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Implementação de um Controlador Feedforward

e Feedback para uma Planta Didática de


Temperatura
Gabriel Alexandre Sabino & Gabriel José de Faria Rodrigues

 a utilização de relés, contatores, transistores e circuitos


Abstract— This article aims to show the results obtained in the integrados, culminando no desenvolvimento dos Controladores
control of a didactic temperature plant using Feedforward control Lógicos Programáveis (CLP's). Esses equipamentos
along with PID control. The solution used involves applying a revolucionaram as plantas de controle em escala global. Os
known disturbance to the temperature plant, aiming to cause a
CLP’s foram desenvolvidos especialmente para o setor
sudden temperature drop so that the Feedforward control can act
and prevent this temperature drop. From the results, it is possible industrial, por serem programáveis podem controlar diversos
to observe that when only the classical PID control was applied, tipos de sistema, apenas ajustando a lógica de programação e os
the plant experienced a temperature drop and took time to cartões caso haja necessidade. Porém para que o CLP consiga
stabilize, whereas with the PID combined with Feedforward, there fazer o controle de uma planta industrial é necessário usar um
was no temperature drop. método de controle, o método mais conhecido é o controle PID
Index Terms—Feedforward, PID, Control, Temperature.
(Proporcional – Integral – Derivativo) [1].
Resumo— Este artigo tem como objetivo mostrar os resultados
obtidos em um controle de uma planta didática de temperatura O controle PID foi criado em 1911, por Elmer Sperry, com
utilizando o controle Feedforward juntamente com o controle PID. objetivo de automatizar a direção dos navios da Marinha
A solução utilizada envolve a aplicação de um distúrbio conhecido Americana a fim de compensar algumas variações presentes em
na planta de temperatura, visando ter uma queda de temperatura alto mar e até mesmo prevê-las, para que fossem evitados
brusca para que o controle Feedforward possa agir e não permitir acidentes com os navios [1]. Desde a sua criação, o PID foi
essa queda de temperatura. A partir dos resultados, é possível muito utilizado nas indústrias, através de um estudo publicado
observar que quando submetido apenas o controle com o PID
clássico a planta teve uma queda de temperatura e demorou para em 1995, havia uma estimativa que 90% das indústrias daquela
estabilizar, enquanto com o PID junto ao Feedforward não houve época utilizavam esse método de controle em suas plantas [1].
queda de temperatura. No entanto o controle PID clássico apresenta resposta lenta à
Palavras chave—Feedforward, PID, Controle, Temperatura. distúrbios gerados durante o processo, e não toma nenhuma
ação para tratar esses distúrbios presentes no sistema, dessa
I. INTRODUÇÃO forma foi necessário desenvolver um controle capaz de
Desde a 1ª Revolução Industrial que teve seu início no final antecipar e corrigir tais distúrbios, chamado de Feedforward,
do século XVIII, as indústrias vêm evoluindo a cada ano, com esse controle trabalha diretamente com a perturbação, tomando
inovações que ajudam o processo se tornar mais seguro e o mais uma ação antecipada para evitar que o erro se propague na
automatizado possível, acompanhando essas evoluções viu-se a planta, dessa forma o controle Feedforward não permite que a
necessidade de ter um sistema para que se pudesse controlar o estabilidade do sistema seja afetada, diferentemente do PID que
processo. Há relatos que os primeiros sistemas de controle não consegue realizar essa função [2].
surgiram no final do século XIX, tais sistemas eram mecânicos Com isso, o objetivo desse trabalho é realizar o controle de
e apresentavam uma vida útil curta pois não havia muita uma planta de temperatura, utilizando o CLP e aplicando o
