
Postal: 6001. Cep: 86051-990 – Londrina – Paraná – Bra-
sil. baltar@uel.br va o reconhecimento das Centrais Sindicais e o

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encaminhamento da ratificação da Convenção 151 aria a expansão das empresas modernas em diversos
da OIT, sobre negociação coletiva e direito de gre- setores da cadeia de bens de consumo.
ve. Ratificação que veio a ocorrer pelo Senado Fe- A proposição de “crescimento por consu-
deral em maio de 2010 e sancionada pelo Presi- mo”, contida no PPA 2004-2007, tem bastante se-
dente Lula em junho do mesmo ano. melhança com o diagnóstico de Celso Furtado so-
Naquele mesmo ano de 2006, houve a XVI bre o limite do mercado interno como entrave es-
Reunião Regional dos Estados Americanos mem- trutural a ser superado para fomentar o desenvol-
bros da OIT, que estabeleceu um compromisso, vimento no país (Furtado, 1974, p.232), embora
assinado por todos os chefes de estados presen- esta referência não esteja explicitamente mencio-
tes, para a realização de ações governamentais vol- nada no documento. No PPA, o crescimento por
tadas à aplicação, por cada país do Continente, consumo de massa tem como fundamento uma
dos princípios básicos da política Trabalho Decente. combinação entre ganhos de produtividade e am-
Entre estes princípios, destaca-se a intenção de: pliação do mercado interno. Os ganhos de produ-
tividade decorreriam, não apenas do mercado in-
[...] promovere cumprir as normas e os princípi- terno, mas seriam beneficiados pela expansão do
os e direitos fundamentais no trabalho; criar
maiores oportunidades para mulheres e homens mercado externo e da maior qualificação das em-
para que disponham de remuneração e empre- presas e dos trabalhadores no processo de compe-
gos decentes; realçar a abrangência e a eficácia
tição internacional. Mas o texto enfatiza que a rea-
da proteção social para todos e fortalecer o
tripartismo e o diálogo social (OIT, 2006, p.8). lização do processo de desenvolvimento ocorre no
âmbito da expansão do mercado interno.
A Agenda Hemisférica, como o documento O PPA 2008-2011, “Inclusão social e a edu-
ficou conhecido, fundamenta-se em uma análise cação de qualidade”, mantém a ideia de expansão
crítica das políticas de reformas econômicas do consumo de massa e acrescenta as prioridades
adotadas nos anos 90 pela maioria dos países da de investimentos em infra-estrutura (notadamente
América Latina. Segundo dados do documento, através do Plano de Aceleração do Crescimento -
houve incremento de 0,21% ao ano do produto por PAC). Os mesmos argumentos fundamentam o PPA
trabalhador entre 1990 e 2005 – muito aquém do 2012-2015, intitul ado de “Plano Mais Brasil” (Pla-
esperado pelas reformas. No mesmo período, au- no Mais Brasil, 2011). O Plano constata a amplia-
mentou o desemprego, a informalidade e a ção do mercado consumidor interno devido, so-
precarização do emprego “associada à insegurança bretudo, aos programas de transferência de renda
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das remunerações, à menor proteção social, à maior e ao ingresso de mais pessoas no mercado de tra-
rotatividade da força de trabalho” (OIT, 2006, p.2). balho entre 2002 e 2010. Partindo desta constatação,
No ano de 2004, um ano após a assinatura do o PPA “Mais Brasil” projeta para os próximos anos
Memorando de Entendimento com a OIT para pro- condições favoráveis de crescimento da economia.
moção do Trabalho Decente, o governo federal lan- As conexões entre a agenda para promoção
çou o Plano Plurianual PPA-2004/2007, chamado de do Trabalho Decente e a proposição de crescimen-
“Plano Brasil - participação e inclusão”. Entre os di- to por meio do mercado consumidor são explíci-
versos eixos que sustentam as propostas deste pla- tas, embora não apareçam desta maneira nos do-
no, está a ideia da “dinâmica de crescimento por cumentos e nas propostas de ação política das di-
consumo de massa” (Plano Brasil, 2004, item IV). ferentes instâncias de governo encarregadas da sua
Segundo o documento, o PPA pretendia inaugurar elaboração. A consolidação da opção de crescimento
um ciclo de crescimento por meio da expansão do por meio do mercado consumidor interno depen-
mercado consumidor, que seria sustentado pela in- de da ampliação do emprego formal, da distribui-
corporação de mais pessoas (famílias) no mercado ção de renda via salário e da qualidade do empre-
formal de trabalho. Ao mesmo tempo, o Plano apoi- go gerado.

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As dimensões do conceito de “trabalho do século XX. De modo geral, para além das dife-
decente”, proposto pela OIT, enquanto instru- renças de interpretação e de formalização
mento analítico, extrapolam o estudo de condi- conceitual, este conjunto de autores apontava o
ções específicas de trabalho e permitem fato de que os países, no fim dos anos noventa, não
reintroduzir a discussão sobre o desenvolvimento eram tão mais abertos para o sistema internacional
econômico e social no âmbito da globalização. do que haviam sido no início do século XX, antes
Fornecem, também, subsídios para uma refle- da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
xão sobre ações de políticas de desenvolvimento Esses autores destacam que, embora esta
baseadas na expansão do mercado consumidor forma de abertura econômica gerasse mais riqueza
interno, tal como propostas nos referidos planos para o sistema comercial e produtivo de alguns
plurianuais. países, resultava, também, em uma piora da quali-
Os compromissos institucionais para o de- dade de vida e maior exploração do trabalho em
senvolvimento articulam-se com a Agenda vários outros. Estas proposições foram, de manei-
Hemisférica da OIT, da qual o governo brasileiro é ra geral, confirmadas pelos dados do Banco Mun-
signatário. Mais do que documentos de divulgação dial sobre a relação entre o volume de investimen-
ideológica, os compromissos assumidos publica- tos e transações internacionais e o aumento da
mente e os acordos internacionais firmados, que pobreza mundial acima do esperado no mesmo
derivam destes documentos, podem ser utilizados período (Banco Mundial, 2003, p. 68-69).
como plataforma de ação dos agentes sociais, com Se tomarmos as relações de troca como
o fim de regular o processo de desenvolvimento parâmetro para avaliar o grau de integração entre
do país, voltado para o fim da discriminação e da os países, temos uma forma simplificada de
desigualdade social através do trabalho. mensurar a globalização como uma extensão do
conceito de “centro e periferia” extraído da tese
cepalina sobre o subdesenvolvimento e a relação
GLOBALIZAÇÃO, MERCADO INTERNO E dos termos de troca (Furtado, 1974, p. 232-234).
TRABALHO DECENTE Esta é uma forma inicial de visualização, com o
intuito de ilustrar a argumentação sobre os limites
A implementação das políticas de desen- da política nacional de desenvolvimento centrada
volvimento centradas no consumo de massas e de no mercado de consumo e o trabalho decente.
Trabalho Decente, no Brasil, resultam e estão dire- O trabalho de Gleditsch (2002) propõe um

