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INSPEÇÃO TÉCNICA SUBJETIVA NA PRÁTICA

Luís Antônio Ribeiro

A importância da melhoria contínua da manutenção e seu impacto sobre o desempenho da


organização é algo bastante discutido e estudado, mas a necessidade e demanda na
redução de custo é uma realidade hoje para quem quer ser produtivo e obter lucro. As
organizações buscam ser cada vez mais competitivas, não somente pela necessidade de
buscar novos clientes, mas também pela necessidade de manter suas fatias de mercado. O
melhor aproveitamento do parque fabril, altas taxas de disponibilidade, confiabilidade e
baixas taxas de falhas é imprescindível para tornar a empresa competitiva. Portanto a
necessidade de se trabalhar com manutenção de maneira inteligente e com baixo custo é
um dos caminhos para o aumento da competividade e é entendido que sua aplicação deve
ser compatível com os recursos atuais da manutenção. O entendimento de inspeção técnica
subjetiva e um melhor entendimento de como se elaborar e executar uma inspeção técnica
simples e objetiva pode ser um diferencial na busca da melhoria contínua e diferencial
competitivo.
Palavras-chaves: Inspeção; Subjetiva; Inspeção Técnica; Inspeção Subjetiva; Preditiva
1. Introdução

As mudanças hoje estão acontecendo em uma velocidade incrível e as empresas tem que se
adaptar a essas mudanças na mesma velocidade para sobreviver. Com isso a necessidade de
produzir cada vez mais, com cada vez menos recursos é muito presente hoje.
E temos que admitir que isso é uma realidade para o momento em que vivemos hoje, as
empresas cada vez mais com novas exigências de produtividade e lucratividade e embora
essas metas sempre aumentem, isso não significa que para cumpri-las, as empresas irão
investir em novos ativos e recursos.
Mas como a manutenção pode acompanhar essas exigências de mais produção das empresas
e ao mesmo tempo com menos recursos?
Sabemos muito bem que para se produzir cada vez mais, é necessário o pleno
funcionamento das plantas fabris, com isso a confiabilidade dos equipamentos e baixas
taxas de falhas se tornaram imprescindível para atender as demandas de mais produtividade.
Porem devemos levar em consideração a questão de cada vez mais se tem menos recursos
para manutenção.
Notamos que a manutenção evoluiu muito o grau de importância para a empresa, mas
infelizmente muitos gestores ainda pensam que não se devem investir em manutenção e
com o pensamento que a empresa existe para produzir determinado produto e não para fazer
manutenção. Com isso surge a necessidade do profissional de manutenção usar de técnicas
e recursos simples e objetivos para atender essas demandas ao menor custo possível.
Quando buscamos na literatura científica encontramos vários modelos e sugestões de tipos
de inspeção técnica simples e objetiva, mas dificilmente se encontra relatos disso na prática
do dia-a-dia, se os técnicos inspetores realmente compram a ideia dessas técnicas
implantadas e executam com qualidade.
O presente artigo apresenta uma técnica de inspeção subjetiva relativamente simples e de
baixo custo e com exemplo prático, para empresas que não tem interesse em investir um
valor mais alto para se ter as melhores técnicas de inspeção, que hoje é considerado a
manutenção preditiva.
De maneira breve, esse artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 aborda
respectivamente, assuntos relacionados à Técnica de Inspeção Subjetiva; a seção 3
apresenta uma abordagem de como se elaborar uma boa Inspeção Subjetiva com a
participação direta dos técnicos de manutenção na elaboração e parceria na qualidade da
execução; e, a seção 4 apresenta as considerações finais.
2. Histórico das Atividades de Inspeção Subjetiva

Temos deparado hoje com grandes expectativas para o alcance de Manutenção Classe
Mundial, porém ainda nos deparamos com grandes deficiências hora de se fazer o básico
com manutenção industrial.

Gusmão (2003) conceitua a manutenção como o conjunto de atividades direcionadas para


garantir, ao menor custo possível, a máxima disponibilidade do equipamento para a
produção, na sua máxima capacidade, prevenindo a ocorrência de falhas, e identificando e
sanando as causas do desempenho deficiente dos equipamentos.

