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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 13

COMUNICAÇÕES

A PERSISTÊNCIA DE GRITOS SEDICIOSOS NO CORPO POÉTICO FEMININO


Assunção de Maria Sousa e SILVA 14

GRÁCIA NASI SOB A AUTORIA FEMININA DE ANA CRISTINA SILVA 33


Aldinida MEDEIROS (GIELLus/GIEM/CAPES)

EDUCAÇÃO POPULAR, FEMINISMOS E PEDAGOGIAS INSUBMISSAS 24


Ana Célia de Sousa SANTOS (UESPI/UFPE)

O LUGAR DE FALA DA MULHER NEGRA EM INSUBMISSAS LÁGRIMAS DE 50 MULHERES,


DE CONCEIÇÃO EVARISTO 51
Amanda Gomes da SILVA (UESPI)
Profa. Dra. Assunção de Maria Sousa e SILVA (UESPI)

O PIAUÍ NA LITERATURA DE VIAGEM DO SÉCULO XIX:


TRABALHO E COTIDIANO 58
Charlene Veras de Araújo Veras de ARAÚJO (UFPI)

AS REPRESENTAÇÕES DAS BEATAS NA LITERATURA DE CLODOALDO FREITAS


DO INÍCIO DO SÉCULO XX 72
Camila de Macedo Nogueira e Martins OLIVEIRA (UFPI)

OS MULTÍMODOS PERFIS FEMININOS EM MEMÓRIAS DE MARTA,


A FAMÍLIA MEDEIROS E A SILVEIRINHA, DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA 86
Cristiane Viana da Silva FRONZA(UERN)
Algemira de Macêdo MENDES(UESPI)

ESPAÇOS DO EXÍLIO EM A COSTA DOS MURMÚRIOS


E A ÁRVORE DAS PALAVRAS 97
Cristianne Silva Araújo DIAS (UEMA/SEDUC-MA)
Joseane Mendes FERREIRA(UFPI/SEDUC-PI)

ADÍLIA LOPES E AS NOVAS CARTAS PORTUGUESAS: DE MARIANA ÀS MARIAS 106


Clêuma de Carvalho MAGALHÃES (IFPI)

AS AULAS DE SEDUÇÃO DE CLARICE LISPECTOR PARA MULHERES 115


Cristiane de Mesquita ALVES (UNAMA/CAPES)

O PROTAGONISMO DE DÉBORA: A DESCONSTRUÇÃO DO PATRIARCALISMO 125


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Diná Mendes de Souza OLIVEIRA


Profa. Dra. Maria Edileuza, da Costa

COLONIALIDADE: MÁSCARAS DE SILENCIAMENTO


- RESPOSTAS DE MULHERES AFRODESCENDENTES NA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA 135
Emanuella Geovana Magalhães de SOUZA(UFPI)
Francis Musa BOAKARI(Orientador/UFPI)

“TEATRO, LO TUYO ES PURO TEATRO”: A POLÍTICA DO ARTIFÍCIO EM SIRENA SELENA,


DE MAYRA SANTOS-FEBRES 144
Felipe VALENTIM(UERJ)

ENTRE A ESTIAGEM E O BROTAR PATRIARCA: UM OLHAR PARA A CONSTRUÇÃO


IDENTITÁRIA FEMININA EM “O QUINZE”. 154
Irio José do Nascimento Germano JÚNIOR (UERN)
Maria Edileuza da COSTA (UERN)
Mestrando – Leandro Lopes SOARES (UERN)

A ESCRITA DE AUTORIA FEMININA: uma literatura ‘esquecida’ 165


Santos, Ilka Vanessa Meireles

A SEXUALIDADE FEMININA REPRIMIDA EM CONTOS DE LYGIA FAGUNDES


TELLES E NÉLIDA PIÑON 181
Joyce Rodrigues Silva GONÇALVES( UFMG)

SONHO E TRAUMA NO CONTO “LÍBIA MOIRÔ, DE CONCEIÇÃO EVARISTO 187


Karoline Zilah Santos CARNEIRO (UECE)
Carlos Eduardo de Sousa LYRA (UECE)

