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Christopher Bollas e a Gênese Psíquica 1

O valor de uma teoria não-patológica do trabalho psíquico

Henrique Silva2

Olá pessoal, boa noite.


Hoje vamos ao segundo seminário deste ciclo sobre o pensamento de C. Bollas e o tema será o da
“Gênese Psíquica”.
No encontro passado, conversamos sobre a questão do “Inconsciente Receptivo” e pudemos entrar
em contato com a questão do quanto existe de capacidade criativa no inconsciente, algo para além
de ser o lugar do “reprimido”. Vimos que essa capacidade pode se refletir, em especial, na relação
com nossos pacientes quando estamos em escuta e recepcionamos os conteúdos da sua narrativa.
Momento em que entra em cena nossa capacidade perceptiva, muito antes que possamos começar a
refletir sobre tais conteúdos. Hoje vamos, então, aprofundar este mecanismo a partir da concepção
de “gênese psíquica”.
Bem, o texto de Bollas que indiquei é o capítulo 4, intitulado “Gênese Psíquica”, do livro Sendo um
Personagem3, um capítulo onde Bollas desenvolve boa parte de seu argumento sobre o assunto.

A “receptividade” como pano de fundo para o trabalho da genera


Vimos, no encontro anterior, que a tarefa fundamental do analista talvez seja a de abandonar-se ao
seu próprio inconsciente, para deixar-se penetrar pelo conteúdo oriundo do inconsciente do outro,
que deve sentir-se livre e incentivado a ocupar o seu tempo na sessão com o que lhe vier à mente. E
isso deixa claro que, então, o principal agente do trabalho da psicanálise é o inconsciente. É ele quem
precisa se comunicar e ser escutado.
E vimos, também, que este trabalho funcionaria, de uma forma geral, através do fluxo de associações
que livremente ocorre no paciente e que ele caba por relatar nos seus detalhes mais triviais,
permitindo ao inconsciente expressar a sua lógica. Enquanto, do outro lado do par, o analista, com o
seu estado de atenção suspenso, tem a chance de compreender estes movimentos do inconsciente do
paciente justamente pela capacidade “receptiva” do seu próprio inconsciente. Ou seja, em resumo, o
inconsciente do paciente é transmitido, de diversas formas, para o inconsciente do analista, que o
recepciona e passa a trabalhar a partir do que é “percebido” inconscientemente.
É o território do que é conhecido, mas não é pensado. E, como alcançar este lugar é uma das tarefas
fundamentais do trabalho analítico.
Vimos também que, para Bollas, a comunicação inconsciente está presente desde o início da vida
através da sintonia pré-verbal entre o bebê e sua mãe devotada, o que resulta numa “criatividade

1
2º seminário do ciclo de encontros mensais sobre “Christopher Bollas, apresentado via online, em 17 de julho
de 2023, das 20:00 às 21:30.
2
Psicanalista, Historiador, Especialista em Sociopsicologia e MSc. em Ciências Sociais (PUC-SP). Atendimento e
supervisão clínica. Coordenador do “Grupo de Estudo Sobre a Obra de D. W. Winnicott”, dos “Seminários de
Teoria da Técnica”, “O Pensamento de Winnicott”, “O Pensamento de C. Bollas” e do Grupo de Leitura
“labirintos”. Contato: analise.henrique@gmail.com
3
Bollas, C. Gênese Psíquica In: Sendo um Personagem. – Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter, 2013 ©
1992, cap. 4, p. 49-77.

Henrique Silva – Seminários Christopher Bollas (“Gênese Psíquica”) – jul 2023 / analise.henrique@gmail.com
inconsciente”. Algo que, diferente do conceito de inconsciente reprimido, nos oferece uma concepção
não patológica de inconsciente, com presença do ego e com forte dinamismo no sentido de perceber,
organizar, evocar, selecionar, pensar etc. Ou seja, HÁ UM FORTE DINAMISMO NO USO QUE O EGO
FAZ DO INCONSCIENTE RECEPTIVO.
Em síntese, o que Bollas nos enfatiza é que o inconsciente é uma forma de inteligência que recebe
dados, registra experiências, classifica-as, organiza milhares de pensamentos que chegam destas
experiências e as utiliza, como no sonho, por exemplo.
Todos recebemos dos mundos interno e externo um fluxo constante de impressões. Muitas se tornam
conscientes de imediato, algumas podem gerar conflitos com o consciente e serem recalcadas
(egodistônicas), mas a maioria acaba entrando em nossa mente sem ser registrada na consciência, e
isso porque nossa atenção geralmente está em outro lugar, ou seja, são impressões que passam a
habitar o mundo interno “sem” serem conscientes, e “sem” serem recalcadas. Estas são as
percepções inconscientes.
Para Bollas, talvez muito do que chama de uma "negligência" de muitos psicanalistas sobre os
aspectos da ordem materna possa ser entendido por não se perceber os aspectos receptivo e criativo
do inconsciente, não limitado ao recalcado, mas complexo, com outros registros, dinâmico e criativo,
como o próprio sonhos nos mostra.
A "teoria do inconsciente recalcado" é importante, mas muito limitada e conflitante com a própria
teoria dos sonhos em Freud, que já trazia a questão da criatividade inconsciente. Daí o empenho de
Bollas em um modelo metapsicológico onde o inconsciente é formado tanto pelas ideias recalcadas
quanto as recebidas. É o que chama de um "INCONSCIENTE RECEPTIVO".
O que precisamos ver, agora, é como Bollas entende o processo de formação da "gênese psíquica", ou
seja, o produto deste trabalho processual do ego com o inconsciente.
Todos nós que trabalhamos no ambiente clínico sabemos que a desconstrução de um complexo
traumático avançará conforme uma nova forma de sentir e pensar for amadurecendo. E não se trata
de um trabalho exclusivamente centrado nas funções conscientes do ego. Pelo contrário, é um
trabalho lúdico, dinâmico, que se arrasta no tempo pois precisa de evolução, de desenvolvimento, e
mais, que se situa, em boa parte no inconsciente receptivo, cujo dinamismo e criatividade pode vir a
proporcionar grandes descobertas que irão alterar a perspectiva do indivíduo sobre si e sobe a vida.
É sobre este processo que iremos tratar.
Vamos ao texto indicado.