informação sobre eles para que pudessem ser melhorados [1]. controle Feedforward como método principal. Dessa forma será
Ao longo dos anos, os sistemas de controle evoluíram possível observar na prática como esse tipo de controle irá
significativamente, migrando de componentes mecânicos para reagir em uma planta real.
O trabalho está dividido em cinco seções, sendo eles:
Introdução (Seção I), onde realiza-se a contextualização do
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de
Telecomunicações (INATEL) como parte dos requisitos para obtenção do tema que será apresentado; Fundamentação Teórica (Seção II),
Título de Bacharel em Engenharia de Controle e Automação. Aprovado em no qual apresenta-se os conceitos dos sistemas de controle que
22/06/2023 pela comissão julgadora: Prof. MSc. Egídio Raimundo Neto / serão usados como base no projeto; Materiais e Métodos (Seção
INATEL – Orientador e Presidente da Comissão Julgadora, Prof. MSc. João
Paulo Carvalho Henriques / INATEL – Membro da Comissão Julgadora, Prof. III), onde apresenta-se os recursos utilizados no
MSc. Eduardo Henrique Teixeira / INATEL – Membro da Comissão desenvolvimento do projeto; Desenvolvimento do Projeto e
Julgadora. Coordenador do Curso de Engenharia de Controle e Automação: Resultados (Seção IV), no qual é descrita toda a aplicação
Prof. Dr. Alexandre Baratella Lugli.
realizada no trabalho e apresentados os resultados obtidos e, por
fim, Conclusão (Seção V), demonstrando a eficiência do uso do
controle Feedforward em uma planta de temperatura.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Esta seção foi estruturada em subseções que apresentam de
forma clara e concisa os postos-chave necessários para
compreender e desenvolver com eficácia um controlador
Feedforward para uma planta didática de temperatura.
A. Modelagem e Identificação
O controle de sistemas é uma área fundamental da engenharia,
sendo que a análise de um sistema de controle começa com a
obtenção de um modelo matemático adequado para o sistema.
Com um modelo matemático em mãos, é possível avaliar o Fig. 1. Gráfico representando o método de identificação
desempenho do sistema usando diversos métodos disponíveis
[2]. Conforme é mostrado na Figura 1, para se obter o método de
Um exemplo de modelo matemático utilizado na engenharia classificação de Smith, é necessário definir os seguintes
de controle é o sistema de primeira ordem com atraso de parâmetros, ∆𝑦 , ∆𝑢 ,t1 e t2.
transporte, conforme a Equação 1. Esse modelo é usado para ∆𝑦 é a variação da amplitude na saída do sistema, por sua
representar sistemas dinâmicos que possuem uma resposta vez, ∆u representa o valor final obtido no sistema. Os tempos
temporal lenta devido a um atraso de transporte (θ) entre a t1 e t2 correspondem aos momentos em que a resposta do
entrada e saída do sistema. Esse tipo de sistema é caracterizado sistema atinge, respectivamente, 28,3% e 62,3% do valor final.
por uma constante de tempo (τ) que representa o tempo Calculando esses tempos, é possível determinar os valores de
necessário para que a saída alcance 63,2% do seu valor final, e K, τ e θ, que são utilizados na Equação 1 mencionada no início
um atraso de transporte, que representa o tempo que leva para do tópico A.
que o efeito da entrada seja observado na saída, por fim a
𝛥𝑦
constante de proporcionalidade (K) representa o valor da K = 𝛥𝑢 (2)
amplitude do sistema. O modelo matemático desse sistema
pode ser representado por uma equação de primeira ordem com 𝜏 = 1,5(𝑡1 − 𝑡2) (3)
um termo de atraso [2].
𝜃 = 𝜏 − 𝑡2 (4)
𝑌(𝑆) −𝜃𝑠 𝐾
=𝑒 (1)
𝑈(𝑆) 𝜏𝑠+1 O método de identificação por resposta ao degrau envolve a
realização de uma série de experimentos nos quais o sistema é
A análise e controle desses sistemas são fundamentais em submetido a um degrau de entrada. A resposta do sistema a esse