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tamente integradas ao processo de globalização. Tal modelo de análise das relações comerciais bilate-
como já se discutia no debate sobre desenvolvi- rais entre países a partir de uma metodologia de
mento nos anos 1950 e 1960, a forma como o país análise de redes sociais (Social Network Analysis
se inserir no sistema de comércio internacional de- – SNA). Os dados dos Gráficos 1 e 2 são uma
finirá o tipo de desenvolvimento e os seus limites aplicação de dados de comércio internacional en-
possíveis. Nos anos 1980 e 1990, os debates sobre tre países selecionados (matriz de comércio bilate-
a globalização e as formas de ajuste estrutural eclip- ral importação mais exportação). Os dados foram
saram a discussão sobre desenvolvimento. coletados do Fundo Monetário Internacional
Diversos autores, entre eles Lipietz (1991), (Direction Of Trade Statistics - DOTS) e da Secre-
Touraine (1994), Wallerstein (1994), Chesnais (1995; taria do Comércio Exterior (SECEX) no Brasil.
1996), Arrighi (1996), Ianni (1996), Petrella (1996), Diferentemente do modelo original aplicado
Beck (1998), Dupas (1998; 2008), Hirst e Thompson por Gleditsch, optou-se, aqui, por aplicar o algoritmo
(1998), Gentili (1999), e Petras (1999) discutiram a proposto por Fruchterman e Reingold (1991) para a
natureza da globalização e avaliaram os impactos formação do layout (disposição dos países no gráfi-
sociais da abertura econômica na segunda metade co), conforme implementado por Bastian et al.

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(2009). Este algoritmo repre-


senta, visualmente, melhor a
ideia de centro e periferia
(Furtado, 1974, p. 142) que
se quer ilustrar.
De maneira geral, este
modelo representa uma ana-
logia com centros de gravi-
dade. Cada nó possui uma
força de atração, que cha-
maremos, aqui, de densida-
de de fluxo de comércio in-
ternacional. Esta densidade
é calculada pela relação en-
tre o volume de comércio
bilateral (importações e ex-
portações) e o número de
países com os quais um de-
terminado país mantém re-
lações comerciais. Quanto
maior a densidade, mais o
nó se move para o centro
do gráfico. Assim, um país
A estará mais ao centro do
que um país B se a densi-
dade medida pelo volume
de comércio bilateral e o
número de parceiros co-
merciais de A for maior do
que a densidade de B.
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Nos dois gráficos, as


linhas indicam os parcei-
ros comerciais e o tamanho
do nó representa o volume
total de comércio bilateral
(soma das importações
mais exportações com to-
dos os países). Para efeito
de composição visual do
gráfico, para cada tamanho
de nó (país), aplicou-se um
limite de proporcionalidade
com cinco níveis de com-
paração (no gráfico, o país
com maior volume repre-

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senta cinco vezes o tamanho do país com menor Econômico (OCDE), demonstra maior densi-
volume). Os nomes dos países estão representa- dade de fluxo comercial entre vários países;
dos pelo código ISO de três letras. · O aumento do núcleo do sistema, ou o
O Gráfico 1 representa a aplicação do mo- estreitamento da distância entre os círculos mais
delo SNA para 158 países selecionados em 1960. próximos do centro, afetam o desempenho com-
Este gráfico representa a visualização da ideia de petitivo das empresas no mercado internacional,
“centro e periferia” em termos de densidade de pressionando salários e condições de trabalho.
fluxo de comércio bilateral. Estados Unidos, Fran- Como se pode observar no Gráfico 2, há
ça, Alemanha Ocidental, Reino Unido e outros uma ampliação do núcleo do sistema e a intensifi-
países da Europa Ocidental compõem o centro cação do comércio internacional. Esta intensifica-
gravitacional do comércio internacional (concen- ção permite possibilidades de crescimento econô-
tram os maiores volumes de comércio e têm o mico e ganhos de produtividade para empresas e
maior número de parceiros comerciais). países, mas, também, reforça a assimetria clara
O Brasil encontra-se em uma linha próxi- entre direitos, condições de trabalho e concen-
ma, mas fora do núcleo central. Pode-se visualizar tração de renda entre as várias regiões do globo.
“anéis” ou “órbitas” de países em torno do cen- A globalização não tem o mesmo impacto social
tro, que formam não uma, mas várias “periferi- para todos os países, embora todos tenham mai-
as” ou níveis diferentes de inserção na economia ores ganhos econômicos.
internacional. Este gráfico permite, também, Conforme o Gráfico 2, a posição do Brasil
visualizar aquelas economias que Cardoso e próximo ao núcleo central pode ser explicada
Faletto (1977, p. 26 e 83) denominaram de “eco- pelo aumento efetivo do volume de comércio e
nomias de enclaves”, como sendo aquelas na a diversificação do número de parceiros.
borda ou na extrema periferia do sistema de co- Por sua vez, o processo de intensificação
mércio mundial. comercial e diversificação de parcerias interna-
As relações políticas entre os países (blo- cionais, ao longo do século XX e início do XXI,
cos geopolíticos) não se podem representar por pode ser observado a partir das informações do
um gráfico de relações comerciais, mas o Gráfi- Gráfico 3, sobre as exportações brasileiras entre
co 1 demonstra o sistema comercial internacio- aos anos de 1901 e 2007.
nal com um nível bem delimi-
tado e centralizado, que mu-