Trauma e genera como funções antagônicas do inconsciente


Bollas inicia seu texto nos lembrando que a primeira resposta de uma criança a uma grave intrusão
ambiental (impingement) faz parte da formação de um trauma, mas seria a "segunda" ocorrência,
quando do despertar dessa resposta na consciência, que a natureza perturbadora da intrusão é, de
fato, revelada a nós. Mais do que tomada pelas “lembranças” do evento agora a pessoa se sente
“habitada” pelo trauma, ou seja, aquilo que foi um choque agora se encontra “organizado
intrapsiquicamente”, se renovando e se manifestando na forma de “turbulência emocional” que é a
face do abandono, da confusão e do isolamento.
Vejamos a situação específica de uma criança que é molestada sexualmente na infância:
• Ela pode, no início da adolescência, contar a um amigo e se sentir ajudada pelo efeito de
coesão trazido por sua narrativa. Isto não anula o trauma mas, se no futuro ele reaparecer,

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desencadeado por algum acontecimento, haverá a lembrança da ajuda por parte de alguém e
isso terá papel importante da recuperação do self;
• Por outro lado, a criança pode ficar impossibilitada de falar sobre o assunto e, se o trauma for
evocado por algum acontecimento, ela não poderá recorrer a nada objetivado narrativamente
e, diante da ausência do lado gerador da lembrança, restará o trauma;
Dessa segunda situação pode vir uma “confusão” psíquica, experimentada pelo misterioso sentimento
de que teriam sido vítimas de um abuso que teria acontecido ou teria sido imaginado? Trata-se ainda
do efeito do trauma que, novamente, traz isolamento na forma da “solidão da confusão mental”. E,
quanto mais ganhar forma a ideia de que tudo foi “imaginado” maior o sentimento de solidão, de
estar separada dos demais já que se sente tão “diferente” pelo que aconteceu.
Este é o “trauma” mas, segundo Bollas, ele tem um oponente: a gênese (genera), que é o processo de
incubação das catexias libidinais do mundo objetal. "Genera" é uma palavra que tem uma raiz latina
que nos leva a "engendrar", "dar à luz", e é esse sentido, para além de "classe de objetos", que é
preciso resgatar pois traz o "dinamismo" de algo que se desenvolve, que evolui. Um trabalho psíquico
que reúne e incuba investimentos libidinais que é uma mostra de nosso idioma pessoal e de nossa
possibilidade de criar novos enfoques sobre a vida e objetos. Um idioma que vem conosco mas eu vai
sendo, gradativamente, elaborado através da provisão ambiental justamente pela “disseminação
psíquica” que vai ocorrendo com a expansão de nossa relação com os objetos.
É esta liberdade, a partir da provisão ambiental, que é fundamental para a evolução do self. É assim
que levamos, sempre, as marcas do conteúdo da provisão materna e paterna.
É neste sentido que a “primal genera” (fatores nascentes do idioma pessoal; protonucleações
herdadas) que propicia as primeiras coesões estéticas do mundo objetal a partir da criança, logo se
encontram com outra inteligência organizadora: a “lógica da provisão parental”. A partir daí será um
processo ininterrupto de elaboração do idioma pessoal. O trauma, então, pela dor psíquica causada,
direcionaria a um outro tipo de trabalho inconsciente, o que nos mostra que “genera” e “trauma” são
duas disposições muito iniciais do ego em relação à realidade e que são derivados de suas
experiências iniciais junto aos pais.
Isso nos leva a pensar, segundo Bollas, que, enquanto crianças cujos pais proporcionam experiências
que propagam a elaboração de seu idioma desenvolvem uma “abertura” de pensamento em relação
ao mundo objetal, outras crianças cujos pais são muito intrusivos vão guardando os traumas em uma
área psíquica numa tentativa de limitar os danos causados ao self e, à medida que novos traumas vão
acontecendo, essa zona psíquica irá se “nucleando” em um complexo, se “fechando” para as
experiências com a realidade.
O fundamental da "abertura" do pensamento é dar chances à "ELABORAÇÃO SIMBÓLICA", seja no
discurso ou em atividades culturais e artísticas, que auxilia na evacuação dos efeitos perturbadores
que podem vir de identificações projetivas inconscientes impostas por outros e que precisam ser
contidas e abrir espaço a novas concepções da realidade que tragam prazer criativo ao ego. nesse
sentido,
as gêneses psíquicas são elaborações psíquicas desejadas que refletem as escolhas
introjetivas do sujeito, à medida que este se sente livre para seguir as articulações
inconscientes de seu idioma pessoal e são parte do erótico da forma. A criança que
liga um trauma psíquico a um conjunto de ideias almeja minimizar o contato com o
mundo externo e anular o efeito ideativo, afetivo e interpessoal dos complexos
psíquicos traumáticos. A criança que nutre sua própria genera, busca experiências
novas que a levarão para contatos renovadores com seus estados ideativos e afetivos,
frequentemente dentro de um ambiente interpessoal enriquecedor (p. 51-2).