A LIBERDADE DA MULHER NA ARTE LITERÁRIA E FOTOGRAFIA 197


Lana Sara Fonteles LOPES (UESPI- NEAD-Polo de Luís Correia)

“O TRABALHO QUE ELAS DERAM”: A REVISTA REALIDADE E OS DISCURSOS SOBRE/PARA AS MULHERES


NOS ANOS SESSENTA 208
Lanna Karen Lima ARAUJO (UFPI)
Karla Íngrid Pinheiro de OLIVEIRA (UFPI)

MULHERES ILUSTRES DA LITERATURA: LITERATAS BRASILEIRAS E A EXALTAÇÃO


DA ESCRITA FEMININA NO SÉCULO XIX. 219
Laila Thaís Correa e SILVA(UNICAMP\FAPESP).

UM BAR, UM ENCONTRO E O PERSONAGEM MASCULINO NO CONTO LISPECTORIANO


“MAIS DOIS BÊBEDOS” 229
Leandro Lopes SOARES(UERN)
Maria Edileuza da COSTA (UERN)
Maria Eliane Souza da SILVA (UERN)
OPRESSÃO E LIBERTAÇÃO NA ESCRITA FEMININA ENTRE

OS SÉCULOS XIX E XXI 240


Lívia Maria Rosa SOARES

A ESCRITA FEMININA ENTRE OS SÉCULOS XIX, XX E XXI: UMA ANÁLISE COMPARATIVA SOBRE A
REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM DIFERENTES MOMENTOS HISTÓRICOS 252
Lívia Maria Rosa SOARES(IFMA/UERN)
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A MULHER CONTESTA O SEU DESTINO: A TOMADA DE CONSCIÊNCIA


EM LES BELLES IMAGES, DE SIMONE DE BEAUVOIR 262
Ludmilla Carvalho FONSECA(UNESP/FAPESP)

FLORES INCULTAS: O LUGAR DE LUIZA AMÉLIA DE QUEIRÓS


NA LITERATURA BRASILEIRA 272
Profa. Ma. Jurema da Silva ARAÚJO
Profa. Dra. Algemira de Macêdo MENDES

AS IMPLICAÇÕES DE SE PROTAGONIZAR O CORPO NEGRO NUMA SOCIEDADE COLONIALISTA: DISCUTINDO


CONCEITOS A PARTIR DO LIVRO “O SEGREDO DA CHITA VOADORA” 282
Márcia Evelin de CARVALHO (NEAD/UESPI)

ENTRE IMPRENSA E LITERATURA: LUÍSA DE O PRIMO BASÍLIO E AS MULHERES EM “CINCO MULHERES”


E “MISSA DO GALO” DE MACHADO DE ASSIS 289
Dr. Maged Talaat Mohamed Ahmed Elgebaly (Aswan University)

“ABOTOOU A CALÇA, ENQUANTO ALGUNS SOLDADOS APLAUDIAM”: VIOLÊNCIA SEXUAL EM MEIO SOL
AMARELO, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE 300
Mariana Antônia Santiago CARVALHO (UFC)
Edilene Ribeiro BATISTA (UFC)
Stélio Torquato LIMA (UFC)

A PERSONAGEM FEMININA NA OBRA DE LYA LUFT:


UMA ANÁLISE DO CONTO “O PERDÃO” 309
Marcos Antônio Fernandes dos SANTOS(UEMA)
Asussena Nolêto de SANTANA (UEMA)

DESCOLONIZANDO O SER: UMA DISSOCIAÇÃO DOS CONCEITOS DE MÃE-MULHER E SEXUALIDADE PELAS


ESCREVIVÊNCIAS DA AUTORA SANDRA CISNEIRO 320
Maria Luana Caminha VALOIS(UFPE)

A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NA LITERATURA DE CLARICE LISPECTOR E LYA LUFT:


