Você está na página 1de 3

UnB - IL - LIP

Sintaxe do Português Clássico


Profa. Heloisa Maria Moreira Lima Salles

Estudo Dirigido 1: Origem e formação da língua portuguesa - aspectos históricos e culturais

1. Considere o texto a seguir, adaptado de Hauy, A. B. (1989) História da Língua


Portuguesa. São Paulo: Ática e desenvolva uma das questões formuladas em (a) e (b):

Sabe-se, com certeza, que a língua portuguesa e os demais idiomas românicos são o resultado de
uma lenta e conturbada transformação, através dos séculos, de uma outra língua, o latim, que por sua vez era
também transformação, através dos séculos, de uma outra língua, o indo-europeu, falado por um povo ao
qual se convencionou chamar ariano ou ária. Muitas são as hipóteses sobre o berço dos árias. Supõe-se, entre
outras teses, que seu habitat era a região compreendida entre certa parte do centro da Europa e a leste,
estendendo-se até o Turquestão e as estepes russo-siberianas. Em época muito remota saíram desse território
diferentes tribos, as quais, disseminando-se pela Europa e parte da Ásia, levaram consigo a sua língua. Nunca
se conseguiu reconstruir esse idioma, que não foi fixado pela escrita.

Entretanto, embora não se tenha chegado a uma recomposição dessa língua primitiva, da qual
provêm quase todas as atualmente faladas na Europa e parte da Ásia, pesquisas realizadas no começo do
século XIX pelo filólogo alemão Franz Bopp demonstraram, pelo método da gramática comparada, o
parentesco linguístico das línguas indo-européias e provaram, pelo estudo comparativo de diversos fatos
fonéticos, morfológicos e sintáticos, a existência do indo-europeu.

Nas sucessivas e seculares migrações do povo ariano, o indo-europeu fracionou-se nos ramos
germânico, itálico, báltico, eslavo, celta, albanês, grego, indo-irânico e armênio. O ramo itálico compreendia
o osco, o latim e o umbro. Como se sabe, a disseminação do latim se dá no contexto da expansão do império
romano, que alcança seu apogeu entre os séculos I a. C e I d. C. A história da língua portuguesa começa com
a romanização da península ibérica, iniciada em 197 a. C, com a dominação dos povos celtiberos. O declínio
do Império favorece a penetração dos povos germânicos a partir do século V d. C. Na península ibérica, a
ocupação germânica é suplantada pela invasão árabe, no século VIII.

Situe a formação da língua portuguesa no contexto da expulsão dos árabes e da influência


político-cultural associada à região noroeste da Península (Galiza). Contextualize
historicamente a fixação da capital do reino de Portugal em Lisboa e discuta o significado
deste fato para o surgimento da língua portuguesa. Consultar Castilho (op. cit.), seção 4.4.2,
quadro. Identifique fatos históricos e os respectivos protagonistas.

(a) Situe a formação da língua portuguesa no contexto da expulsão dos árabes e da


influência político-cultural associada à região noroeste da Península (Galiza).

(b) O período subsequente à fundação do reino de Portugal envolveu lutas entre


famílias, na disputa pelo poder. Nesse período, ocorre o distanciamento cultural e
político em relação ao noroeste da península – o condado de Galiza – e dos reinos
de Leão, Aragão e Navarra. Identifique episódios e fatos que se sobressaem durante
o movimento de expulsão dos árabes.
2. Considere o trecho a seguir, extraído da Gramática da Língua Portuguesa, de João de
Barros [3ª. Edição, organizada por José Pedro Machado]:

‘Casos são os termos per onde os nomes, pronomes e particípios podem


andar, os quais termos, dado que não mudem a sustância do nome,
governam a ordem da oração, mediante o verbo. E porque (como já disse)
por sermos filhos da Língua Latina, temos tanta conformidade com ela que
convém usarmos dos seus termos, principalmente em cousas que têm seus
próprios nomes, dos quais não devemos fugir.’ (p. 14)