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As genera, então, nos colocam diante de momentos inspiradores de realização do self. Momentos que
derivam daquele instinto de elaboração do self que é a "pulsão de destino" (destiny drive). Movidos
pela pulsão de destino “energizamos” nosso idioma pessoal e nossa visão de mundo através das
experiências na elaboração e utilização do objeto. A criança e , em especial, a primeira infância, seriam
uma forma de estado “germinal” (que inclui contribuições maternas e paternas inconscientes) que
levaria à elaboração sucessiva do self e do idioma pessoal. É em meio a este processo que vemos uma
habilidade “habilidade inconsciente" inata que nos permite esse moldar nossa realidade psíquica a
partir de nossas experiências vividas, selecionando objetos que permitirão a realização dos genera,
sucessivamente. Então, podemos imaginar que o IDIOMA PESSOAL é o modo particular que cada um
de nós possui de moldar os conteúdos da vida. Desse modo, a “personalidade” é uma estética
erotizada, uma inteligência da forma que deseja existir e que sugere princípios de criatividade que
levam ao cultivo da genera.
Um trauma, por ser um complexo angustiante, ao invés de facilitar “elaborações simbólicas” ou
engendrar perspectivas vitais mais fortes, acaba produzindo “repetições simbólicas”. Mas, não
sejamos ingênuos de acreditar que o trabalho de incubação da genera é fácil ou simples, mas de
grande luta pessoal já que mudanças no status quo implicam em turbulências emocionais. Romper
com a "repetição" é um árduo trabalho inconsciente sobre os assuntos traumáticos no sentido de se
rever a realidade, com novas formas de viver e pensar.
Mas, Bollas faz um parênteses para nos lembrar que, mesmo quando carregamos traumas
significativos, nosso self continua em desenvolvimento segundo "linhas muito particulares", onde se
pode ver que a conservação do trauma pode atuar no sentido de controlar futuros danos psíquicos e
proporcionando uma “desensibilização” do self para futuros acontecimentos tóxicos. O trauma, dessa
forma, em seus princípios, atuaria como aliado do princípio que é inerente ao instinto de morte e que
busca um estado onde o self esteja livre da excitação propiciada pelo objeto. É nesse sentido que o
desenvolvimento de um self com traumas é sempre muito particular, e como diria Fairbairn, na
tentativa de controle do efeito negativa dos maus cuidados parentais, introjetados como objetos
maus e negativos. Já o instinto de morte, em suas concepções mais clássicas (Freud e Klein) estaria
mais voltado para livrar o sujeito dos efeitos perturbadores e excitantes das suas urgências instintivas.
Ao contrário, a criança que internaliza “pais generativos”, ou seja, que contribuem para a evolução de
seu idioma pessoal, deseja desenvolver seus processos internos e, para isso, busca excitação e
novidade como meio de crescimento pessoal. E aí a genera vincula-se ao instinto de vida. Já a criança
que internaliza “pais intrusivos” quebra os elos de comunicação entre tais conteúdos e seus derivados
pré-conscientes, ou seja, como Bion nos diz, ela ataca a “função k” desvitalizando a dor e
transformando-a em -k e, em consequência, em um sentimento de vazio. A dor, deste modo, é
transferida para a falta total de existência (p. 54)
Bollas alerta que, evidentemente, trauma e genera são princípios muito amplos e que existem muitas
exceções à regra. Por exemplo, uma criança que teve pais intrusivos pode, em parte, ficar defensiva e,
em parte, preservar uma parte de si, de forma desafiadora, buscando suas elaborações de forma
específica. Por outro lado, uma criança com pais facilitadores pode, diante da chegada de um irmão,
criar uma prolongada situação de ódio inconsciente que converte parte do esforço facilitador dos pais
em fontes de trauma.

A genera como um trabalho de criação e desenvolvimento pelo inconsciente


Bollas também nos faz ver a genera do ponto de vista topográfico. Freud, com a teoria da repressão
nos mostra o caminho do conflito, com o indivíduo rejeitando emoções, ideias e experiências
indesejadas. Tais conteúdos, banidos, constituem um núcleo entrelaçado, desligado da consciência,

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porém dirigidos instintivamente com energia para buscar sua expressão e retorno à consciência, o que
só se dá por meio de algum deslocamento, substituição etc., libertando um pouco da energia
reprimida. Quando não há esta mínima possibilidade de expressão há um nucleamento mais forte e
organizado. Praticamente ninguém questiona a validade clínica desta teoria.
De forma razoavelmente semelhante, pela teoria da genera, vemos uma GRAVITAÇÃO PSÍQUICA
COLETORA (RECEPTIVA) que atrai para o inconsciente conjuntos de ideias. A questão é que, se na
teoria da repressão há o "banimento" do indesejado, imagina-se que outras ideias podem ser levadas
e atraídas para o inconsciente, daí a ideia de uma “teoria da recepção” onde, um inconsciente
receptivo que sugere um tipo de criatividade que engendra e, também, uma atuação como sócio de
um inconsciente reprimido, onde faz um tipo de trabalho que colabora com a ação paterna que pode
reforçar a representação e a dominação. Além de ideias reprimidas existiriam, então, ideias
“recebidas”, sendo estas livres das barreiras anticatexia pré-conscientes, ou seja, livres para o
desenvolvimento inconsciente sem o efeito intrusivo da consciência.
Com a “recepção” o ego entende que o trabalho realizado no inconsciente é necessário para
desenvolver uma parte da personalidade, elaborar fantasias, permitir a evolução de experiências
emocionais nascentes. Daí ideias, sentimentos e palavras são enviadas para o inconsciente para
estarem em um espaço mental para desenvolvimento que não é possível na consciência. Lá, ficam
também constelações, área mentais específicas de onde buscam, no mundo da experiência,
fenômenos relacionados a este trabalho interno. São os “núcleos da genera”.
A seguir, Bollas nos dirá que, de forma clínica, vemos que o trabalho da repressão é parte de uma
noção mais ampla de trauma porque tira do self parte de sua liberdade representacional sobre certos
conteúdos, vistos como perigosos. Daí o trabalho do analista, com tato e habilidade, de designar
afetos, palavras, lembranças etc., que servirão para libertar tais conteúdos de forma suportável. No
trabalho clínico com a atividade receptiva o analista perceberá que o paciente está retirando
conteúdos da narrativa e os afastando da consciência para um trabalho de evolução a partir do
inconsciente, mais calmo. São situações em que o analista pode abster-se de interferir para que o
trabalho do paciente se torne eficaz.
Isso é o que será melhor examinado a seguir.
Em seguida, Bollas nos falará do que chama de “Princípio da Genera”, que nos diz de uma forma de
trabalho interior que resulta num modo de ver o mundo, e a entender como o analista e o paciente
colaboram inconscientemente para construir estruturas psíquicas que mudam a visão do paciente
sobre si e seu mundo. Na análise destes fenômenos Bollas se utiliza de três modelos psicanalíticos da
mente distintos: Topográfico, Psicologia do Ego, Relações de Objeto.
Com isto, Bollas tenta nos apresentar o valor de uma teoria do trabalho psíquico que é distinto dos
modelos baseados exclusivamente na patologia.
Vamos à questão do trabalho realizado entre analista e paciente.