IDENTIDADES SILENCIADAS 328
Maria Edileuza da COSTA(PPGL – UERN)

VILLANELLE: A (DES)CONSTRUÇÃO DO GÊNERO EM A PAIXÃO,


DE JEANETTE WINTERSON 338
Natália Lima de ANDRADE (Universidade Federal de São João del-Rei)

AS MULHERES DO CORTIÇO: UM OLHAR PARA AS IDENTIDADES FEMININAS


NA OBRA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO 345
Paulo Eduardo Bogéa COSTA
LAYANE RODRIGUES DOS SANTOS

A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES AFRICANAS


NA AGÊNCIA GERAL DO ULTRAMAR PORTUGUÊS 351
Rayra Atsley Carvalho LIMA(UFPI)
Karla Íngrid de OLIVEIRA (UFPI)

MULHERES QUE CONTAM: AS PERSONAGENS FEMININAS NO


ROMANCE HISTÓRICO DE DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ 361
Sarah Pinto de HOLANDA(UFC)
Edilene Ribeiro BATISTA (em memória)– (UFC)
11

A REPÚBLICA DOS SONHOS DE NÉLIDA PIÑON SOB A PESPECTIVA


DA MEMÓRIA. 369
Tatiane Silva MORAIS (UESPI)
Diógenes BUENOS AIRES (UESPI)

O DITO E O NÃO DITO NO ROMANCE “A DIVORCIADA” (1902) 380


Vanessa Pinto Rodrigues FARIAS(UFC)

A VISIBILIDADE DE FRANCISCA CLOTILDE NA IMPRENSA CEARENSE NA


SOCIEDADE FINISSECULAR 393
Vanessa Pinto Rodrigues FARIAS(UFC

RESUMOS EXPANDIDOS PÔSTERES 401


VOZ FEMININA NEGRA EM ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS:
ASPECTOS DA MEMÓRIA E REPRESENTAÇÃO 405
Alice Maria Araujo da FONSECA(UESPI)
Lucélia de Sousa Almeida (UESPI/UNB)

A FIGURA FEMININA RETRATADA NA POESIA MACHADIANA, EM CRISÁLIDAS 405


Ana Carla da Silva FRANÇA (UESPI)
Iramí Soares Mineiro (UESPI)

O BILDUNGSROMAN FEMININO DO SÉCULO XIX EM A SENHORA


DE WILDFELL HALL, DE ANNE BRONTË 408
Cindy Conceição Oliveira COSTA (UESPI)
Lucélia de Sousa ALMEIDA (UESPI)

A VIDA E OS VERSOS DE ANNA NOGUEIRA BAPTISTA NA LITERATURA


CEARENSE DO SÉCULO XIX 411
Carla Pereira de CASTRO (UFC)

VIA CRUCIS MATERNA EM O ESTANDARTE DA AGONIA:


MEMÓRIA, HISTÓRIA E DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL 414
Camila Pereira de SOUSA (UESPI)
Lucélia de Sousa ALMEIDA (UNB)

LITERATURA DE AUTORIA FEMININA E A OBRA LAÇOS DE


FAMÍLIA CLARICE LISPECTOR 417
Francisca Aline Albuquerque PEREIRA (UESPI)
Lucélia de Sousa ALMEIDA (UESPI)

PREDADORES: CRITICA A UMA SOCIEDADE


“MILITANTEMENTE” HIPÓCRITA 422
Jéssica Mineiro ALVES (UESPI)

O DITO E O NÃO-DITO: EXPLORANDO A VOZ FEMININA


MANIFESTA NA ENUNCIAÇÃO LITERÁRIA EM “OS LAÇOS DE FAMÍLIA, DE CLARICE LISPECTOR. 424
Maria Vitória Martins SOUZA (UESPI)

A AUTONOMIA DA PERSONAGEM FEMININA APLICADA A OBRA EU


RECEBERIA AS PIORES NOTICIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
DE MARÇAL AQUINO 428
Valdenise Maria Mendes RIBEIRO (UESPI)
Herasmo Braga de Oliveira BRITO (UESPI)