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dará nos anos 90 em diante, no
período de globalização. Esta
mudança afeta a forma de se
projetar o desenvolvimento dos
países.
Esta nova fase da
globalização, conforme se pode
observar no Gráfico 2, tem as
seguintes características:
· O fluxo de capital da econo-
mia internacional, embora
ainda concentrado nas eco-
nomias dos países membros
da Organização para Coope-
ração e Desenvolvimento

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De acordo com esse gráfico, no início do decréscimo ao longo dos anos 1990, vêm apre-
século XX, a Europa constituía-se no principal sentando um crescimento ininterrupto nas par-
parceiro comercial do Brasil, representando o ticipações das exportações brasileiras, a partir
destino de aproximadamente 56% das exporta- de 2000, contribuindo para a configuração de
ções. Na sequência, destacam-se a América do um cenário comercial mais complexo para o Bra-
Sul e os Estados Unidos nas relações comerciais sil ao final da primeira década do século XXI.
com o Brasil, ambos recebendo mais de 10% Complementando esse quando, destaca-
das exportações brasileiras. se que a pauta de exportações do país também
Observa-se um movimento dinâmico na se tornou mais diversificada, conforme se ob-
participação dos parceiros comerciais do Brasil serva no Gráfico 4, com aumento do peso relati-
ao longo da primeira metade do século XX, de vo dos setores de máquinas e equipamentos, pro-
forma que, no início da década de 1950, o perfil dutos metalúrgicos e outros setores da indústria
dessas parcerias difere bastante daquele que ca- de transformação, ao longo da segunda metade
racterizou o início do século: a Europa deixou do século XX e início do XXI. Este dado é im-
de ser o destino primordial dos produtos expor- portante para se pensar a formação de um mer-
tados pelo Brasil, passando a representar, em cado consumidor interno em relação à necessá-
1952, um pouco mais de 30% dessas exporta- ria expansão das exportações de produtos indus-
ções; por sua vez, os Estados Unidos aumentam trializados, o que afeta a relação de termos de
sua participação nas relações comerciais brasi- troca, tão cara à Comissão Econômica para a
leiras, passando a representar cerca de 50% das América Latina e o Caribe (CEPAL) (Furtado,
exportações. Destacam-se, por fim, o recuo na 1974, p. 297).
participação da América Latina, a reanimação A diversificação da pauta de exportações
da presença da Ásia entre os parceiros do Brasil em direção aos produtos industrializados, além
e a presença inédita do Oriente Médio e da Áfri- de alterar a relação dos termos de troca, insere o
ca entre os destinos dos produ-
tos brasileiros já nos anos inici-
ais da década de 1950.
Já no início do século
XXI, o que se observa é uma
maior complexidade nas rela-
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ções comerciais do Brasil: por


um lado, não se vê mais uma
parceria predominante, concen-
trando mais de 50% das expor-
tações brasileiras; o que se ob-
serva é um maior equilíbrio de
participação entre os principais
destinos dos produtos brasilei-
ros (Europa, América Latina,
Estados Unidos e Ásia). Por ou-
tro lado, o Oriente Médio e a
África, embora tenham aumen-
tado sua participação nas rela-
ções com o Brasil, nas décadas
de 1970 e 1980, seguido de um

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país nas relações internacionais de trabalho. Os sob dois aspectos: primeiramente, como arenas
países que tiveram os casos de maior exploração para disputas nacionais de litígios comerciais e
e precarização do trabalho pela expansão das políticos, sempre tendo em mente que os países
multinacionais nos anos 1980 e 1990, o que im- centrais têm um peso maior de decisão do que os
pulsionou a formulação das políticas da OIT de demais; e, em segundo lugar, como fóruns per-
promoção dos direitos fundamentais e do Tra- manentes de busca de regulação, intermediação,
balho Decente, não foram os países da periferia adequação e padronização dos mecanismos naci-
do sistema, foram os países que se aproximaram onais para o comércio e a cooperação internacio-
do núcleo central, tal como o Brasil, com maior nal. Esta é a importância da Agenda Hemisférica
impulso ao setor industrial de transformação, a para o Trabalho Decente e da própria OIT para a
exemplo do México e alguns países da América formulação de política nacional de desenvolvimen-
Central com as maquiladoras e o Vietnam, a to centrada na expansão do consumo.
Indonésia e o Paquistão, além de outros países, A existência deste tipo de fórum supranacional
com as Oficinas. é importante exatamente porque as característi-
cas nacionais ainda
são mais fortes do que
a globalização. Não há
um padrão global de
mercado, nem de mo-
eda. Cada país tem re-
gras próprias e políti-
cas próprias de prote-
ção aos seus investi-
mentos nacionais.
Além do que, cada
país tem uma estru-
tura de custo própria
(mão de obra, insu-
mos, infraestrutura).
As características na-

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cionais impõem con-
Ou seja, a globalização não deve ser vista di-cionantes locais à produção e à circulação de
como a substituição dos Estados Nacionais por mercadorias. Estes condicionantes afetam a
mecanismos ou instâncias supranacionais de competitividade internacional das empresas de
regulação da ordem mundial, aos quais todos os tal forma que as estratégias de investimento glo-
países estariam submetidos. Ao contrário, o peso bal são baseadas nas peculiaridades locais de cada
nacional ainda é um fator decisivo no jogo polí- unidade. Isto faz com que o caráter nacional do
tico internacional e não há indícios de que ve- investimento seja levado em consideração. Não
nha a ser diferente nas próximas décadas. Con- há estratégia transnacional que seja efetivamen-
tudo, a capacidade autônoma de decisão nacio- te adotada desconsiderando a adequação ou o
nal será tanto ou mais afetada quanto mais pró- contorno de peculiaridades locais sobre os in-
ximo do núcleo central do comércio internacio- vestimentos.
nal estiver o país. O problema da má qualidade do empre-
Estas instâncias supranacionais de deci- go, provocado pelos investimentos voltados ao
são do comércio internacional devem ser vistas processo de globalização, é uma característica