A questão do “Jogo Combinatório” de elementos entre analista e paciente


O suposto é que o trabalho do jogo inconsciente de ideias e palavras incuba uma organização interna
que decorre de tal esforço. Pode passar um longo tempo até que uma ideia precursora seja
reconhecida como fonte de uma descoberta interessante que altera o modo de estar. Há, portanto,
um trabalho lúdico intenso e inconsciente em núcleos psíquicos – estruturas geradoras, até que algo
surja. Normalmente, então, as genera são produzidas após um período lúdico e, uma vez
estabelecidas, transformam a perspectiva do sujeito sobre a vida, geram novos questionamentos e
novos trabalhos e contribuem para a formação de novas generas (p. 57)

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Einstein, por exemplo, falava de um "jogo combinatório" que ocorria entre os elementos que
apareciam ante os "olhos da mente" e acreditava estar diante de uma "forma essencial do
pensamento produtivo" que ocorria antes de uma construção lógica. Não se tratava exclusivamente
de palavras e da linguagem escrita ou falada desempenhando algum papel no seu mecanismo de
pensamento, mas sim de sinais e imagens mais ou menos claros que se reproduziam e combinavam.
Era uma forma de nos falar desse processo "receptivo", que ocorre à medida que formamos as genera
e que resulta em uma nova perspectiva. É a mente ansiosa por “combinar” elementos e partes de um
mesmo objeto.
Os psicanalistas sabem muito bem do tempo e do trabalho que é necessário antes de uma descoberta
psíquica. Há sempre um enorme esforço que acompanha a descoberta (Henri Poincaré, matemático),
esforço durante o qual é necessário suportar a ignorância, o não conhecimento, o que faz da
“incerteza” um aspecto muito útil ao trabalho do processo receptivo. Dessa forma, há um processo
combinatório interior movido por uma forma embrionária de uma estrutura geradora que, mais tarde,
se manifesta, no caso da psicanálise, em uma forma de interpretação que pode levar a uma visão
psiquicamente seminal onde muitas ideias podem surgir como coerentes e possibilitar novas
perspectivas.
O que pode também acontecer, só que de forma contrária, é que analista e paciente acumulem
materiais de uma perspectiva que só se repete e, com isso, reproduzam estruturas psíquicas
traumáticas. E por algum tempo pode ter que ser assim o trabalho analítico. Outras vezes, o analista
precisará se manter, por certo tempo, confrontando o paciente, e isso também pode reproduzir
situações traumáticas para o paciente mas que, antes de se nuclearem serão alvo de resistência por
parte do paciente e terão oportunidade de ser analisadas. De qualquer forma, alguns analisandos são
muito traumatizados pela psicanálise por um longo tempo, um fato que precisa ser considerado e que
inevitavelmente nos convida continuamente a repensar a técnica (p. 59).
Então, as genera são sempre o resultado de um esforço conjunto de paciente e analista na reflexão
dos instintos da vida para a germinação de uma nova perspectiva, agora de valorização do viver. Para
isso, as generas criam e incubam estados de “tensão” interna a partir da receptividade inconsciente,
num trabalho de recolher experiências que animam a busca por novos modos de entender as coisas.
O trauma, ao contrário, buscará sempre a coleta de experiências perturbadoras, e não de experiências
que vão na direção de um novo modo de entender as coisas, e não simplesmente repeti-las. A obra de
arte seria um exemplo de como certos indivíduos lutam para obter certo controle sobre os efeitos do
trauma, alcançando alguma transformação em seu status psíquico a partir de seu esforço lúdico e
criativo sobre seu sofrimento psíquico e suas perspectivas traumáticas.
O fato é que, muitos passam a reunir as “qualidades negativas” dos objetos ao redor de suas áreas do
self traumatizadas, e outros muitos buscam reunir experiências “generativas”, as qualidades positivas
dos objetos. Assim, as relações de objeto de cada ação irão, em parte, refletir a natureza do trabalho
inconsciente que está sendo realizado (p. 60).
Outro aspecto trazido por Bollas é que a genera não tem um valor “moral” pois o que a diferencia do
trauma é a “liberdade” do indivíduo em recepcionar e organizar as informações de sua vida no
contexto de possíveis mudanças no significado de sua existência, num processo de descoberta
contínuo, ao contrário do trauma, onde a pessoa organiza o material de sua vida num modo
repetitivo, despojando o ego do jogo criativo sobre o conteúdo da existência. Afinal, um paciente
perseguidor de traumas irá inconscientemente sabotar o trabalho analítico ao buscar qualidades
negativas, seja por distorcer as observações do analista ao mudar comentários construtivos em outros
destrutivos, ou por desperdiçar alguns dos estados internos do analista p. 60)