A AUTONOMIA FEMININA E A RELAÇÃO MIMÉTICA NO FILME


AS SUFRAGISTAS 431
414

MAIA, Maria Thereza Baptista Bandeira. Cadeiras na Calçada. Florianopolis: Áprika Produções em Arte.
1998
SCHUMAHER, S. e VITAL BRAZIL, E. (orgs.). Dicionário Mulheres do Brasil. De 1500 até a atualidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
STUDART, Guilherme, Barão de. Diccionario Bio-Bibliographico Cearense. Fortaleza: Typo-lithographia a
vapor, 1910. v.1.

Jornais:
A República - A Pacotilha - O Pão - O Pará – Jornal do Recife – Diário de Pernambuco – Almanach
de Pernambuco
Revistas: A Quinzena – O Lyrio – Almanach do Ceará

VIA CRUCIS MATERNA EM O ESTANDARTE DA AGONIA: MEMÓRIA, HISTÓRIA E


DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL
Camila Pereira de SOUSA (UESPI)204
Lucélia de Sousa ALMEIDA (UNB)205

RESUMO: A Ditadura civil-militar no Brasil não só silenciou seus opositores de forma desumana,
como atingiu também aqueles que não estavam abertamente posionados de forma contrária ao
sistema. A partir da instauração do AI-5 a censura se tornou recorrente. Assim, ao tempo em que
atingiu os meios de comunicação, as forças militares obtiveram ampla liberdade para prender,
torturar e provocar o desaparecimento de opositores sem acusações formais ou registros. No entanto,
com o inicio do processo de abertura política iniciado no fim da década de 70, expandiu-se no
Brasil a publicação de obras que denunciavam essas arbitrariedades praticadas pelos agentes ligados
ao regime militar. Além disso, muitos encontraram na Literatura um meio de expressar resistências
e dramas vividos no período. Nesse sentido, este artigo objetiva analisar marcas da violência na
personagem Açucena, em O Estandarte da agonia, publicado em 1981 e de autoria da escritora e
militante Heloneida Studart. Inicialmente, a abordagem mostrará como se dá relação entre
Memória, História e Literatura, além da apresentar a configuração política do país na época, e
posteriormente será realizada a análise do corpus. A metodologia é bibliográfica e contará com
teóricos como Netto (2014), Pesavento (2003), Halbwachs (1990), entre outros. A análise mostrará
que a violência se dava também em torno daqueles que não estavam diretamente envolvidos na
oposição do regime, principalmente ao tratar-se de gênero.
Palavras-Chave: História. Memória. Via Crucis. Materna.

VIA CRUCIS MATERNA IN THE STANDARD OF AGONIA: MEMORY, HISTORY AND


CIVIL-MILITARY DICTATORSHIP IN BRAZIL
ABSTRACT: The civil-military dictatorship in Brazil not only silenced its opponents in an
inhuman way, but also affected those who were not openly opposed to the system. Since the
establishment of the AI-5 the censorship has become recurrent. Thus, by the time it reached the

204
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Letras Português da Universidade Estadual do Piauí. E-mail:
camispereira09@hotmail.com.
205
Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Doutoranda em Letras pela Universidade de Brasília (UNB).
Membro do Grupo Literatura e Cultura, (UNB). Tem experiência na área de Letras Estudos do discurso e Literatura Brasileira,
Bakhtinianos, Estudos da Linguagem. E-mail: almeida.lucelia@hotmail.com. Orientadora deste trabalho desenvolvido a partir do
Projeto de Conclusão de Curso, na Universidade Estadual do Piauí.
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media, the military obtained ample freedom to arrest, torture and provoke the disappearance of
opponents without formal accusations or searches. However, with the beginning of the process of
political opening initiated in the late 1970s, the publication of works that denounced these
arbitrarinesses by agents linked to the military regime was expanded in Brazil. In addition, many
found in Literature a means of expressing resistances and dramas experienced in the period. In this
sense, this article aims to analyze marks of the violence in the character Açucena, in The Standard
of the agony, published in 1981 and authored by the writer and militant Heloneida Studart. Initially,
the approach will show how there is a relationship between Memory, History and Literature, besides
presenting the political configuration of the country at the time, and later the analysis of the corpus
will be carried out. The methodology is bibliographical and will rely on theorists such as Netto
(2014), Pesavento (2003), Halbwachs (1990), among others. The analysis will show that violence
also occurred around those who were not directly involved in the regime's opposition, especially
when dealing with gender.
Keywords: History. Memory. Via Crucis. Maternal