diversas áreas da indústria, como a indústria química, estímulo é então registrada como um sinal, representado por
petroquímica, automotiva e de processos em geral. Portanto, uma sequência temporal de medições [3].
compreender e utilizar esse modelo matemático é crucial para
B. Sistemas de controle em malha fechada e perturbação
projetar sistemas de controle eficazes e eficientes [2].
Os métodos clássicos de identificação de processos Os sistemas de controle em malha fechada são essenciais
desempenham um papel fundamental na análise e controle de para a engenharia de controle, permitindo o controle preciso e
sistemas dinâmicos. Esses métodos envolvem a obtenção de em tempo real de sistemas dinâmicos. Um sistema de controle
informações sobre a dinâmica do sistema por meio de dados em malha fechada com perturbação pode ser descrito de acordo
experimentais, com o objetivo de construir um modelo com a Figura 2. Ele é composto principalmente pela planta
matemático capaz de simular o comportamento do sistema e (Sistema) a ser controlado, pelo controlador (Contr) e pela
facilitar o projeto de controladores adequados [3]. malha de realimentação (Realim). O controlador atua em
Entre os métodos de identificação, destaca-se o método de resposta ao erro de controle, que é a diferença entre a saída
identificação por resposta ao degrau, proposto por Cecil Smith. desejada e a saída atual, buscando atingir o valor desejado,
Este método é baseado na análise da resposta do sistema a um também conhecido como Setpoint.
sinal de entrada do tipo degrau. A partir dessa resposta, é Além disso, um elemento perturbador provoca uma ação
possível determinar os parâmetros do modelo matemático do específica denominada Sinal Indesejado (F.T Distúrbio), o qual
sistema conforme mostra a Figura 1 [3]. influencia o sistema de uma maneira particular. A função de
transferência do distúrbio determina as consequências desse
sinal no sistema.
No entanto, mesmo que a entrada do sistema seja mantida
constante, as perturbações podem afetar a saída, levando a
erros. Por isso, é crucial que esses sistemas sejam capazes de
lidar com perturbações [2]. O método IMC foi proposto por Rivera et al (1986) como uma
Uma forma comum de lidar com perturbações em sistemas abordagem de controle. Nesse método, o controlador possui um
de controle em malha fechada é por meio da adição de modelo interno do processo, no qual utiliza a função de
controladores avançados, como o controlador PID, que ajustam transferência da planta para determinar os ajustes dos
a entrada do sistema com base na saída e na referência desejada, parâmetros do controlador PID. Esse modelo interno permite
minimizando o efeito das perturbações e mantendo a saída que o controlador antecipe e compense as características do
próxima da referência [2]. processo [5].
No caso de um processo de baixa ordem com atraso de
transporte, o trabalho propõe regras específicas para ajustar os
parâmetros do controlador, levando em consideração um
parâmetro ajustável chamado 𝜆. Esse parâmetro determina a
velocidade de resposta do sistema. Ao diminuir o valor de 𝜆, a
resposta do sistema se torna mais rápida, resultando em um
desempenho aprimorado. No entanto, é importante observar
que uma resposta mais rápida também torna o sistema mais
sensível a perturbações do processo [5]. Rivera et al também
propôs uma relação entre 𝜆 e θ, que diz respeito ao desempenho
do sistema, dessa forma para um controle PID a relação 𝜆/ θ
deve ser maior que 0,8 para que o sistema possa funcionar da
forma esperada.
As regras de sintonia para o modelo interno são apresentadas
Fig. 2. Sistema em malha fechada com distúrbio. na Tabela 1, fornecendo diretrizes práticas para ajustar os
parâmetros do controlador com base no valor de 𝜆 escolhido.
Outra solução é a adição de sensores adicionais que detectam Essas regras visam encontrar um equilíbrio entre a velocidade