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Um paciente com uma atmosfera emocional associada ao “fracasso”
Como exemplo dessa situação específica, Bollas cita um paciente que sofreu abusos infantis quando os
pais o envolveram prematuramente em sua vida sexual (revelando coisas para ele). Ele vivia
amedrontado com sua capacidade de destruir a paz mental de outras pessoas, sentindo-se rejeitado,
o que o deixava culpado e furioso, pensando que os outros se afastavam dele com mágoa ou horror.
Com o passar do tempo Bollas, examinando suas contratransferências, descobriu que ambos tinham
conhecidos em comum no mundo psicanalítico, e que ele sempre fazia comentários desagradáveis
sobre algumas destas pessoas o que afetava algumas de suas representações internas como analista,
ficando pensativo sobre o que era comentado. Será que ele fazia isso com sua esposa? Será que fazia
com outros? O fato é que, certo dia o paciente fez um comentário péssimo sobre uma peça de
psicanálise e que Bollas iria comentar para uma revista. O paciente disse que ficou imaginando o que
seu analista faria depois que a assistisse. Bollas sentiu-se irritado. Era uma ração contra a transferência
do paciente. Na mesma sessão, o paciente disse estar com medo de ter a sua análise cancelada e
Bollas, então, lhe disse que estava levando-o inconscientemente a ter uma representação danificada
da peça porque seu mundo interno estava prejudicado pela inveja e rivalidade. Foi aí que o paciente
melhor compreendeu sua inclinação para prejudicar os relacionamentos ao isolar determinadas
características da pessoa para sua gestalt4 traumática. No caso deste paciente havia uma atmosfera
emocional associada ao "fracasso" que lhe fundamentava o pensamento traumático e lhe fazia buscar
experiências danosas.
[ao contrário] O indivíduo que contribui para a genera, entretanto, parece ter uma
biblioteca psíquica diferente, produzida pela sensação mental derivada do esforço
criativo do pensamento. Tal objeto interno pode estar associado pela pessoa com a
busca pela sinceridade, ou pela verdade, ou pela beleza, e talvez seja
simultaneamente uma objetificação de uma disposição de ânimo e sua presença
interna. Na verdade uma pessoa que está ludicamente nos acontecimentos da vida
está constantemente contribuindo para o objeto interno criador (p. 61).
A seguir, Bollas nos traz algumas questões adicionais sobre o "sentir", a "poética", a "intuição" e a
relação da genera com o "trabalho do sonho". Vamos conversar um pouco sobre estes tópicos.

O "sentir" da genera e a analogia com o “trabalho do sonho”


O que é o "sentir" para Bollas?
Determinadas pessoas como cientistas e artistas nos mostram mais claramente esse esforço criativo
de pensamento, como que “vendo” no abstrato a solução do problema, antes que ela surja. Essa
“imagem” seria como um gráfico endopsíquico, um objeto interno, mas não uma representação. Um
objeto que permite a sensação de evolução constitutiva na mente, e que permite, também um senso
de self como uma divindade psíquica. É um espaço de criatividade. Já
uma pessoa que está concentrando os acontecimentos da vida ou alguns deles na
direção de um trauma, por outro lado, pode muito bem possuir um objeto interior que
seja a localização de tal trabalho, para o qual ela se volta para uma rede de traumas, e
a sensação psíquica envolvida seria perturbada, como se estivessem tocando um louco
tambor interno (p. 62).
E as vezes uma palavra pode servir como um sinal para acesso a este objeto interno; é como se um
poema pudesse deixar no leitor uma só palavra, completamente nova, mas ao mesmo tempo que

4
Com a Gestalt a percepção do todo não é unicamente compreensível a partir das suas partes. Não! A
percepção do todo se dá a partir de sua configuração, de sua totalidade, que surge como uma realidade em si,
não redutível à soma das suas partes.

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serve como um princípio ativo na consciência daí por diante e que altera algo na visão sobre a
realidade. nesses momentos estamos diante de um “objeto evocativo” que coloca em marcha a
genera. Um aspecto citado por Bollas que que, neste momento, não avança. Trata-se de algo
“inspirador” e introjetado como uma estrutura psíquica, mas que não é resultado, necessariamente,
do “trabalho interno”. Como exemplo, ele nos diz que muito da educação formal é composto de tais
ocasiões “evocativas”, que funcionam como “epifanias introjetivas” e muitas podem até mesmo ser a
manifestação de um trabalho inconsciente que as precedeu. Mas, voltemos à questão da genera.
Bollas nos diz que a construção de uma genera é análoga ao “trabalho do sonho” tal como Freud nos
falou. Ou seja, um trabalho inconsciente e receptivo que condensa muitos fenômenos, como que
numa “enxurrada de palavras”, para uma estrutura psíquica que se revela e se dissemina. Nesse
sentido, é muito menos um esforço de representação pelo pensamento e mais um “ato de inteligência
operacional” pois, assim como no sonho, não se pensa, calcula ou julga, apenas se dá às coisas uma
nova forma.
Estamos diante de uma linguagem que, sendo do inconsciente, portanto, não segue o modelo do
discurso articulado. É o ápice do discurso desmembrado e não articulado, que, pela condensação,
transforma palavras em coisas; coisas de partes separadas, uma coisa interior, que é o movimento
incipiente do “desejo”. O movimento sem pensamento da condensação seria o desejo. Assim também
acontece com o processo receptivo, com estes trabalhos interiores, pré-articulados, embora de muita
relevância; imperiosos, embora silenciosos; até o dia quando subitamente o pensamento fica inspirado
para novas visões (p. 64).
A genera é uma “força criativa” emanada de nossa ontologia. Uma virtude que frutifica e irradia. Uma
parte geradora do self. Assim, se a teoria da repressão envolve um conceito de expressão ultimado,
nas ideias do retorno do reprimido e em sublimação, o inconsciente recebido descobre expressão
através do desenvolvimento de estruturas psíquicas que chegam à consciência num turbilhão de
energia disseminadora. O ego não está trabalhando para disfarçar a genera; está usando
deslocamento, substituição e simbolização como parte da jouissance5 da representação (p. 64).
De alguma forma, a imagem concentra a vida no interior do self; ela mostra a fecundidade psíquica do
self, um ponto de referência interno que aguarda nascer, crescer e articular-se. São as “marcas do
tempo” de Wordsworth, os “signos” de Einstein, as “tênues nuvens” de Spender. Um trabalho que se
processa num nível inconsciente profundo.
Henry Moore falava que o trabalho do escultor era o de tomar a forma como está em sua cabeça,
imaginá-la em suas mãos, visualiza-la mentalmente, sentir o seu volume. Embora pareça algo
concreto, Moore nos fala da “representação” da forma da escultura, ou seja, um modo de coletar num
espaço psíquico a forma nascente de um objeto real, ou seja, um processo que começa com uma
forma dinâmica interna. Claro que, na maioria das vezes, essa representação não é tão clara como
Moore parece sugerir e cada pessoa escolhe a metonímia6, que significa o lugar da genera, mesmo
que ainda não seja o processo em si.
Com a genera, estamos falando, então, de um lugar, em nós, profundo, dinâmico e criativo. Um lugar
que é o ponto de partida de muitas de nossas descobertas e obras. Inevitável, assim, que Bollas
busque referências na "poética" para falar dessa estrutura psíquica.

