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EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FILOSÓFICA DO DIREITO NA IDADE

MODERNA

Com o fim do feudalismo, a população começa a redescobrir a cultura grega. O


renascentismo tem como foco o homem e no seu valor, opondo-se totalmente à visão da
Idade Média, na qual o homem era visto apenas como pecador. O homem passa a ser
visto como algo valioso e isso caracteriza o movimento renascentista, que tem como
objeto de estudo o próprio homem. E por isso Renascimento, pois o homem volta a ter
papel importante na história, assim como aconteceu na Grécia antiga (REALE, 2013).
A existência do homem deixa de ser de servo de Deus e passa para ele ter que
servir a ele mesmo. O homem agora podia buscar o seu desenvolvimento da forma que
achasse melhor, pois suas possibilidades eram ilimitadas, devendo desbravar novos
horizontes.
O Renascimento desenvolve um novo sentido para a natureza, pois a vida na
Terra deixa de ser uma mera preparação para a vida no céu. A natureza passa a ser a
morada de Deus, pois era a sua criação, tornando-se algo positivo. Deus por ser
onipresente e infinito poderia ser encontrado em qualquer lugar, ou seja, a visão do
divino se torna panteísta.
Tal entendimento conflitava enormemente com a visão da Igreja, que
acreditava existir uma barreira incapaz de ser transpassada em Deus e os homens. Tais
conflitos começam a ser sentidos dentro da própria Igreja e uma parte de seus membros
que discordavam de alguns pontos levam a uma separação da unidade cristã. Essa
ruptura ficou conhecida como a Reforma Protestante.
A Reforma teve como principal representante Martinho Lutero e pode ser
justificada em alguns pontos principais (BONAVIDES, 2019).:

a) Novas interpretações da Bíblia: a Bíblia, devido ao avanço da imprensa, passa a ser


vendida e traduzida para os mais diversos idiomas, isso permitiu que cada vez mais
pessoas pudessem conhecer o teor da Sagrada Escritura e interpre6ta-la de maneiras
diferentes.

b) Corrupção do Clero: devido à venda de diversas relíquias sagradas falsas, vários


cidadãos passaram a criticar o comportamento dos membros da Igreja, inclusive do alto
Claro. Os cristãos se rebelaram com a venda das indulgências, com determinando valor
para auxiliar nas obras, os fiéis poderiam comprar o perdão de seus pecados. Essa venda
levava uma questão ético-religiosa, uma vez que os sacerdotes eram vistos como os
intermediários entre os homens e Deus.

c) Nova Ética Religiosa: com o crescimento da burguesia e seu enriquecimento, o lucro


excessivo poderia representar a ida para o inferno após a morte, pois a usura era
condenada pela Igreja.

d) Sentimento Nacionalista: com a formação dos Estados nacionais europeus, marcados


por suas especificidades, que delas se orgulhavam, a tentativa da Igreja de ser uma
instituição universal de todo o mundo cristão, não mais atendia aos interesses nacionais.

Lutero se preocupou com o aspecto religioso, pois sua proposta era um retorno
às origens, às fontes do cristianismo e por assim ser a Bíblia era o principal ponto a ser
interpretado. O teólogo entendia que todos deveriam ler as sagradas escrituras, pois não
deveria haver nenhum tipo de intermediário entre Deus e o homem. Compreendia que
os membros da Igreja não tinham uma relação especial com Deus e o perdão não seria
alcançado por meio da prática de rituais religiosos desenvolvidos pela Igreja. A
redenção dos pecados seria conseguida gratuitamente ao homem por meio
exclusivamente de sua fé e por assim ser, o pagamento por obras não deveria ocorrer
(FERRAZ JÚNIOR, 2009).
O movimento pode ser observado tanto na política como juridicamente.
Durante a Idade Média, o direito foi pensado como algo baseado em uma lei natural
divina, e o Estado, que precisava do direito para sua existência, por consequência,
também dela derivava. Qual a alteração de paradigma o Estado começa a se justificar na
razão humana, e o Direito Natural também se torna algo de origem humana e não mais
divino.
Outra figura importante para a alteração desse paradigma é Nicolau Maquiavel,
fundador da ciência política. Ao observar o homem do seu tempo e compará-lo com os
antigos, em especial, os romanos, o filósofo constatou que o homem age de forma
corrupta e violenta. Constata, então, que a natureza humana o faz capaz de agir por mal
e do erro, e assim, a ação política é aquela em que se age, mas não se costuma falar
(FERRAZ JÚNIOR, 2014).
A política se torna autônoma, pois se separa tanto da ética como da religião, e é
estudada conforme suas próprias especificidades.

Em “O Príncipe” o pensador aponta diversos caminhos e indagações até hoje


debatidas como: “É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser
mal e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”, daí surge a
expressão “os fins justificam os meios” (BONAVIDES, 2019).
Maquiavel cria o conceito de príncipe virtuoso, ou seja, o que consegue
compreender as forças que integram o jogo político e partir desse conhecimento é capaz
de agir para conquistar e manter o seu poder. O príncipe não deve guiar suas atitudes
com base na moral cristã.
A ética maquiavélica baseia-se nas consequências e resultados oriundos de uma
ação política. Deixa então de se ponderar as ações que se norteiam com base em uma
hierarquia de valores previamente estabelecidos.
A moral se fundamenta na construção do bem da comunidade, e sendo assim,
por vezes é autorizado que se recorra ao mal, como utilizar a força coercitiva do Estado,
declarar guerra, para se garantir a proteção do Estado e da própria comunidade. A moral
então se torna algo mundano, que existe nas relações humanas. E se o homem é ou pode
vir a ser corrupto, cabe ao Príncipe usar de todos os meios disponíveis para se manter no
poder (FERRAZ JÚNIOR, 2014).
A política então passa a ter como finalidade, ao contrário do que diziam os
antigos pensadores, a manutenção e a tomada de poder e não mais se alcançar a justiça e
o bem comum.
Quando separa a política da ética e da moral, Maquiavel, afasta o ideal de
direito Natural, pois este é a origem de valores morais e da própria justiça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 1ª ed..São Paulo: Malheiros,
2019.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2014.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Estudo de filosofia do Direito. 3ª ed. São Paulo:
Atlas, 2009.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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