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comum a todos os países inseridos no processo dos Globais assinados entre empresas globais e
de globalização. O problema novo da globalização Federações Internacionais de Trabalhadores;
não é o nível de emprego ou a substituição do campanhas de comércio justo, promovidas por
emprego pela tecnologia, mas a mudança na qua- Organizações Não Governamentais; barreiras co-
lidade do emprego ofertado. merciais aplicadas às normas sociais e trabalhis-
Já no fim dos anos 1990 era evidente que tas e ambientais, normalmente implementadas
a globalização havia mais aprofundado as como proteção de mercados nacionais dos países
disparidades entre países e regiões do que redu- centrais; normatizações de organismos multilate-
zido as desigualdades. Houve, neste período, um rais, como o Global Compact da Organização das
grande avanço global em vários indicadores so- Nações Unidas (ONU), as diretrizes para empre-
ciais, medidos pelo Índice de Desenvolvimento sas multinacionais da OCDE, as diretrizes para
Humano (IDH), em quase todas as regiões do empresas multinacionais, convenções e a declara-
globo, mas, ao mesmo tempo, ficou nítido que o ção de Direitos Fundamentais do Trabalho da OIT.
crescimento econômico não era a garantia para Com isto, o alcance de políticas públicas
o desenvolvimento social ou humano. Mais ain- que têm como escopo as relações de trabalho
da, observou-se que a integração de mercados encontra uma forte barreira diante das relações
desiguais mais aprofunda do que ameniza as de- de mercado; terreno que, cada vez mais, se tor-
sigualdades existentes, quando medidas políti- na impermeável a estas ações, na medida em
cas de regulação não são implementadas con- que a regulamentação corporativa tende a se so-
juntamente. brepor à legislação pública. Sobretudo, quando
A possibilidade de desenvolvimento, como se trata de cadeias produtivas controladas por
política pública, não se situa mais apenas na ca- empresas transnacionais em toda a América La-
pacidade de os Estados Nacionais romperem os tina. Neste sentido, a definição de parâmetros
estrangulamentos que bloqueiam a industrializa- para o monitoramento de políticas de desenvol-
ção e a integração aos mercados mais dinâmicos vimento baseada na expansão do emprego pode
do sistema, como durante muitos anos se preco- ter um efeito importante para ações de grupos
nizou para a América Latina. Os novos limites ao sociais e sindicais interessados em, efetivamen-
desenvolvimento situam-se na regulação dos mer- te, criar meios públicos de regulamentação das
cados e do comportamento estratégico de empre- ações empresariais.
sas transnacionais e de seus investidores, visando
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garantir direitos sociais, trabalhistas e ambientais


como resultado do crescimento econômico. PARÂMETROS PARA O MONITORAMENTO DO
Em contraposição ao quadro de deterio- TRABALHO DECENTE E DESENVOLVIMENTO
ração das condições e da qualidade do emprego COM BASE NA EXPANSÃO DA RENDA
decorrente da globalização, foram formuladas
ações voltadas para a construção de marcos de Os parâmetros para o monitoramento do
regulação social internacionais. Trabalho Decente, no Brasil, são um instrumen-
Não apenas governos buscam mecanismos to de estudo importante, na medida em que são
de regulação, mas, também, diversos outros ato- indicadores que já estão inseridos nos acordos
res nacionais e internacionais, o que se apresen- internacionais, nos compromissos governamen-
ta como mais um desafio aos Estados para arti- tais brasileiros e nos princípios dos Planos
cularem políticas nacionais de desenvolvimento Plurianuais de Desenvolvimento e Crescimento
ao conjunto de iniciativas que formam marcos Econômicos. São as medidas reguladoras, que
regulatórios do comércio internacional e da ação fundamentam os compromissos e as metas pú-
de empresas transnacionais, tais como os Acor- blicas assumidas pelo governo em torno da Agen-

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da do Trabalho Decente, e criam parâmetros glo- fortalecer a nova agenda de desenvolvimento. O


bais que delimitam o comportamento de em- que impõe o desafio de se definir estratégias ar-
presas multinacionais. ticuladas com vários atores sociais para constru-
Por exemplo, em resposta às pressões dos ção e avanço de uma nova agenda, conectando
governos dos países em desenvolvimento, a OIT crescimento econômico, mercado de trabalho,
formulou a Declaração Tripartite de Princípios sustentabilidade e distribuição de renda.
sobre Empresas Multinacionais e Política Social, Uma destas estratégias de ação tem sido
em 1977. Na década de 1990, a OCDE criou as aprofundar o debate em torno do conceito de
Diretrizes para as Empresas Multinacionais com Trabalho Decente, a partir dos seguintes pontos
o mesmo sentido, que gerou resposta de várias básicos:
organizações sindicais e reações estratégicas do 1. O princípio de que os investimentos interna-
“Sindicalismo Global” (Secretariados Internacio- cionais são responsáveis pela qualidade local
nais por Ramo, Central Sindical de Organizaciones das relações de trabalho;
Libres – CIOLS; Trade Union Advisory Committee 2. Esta relação de responsabilidade se estende
to the OECD – TUAC, entre outros) em relação à aos fornecedores;
Declaração Tripartite e às Diretrizes da OCDE, o 3. Requer parcerias entre agências governamen-
que resultou na introdução do tema do direito tais, não governamentais e outros agentes da
de liberdade de associação e de negociação cole- sociedade civil para ser implementada;
tiva entre as normas de conduta para as empre- 4. Requer a noção de desenvolvimento sustentá-
sas transnacionais. vel sempre presente;
Todo este conjunto de normas abrange as 5. O monitoramento do impacto social dos in-
empresas em todas as suas filiais, impedindo que vestimentos e da produção é passível de ser
as estratégias de difusão internacional da produ- regulado por organismos multilaterais ou
ção possam valer-se de leis locais ou de fragili- supranacionais.
dades na organização social ou na legislação re- Trabalho decente, de fato, sustenta-se na
gionais. Estas campanhas unem sindicatos, or- ideia de que os mercados têm que prestar conta
ganizações sociais e órgãos de defesa do consu- dos seus impactos sociais. Isto permite a ligação
midor em ações conjuntas contra o consumo de entre o campo de ação social, a política de de-
produtos ou serviços produzidos em condições senvolvimento e a organização social dos atores,
que não respeitem normas sociais, trabalhistas e através da transparência de informação, da cons-