5
Prazer.
6
"Metonímia" é uma figura de linguagem que consiste na substituição de uma palavra ou expressão por outra,
com base em uma relação de associação. Um exemplo comum de metonímia é quando usamos o nome de
lugar para se referir aos seus habitantes, como dizer "a França venceu a partida", em vez de dizer "os franceses
venceram a partida". É uma forma de expressão que enriquece a comunicação ao oferecer diferentes
perspectivas e associações entre as palavras.

Henrique Silva – Seminários Christopher Bollas (“Gênese Psíquica”) – jul 2023 / analise.henrique@gmail.com
A poética própria da estrutura psíquica
Bollas começa nos lembrando do filósofo e poeta francês Paul Valéry e sua fala sobre essa nossa
estrutura interna germinativa. Valery dizia que o “caos” seria um distúrbio na condição de fertilidade
da mente, mas que seria o sentido interior deste momento germinativo, que pode muito bem
corresponder à situação analíticas da associação livre. Há aí uma "desordem" a partir da qual
almejamos construir uma estrutura, algo que é nosso, mas ainda também não é, pois aguarda por sua
construção, revelação e expressão.
O que estamos fazendo nestes momentos é tatear em meio aos grãos de experiências (imagem, som,
sentimento, movimento), como se estivéssemos revolvendo a genera e descobrindo lentamente o que
é promissor para uma conceituação. Muitos compositores, por exemplo, repetem exaustivamente um
compasso para, quem sabe, ter uma ideia e um caminho novos.
Ou seja, estamos em plena ELABORAÇÃO GERMINATIVA, um processo que não cessa ao longo da vida.
Então, as genera estão "lá", como visões de Proteu, servindo a utilizações diversas. Proteu, lembrado
por Bollas, era uma divindade mitológica marinha, que atraia pelo seu dom da profecia. Porém, ele
não gostava de contar sobre os acontecimentos futuros, sempre fugindo dos homens, transformando-
se. E, assim como ele podia mudar de forma, suas visões também podiam se alterar, se adaptar, serem
ambígua, o que exigia flexibilidade para serem entendidas. As visões, portanto, teriam uma natureza
mutável, sendo difíceis de capturar ou interpretar de forma fixa e definitiva.
Isso para nos mostrar que as ideias germinativas só se fazem sentir NO PROCESSO DE ARTICULAÇÃO e
não no planejamento ou na antecipação, ou seja, enquanto está sendo feito, em meio à mobilidade do
pensamento. O resultado vai surgindo sem ser forçado ou solicitado, como se, por vezes, o objeto a
ser criado fosse o próprio criador, pois é algo que estava lá, internamente, sem que soubéssemos, e
que salta como num piscar de olhos. Como as visões de Proteu, as genera estão lá, como visões
metamórficas, permanecendo na mente para serem sempre utilizadas de formas distintas.
Picasso dizia que a pintura não é planejada, mas segue a mobilidade do pensamento, como que
surgindo sem ser forçada ou solicitada, como “viesse a mim”. Bollas também nos lembra que
Fernando Pessoa, por exemplo, chegava a declarar que sentia-se desencantado com a ideia de um self
único, pois sentia-se "múltiplo". Sentia-se como numa sala com inumeráveis espelhos com seus falsos
e distorcidos reflexos, com cada um trazendo um pouco de verdade, em partes fragmentadas,
trazendo a sensação de viver existências alheias, estranhas, incompletas, como se a alma
compartilhasse com todos os humanos, não de forma completa, como uma soma de eus que
formassem um “Eu”.
Talvez essa multiplicidade de que nos fala Pessoa seja o conjunto das "criaturas independentes" da
genera, inconscientes, que vivem em nós, como parte de nós, mas que soam estranhas. São como que
os "obscuros embriões do pensamento", do escritor T. S. Eliot, para os quais ainda se tinha que
encontrar uma palavra. As genera são como que o “real não criado”, de René Char, pois ela não se
encontra no mundo externo, embora se possa dizer que, muitos objetos externos, como na arte,
expressam muito desses processos internos. É uma realidade não material, mas profundamente real
para nós.
A seguir, Bollas, tenta sintetizar o que identifica como sendo os "passos" na formação da genera.

Passos na formação da genera


• A concepção de um espaço interno dedicado à formação de uma estrutura psíquica generativa
é provavelmente o surgimento de um momento inconsciente tipo Proteu, quando as

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experiências vividas evocam intenso interesse psíquico e se agrupam, inicialmente, em torno
das ideias, sentimentos e estados de self evocados e formam um "gel" sob a forma de desejos
inconscientes para a "sua" evolução.
• As nascentes ideias, sentimentos ou estados de self inconscientes que assim se gestam
constituem uma gravitação psíquica que atrai para si dados relevantes.
• O conjunto inconsciente de centenas de ligações com o complexo psíquico fazem surgir
sensações interiores de caos generativo.
• O caos é tolerado, mesmo facilitado, à medida que o sujeito sabe que é essencial para o
processo de descoberta de novos conceitos sobre o viver.
• Gradualmente, o caos se rende a uma sensação pré-formada de nucleamento emergente. É
importante acentuar que é somente uma sensação, mas realmente reflete um processo de
coesão estrutural.
• Subitamente a pessoa descobre uma nova perspectiva fundamental que gera muitas deduções
ou derivações. Esta nova visão não é a genera, mas é a primeira manifestação de sua presença
na consciência e irá proporcionar muitos novos modos de se ver a si mesmo, aos outros e seu
próprio trabalho.
• Este momento irá muitas vezes sentir-se revelador e, embora seja uma experiência pessoal,
não é uma ocasião para uma nova teoria do sagrado, mas descreve aquelas visões
germinativas ou seminais criadas pelos processos inconscientes, movidos pelos instintos vitais
e são uma erótica da forma. (p. 68).
Bem, a seguir, Bollas nos faz pensar na questão da "intuição" e meio a este processo.