perturbações, permitindo o ajuste da entrada do sistema para de resposta desejada e a robustez do sistema em relação a
compensar essas mudanças. Por exemplo, um sensor externo de perturbações.
temperatura pode ser utilizado para detectar uma perturbação Considerando a sugestão de desempenho do método IMC, foi
de temperatura em um sistema de controle de temperatura, adotado o valor 𝜆 = 60. Observando o valor de θ = 13,7, a
garantindo que a temperatura seja mantida próxima ao valor relação 𝜆/θ resulta em 4,38, satisfazendo o requisito de ser
desejado. maior que 0,8. Portanto, essa escolha atende aos critérios de
desempenho estabelecidos.
C. PID
O controle PID é uma técnica de controle usada para regular CONTROLADOR KP TI TD
o desempenho de sistemas dinâmicos presentes nas indústrias.
2𝜏 + 𝜃 𝜃 𝜏+ 𝜃
Ele é projetado para ajustar automaticamente a saída de um PID 𝜏+
𝐾(2 λ + θ) 2 2𝜏 + 𝜃
sistema de controle com base no erro calculado pela diferença
entre a saída desejada e a saída desejada e a saída real do
sistema [4].
O controle PID utiliza três termos fundamentais para ajustar Tabela 1. Parâmetros necessários para calcular o PID
a saída do sistema: o termo proporcional, o termo integral e o
termo derivativo. O termo proporcional é responsável por gerar Os ganhos do controlador PID foram determinados com base
uma ação de controle proporcional ao erro, ou seja, quanto nas equações apresentadas na Tabela 1. Os valores obtidos para
maior o erro, maior será a ação corretiva. O termo integral é os ganhos KP, TI e TD foram KP = 2,01, TI = 116,95 e TD =
utilizado para reduzir o erro acumulado ao longo do tempo, 6,45, respectivamente. Com esses ganhos calculados, é possível
corrigindo assim desvios persistentes. Já o termo derivativo é implementar o controle PID no CLP para controlar o sistema de
responsável por antecipar as mudanças na taxa de erro, interesse.
permitindo uma resposta mais rápida e suave do sistema [4].
Dessa forma por ser um método de controle relativamente E. Controlador Feedfoward
simples de se implementar e por isso tornou-se uma ferramenta O Controlador Feedforward é uma ferramenta de controle
fundamental para a automação e otimização de processos utilizada em sistemas de malha aberta e fechada para melhorar
industriais e sistemas de controle em geral. a resposta transitória do sistema e reduzir os efeitos de
perturbações externas [6].
D. Sintonia PID
Este tipo de controlador foi desenvolvido pelo engenheiro
A combinação dos controladores PID e Feedforward é crucial americano Harold Black em 1934, enquanto trabalhava na Bell
para obter um desempenho ideal no sistema. O controlador Telephone Laboratories. Inicialmente, uma técnica de
Feedforward antecipa perturbações conhecidas, enquanto o PID
Feedforward foi utilizada para melhorar o desempenho de
lida com perturbações não modeladas. A implementação
amplificadores de áudio, mas uma ideia foi posteriormente
conjunta resulta em um controle preciso, correção de erros e
aplicada a sistemas de controle em geral [6].
estabilidade. O método de sintonia utilizado foi o método IMC
(Internal Model Control). O controlador Feedforward funciona medindo a perturbação
externa que afeta o sistema e gerando um sinal de controle que antes mesmo que elas afetem a saída do sistema. Além disso, o
compensa esses efeitos antes que eles afetem a saída do sistema. controlador Feedforward não requer um feedback da saída do
Para isso, o controlador utiliza um modelo matemático que sistema, o que pode simplificar o projeto do sistema de controle
descreve a relação entre a perturbação e a saída do sistema, e [7].
utiliza esse modelo para calcular a ação de controle necessária No entanto, é importante salientar que o controlador
[6]. Feedforward tem algumas limitações, principalmente