Sabemos que para se alcançar Manutenção de Classe Mundial é necessário tendenciar as


falhas a zero e normalmente o caminho para isso é aplicar as melhores práticas de
manutenção e estudos comprovam que o melhor tipo de manutenção a se aplicar para quem
deseja alcançar excelência, é a manutenção preditiva.

Nascif (2010) menciona Manutenção Preditiva é a atuação realizada com base em


modificação de parâmetros de condição ou desempenho, cujo acompanhamento obedece a
uma sistemática.

Nascif (2010) INSPEÇÃO é a análise crítica de um ativo (equipamento ou sistema)


verificando seu estado real em comparação com um padrão definido.

Quando se fala do tipo de manutenção inspeção, logo vem em mente que essa inspeção é
feita por pessoas capacitadas, com instrumentos de medição sofisticados para avaliar
alterações dos parâmetros originais do equipamento e se antecipar a quebra, reparando o
equipamento antes mesmo de parar por essa anomalia.
E de fato isso é uma realidade, porém tem que se levar em consideração a monitoração
subjetiva em que a análise é feita considerando o uso dos sentidos humanos. Em algumas
instalações esse tipo de inspeção tem grande importância se não for a mais importante.

Kardec e Nascif (2001) menciona sobre monitoração subjetiva, que variáveis como
temperatura, vibração, ruído e folgas já são acompanhadas há muitos anos pelo pessoal da
manutenção, independente da existência de instrumentos. Quem ainda não viu um oficial,
supervisor ou engenheiro “auscultar” um equipamento via capacete, caneta esferográfica ou
através de estetoscópio? Ou alguém colocar a palma da mão sobre uma caixa de mancal e
diagnosticar em seguida: “Está bom!” ou “A temperatura está muito alta”.
A folga entre duas peças – por exemplo eixo-furo-é “sentida “estar boa ou excessiva pelo
tato.
Também pelo tato os lubrificadores reconhecem se o óleo está “grosso” ou “fino”. Na
realidade seu “viscosímetro de dedos” está comparando aquele óleo com óleo novo.
O Ruído e o tato podem nos indicar a experiência de peças frouxas.
Esses procedimentos fazem parte da monitoração da condição do equipamento, e serão
tanto mais confiáveis quanto mais experientes sejam os profissionais de manutenção.
Mesmo que a experiência propicie uma identificação razoável nesse tipo de verificação, ela
não deve ser adotada como base para decisão por ser extremamente subjetiva. Cada pessoa
terá uma opinião. A temperatura de uma caixa de mancal pode estar boa para um e estar
muito alta para outro. Apesar disso, o uso dos sentidos pelo pessoal de manutenção deve ser
incentivado.
3. Melhoria das Atividades de Inspeção Subjetiva