Primeira declinação
SINGULAR PLURAL
Nominativo a rainha Nominativo as rainhas
Genitivo da rainha Genitivo das rainhas
Dativo à rainha Dativo às rainhas
Acusativo a rainha Acusativo as rainhas
Vocativo Oh! Rainha Vocativo Oh! Rainhas
Ablativo da rainha Ablativo das rainhas

Considere o conteúdo da seção 5, do texto de Castilho (op. cit.), seção 5, em particular as


condições políticas para o surgimento da língua portuguesa, analisando o papel dos
intelectuais e escritores. Comente a abordagem do gramático João de Barros, na descrição
do sistema gramatical do português. Por que autor recorre à definição da categoria de caso
morfológico em latim? Como o autor estabelece a comparação entre o latim e o português?
Qual é o significado político e cultural dessa comparação?

3. Considere os excertos a seguir:

a. ‘(...) ter mais tençom (intenção) de bem mostrar a sustancia (conteúdo) do que screvia que a
fremosa e guardada (formosa e cuidada) maneira de escrever.’ D. Duarte, citado em Paiva, D.
(1988: 14) Historia da Lingua Portuguesa. São Paulo: Ática.

b. ‘Se outros por ventuira (porventura) em esta cronica buscam fremosura e novidade de pallavras
(beleza e emprego de palavras novas), e nom a certidom das estorias, desprazer lhe há de nosso
rrazoado (desagradar-lhe-á nosso escrito).’ Fernão Lopes, citado em Paiva, D. (1988: 17)

Situe D. Duarte e Fernão Lopes no âmbito da produção literária portuguesa. Relacione as


citações (a) e (b), identificando, em seu conteúdo, aspectos que demonstram a influência
exercida por esses autores na formação da língua portuguesa. Considere os Capítulos 1 e 2
do texto de Paiva (op. cit.).

4. Considere o trecho a seguir, extraído do Capítulo 4, “Morfologia”, do livro de Paiva


(1988: 42-55). Observe a descrição dos processos arcaizantes. Considerando a distinção
entre categorias/ morfemas lexicais e gramaticais, conforme formulada sucintamente na
citação a seguir, identifique que tipo de categoria está sendo descrita, descreva e comente o
modo como os morfemas são afetados pelo processo de mudança linguística – aponte que
tipo de processo é envolvido (perda de flexão, perda do item, perda/mudança do
significado, alteração na forma do morfema). Exemplifique.
“(...) [os substantivos, os verbos, os adjetivos] se caracterizam de modo geral por
seu valor de designação, por constituir um sistema aberto (...). Suas unidades, os
morfemas lexicais, têm um caráter arbitrário absoluto. Já [os itens da gramática] se
caracterizam pelas funções que exercem suas unidades – os morfemas gramaticais
–, pelas relações em que eles entram e também por formarem estes um sistema
fechado e serem eles de uma frequência média alta num dado texto.” (adaptado de
Lobato, L. (1986) Sintaxe Gerativa do Português. Vigília, Belo Horizonte, p. 75)

“Os possessivos apresentavam, no gênero feminino, duas séries: átona e tônica.

ma – correspondente a mha ou mῖa, que passou a minha


ta tua
sa sua

As formas átonas femininas, usadas com alguma frequência na época arcaica e no início do
século XVI, ainda são encontradas raramente no Cancioneiro geral, em Bernardim Ribeiro,
Sá de Miranda e Gil Vicente, em cujas obras, a par de ta, as, temos mῖa com as variantes
enha, inha ou nha, empregadas sobretudo com as palavras mulher e mãe: “enha molher”,
“enha mãy”. A última variante nha ainda se mantém na fala popular, em algumas regiões
do Brasil.
Os correspondentes masculinos: meu, teu, seu, e os restantes nosso (noso), vosso, não
apresentavam irregularidades.” (Paiva (op. cit., p. 45).

Você também pode gostar