A Figura 3 apresenta um sistema com perturbação, onde a relacionadas à precisão do modelo matemático utilizado. Se o
entrada do sistema é representada por u(s), D(s) é o distúrbio modelo não representar com precisão a relação entre a
gerado no sistema, Gp(s) e Gd(s) são os modelos do sistema e perturbação e a saída do sistema, uma ação de controle gerada
da perturbação, respectivamente e Y(s) é a saída do sistema. pelo controlador pode não ser adequada para compensar os
efeitos da perturbação [7].
F. Controladores Lógicos Programáveis
Os CLP’s são dispositivos eletrônicos que têm sido
amplamente utilizados na automação industrial para controlar
máquinas e processos [8].
Os CLP’s são usados em uma ampla variedade de aplicações
industriais, como montagem de peças, embalagem,
revestimento, pintura e usinagem, em motores como a
automobilística, alimentícia, farmacêutica e metalúrgica, entre
outras. Eles também são usados em sistemas de automação de
edifícios, sistemas de energia, sistemas de tratamento de água e
em muitas outras aplicações onde o controle de processos é
necessário [8].
Fig. 3. Modelo do sistema com perturbação. Ao longo dos anos, os CLP’s se tornaram cada vez mais
avançados, com recursos como comunicação em rede,
A partir do sistema visto na Figura 3 pode-se encontrar a capacidade de processamento de alta velocidade, módulos de
seguinte equação: entrada e saída distribuída, interfaces de usuário avançadas e
recursos de diagnóstico aprimorados. Isso tem permitido um
𝑌(𝑠) = 𝑢(𝑠) 𝐺𝑝(𝑠) + 𝐷(𝑠) 𝐺𝑑(𝑠) (5) maior nível de automação e controle em processos industriais,
gerado em maior eficiência, produtividade e qualidade dos
Colocando Y(s) = 0, obtém-se a seguinte equação: produtos [8].
Na Indústria 4.0, os CLP’s são utilizados como componentes-
0 = 𝑢(𝑠) 𝐺𝑝(𝑠) + 𝐷(𝑠) 𝐺𝑑(𝑠) (6) chave dos sistemas de automação, permitindo a integração de
máquinas, equipamentos e sistemas em redes de comunicação,
Separando os termos obtém-se: como a Internet das Coisas (IoT) e a nuvem. Isso possibilita o
monitoramento e o controle remoto de processos de manufatura
𝑢(𝑠) 𝐺𝑝(𝑠) = −𝐷(𝑠) 𝐺𝑑(𝑠) (7) em tempo real, bem como a coleta e análise de grandes volumes
de dados para otimizar a produção [9].
Ao passar o termo Gp(s) dividindo a equação, Equação 8, e
colocando em evidência o termo D(s), Equação 9, obtém-se a III. MATERIAIS E MÉTODOS
equação do sistema de controle Feedforward. A presente seção apresenta os materiais e métodos utilizados
para o desenvolvimento do trabalho.
𝐷(𝑠) −𝐺𝑑(𝑠)
𝑢(𝑠) = ( 𝐺𝑝(𝑠)
) (8) A. CLP B&R Automation
Para a aplicação prática foi utilizado o CLP X20CP1583 da
−𝐺𝑑(𝑠)
𝑢(𝑠) = 𝐷(𝑠) ( 𝐺𝑝(𝑠) ) (9) B&R, como mostrado na Figura 4, e seu respectivo software de
desenvolvimento Automation Studio 4.1. Esse dispositivo é
alimentado com 24Vcc, sendo caracterizado por 2 módulos de
No entanto, o controlador u(s) resultante só poderá ser entrada/saída e equipado com uma porta Ethernet.
utilizável se o atraso de transporte resultante do modelo da Utilizou-se o módulo X20DM9324, como expansor para
perturbação (Gd(s)) for maior que o atraso de transporte do entradas e saídas digitais, esse possui 8 entradas e 4 saídas
modelo do sistema (Gp(s)), caso contrário o sistema não poderá digitais. Além disso, usou-se o módulo X20CM8281, que
ser usado e não fará sentido usar o controlador Feedforward possui 4 entradas e 2 saídas digitais e 1 entrada e 1 saída
nesse caso [6]. analógicas.
Uma das principais vantagens do controlador Feedforward é
que ele permite que o sistema responda mais rapidamente às
perturbações externas, já que uma ação de controle é gerada
numerador e denominador; SampleTime usado para definir o
tempo de amostragem, onde o valor sendo 0 significa que o
domínio da função será em S e caso seja diferente o domínio
será em Z; In, referente a entrada da função no bloco; e Out é a
saída do bloco.