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ambientais. trução de agendas, da institucionalização de are-
Do ponto de vista das empresas, estes são nas de decisão coletivas e participativas.
temas que afetam, diretamente, a distribuição glo- A questão metodológica resultante é a se-
bal dos investimentos e as relações com gover- guinte: como relacionar estes pontos básicos da
nos, trabalhadores, sindicatos, organizações da Agenda do Trabalho Decente com o processo de
sociedade civil e, em certa medida, definem os desenvolvimento inserido no âmbito global, de
parâmetros mínimos de concorrência em diver- modo que se possam construir instrumentos ana-
sos setores de produção. Apesar dos compromis- líticos efetivos de monitoramento? O caminho está
sos internacionais e posturas discursivas adotadas na identificação de um modelo que correlacione
por diversas empresas e organizações empresari- o processo de desenvolvimento com as transfor-
ais, as práticas comerciais, padrão de investimen- mações no padrão de mercado trabalho.
to e estrutura de produção nem sempre Diferentes autores, tanto na literatura na-
correspondem aos princípios éticos promovidos. cional como na internacional, têm se debruçado
Nos países em desenvolvimento, sobretu- sobre o tema, com propostas de análise que apon-
do no Brasil, estes marcos regulatórios podem tam os diversos aspectos que permitem eviden-

113
DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO ...

ciar a complexidade de relações entre processos põem os indicadores de trabalho decente (ou seu
de trabalho e desenvolvimento. Entre estes es- oposto: o processo de precarização do trabalho),
tudos, destacam-se aqueles empreendidos por considera-se aqui que a relação entre estas duas
Schuurman (1993), Fligenspan e Schneider variáveis destaca-se por apontar diretamente: 1)
(2000), Fields (2003), Ghai (2003), Standing as possibilidades de variação entre emprego, ren-
(2003), Pochman (2005), Burniaux et al. (2006), dimento, rotatividade, precarização, capacidade
e Carleial (2010). de consumo, produtividade; 2) para o potencial
Num balanço dessa bibliografia, o que se de desenvolvimento econômico, ancorado na ex-
pode depreender é que a relação entre desenvol- pansão do mercado consumidor e no trabalho
vimento econômico (ou apenas crescimento eco- decente. Anker, Chervyshev, et al. (2002) defini-
nômico para alguns) e processos de trabalho evi- ram um conjunto de indicadores que pudessem
dencia-se, principalmente, através da intensifi- mesurar as diferentes instâncias da proposta de
cação da produtividade. Destaca-se nesse balan- Trabalho Decente, como plano de ação da OIT.
ço, também, que o debate sobre a forma de se Dentre este conjunto de indicadores, os
avaliar essa intensificação de produtividade não estudos de Baltar et al. (2007) e Baltar (2012)
se resume, apenas, à consideração da diferença permitem apontar que três variáveis, remunera-
entre o rendimento auferido pelo trabalhador e ção, tempo de permanência no emprego e jor-
a variação na produtividade do trabalho; cada nada de trabalho, sintetizam grande parte da
vez mais, diferentes autores vêm dando espaço variação dos dados apontados em todos os indi-
em seus estudos à consideração das diferentes cadores definidos por Anker et al (2002), po-
formas de precarização do trabalho como um dendo, assim, ser utilizadas como indicador sín-
elemento adicional numa maior intensidade pro- tese para apontar condições de trabalho, como
dutiva. Precarização aqui entendida como pro- aqui definidas em termos da Agenda do Traba-
cesso oposto às metas estabelecidas pela Agenda lho Decente. Ou seja, há uma correspondência
do Trabalho Decente. entre baixos salários, jornada de trabalho exces-
Estes estudos podem, também, ser consi- siva e alta rotatividade no trabalho em situações
derados, aqui, como empiricamente convergen- descritas pelo conjunto dos indicadores, como
tes às análises do DIEESE (2010) que apontam sendo opostas às metas de Trabalho Decente.
que, na última década, houve um conjunto de Além disto, como destacado por Baltar e
transformações positivas no mercado de trabalho et al (2007), estes três fatores estão no centro
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brasileiro, como resultado da política de desen- das principais disputas entre as representações
volvimento do país. Mas, segundo a mesma ava- sindicais e patronais no Brasil. Este debate tem
liação do DIEESE, “[...] permanecem, entretanto, sido travado em várias arenas, sobretudo nas
desafios históricos e estruturais do mercado de Conferências de Trabalho e Emprego Decente e
trabalho brasileiro destacando-se o alto desem- no Congresso Nacional. As polêmicas surgem,
prego, os baixos rendimentos, a informalidade e por exemplo, em torno de propostas como a re-
a rotatividade [...]” (DIEESE, 2010, p. 4). dução da jornada de Trabalho de 44 para 40 ho-
Assim, partindo dos elementos teóricos e ras, sem redução no salário;, e a ratificação da
metodológicos apresentados anteriormente, pre- Convenção 158 da Organização Internacional do
tende-se construir, como parâmetro de Trabalho (OIT), que coíbe a demissão imotivada.
monitoramento para a avaliação do desenvolvi- Desta maneira, a relação entre remunera-
mento e da qualidade do trabalho, a relação en- ção e tempo de permanência no emprego foi
tre os seguintes variáveis: permanência no em- utilizada neste estudo como uma síntese analíti-
prego (rotatividade) e remuneração (salário). ca para o conjunto amplo de indicadores sobre
No amplo conjunto de variáveis que com- trabalho e desenvolvimento e, ao mesmo tem-