3.1 Primeiro Passo – Necessidade

Muitos profissionais de manutenção, tem dúvidas de como promover na prática, a


padronização da manutenção em suas empresas. Geralmente a maior dúvida é como iniciar
esse processo de padronização e usualmente deve ser iniciada pelas atividades mais
repetitivas e mais sujeitas a erros. Fazendo uma análise disso observamos que é
recomendado iniciar pelas atividades de inspeção.
Portando este artigo aborda uma maneira simples e objetiva de se elaborar e padronizar essa
atividade de inspeção subjetiva.
Foram feitos vários experimentos e comprovado na prática a elaboração e execução de
inspeções técnicas subjetivas em empresas diferentes, com pessoas diferentes, com hábitos,
conhecimentos e costumes diferentes umas das outras. Com isso foi observado que não tem
uma fórmula mágica e padrão de executar essas inspeções de maneira efetiva.
Percebe-se na prática, quando tentamos implantar um modelo de inspeção utilizado em uma
grande empresa no estado de São Paulo, em outra empresa do mesmo seguimento, porém
no estado do Maranhão.
Se deparou com muitas variáveis que dificultaram essa implantação e execução. Apesar de
ser um modelo que funcionava muito bem na empresa em São Paulo, os técnicos no
Maranhão não executavam de maneira efetiva, faziam por fazer, não porque o modelo era
ruim, mas porque são visões, conhecimentos, hábitos e posturas diferentes. Com isso
percebeu-se que para se obter sucesso na implantação das inspeções técnicas, era necessário
se adaptar a esse novo cenário e não força-los a executarem aquele modelo.
Decidimos então começar do zero e com a participação efetiva dos técnicos que
executariam as inspeções nesse processo de padronização. Foram feitas várias entrevistas e
vários acompanhamentos na execução dessas inspeções no chão de fábrica. Feito isso, teve
novas rodadas de execução, mas com outro tipo de abordagem. Dessa vez a abordagem foi
o técnico realizar a inspeção do jeito dele, como ele faria a inspeção no equipamento se não
houvesse nenhum padrão para ser seguido. Nesse processo foram novas rodadas de
execução no chão de fábrica, com isso chegou-se em um modelo de como seria essa
inspeção em que tivesse a aceitação desses técnicos na execução e por consequência teria
um valor imenso, pois eles teriam participado do processo de elaboração.

3.2 Segundo Passo – Definição do Modelo

Com os dados levantados, observou-se que a Inspeção Técnica em que o técnico tem mais
afinidade em fazer é um modelo em que não o deixe preso a um check list padrão em que
eles somente coloquem Ok, ou NOK e eles possa escrever a opinião dele. Eles se mostraram
mais propensos a executarem inspeções em que ele tem a liberdade de checar o
equipamento de acordo com suas experiências e que eles possam escrever suas opinião caso
encontrem algo de anormal.
Tendo como base essas informações, iniciou-se um processo de elaboração da inspeção da
seguinte forma:
- Subdividiu-se o equipamento em subconjuntos;
- Fez-se um levantamento das quebras nos últimos meses e definido nessas quebras quais
poderiam ser identificados com inspeção técnica subjetiva;
- Para cada subconjunto, junto com o técnico, foi questionado em campo na máquina, o que
ele conseguiria inspecionar naquele subconjunto, de acordo com o que o manual diz e de
acordo com a sua experiência e em cima das quebras levantadas, com a máquina em
funcionamento;
- Feito o mesmo questionamento do mesmo subconjunto, porém com a máquina parada;
- Tabulado todos os itens a ser verificado para cada subconjunto, tanto com máquina
rodando, como máquina parada;
- Confeccionar uma Lição de Um Ponto, com a foto do subconjunto detalhando as peças de
desgaste;

Uma vez definido os itens a serem verificados, partimos para uma outra etapa, que é algo
muito importante na padronização dessa atividade de Inspeção Técnica Subjetiva, que é o
como se realizar essa verificação dos itens mapeados de acordo com a qualificação e
hábitos da equipe local e não somente pelo conhecimento teórico.
Novamente com a participação dos técnicos no equipamento, foi feito o questionamento de
como ele realiza a verificação dos itens relacionados na prática e como ele define se o item
está bom, ou ruim. Vale salientar que, para equipamento rodando a verificação é de uma
maneira e para equipamento parado é de outra maneira e isso tem que estar bem definido e
registrado para que todos possam realizar a inspeção da mesma maneira.
O próximo passo é definir com qual frequência será realizada essas inspeções, levando em
consideração o nível de quebra desse equipamento, criticidade, horas de produção e
velocidade do equipamento.
Kardec e Nascif (2001) menciona, que para tornar os padrões de inspeção completos, as
seguintes informações são essenciais: (1) partes do equipamento a ser inspecionadas, (2)
frequência das inspeções, (3) métodos de inspeção, (4) instrumentos e aparelhos de
inspeção, (5) características a ser inspecionadas, (6) critérios de julgamento, (7)
contramedidas em caso de anomalias.
A FIG.2 e 2.1 mostra um exemplo de padrão de inspeção técnica subjetiva mecânica de uma
encaixotadora de garrafas, levando em consideração todos os aspectos mencionados acima.
A FIG. 3 mostra um exemplo de padrão de inspeção técnica subjetiva elétrica de um
Misturador de bebidas (Mixer) para garrafas, levando em consideração todos os aspectos
mencionados acima.