Intuição
Bollas já nos disse que nossos processos criativos se iniciam com ideias desarticuladas e não
desenvolvidas, e que vão surgindo inúmeras tentativas de conexão. Só com o tempo, algumas ideias
vão se mostrar mais corretas e vão se sedimentar em nossa mente. É em meio a todo este processo
que nos utilizamos da intuição, como uma capacidade de ver ou contemplar um fenômeno de forma
direta sem o uso consciente da razão, numa espécie de "apreensão imediata".
Seria uma habilidade inconsciente derivada, ao menos em parte, da genera?
O fato é que daí podemos "sentir" a solução de certos problemas. Uma sensibilidade que não é mística
mas sim fruto de um desejo que vem de um trabalho pré-consciente, anterior ao trabalho do ego.
Não são processos místicos, mas tais processos intuitivos devem permanecer fora da consciência,
mesmo que sob o manto da mistificação, pois só assim funcionarão. Como nos diz Bollas:
Nossa associação de intuição com a não intencionalidade e o irracional é prova da
necessidade de um esforço moderado, não atento, de integração no sujeito. A
intuição funciona de maneira bem sucedida precisamente porque o sujeito, pensando
desta maneira, não vê o que ele está trabalhando e com o que está trabalhando.
Nesse aspecto sua força reside em estar oculta, escondida. Pode ser tão bem sucedida
assim, porque a pessoa que está intuindo está inconscientemente apta para explorar
linhas de investigação que iria encontrar com uma desaprovação incrédula, se
estivesse plenamente consciente do que estava sendo apreciado (p. 71).
Não à toa, destaco aqui, a surpresa, muitas vezes desagradável, que um paciente pode experimentar
se o analista antecipa-se trazendo-lhe uma "solução" que deveria ser construída e descoberta por ele.
Estamos diante, portanto, como nos diz Bollas, de uma parte muito importante da experiência
psicanalítica, pois muito do rendimento interno de uma psicanálise dependerá da capacidade intuitiva
do analista e do paciente. Essa capacidade de seguir "sensações internas", tanto de si mesmo (analista

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ou paciente) quando do outro (analista ou paciente). Ou seja, ambos vão desenvolver objetos internos
a partir do mútuo relacionamento. Assim,
Enquanto o paciente transmite ao analista a natureza do seu self (e objetos), ele usa
diversas formas de experiência e maneiras de expressão para representar o seu ser. Se
ele utiliza as categorias verbais e de ícones em vez das gestuais, afetivas e sonoras, ele
envia uma estrutura perceptiva com uma característica especial que irá normalmente
evocar experiências pessoais estruturalmente específicas no analista. Neste caso, as
habilidades visuais e verbais do analista serão usadas e suas capacidades gestuais,
afetivas e sonoras não serão diretamente burladas pelo paciente, embora,
naturalmente, tais categorias tenham sua própria existência independente. Em outras
palavras, o analista sentiria seus afetos, faria movimentos gestualmente, talvez
transmitisse elementos de si mesmo nas suas cadências sonoras, embora não no
diálogo com o paciente (p. 71-2)
Em suma, os conteúdos idiomáticos do paciente são comunicados ao analista que constrói figuras,
palavras, sentimentos e respostas somáticas ao paciente.
A análise é um processo criativo envolvendo duas subjetividades elaborando tarefas
superpostas, e as genera analíticas são formadas como estruturas internas
compartilhadas. A significância respectiva de tais complexidades para as duas pessoas
irá diferir naturalmente; para o analista tal dedicação é a busca inconsciente como
parte de seu trabalho criativo com um paciente em particular, enquanto tais objetos
transformam-se numa parte da estrutura mental do analisando. Mas a estrutura
psíquica que resultará da psicanálise é o resultado de um grande esforço colaborativo
e seus desejos. (p. 72)
O passo a seguir é Bollas nos apresentar de forma mais profunda seus argumentos em ver a estrutura
de trabalho da genera como algo semelhante à estrutura de trabalho do sonho.

O trabalho da genera como análogo ao do sonho


Mas, como Bollas desenvolve o argumento de que o trabalho da genera é semelhante ao do sonho?
Segundo ele, analista e o paciente constroem uma rede complexa de pensamentos derivados de
experiências do self e do trabalho lúdico e condensam tais pensamentos numa estrutura que vai
requerer mais dados e que serve a ambos como um “objeto interno compartilhado”. Tal estrutura em
análise é homóloga à criação do conteúdo do sonho, por sua vez, resultado de um trabalho lúdico
diurno, quando se transformam fatos não elaborados em material psíquico, numa espécie de
“escanear” inconsciente antes do adormecer e que reflete essa dialética entre a busca por
compreender/interpretar e a evocação que é aleatória. A noite, então, a pessoa que sonha elabora um
núcleo de concepções oníricas (sentimentos, lembranças, observações diurnas, teorias, necessidades
somáticas) em imagens condensadas que forma um complexo de ideias que trabalham para ligar e
gerar novos significados.
Isso mostra que a “elaboração” de um sonho é tão significante quanto o "significado" que ele produz
ou a "experiência" que ele proporciona. Ou seja,
O conteúdo do sonho expressa um processo iniciado muito antes de acontecer o
sonho – na verdade muito antes do adormecer. Durante o dia as experiências de uma
pessoa são inconscientemente reunidas em áreas diferentes de armazenamento,
incubando núcleos associativos que evocam lembranças, servem para liberar forças
instintivas e satisfazer a necessidade da pessoa de ter o "sentido" de self. Todos estes
fatores são nada mais do que sobredeterminantes convergindo para tais aglomerados

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de experiências reunidas para formar estados internos cada vez mais condensados
(fisicamente "pesados") (p. 73).
E, à medida que o dia passa, novos episódios vão se juntando à esta estrutura e os núcleos
condensados de experiências vão proporcionando um "potencial" para o sonho. Material psíquico vai
sendo reunido para a experiência do sonho.
Se especularmos um pouco poderíamos dizer que a obra criativa e artística seria, então, um modo
alternativo de liberar estes núcleos através de representações? Ou que as alucinações psicóticas
seriam como que meios violentos e radicais de liberação de tais objetos internos, dada a dificuldade
do psicótico com o sonhar, com o trabalho criativo e com as relações humanas?