114
Ronaldo Baltar

po, por apontar para um dos núcleos polêmicos los) e, portanto, pode haver trabalhadores com
do debate político em disputa no Brasil sobre o mais de um vínculo.
tema. Uma análise mais aprofundada poderia A análise dos dados da Tabela , como in-
utilizar um cálculo de rotatividade no trabalho dicador para o monitoramento da variação do
no lugar da variável tempo de permanência no emprego em relação às proposições do Trabalho
emprego. A variável jornada de trabalho não foi Decente e do Desenvolvimento baseado em ex-
utilizada neste estudo na medida em que, como pansão do consumo, pode ser feita de maneira
se tratam de dados de contrato formais de tra- mais detalhada através dos Gráficos 6 e 7, que
balho, registrado pela Relação Anual de Infor- correlacionam a variação da média salarial e o
mações Sociais do Ministério do Trabalho e Em- tempo de vínculo do trabalho para cada estrato
prego (RAIS-MTE), a variação na jornada de tra- ocupacional, comparando-se as variações para
balho espelha o vínculo contratual e não a jor- os anos de 2005 e 2010.
nada efetiva. Cada gráfico apresenta uma relação entre
Nesse sentido, na Tabela 1 apresenta-se a salário e rotatividade, tomada como indicador
variação dos indicadores de tempo e permanên- sintético, que exprime um conjunto de proble-
cia no trabalho e remuneração, entre os anos de mas históricos mencionados na bibliografia ana-
2005 e 2010 (período que, como discutido, abran- lisada anteriormente e detalhado, sobretudo, no
ge os PPA’s fundamentados na expansão do con- estudo DIEESE (2010). Para a composição do in-
sumo, bem como a implantação da Agenda do dicador, nos Gráficos 6 e 7, o valor do salário em
Trabalho Decente no Brasil). Reais e o tempo de contrato em meses, para efeito
Para efeito da análise, apenas os dois anos de comparação, foram transformados em índi-
foram considerados, desprezando-se as flutuações ces de variação sobre a média. Por exemplo, um
entre os dois períodos. Os dados de remunera- índice de salários 100% representa a média sala-
ção média e tempo no emprego (em meses), ex- rial para aquele Grupo naquele Ano. Um índice
traídos da RAIS-MTE, estão agrupados por Gru- 50% representa a metade da média salarial no
po de Ocupação tanto no serviço público fede- mesmo período e assim por diante.
ral quanto em entidades empresariais privadas. Os dados nos Gráficos 6 e 7 estão
Os Grupos de Ocupação referem-se aos grandes estratificados por grupos de ocupação, seguindo
grupos, e estão estratificados da seguinte forma: a mesma definição da Tabela 1. Por exemplo,
o Grupo 1 abriga os membros superiores do po- “GR1” significa “Grupo de Ocupação 1 – Mem-

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der público e os dirigentes de organizações pú- bros Diretores da Administração pública” e, as-
blicas ou privadas. São diretores, executivos, di- sim, subsequentemente. O tamanho dos círcu-
rigentes de maneira geral. los é proporcional ao número de vínculos em
O Grupo 2 contém os profissionais de ci- cada Grupo. Quanto maior o círculo, mais vín-
ências e artes, em geral, pessoal de nível superi- culos e, de certa forma, mais pessoas estão con-
or trabalhando em atividades do serviço público tratadas naquele grupo ocupacional. São apre-
ou privado. No Grupo 3 estão os trabalhadores sentados dados para dois anos: 2005 (cor mais
de nível técnico, normalmente com formação escura) e 2010 (cor mais clara).
profissional escolar especializada em nível mé- Os gráficos estão divididos em quatro par-
dio. Nos Grupos de 4 a 9, estão os demais traba- tes pelo cruzamento das médias de variação de
lhadores de diversos setores da produção. O to- meses de contrato e variação de média salarial.
tal de vínculos indica, aproximadamente, o nú- Na parte superior esquerda (A), estão os grupos
mero de pessoas em cada atividade. Esta é uma com maiores salários e menores tempo de con-
aproximação, na medida em que os dados da trato. A parte superior direita (B) concentra os
RAIS informam contratos de trabalho (víncu- grupos com maiores salários e maior tempo de

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DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO ...
Ronaldo Baltar

balho Decente, vinculada a


um projeto de desenvolvi-
mento voltado ao consumo
de massas, que procure evi-
tar os problemas históricos
apontados na análise ante-
rior, deve buscar mover os
grupos para a parte (B) do
Gráfico. Quanto mais os gru-
pos permanecerem na par-
te (D), o indicador demons-
tra que mais a situação se
afasta de um quadro de de-
senvolvimento, embora haja
criação de empregos. A re-
dução da desigualdade (em-
bora não necessariamente a
elevação da renda) pode ser
observada nos grupos
ocupacionais que se mantêm
contrato. A parte inferior direita (C) tem os gru- próximos ao cruzamento dos índices (100%).
pos com menor salário e maior tempo de con- A análise da variação de indicadores para
trato. Por fim, a parte inferior esquerda (D) pos- o setor público federal, no Gráfico 6, mostra que
sui os grupos com menor salário e menor tempo a maioria dos Grupos de vínculos estavam com
de contrato. a remuneração acima da média e, também, o
O monitoramento de uma política de Tra- tempo de contrato. Os Grupos ocupacionais 1
(Membros Superiores do
Poder Público, Diretores),
2 (Profissionais de ciên-
cias e artes), 3 (técnicos

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de nível médio) e 4 (ser-
viços administrativos) es-
tavam mais próximos da
área “ideal” do gráfico (B).
Os Grupos 5, 6, 7, 9 e 9
(trabalhadores da produ-
ção e serviço de setores
diversos) têm pequena
participação no total de
contratos, mas, mesmo
em menor número no se-
tor público, se encontram
nos áreas (D) e (C) do grá-
fico de monitoramento.
Deve-se destacar o Gru-