Modelo de estratificação das quebras no equipamento por um período de 5 meses:

Figura 1
Fonte: Próprio autor (2014)

Modelo de uma inspeção técnica subjetiva mecânica com máquina rodando:

Figura 2

Fonte: Próprio autor (2014)

Modelo de uma inspeção técnica subjetiva mecânica com máquina parada:

Figura 2.1

Fonte: Próprio autor (2014)


Modelo de uma inspeção técnica subjetiva elétrica com máquina rodando:

Figura 3

Fonte: Próprio autor (2014)

3.2 Descritivo do Formulário

Descrição da Tarefa: Nesse campo está os subconjuntos da máquina e a descrição detalhada


do que ele tem que verificar em cada subconjunto e como ele deve verificar, para que ele
não esqueça de verificar nenhum dos pontos na hora de executar a inspeção.

Status: Nesse campo será inserido a anotação se aquele subconjunto está Ok, ou Não Ok na
hora da inspeção (Se não for encontrado nenhuma anomalia, será colocado Ok, se for
encontrado alguma anomalia será colocado Não Ok). Nas letras A, B e C, deve-se assinalar
o grau da criticidade da anomalia se for encontrado algo de errado.

Anomalia Encontrada: Nesse campo será anotado o que foi encontrado de anomalia e uma
possível solução, para ser programado posteriormente para correção.

Ordem SAP: Nesse campo será anotada a Ordem do SAP para a correção dessa anomalia e
rastreabilidade posteriormente.

3.3 Detalhamento das Peças por Subconjunto


Para facilitar o detalhamento das anomalias encontradas, foi-se criado uma Lição de Um
Ponto (LPP) para cada subconjunto do equipamento, detalhando todas as peças de desgaste
que estão relacionadas para serem verificadas na Inspeção Técnica Subjetiva, conforme
Figura 4.

Figura 4

Fonte: Luis Ribeiro (2014)


4 Conclusão

De acordo com os dados obtidos por meio da pesquisa, foi possível chegar a seguinte
conclusão referente a importância e ao modo de se elaborar e executar inspeção
subjetiva.
Que na busca de melhoria do resultado operacional a partir de uma maior eficiência de
todo o sistema de produção assim como conservar o parque fabril a um custo
compatível. Uma das ferramentas de manutenção a ajudar nesse processo a um custo
muito baixo, são as Inspeções Técnicas Subjetivas.
De acordo com os estudos feitos, observou-se que é possível se elaborar uma Inspeção
Técnica Subjetiva de qualidade, para qualquer ambiente de trabalho e com pessoas de
diferentes conhecimentos técnicos.
O artigo procurou expor as principais definições e passos de implementação em termos
do que realmente é importante na elaboração de uma boa Inspeção Técnica Subjetiva,
levando em consideração a situação da empresa naquele momento em relação as
quebras, o ambiente de trabalho (hábitos locais) e as pessoas envolvidas.
Esse tipo de inspeção tem como objetivo principal em reduzir os custos de manutenção
corretiva e preventiva e não substituí-las, ajudando assim a empresa ser mais
competitiva.
5. Referências
DORIGO, Luiz Carlos; NASCIF, Julio. Manutenação Orientada para Resultados.
Editora Qualitymark
Mark, Rio de Janeiro, 2009 .

KARDEC, Alan; NASCIF, Julio. Manutenção Função Estratégica, 2ª edição, 3ª Reimpressão 2006.
Editora Qualitymark
Mark, Rio de Janeiro.

XENOS, H. G. Gerenciando a Manutenção Produtiva, 2ª edição Editora Falconi.


Belo Horizonte, 2005

GUSMÃO, C. A. Índices de desempenho da manutenção - Um enfoque prático. Disponível em:


http://www.datastream.net/latinamerica/mm/articulos/default.asp. Acessado em: 21 nov. 2014

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