Você está na página 1de 3

Lógica para Crianças: Sabes ou 

Achas?

Introdução

Como todos nós as crianças apenas são capazes de dois tipos de raciocínio: indutivo ou dedutivo. E,
também como todos nós, as crianças são por vezes competentes e outras vezes incompetentes ao usar as
suas capacidades lógicas. Este exercício ao mesmo tempo que vai pôr toda a turma a trabalhar o
raciocínio lógico numa divertida competição entre eles, também vai ajudar os nossos alunos a perceber
que a lógica dedutiva pode dar-nos a mesma certeza que a matemática (100% certeza), mas que nem
sempre é possível usarmos a dedução e, nessas alturas, o melhor que podemos conseguir é uma boa
indução.

Claro que não vamos usar estas palavras complicadas com os nossos alunos (dedução e indução) mas
podemos conseguir o mesmo efeito usando duas palavras bem mais próximas deles: saber ou achar.

É sempre uma boa ideia começar uma aula com uma pergunta como “Há alguma diferença entre saber e
achar?” Normalmente os alunos aproximam-se muito de respostas como “Sabemos que 2 + 3 = 5”;
“Achamos que amanhã vai chover.”

Mas uma coisa é saber em teoria outra coisa é sentir essa diferença.

Este exercício começa com uma pequena experiência inicial para lhes fazer ver que uma coisa é achar e
outra coisa é saber e depois avança para um exercício de raciocínio lógico que os faça sentir essa
diferença com o seu próprio esforço.
Experiência inicial
– Pedimos aos alunos que cada um pense num amigo da turma mas não diga a ninguém quem é.

– Chamamos um aluno para junto de nós e perguntamos à turma se alguém sabe em quem é que ele
pensou. Imediatamente vamos ter dezenas de braços no ar a tentar adivinhar quem é esse aluno mistério.
E quando perguntarmos se sabem ou acham muitos dirão que sabem e, mais que isso, têm 100% certeza
que sabem! E a verdade é que muitas vezes acertam pois os miúdos são excelentes a ler pistas (olhares
furtivos, companhias habituais, BFF´s, ie. best friends forever, etc.).

– Mas se lhes perguntarmos se sabem quem é esse aluno mistério da mesma forma que sabem que “2
+ 3 = 5” aí alguns dirão que não, que não têm essa certeza. Outros estão tão seguros da sua certeza
que dirão que têm tanta certeza que “2 + 3 = 5” quanta que o “Mário está a pensar no Martim pois eles
estão sempre juntos no recreio”. E a verdade é que, neste caso, estão a fazer um bom raciocínio
indutivo mas que, apesar de bom e de muito provavelmente se revelar verdadeiro, não é um tipo de
raciocínio que nos dê 100% certeza.  Mas muitos alunos não conseguirão perceber isto pois estão tão
seguros da sua certeza que o seu pensamento está congelado, um fenómeno que não é exclusivo das
crianças. Para descongelar o raciocínio os alunos, como os adultos, precisam de algo mais que apenas
palavras, precisam de sentir que estão errados e nada melhor que um jogo para os fazer sentir a
diferença entre achar e saber.
Exercício: Sabes ou Achas?

1 – Pedimos aos alunos que desenhem nos seus cadernos 6 quadrados como na imagem.

2 – Depois que em cada quadrado escrevam ou desenhem uma pista para que possamos descobrir
em que amigo pensaram (exemplo: uma bola de futebol, óculos, um estojo da Marvel, uma camisola
amarela, cabelos pretos, etc.). A única coisa que não podem escrever é, claro, o nome do amigo ou
amiga.

3 – Pedimos a um dos alunos que venha ao quadro e que escreva uma dessas pistas no primeiro
quadrado. (ex. óculos)

4 – Depois perguntamos à turma se apenas com esta pista podemos saber de quem se trata. Muitos
dirão que sim e quererão arriscar mas aí entra em jogo uma regra cruel que os fará hesitar em arriscar
uma hipótese. Se o fizerem sem ter a certeza e falharem são eliminados e não podem participar mais
nesta rodada. Muitos encolherão o braço indicando claramente que percebem a diferença entre uma
dedução e uma indução (mesmo que não conheçam estas palavras), outros irão arriscar. Muito
provavelmente irão falhar, mas se acertarem temos aí um bom momento para discutir com a turma se
o aluno sabia quem era o amigo mistério ou se apenas achava e foi um palpite de sorte. (nota: para
criar ainda mais emoção esta parte do jogo pode ser feita em pequenos grupos com os alunos a terem
de negociar se devem ou não arriscar).
5 – Uma a uma vamos pedindo mais pistas até termos todos os seis quadrados completos. Em
princípio nesta fase já teremos excluído todos os alunos menos um (só a Maria usa óculos, tem cabelo
loiro, está de calças pretas, tem um casaco com carapuço, tem uma irmã mais nova e gosta de dançar) e,
neste caso, chegam a essa conclusão (É a Maria) através de uma dedução lógica, ou seja, se as pistas
nos quadrados estiverem todas certas (se não nos enganarmos na cor do cabelo ou das calças, por
ex.) teremos 100% certeza que acertamos na aluna mistério. Teremos tanta certeza de que É a
Maria quanto que “2 + 3 = 5”.
Como a Matemática a Lógica, se for bem usada, conduz sempre à verdade!

Uma vertente mais competitiva deste jogo é aquela em que os alunos, em grupos de 3 ou 4, procuram
revelar quem é o “aluno mistério” com o mínimo de pistas possível. A cada pista que vão revelando a
turma decide se ainda só podemos “achar” (marcando a pista com um “?”, de dúvida) ou se já podemos
“saber” (marcando a pista com um “!”, de certeza).

Você também pode gostar