117
DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO ...

po de trabalhadores com Vínculos por Ocupa- Ignorados (IGN) tiveram um recuo tanto na mé-
ção Ignorada (IGN), que se apresentam em nú- dia salarial quanto no tempo de trabalho. O Gru-
mero expressivo e ocupam a área do gráfico de po 4 aproximou-se da média e os demais Gru-
menor salário e maior rotatividade (D). pos caminharam em direção à área (D) do Gráfi-
Entre os anos de 2005 e 2010, o Grupo 1 co, mantendo a distância com os Grupos 1 e 2
(Diretores) caminhou para a média. Houve uma que permaneceram na área (A).
redução no nível salarial dos vínculos no Grupo A comparação entre os indicadores do
1, mas, ao mesmo tempo, um aumento no tem- Gráfico 6 (setor público federal) e Gráfico 7 (en-
po de contrato nesta ocupação. Mas o Grupo 1, tidades empresariais privadas) demonstra o quan-
do serviço público, permanece na área (A), salá- to o setor privado está mais próximo da situação
rios acima da média, porém maior rotatividade, de precarização oposta ao modelo de Desenvol-
característica própria da ocupação de cargos de vimento com Trabalho Decente acordado nos
chefia no serviço, orientado pelas indicações par- compromissos governamentais. Em ambos os
tidárias. Os Grupos 2 (profissionais de ciências e setores (público e privado) houve aumento de
artes) e 4 (trabalhadores de serviço administra- emprego entre 2005 e 2010, o que se pode ob-
tivo) fizeram o caminho contrário do Grupo 1. servar pelo aumento nos círculos dos Gráficos 6
Tiveram aumento de salário, mas redução no tem- e 7 que indicam o aumento proporcional no nú-
po de contrato. O Grupo 4 concentra um grande mero de vínculos de trabalho (aumento das es-
número de vínculos e encontra-se no cruzamen- feras). Apenas o Grupo 1 do setor público fede-
to dos eixos das duas variáveis, definindo a mé- ral apresentou redução no número de contratos
dia para o setor. de trabalho. Mas, como demonstram os indica-
A análise da variação dos indicadores para dores, o aumento do emprego por si só não re-
o setor privado no Gráfico 7 apresenta outro per- presenta cumprimento das metas instituídas de
fil, bem diferente daquele exposto para o setor desenvolvimento e promoção social do governo.
público federal. Pode-se observar que os estra- Há uma discrepância nítida entre o setor
tos de Grupos de ocupação distribuem-se de público federal e o setor privado, na qual o pri-
maneira mais linear no gráfico. Os Grupos de meiro concentra-se mais em torno do cruzamento
ocupação 1 e 2 estão bem localizados na área (B) das médias dos indicadores no Gráfico 6 – o que
do Gráfico 7 (área de maiores salários e maior corresponderia a uma situação desejável, uma
permanência no trabalho), enquanto os Grupos vez que a proximidade ao cruzamento das mé-
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5, 6, 7 e 8 (trabalhadores da produção e serviço dias representa uma redução da desigualdade


de setores diversos) estão na área oposta (D) com entre as ocupações.
menor salário e menor tempo de permanência Já o setor privado, embora tenha aumenta-
no trabalho (maior rotatividade). Apenas os Gru- do o número de vagas, mantém uma distância
pos 9 (trabalhadores em serviços de reparação e grande entre as ocupações situadas nos extremos
manutenção) e o Ignorados (em tamanho bem sociais, com o maior número de contratos (traba-
menor do que no serviço público) estão na área lhadores) nas ocupações que não são de direção
(C) do Gráfico, ou seja, tempo de trabalho mai- situadas no setor (D), enquanto os cargos de dire-
or do que a média, embora o salário seja menor ção permanecem na parte (B) do Gráfico 7.
do que a média do contratos registrados na RAIS. Para o cumprimento das metas expostas nas
Entre 2005 e 2010, os diretores e mem- intenções e nos compromissos públicos governa-
bros do Grupo 1, no setor privado, tiveram uma mentais, o cruzamento dos eixos deveria se locali-
redução média no nível salarial, embora tenham zar mais próximo do setor (B) e, para garantia de
aumentado o tempo de trabalho. Os demais gru- maior igualdade, todos os Grupos Ocupacionais
pos, exceto o Grupo 9, o Grupo 7 e o Grupo deveriam manter uma distância relativa próxima

118
Ronaldo Baltar

em torno do cruzamento dos eixos. Para o Brasil, o nho (B) da Figura 1: os investimentos levariam
setor público federal está mais próximo desta ca- ao aumento de produtividade, o que levaria ao
racterística do que o setor privado. aumento do emprego formal, aumentando a ren-
da das famílias, o que, por sua vez, aumentaria o
CONCLUSÃO consumo e este, por fim, impulsionaria mais ain-
da os investimentos.
Este tipo de situação, demonstrada pelos Porém, de acordo com a discussão desen-
indicadores dos Gráficos 6 e 7, ilustra o dilema volvida no presente trabalho, a pressão da mai-
da construção de uma proposta de desenvolvi- or densidade no fluxo de comércio do Brasil,
mento alicerçada na expansão do consumo de que coloca o país mais ao centro do sistema de
massas, que poderia se consolidar se articulada comércio internacional (Gráfico 2), pressiona o
com a Agenda do Trabalho Decente. país na geração de empregos conforme o cami-
Num certo sentido, poder-se-ia afirmar que nho (A) da Figura 1. Ou seja, a maior produtivi-
a consecução da maioria das metas do Trabalho dade decorrente dos investimentos levaria à cri-
Decente no Brasil se realizaria através da exten- ação de um maior número de empregos precári-
são, para o setor privado, de uma situação simi- os, com baixa remuneração e alta rotatividade.
lar à verificada no setor público federal. É o que se verificou na análise do setor privado
No entanto, dentro do quadro de inserção (Gráfico 7). O desafio é fazer com que o país se
globalizada do Brasil, tal como discutido anteri- desenvolva pelo caminho (B), ilustrado pelo que
ormente, se configurariam duas alternativas de ocorre com o setor público federal no Gráfico 6.
crescimento, cujas trajetórias são descritas na Assim, uma das formas de se analisar a
Figura 1. Considerando a forma como o Plano profundidade das relações institucionais e polí-
Plurianual (PPA) é concebido, destaca-se que o ticas que se estabelecem entre programas de de-
PPA baseia-se numa noção de um círculo virtu- senvolvimento propostos pelo governo federal
oso no crescimento, como ilustrado pelo cami- através dos Planos Plurianuais, o avanço social e
o crescimento econômico, pode
ser feita através do conceito de
“Trabalho Decente”, proposto
pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT): um instru-

