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Aluno(a) _________________________________________

Disciplina: LINGUA PORTUGUESA


Profª Márcia Maia

TEXTOS DE APOIO PARA AVALIAÇÃO DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Faremos, em breve, uma produção de texto avaliativa. Os textos que seguem


funcionam como um material de estudo com o assunto geral a ser explorado (mas
não corresponde ao tema específico). Leiam, embasem-se e estudem a estrutura
estudada para a introdução e a proposta de intervenção.

Texto 01: Extraído da Revista Nova Escola


Por que é importante discutir o que é a escravidão nos dias de hoje
Projetos de lei que alteram direitos trabalhistas suscitam discussões sobre o tema

Monise Cardoso

Trabalhador em fazenda de cana (Shutterstock)

“Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico,
presta serviços de natureza não eventual a empregador rural ou agroindustrial, sob a
dependência e subordinação deste e mediante salário ou remuneração de qualquer
espécie.”
Essa é a definição de remuneração do trabalhador rural de acordo com o parágrafo
terceiro do projeto de lei 6442/16, apresentado pelo deputado Nilson Leitão (PSDB-MT)
para entrar como parte da reforma trabalhista. Um trecho que chamou a atenção da
mídia – e debates em redes sociais – por afirmar que a mão de obra poderia ser trocada
por moradia ou comida, o que seria retomar oficialmente o trabalho escravo no Brasil.
O deputado foi rápido em negar essa intenção, reconhecendo problemas de
redação no PL. “O que está escrito precisa ser melhorado, e isso vai acontecer porque
faz parte do processo legislativo. De forma alguma sugiro a troca de trabalho por
moradia ou algo do tipo, mas sim que, além do salário fixado por lei para o trabalhador
rural, haja também a disponibilidade de moradia como um dos benefícios, cabendo,
claro, desconto percentual com limites estabelecidos”, diz.
A chance de o projeto original prosperar não era grande. De acordo com Leonardo
Sakamoto, jornalista e fundador da ONG Repórter Brasil que se dedica a pesquisar e
noticiar ações que violam os direitos fundamentais dos trabalhadores, a lei entraria em
conflito com outras, de mais força, e acabaria barrado. “A legislação não permite o
trabalho em troca de qualquer coisa que não seja dinheiro”, afirma.
A alteração do texto é necessária, algo admitido por seu próprio autor. De qualquer
modo, a versão inicial desse projeto levantou a discussão sobre o que configura o
trabalho escravo. Um tema importante para debates na escola, pois a escravidão de
hoje pode se dar de formas diferentes das presentes nos livros de História.
No Brasil, a escravatura foi abolida com a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.
Desde então, o regime entendido legalmente como a posse de uma pessoa deixou de
ser reconhecido desta forma. Por isso, hoje, adotamos oficialmente o termo “trabalho
análogo à escravidão”, e como sinônimos, “escravidão moderna” ou “contemporânea”.
Para uma relação trabalhista ser enquadrada juridicamente como análoga à
escravidão é preciso que ela tenha as características previstas no artigo 149 do Código
Penal Brasileiro: “submeter alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”.
Apesar de o Brasil ter uma política de combate ao trabalho escravo reconhecida
internacionalmente, há muito o que se fazer em termos de erradicação da prática.
“Persiste no país uma visão da maximização dos lucros em detrimento aos direitos
humanos dos trabalhadores, precisamos avançar na quebra desse paradigma cultural”,
afirma Antônio Carlos de Mello, coordenador do programa de combate ao trabalho
forçado da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Além do projeto da Nilton Leitão, tramitam na Câmara dos Deputados outras duas
propostas de lei que pretendem alterar as definições de trabalho análogo à escravidão.
“A bancada ruralista do Congresso afirma ser difícil identificar o que seriam ‘condições
degradantes de trabalho’. Por isso há uma tentativa de mexer nessas conceituações”,
explica Leonardo Sakamoto. Para o jornalista, não há nada de nebuloso nos conceitos.
“Tudo o que põe em risco a saúde, a segurança e vida do trabalhador é degradante”,
explica.

Trabalhador em condição análoga à escravidão em confecção (Divulgação / Ministério Público do Trabalho)


Se no período anterior à lei Áurea a pessoa como propriedade era a principal
característica da escravidão, atualmente podemos considerar que o que está em jogo é
a dignidade do indivíduo. “Alguém que é tratado de uma forma sub-humana dentro dos
parâmetros do século 21 é um escravo. Este tipo de proposta não deve existir, a gente
tem que estar em outro patamar, buscando possibilidades contratuais que aumentem a
dignidade do trabalhador”, argumenta Ângela de Castro Gomes, historiadora e
professora da Universidade Federal Fluminense.
Uma pesquisa de 2015 encomendada pela ONG Repórter Brasil mostra que 70%
da população brasileira que vive em áreas urbanas sabe da existência do trabalho
escravo nos dias de hoje, mas 27% não sabe o que define a condição e apenas 8% dos
entrevistados apontam condições degradantes como característica. “Mesmo a
população que tem mais acesso à informação tem dificuldade de fazer essa
identificação. Os direitos do trabalho funcionam para demonstrar de maneira mais
evidente como se forma essa ”dignidade”, explica Angela.
A especialista ainda ressalta que, historicamente, é comprovado que a retirada de
direitos de alguns grupos prejudica toda a sociedade. “Essas escolhas permeiam um
conjunto maior de relações e não só de trabalho. Observar a maneira como alguns
legisladores olham para o direito dos trabalhadores é preocupante, é o caso de se
repensar as questões sociais”, diz.
(Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/4947/por-que-e-importante-discutir-o-que-e-a-
escravidao-nos-dias-de-hoje)

Texto 02:
Operação resgatou mais de 200 trabalhadores em situação
semelhante à escravidão no RS
Uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatou 207 trabalhadores
que estavam em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, no Rio Grande do
Sul. O responsável pela empresa, que mantinha esses trabalhadores nessas condições,
chegou a ser preso, mas vai responder pelo crime em liberdade porque pagou fiança no
valor de R$ 40 mil.
Do total de resgatados, 194 voltaram para a Bahia, estado de origem deles nesta
sexta-feira (24). Outros quatro baianos preferiram permanecer no RS. Nove são gaúchos
e já voltaram pros municípios de origem.
Um acordo entre a empresa e os trabalhadores foi fechado pelo Ministério Público
do Trabalho (MPT) ainda na noite de sexta. Cada um deles recebeu, por enquanto, R$
500 para fazer a viagem. O valor total de indenização deve ser pago até a próxima terça-
feira (28), por depósito bancário.
Aos investigadores, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos
dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho e oferta de alimentos
estragados. Também disseram que eram coagidos a permanecer no local sob a pena de
pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho.
O Ministério do Trabalho diz ainda que vai analisar individualmente os direitos
trabalhistas de cada trabalhador para a buscar a devida compensação. Em nota, a
defesa da empresa afirmou que os "graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho
serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial".
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/operacao-resgatou-mais-de-200-
trabalhadores-em-situacao-semelhante-a-escravidao-no-rs

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