Fig. 4. CLP X20CP1583 [10]

B. Planta didática de Temperatura


A planta didática utilizada no sistema de controle, faz a leitura
da temperatura por meio de um sensor LM35, tal sensor faz a
conversão da temperatura para tensão, em uma escala de
10mV/°C [11]. Fig. 7. Representação do bloco MTBasicsTimeDelay
Além do sensor a planta possui um relé que funciona como
uma chave e é acionado pela tensão do sensor e é controlado A Figura 7 mostra a representação do bloco
por pulso PWM (Pulse Width Modulation). Também é usado na MTBasicsTimeDelay, desse bloco foram usadas as seguintes
planta um circuito de adequação responsável por padronizar a funções, Enable, que é usado para habilitar e desabilitar o bloco,
tensão do sensor para uma faixa de 0 a 10V. e DelayTime usada para definir o atraso de transporte da função
A planta de temperatura e o circuito de adequação podem ser de transferência.
vistos na Figura 5. Além dos blocos citados acima também foi usada a biblioteca
LoopComR, a biblioteca LoopComR é uma ferramenta que
oferece recursos avançados de controle, como controle PID,
controle adaptativo e controle de malha fechada. A biblioteca
inclui blocos de funções específicos para facilitar a
implementação de estratégias de controle em sistemas
industriais. Além disso, oferece ferramentas para sintonia
automática de controladores, simplificando o processo de
otimização dos parâmetros de controle.
Dentre as funções presentes na biblioteca LoopComR, foram
usadas as seguintes, Y_max e Y_min essas funções são usadas
para impor limites superiores e inferiores à variável de saída do
Fig. 5. Representação da Planta de Temperatura e Circuito de Adequação
sistema controlado, garantindo um controle seguro e confiável.
Kp,Tn e Tv essas funções representam os ganhos Proporcional,
C. Blocos e Bibliotecas Integral e Derivativo do controlador PID, na função request foi
Na implementação do controle Feedforward no CLP, foi atribuído o valor 3 para essa função, com isso é habilitado o
necessário utilizar 2 blocos específicos para funções de terceiro parâmetro que é responsável por fazer com que os
transferência, MTSystemTransferFcn, Figura 6, e valores do PID sejam colocados manualmente e não através de
MTBasicsTimeDelay, Figura 7, sendo o primeiro responsável Autotunning. Também foi utilizado a função W e X, a primeira
para alocar a função de transferência e o segundo para sendo o Setpoint do sistema e a segunda o valor atual do
implementar o atraso de transporte na função de transferência. sistema. Por fim a função pPar é responsável por configurar os
parâmetros do controlador PID. Ao fornecer os valores
adequados para os parâmetros, como KP, TI e TD, é possível
ajustar o comportamento do controlador.

IV. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO


Com o intuito de comprovar a aplicabilidade deste trabalho,
desenvolveu-se um controle PID juntamente com um
controlador Feedforward, para realizar o controle de uma planta
didática de temperatura, utilizando o CLP X20CP1583 da B&R,
e o software de desenvolvimento Automation Studio 4.1.
Para obter os dados necessários para a realização dos cálculos
usados nos controladores, utilizou-se a função, Trace, presente
Fig. 6. Representação do bloco MTSystemTransferFcn
no Automation Studio 4.1, essa função permite traçar um
Com base no Figura 6, as funções do bloco utilizadas no gráfico onde o resultado final é exatamente o comportamento
trabalho foram, Enable, usada para desligar ou ligar o bloco, do sistema usado, após obter os dados do sistema utilizou-se o
software MATLAB, foi desenvolvido um script para calcular as
funções de transferência do sistema.
A Figura 8, representa o processo descrito acima envolvendo
todos os elementos necessários.

Fig. 10. Representação do sistema na prática.