CADERNO CRH, Salvador, v. 26, 67, p. 105-122, Jan./Abr. 2013


mento importante de análise, na
medida em que se constitui um
parâmetro de comparação inter-
nacional, não apenas de ações
governamentais voltadas a polí-
ticas de desenvolvimento, mas
que permite avaliar, também, o
papel direto das empresas neste
processo, ao longo de toda ca-
deia produtiva. Desta maneira,
pode-se refinar a análise do de-
senvolvimento, correlacionando
as dimensões sociais e humanas
(qualidade de vida, redução da
pobreza, distribuição de renda)

119
DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO ...

com a expansão e o crescimento econômico e solvidos, como a pobreza e o desemprego, mas,


comparando estas dimensões entre diferentes sobretudo, fazer regressar as condições gerais de
países. trabalho aos padrões abaixo do mínimo estabe-
Para a formação de uma política de de- lecido nas convenções da OIT.
senvolvimento centrada no emprego e no con-
sumo de massa (ou seja, no fortalecimento do
Recebido para publicação em 18 de janeiro de 2012
mercado interno), é importante definir metas não
Aceito em 16 de agosto de 2012
apenas de empregabilidade. A questão não é,
apenas, aumentar a possibilidade de se ofertar
emprego. Mas, para uma política de desenvolvi- BIBLIOGRAFIA
mento com preocupação social, não é qualquer
tipo de emprego de que se trata aqui, mas o em- ANKER, R.; CHERNYSHEV, I.; EGGER, P.; MEHRAN, F.;
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prego precário seria aquele que não onera o capi- lo: Futura, 2003.
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source software for exploring and manipulating networks.
e as garantias ao trabalhador são mínimas. O em- International AAAI Conference on Weblogs and Social Me-
prego precário seria preferível a “nenhum em- dia, 2009.
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prego”, isto é, estar minimamente incluído no sis- Série Assuntos Internacionais/IEA da USP, 1997.
tema social seria preferível à exclusão. Este em-
CADERNO CRH, Salvador, v. 26, 67, p. 105-122, Jan./Abr. 2013

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de renda é preferível a nenhuma fonte de renda. respuestas a la globalización. España: Paidós, 1998.
Diante disso, o desafio para o projeto de de- BERNARDO, J. Transnacionalização do capital e fragmen-
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senvolvimento nacional consiste na busca de res- São Paulo: Boitempo, 2000.
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po, rever as consequências diretas da internaciona- CARLEIAL, L.M.F. Subdesenvolvimento e mercado de traba-
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121
DESENVOLVIMENTO, GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO ...

DEVELOPMENT, GLOBALIZATION AND DÉVELOPPEMENT, MONDIALISATION ET


DECENT WORK TRAVAIL DÉCENT

Ronaldo Baltar Ronaldo Baltar

The aim of this article is to discuss Le but de cet article est de mener une
challenges being faced by the Brazilian discussion concernant certains défis du projet
development project, which has been based on brésilien de développement, en nous basant sur
the mass consumption of the last three Multi- la consommation de masse des trois derniers Plans
year Plans, which have sought to strike a balan- Pluriannuels. Ce projet se veut de trouver
ce between the increased income of Brazilian l’équation entre l’expansion des revenus
workers, greater employability, and the nationaux par le travail et l’augmentation des
elimination of job instability. This study attempts offres d’emploi ainsi que l’élimination de la
to assess and compare indicators of formal job précarisation du travail. La recherche a pour but
quality as defined by the proposal by the d’évaluer et de comparer quelques indicateurs
International Labour Organization (ILO) of a concernant la qualité des emplois formels, tels
Decent Work Agenda, together with data which que définis par la proposition de l’Organisation
show the trajectory of Brazil’s entry into the Internationale du Travail (OIT) pour un Agenda
foreign trade arena. The paper raises issues about du Travail Décent, en les mettant en rapport avec
the possibilities of guaranteeing a policy of a les données qui indiquent la trajectoire d’insertion
greater role in the globalization process while du Brésil au sein du commerce international.
re-evaluating the direct consequences of the L’étude soulève des questions sur les possibilités
internationalization of production and trade on de garantir une politique de meilleure insertion
the quality of work and generation of income. dans le processus de mondialisation et, en même
The text concludes by pointing out that temps, de revoir les conséquences directes de
development policy formation centered on a l’internationalisation de la production et du
larger domestic market, with proposals for commerce sur la qualité du travail et la génération
expanding mass consumption, means the de revenus. En conclusion le texte fait remarquer
redefinition of goals, not only for employability, que la formation d’une politique de développement
but also creating jobs that fulfill workers’ fun- centrée sur l’expansion du marché interne, avec
damental rights, in accordance with the des propositions d’augmentation de la
parameters of the Decent Work Agenda. consommation de masse, suppose la définition
d’objectifs, non seulement pour l’emploi, mais
axés sur la création d’emplois qui répondent aux
droits fondamentaux des travailleurs, respectant
les paramètres de l’Agenda pour le Travail Décent.

K EY W ORDS : Development. Decent work. M OTS- CLÉS : Développement. Travail décent.


Monitoring indicators. Indicateurs de surveillance.
CADERNO CRH, Salvador, v. 26, 67, p. 105-122, Jan./Abr. 2013

Ronaldo Baltar - Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Professor associado Departa-
mento de Ciências Sociais e membro do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universida-
de Estadual de Londrina. Publicações recentes: Trabalho decente, dinâmica populacional e desenvolvi-
mento regional no Paraná. Bahia Análise & Dados, v. 20, p. 215-228, 2010; Durkheim: a sociologia como
ciência. In: Vera Chaia; et. al. (Org.). Pensamento e Teoria nas Ciências Sociais: autores referenciais, dos
clássicos aos contemporâneos. 1 ed. São Paulo: EDUC, 2011, p. 100-130; Crise do capitalismo ou crise
financeira? Apontamentos para uma análise sociológica sobre a crise norteamericana de 2007-2008. In:
Eliane Hojaij Gouveia; Ronaldo Baltar; Teresinha Bernardo. (Org.). Ciências Sociais na Atualidade:
temáticas contemporâneas. 1 ed. São Paulo: EDUC, 2011, v. 1, p. 50-68.

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