INTRODUÇÃO
No Brasil, o período entre 1964 e 1985, foi marcado pela repressão política, censura e
violação de direitos humanos. A ditadura civil-militar caracterizou-se não apenas pela opressão aos
opositores diretos do regime e, nesse sentido, atingiu também aos que estavam ligados
indiretamente as práticas tidas como ―subversivas‖. Com instauração do AI-5, a repressão política
se acentuou. Entretanto, abertura política ao fim da década de 70, permitiu a publicação de obras
que denunciavam essas arbitrariedades praticadas pelos agentes repressores. Nesse sentindo, este
trabalho analisa a obra O estandarte da agonia, que possui como tema central o da personagem-
narradora Açucena em sua busca pelo filho desaparecido em meio a repressão a política. Com
relação aos objetivos utilizados, o geral busca compreender a ligação entre Memória, História e
Literatura, a partir da representação da violência sofrida pela mãe no período da Ditadura Civil-
Militar por meio da referida obra. Especificadamente, também busca-se entender a configuração e
consequência sócio-política do período da Ditadura Civil-Militar no Brasil, princialmente após a
instauração do AI-5, e posteriormente analisar o corpus. A metodologia empregada é do tipo
bibliográfica, com procedimento básico, e conta com teóricos como Netto (2014), Pesavento (2003),
Halbwachs (1990) entre outros.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

A relação entre literatura e história tem suscitado vários debates ao longo do tempo. A
princípio, essa discussão pode ser direcionada a Aristóteles. Para ele, enquanto a primeira estaria
relacionada aos fatos possíveis de ocorrência, a segunda estaria pautada em descrever
aconteciementos reais. Na atualidade, essas discussões persistem, e de acordo com Pesavento(2003)
essa relação se estabelece através de aproximações e distanciamentos, apresentando-as como
diferentes formas de dizer o mundo, e diferentes aproximações com o real. Assim, ―valem-se de
estratégias retóricas, estetizando em narrativa os fatos dos quais se propõem falar. São ambas
formas de representar inquietações e questões que mobilizam os homens em cada época de sua
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histñria‖ (PESAVENTO, 2003, p. 48). Dessa forma, percebe-se que são formadas numa relação de
colaboração nesse âmbito de apreensão do passado. Ainda ao se tratar de acontecimentos do
pretérito, cabe mencionar a relevância da memória. Braga (2000) afirma que desde sempre houve
uma confluência entre memória e literatura. Sobre essa relação, ela afirma que se reporta a Homero,
numa época em que o alicerce da cultura e educação grega, bem como a maneira de conservar
práticas era a declamação poética. Com relação a memória Halbwachs (1990) pontua duas
concepções de memória na qual os indivíduos partilham: a individual e a coletiva. Ele afirma que a
memória individual, aquela própria de cada indivíduo, estaria atada a uma memória coletiva, que é
construída nos grupos sociais. Já com relação ao referido período histórico Netto (2014) afirma que
o Ato Institucional nº5, em 1968, deu início ao período de maior repressão política. Através dele, o
presidente passou a intervir diretamente em outras esferas, cassar parlamentares, limitar a ação do
Judiciário e instituir a censura prévia aos meios de comunicação. Além disso, ―o Estado tornava a
violência seu instrumento sistemático e prioritário de manutenção e, a partir de então, a tortura não
conheceria nem mesmo fronteira de classe‖. (ibidem, p. 135). Por conta da intervenção no poder
Judiciário, as forças militares obtiveram liberdade para perseguir opositores políticos, o que também
decorre da censura à imprensa que proibia a publicação de denúncias contra os crimes cometidos
pelas forças opressoras.
No que se refere a obra O estandarte da agonia, sua tessitura é marcada pela drama da
personagem-narradora Açucena em sua busca pelo filho desaparecido político em meio ao contexto
da ditadura, ela é escrita com bases no dilema da estilista Zuzu Angel. Nos capítulos iniciais, Luís
já está ausente, e assim, a personagem inicia sua via-crucis em busca de informações sobre seu
paradeiro. Mesmo em meio a toda repressão, envolve-se em ações de resistências e como
decorrência disso, sofre com os assédios e intimidações de agentes do aparato repressor: ―Deixara
de viver à deriva, entre corpos que boiavam, descendo simplesmente a correnteza, deixando-me
levar. Eu começava a levantar a cabeça fora d‘água, a me tornar um alvo‖( STUDART, 1981, p.
149). Além disso, conforme ela mesma exprime: ―Eu sou torturada todas as horas.‖ (p. 174). Essa
afirmação decorre do fato das violência sofrida pela mãe ser configurada como psicológica, moral, e
de saber que seu filho foi mais uma vítima do sistema, o que transformou seus dias em agonizantes.
Para mais, a personagem se depara com obstáculos ao encontrar-se com um jornalista interessado
em sua atuação e resistência, pois é advertida sobre a censura e a impossibilidade de denunciar o
desaparecimento do filho. Cabe ressaltar que os acontecimentos em torno do desaparecimento do
filho fazem com que Açucena rememore eventos traumatizantes de sua infância e adolescência, uma
vez que através deles que a personagem redimensiona ao filho a sua ligação com mundo, dessa
forma, é também através da memória que sua personalidade é moldada.