B. Identificação da planta de temperatura


Para obter os dados para desenvolver o controlador,
Fig. 8. Representação do processo para obter os dados para os cálculos.
primeiramente foi necessário fazer a identificação da planta de
A. Projeto Proposto temperatura, visando obter a equação da função de transferência
O projeto proposto visa corrigir os efeitos de um distúrbio para ser possível calcular o controlador Feedforward.
causado pelo fornecimento de ar comprimido à planta de A fim de obter a equação da função de transferência da planta,
temperatura, empregando um sistema de controle que combina foi aplicado um degrau de 50%, aguardou-se a planta de
as técnicas de Feedforward e Feedback. O distúrbio em questão temperatura entrar em regime permanente, que é quando o
é caracterizado por um atraso de transporte, e nosso objetivo é sistema se estabiliza em uma determinada temperatura. A planta
utilizar o controlador Feedforward e feedback para anular sua de temperatura utilizada neste trabalho demorou cerca de 8
influência no processo, evitando qualquer interferência minutos para entrar em regime permanente, é imprescindível
indesejada. Através dessa abordagem, buscou-se alcançar um aguardar esse tempo para planta se estabilizar pois caso o
controle preciso da temperatura na planta, garantindo um sistema ainda esteja no transitório o resultado da equação não
funcionamento estável e eficiente do sistema. será coerente com a situação real do sistema.
A Figura 9 representa o sistema de controle Feedforward – Utilizou-se o método de Smith para identificar a função de
Feedback, usados para controlar a planta de temperatura. transferência da planta de temperatura do sistema. Foram
coletados os dados obtidos, e através de um script no MATLAB
foi encontrada a equação a ser usada no sistema. O resultado
obtido é mostrado na Equação 10.

𝑌(𝑆) 0.8664
= 𝑒 −13.7𝑠 (10)
𝑈(𝑆) 110.1𝑠+1

A Figura 11 mostra o gráfico que representa a função de


transferência da planta de temperatura, obtido através do
Fig. 9. Representação do sistema de controle Feedforward - Feedback. MATLAB.

A Figura 10 mostra os equipamentos utilizados para realizar a


parte prática do trabalho. A Planta de Temperatura utilizada ao
longo de todo o trabalho, juntamente com o circuito de
adequação, a fonte de alimentação DC do sistema, o CLP que
integrou os controladores Feedforward e Feedback, e o sistema
pneumático.
O sistema pneumático desempenhou o papel de gerar o
distúrbio no sistema, uma vez que o controle Feedforward
requer o conhecimento da função do distúrbio. Para esse fim,
uma válvula pneumática foi programada para abrir em 400s,
liberando ar comprimido e simulando uma queda de Fig. 11. Gráfico da resposta ao degrau da planta de temperatura.
temperatura, representando assim o distúrbio conhecido.
C. Identificação do distúrbio
Feita a identificação da planta de temperatura, identificou-se
o distúrbio do sistema, pois para que possa ser calculado o
controlador Feedforward é fundamental conhecer a equação do
distúrbio e seu comportamento.
O método de identificação usado para calcular a função de
transferência do distúrbio do sistema foi o método de Smith, o
mesmo utilizado para a identificação da planta de temperatura,
para calcular a equação do distúrbio esperou-se a planta
estabilizar, foi usado um jato de ar comprimido para esfriar a
planta de modo que o sistema sofresse uma queda sútil de
temperatura, esse processo foi utilizado para simular o distúrbio
na planta, visto que para que fosse possível obter a função de
transferência do distúrbio o mesmo teve se ser provocado na
Fig. 14. Simulação da resposta ao degrau do distúrbio.
planta.
Após ter realizado todo o processo descrito, obteve-se a
equação desejada, conforme mostra a Equação 11. D. Sintonia do Controlador Feedforward
Conhecendo a função de transferência da planta de
−0.269
𝐺𝑑(𝑠) = 𝑒 −21.8𝑠 (11) temperatura e do distúrbio é possível calcular o Controlador
23.1𝑠+1 Feedforward através da Equação 9, mostrada anteriormente no
tópico II item E.
A Figura 12 mostra o gráfico da função de transferência do Após aplicar as equações das funções de transferência na
distúrbio, onde é possível perceber a queda de temperatura a equação citada acima, obteve-se o resultado mostrado na
partir de 619.5 segundos devido ao atraso de transporte, essa Equação 12.
queda de temperatura representa o exato momento em que 29.62𝑠+0.269
ocorreu o distúrbio no sistema que foi no instante de 400s o que 𝐶(𝑠) = 𝑒 −8.1𝑠 (12)
20.01𝑠+0.8664
equivale a 6 minutos e 40 segundos.
Foi implementado o controlador Feedforward no CLP,
através dos blocos MTSystemTransferFcn e
MTBasicsTimeDelay, o primeiro sendo usado para a função de
transferência e o último para o atraso de transporte.
E. Resultados obtidos
Para analisar os resultados obtidos foram avaliados 2 cenários
de testes idênticos, porém apenas alterando o método de
controle, o primeiro teste foi feito utilizando o sistema apenas
com o controle PID, sem o Feedforward, observou-se que
quando foi aplicado o distúrbio no sistema no instante de 400s,
Fig. 12. Gráfico do distúrbio do sistema. que já se encontrava estável em 50°C, o sistema teve uma queda
de aproximadamente 7°C, e demorou cerca de 400s para se
estabilizar novamente e voltar a temperatura de 50°C, conforme
mostrado na Figura 15.

