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Inconsciente

O inconsciente aparece de diversas formas dentro da


psicanálise ao longo do seu processo de desenvolvimento. No
primeiro modelo, proposto por Freud, encontramos um inconsciente
que é um lugar para onde as experiências ficam, quando são
reprimidas. O que seria uma espécie de banco de dados onde as
informações ficam intactas. Muito desta perspectiva está
relacionada às origens da psicanálise que tem por base o seu
surgimento através da hipnose. Por outro lado, temos alguns fatores
que contribuem para questionamentos acerca desse modelo, como
o defendido por Melanie Klein. Ela propôs a transferência com
crianças que foi um marco para o desenvolvimento e modernização
da psicanálise. Klein fala de um processo de transferência onde a
criança não precisa ter referências para realizar transferência.
A transferência é um processo que envolve introjeção que é o
ato de colocar um conteúdo para dentro, um estimulo externo, que é
quando estamos diante de objetos, ações ou qualquer informação
que venha do externo e causam identificação com o conteúdo
externo. Por fim, projeção que é quando eu me relaciono em algum
grau com o conteúdo externo.
A transferência tem como condição fundamental a
necessidade de conteúdos introjetados para haver relação. Mas,
como isso funcionária com crianças ainda sem referências? Essa foi
uma das razões pelas quais a psicanalista Anna Freud propôs que
o analista exercesse a função de educar a criança. Mas, M. Klein
discordava disso porque ela já pensava a criança como alguém que
já realizava transferência, e isso na visão dela, não estava

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condicionado a referências de base. A transferência para ela é uma
relação que se estabelece entre a criança e o mundo de forma
natural.
Exemplo: só é possível dobrar as pernas em uma única direção por
questões anatômicas e a criança usa essa e diversas outras logicas
para se relacionar com os objetos. Essa é uma relação
transferencial que vai se aprimorando ao longo do seu processo de
desenvolvimento.

Dentro da própria vertente freudiana já começamos a observar


alguns apontamentos que indicariam um modelo diferente de
inconsciente daquele proposto inicialmente. Freud em seu texto “A
interpretação dos sonhos”, nos fala sobre a relação que se
estabelece entre os elementos psicológicos que ele chama de
cadeia de representação e, que segundo ele, existe relação entre
esses elementos e ainda existe o que ele chama de umbigo dos
sonhos que é o limite da linguagem, onde a linguagem não
consegue gerar significado. Posteriormente, Lacan elabora o
inconsciente estruturado como linguagem que tem como base a
relação que se estabelece entre os significantes que constroem a
significação.

Significantes são elementos que sozinhos, não têm sentido, eles


sempre precisam de outros significantes para ter sentido.

Exemplo: quarto é um significado, mas quarto é formado por cama,


lâmpada,

guarda-roupa, coberta entre outros. Todos esses significantes


juntos formam o significando quarto, mas quarto é também um
significante de casa por exemplo, ao mesmo tempo que algo é um

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significante ele também passa a ser significado. Como podemos
observar, a nossa psique exerce relações o tempo todo para gerar
significado. Com base nessa compreensão, os sintomas não são
compreendidos como algo fora da personalidade. Dentro da
tradição psiquiátrica francesa, os sintomas seriam uma expansão
de conteúdos que já fazem parte da personalidade, logo, o sintoma
está em tudo o que o sujeito faz ou pensa. Por essa razão, que se
faz tão dificultoso para uma pessoa com depressão aceitar um
tratamento ou mudar de postura, isso porque, ela pensa com o
sintoma.

Lacan propõe o conceito de real que é o indizível, aquilo que a


linguagem não alcança e seria como se as experiências se
transformassem em outra coisa. Imaginemos que estamos
construindo uma escada e ao final da construção de cada degrau o
primeiro degrau desaparece. Seria essa a proposta do inconsciente
lacaniano; o degrau que acabou de ser construído carrega
características do degrau que desapareceu. Para Lacan, o real
seria o degrau que despareceu, é algo que nunca mais terei
acesso. Vamos a um exemplo: um aluno chamado Luiz Felipe vê
uma árvore que antes de ser árvore era uma semente. Mas, ele
aprende que quando ela cresce não conseguirá mais ver mais a
semente, apenas as folhas e galhos que carregam características
daquela semente, mas esta, já não existe mais.
A memória então seria uma experiência do agora que se baseia em
experiências vividas que já não existem mais. Porque a sua cadeia
significando foi sendo alterada e a realidade em que viveu já não
existe mais. Ou seja, uma pessoa que conta uma lembrança
acredita estar relatando exatamente da forma ocorrida, mas não,

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ela já não tem mais acesso daquilo que foi, só expressará o que
está baseado em suas experiências do momento atual (o agora).

Na teoria da evolução das espécies, o que se tem e não se


usa será perdido, como por exemplo, pássaros de uma determinada
região que não precisavam mais voar para ter, com o tempo
perderam a capacidade de voar. Imaginemos que um sujeito é
colocado num ambiente sem nenhum contato com humanos. Com o
passar do tempo, ele começaria a perder suas características
psíquicas de humano, porque as relações que se estabelecem no
cotidiano são as que mantêm a mente em constante funcionamento.
Então, aquelas memórias antigas não fariam sentindo dentro dessa
teoria. Imaginemos agora outra situação, se cada informação do
cotidiano fosse armazenada em nosso cérebro como um disco
rígido, não haveria espaço para todas essas informações e é
inviável pensar nesse modelo de inconsciente. Não existe um eu do
passado intacto e um eu do futuro. Existe apenas o eu em
construção e o eu das relações. Com essa nova forma de se
considerar o inconsciente, temos a possibilidade de pensar também
o sintoma de um modo geral. Sintoma que não é um elemento
estranho dentro da psique, mas algo que faz parte da personalidade
como um todo, algo que foi construído ao longo de todo um
processo de desenvolvimento psicológico, logo, ele estará não
somente em um ponto especifico da fala, mas em todo
comportamento e pensamento da pessoa.

O inconsciente 4

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