CONCLUSÃO
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Através da análise em torno dos acontecimentos que afetaram a personagem da narrativa O


estandarte da agonia, cujos fatos decorrem em um cenário político autoritário, conclui-se que a
protagonista tem sua vida marcada pelo sofrimento em consequência da repressão e cerceamento da
liberdade de expressão. Da mesma forma, a trajetória da mãe notabilizada desde o início da
narrativa faz-se através de tentativas de resistências em meio aos percalços encontrados. A
representação dos fatos, da violência e da censura adquire pertinência quando surge da
representação das minorias, aquelas olvidadas pela história oficial, em decorrência da utilização do
material histórico e da escrita literária. Do mesmo modo, observa-se também a maneira como a
representação da violência contra a personagem se estabelece como via para preservar a memória a
respeito da história da ditadura, adquirindo um viés de tomada de consciência.

REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Poética. A In: ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica.
Introdução por Roberto de Oliveira Brandão; tradução direta do grego e do latim por Jaime Bruna.
12. ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

BRAGA, Elizabeth dos Santos. O trabalho com a literatura: memórias e histórias. Disponível em:
<http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/32359>. Acesso em: 13 maio 2018.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Edições
Vértice, 1990.

NETTO, José Paulo. Pequena história da ditadura brasileira (1964- 1985). São Paulo: Cortez,
2014.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

STUDART, Heloneida. O estandarte da agonia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

LITERATURA DE AUTORIA FEMININA E A OBRA LAÇOS DE FAMÍLIA CLARICE


LISPECTOR
Francisca Aline Albuquerque PEREIRA (UESPI)206
Lucélia de Sousa ALMEIDA (UESPI)207

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar um breve histórico sobre literatura de
autoria feminina na sociedade patriarcal e um dos elementos que a compõem, tais como a crítica
feminina, analisando os questionamentos pelos quais direcionaram a participação da mulher no

206
Graduanda em Letras Português, UESPI- Universidade Estadual do Piauí,E-mail:albuquerquealine783@gmail.com
207
Mestrado em Letras, UESPI- Universidade Estadual do Piauí, E-mail: almeidalucélia@hotmail.com

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