Fig. 13. Simulação da resposta ao degrau da planta de Temperatura.

Fig. 15. Gráfico do sistema apenas com controle PID.

No entanto, no segundo cenário de teste onde usou-se o


controle PID com a adição do controlador Feedforward, não
houve queda de temperatura quando foi aplicado o distúrbio no
sistema, o controlador Feedforward aumentou a potência da
planta para compensar o distúrbio gerado no sistema, notou-se
um pico de temperatura de 3.2°C quando o controlador
aumentou a potência do sistema, esse pequeno aumento na
temperatura pode ser atribuído às constantes físicas, como a
inércia térmica, temperatura ambiente e umidade do ar, que não
conseguimos extrair de forma precisa para a simulação e
também ao método de identificação utilizado. No entanto, esses
fatores têm um impacto significativo no comportamento real do
sistema, levando a uma divergência entre os resultados
simulados e práticos. Porém esse pico durou apenas 26
segundos o que não prejudicou o sistema, dessa forma não
houve uma queda brusca de temperatura como no primeiro
teste, o sistema praticamente não saiu do regime permanente
após ser aplicado o distúrbio, o resultado do segundo teste é
Fig. 18. Simulação feita usando apenas o PID.
mostrado na Figura 16.
Com isso observou-se que o sistema apenas com o controle
PID, é suscetível a qualquer distúrbio que possa estar presente
no sistema durante o processo, porém junto ao controlador
Feedforward o distúrbio não afeta significativamente o sistema
pois é compensado pelo controlador, a Figura 17 mostra a
comparação do sistema apenas controlado pelo PID, e com o
Feedforward.
Para fins de comprovação também foi feito a simulação
através do Automation Studio 4.1, nessa simulação é possível
ver de forma mais clara o efeito do controlador Feedforward,
como pode-se observar na simulação o controle com PID mais
Feedforward age de forma perfeita, ou seja, quando é aplicado Fig. 19. Simulação feita usando PID + Feedforward.
o distúrbio o controle age e a temperatura não cai nenhum grau.
Os resultados obtidos na simulação estão presentes nas Figuras
18,19 e 20 respectivamente.

Fig. 20. Simulação do sistema com e sem Feedforward.

V. CONCLUSÃO
Fig. 16. Gráfico do sistema com PID e Feedforward. Equipamentos industriais que necessitam manter uma
determinada temperatura constante estão sujeitos a ter variação
da temperatura devido a perturbações presentes em uma planta
industrial, dessa forma é de extrema importância ter um
controle robusto e que possa corrigir eventuais erros que
possam surgir durante o processo.
De acordo com as experiências feitas nesse trabalho
observou-se que um sistema controlado apenas por um controle
PID clássico não é capaz de compensar alguns distúrbios
causados no sistema, o que pode afetar a integridade do sistema
que está sendo controlado. Sendo assim confirmou-se através
dos testes realizados que um controle PID, juntamente com o
Fig. 17. Comparação da planta apenas com PID e com PID + Feedforwrad. controlador Feedforward, pode manter um sistema de controle
livre de qualquer distúrbio que possa causar problemas no
sistema.
A integração do controle PID mais o controlador
Feedforward, no CLP para controlar a planta didática de
temperatura alcançou o efeito esperado, dado que foi possível
observar na prática a ação do sistema com o controlador
Feedforward.
REFERÊNCIAS
[1] Aström, K. J.; Hägglund, T. H. “PID Controllers”: theory, design and
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