Mas, e como tudo acontece no consultório?


Ora, é através do senso intuitivo que captamos, elaboramos e trabalhamos as ações de transferência
do paciente, seus conteúdos narrativos e livres associações, numa comunicação inconsciente. A ideia
de Freud, de um transmissor e um receptor envolvidos em mútuas ondas inconscientes, foi sempre
muito sugestiva para que os futuros estudiosos adentrassem mais profundamente nas implicações dos
processos transferenciais, como através dos conceitos de "identificação projetiva"7 e
"contratransferência". Ou seja, o que vemos, então, é que o paciente atua inconscientemente sobre o
analista, seja tomando-o como como um objeto interno direto ou disfarçado, ou sobre o seu mundo
interno real. Isso permite ao analista uma continuada auto-análise, elaborando seus estados anímicos
para ver qual tipo de mundo objetal o paciente está solicitando.
O que vemos, então, é um imaginativo JOGO INTERIOR onde suas associações elaboram a narrativa do
paciente repleta de metáforas potenciais. Por exemplo “não suporto a chuva hoje” pode se
transformar em “não suporto você me dominando”. Trata-se de um processo cuja continuidade vai
permitindo ao analista construir, com sua “capacidade de sentir”, uma arquitetura sobre as emoções,
objetos internos, defesas, ideias inconscientes do paciente, além da busca de compreensão. Bollas nos
diz o quanto
é difícil descrever como eu presto atenção ao analisando numa sessão. A lista sem fim
de palavras, significantes que evocam associações infindas enquanto sugerem vínculos
específicos que exigem sentido preciso, as imagens me conduzem para um mundo
formado na estranha intimidade da co-imaginação (p. 74-5)
Tudo isto porque é comum que os pacientes indiquem, seja pela trama do discurso, seja na hesitação,
seja ainda na postura corporal ou nas suas expectativas, aqueles momentos que são significativos em
uma sessão. Mas, é comum também que leve algum tempo para "instalar-se" na sessão, e aí adota
atitudes socialmente adaptáveis ou o silêncio. Então, algo acontece e o paciente "entra" na análise,
esse lugar onde pode escutar a si mesmo. É o momento que o analista tem a chance de uma relação
mais profunda e o estado de espírito de ambos abandona as posturas defensivas e racionalizantes.
Este seria o "sentir" da sessão, e alguma coisa sobre isto pode-se aprender no treinamento analítico,
especialmente quando calar e escutar, mas é certo que seguir os estados de espírito do analisando na
sessão – as disposições de ânimo que pontuam a hora com significância – é uma das habilidades
clínicas mais importantes que o analista deve possuir (p. 75). Bollas prossegue e diz:
Acredito que a capacidade para ingressar no estado meditativo de espera para
receber e articular identificações projetivas, para elaborar os conteúdos da narrativa

7
Embora baseado no conceito de Freud de "Projeção", a "Identificação Projetiva" representa um passo além.
Como se a pessoa não usasse o outro apenas para pendurar suas projeções, como diz Ronald Laing. O sujeito se
esforça para encontrar no outro, ou induzir o outro a se tornar a própria personificação da projeção. Dessa
forma, sentimentos que não podem ser acessados conscientemente são projetados em outra pessoa para
evocar os pensamentos ou sentimentos projetados.

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através de associações livres internas, e para acompanhar o humor do paciente na
sessão, contribui para o alcance intuitivo do psicanalista para o analisando.
Realmente, isto é o que Bion entende por reverie8 do analista, quando ele toma,
recebe, admite, apreende as comunicações do paciente, as detém, as encerra dentro
de si, compreende, trabalha inconscientemente para transformá-las com sentido e
gradualmente as retorna ao paciente para mais considerações.

Ao conter, processar, e elaborar o analisando através dos procedimentos descritos


acima, ocasionalmente o clínico está ciente de trabalhar com algo sem saber o que
aquele algo é ou o que pode eventualmente significar. O trabalho analítico naquele
ponto é, em alguns aspectos, como o trabalho (ou elaboração) do sonho antes da
cena do sonho. Mas, a área desconhecida do trabalho, produz uma sensação de sua
presença e certos pensamentos, sentimentos, representações de objetos, lembranças
e estados somáticos de algum modo parecem ter ligação com a tarefa do momento.
(p. 75).
Assim, vemos que o analista está envolvido na construção de um sonho não sonhado antes, mas que
está baseado nas prévias experiências pessoais do paciente e nas contribuições do próprio analista.
Durante semanas e meses eu trabalho com um paciente, escutando sonhos e
associações, dispersados pelos polissêmicos tumulto da linguagem, reunidos pelo
aglutinante do imaginário, fazendo pontuações sonoras e sugestões gestuais, aquela
densa armadura ambulante de comunicações proferidas pelo analisando e, em
contrapartida, associo, sou movido para discretas posições afetivas, reconstituo o
analisando e seus objetos no meu mundo interior feito desses objetos, e ainda de
minha própria criação proponho interpretações, levanto dúvidas, e abandono muitas,
muitas ideias e perspectivas durante o percurso. Ainda no meio de tudo isto,
geralmente sinto que este paciente e eu estamos elaborando alguma coisa. Algo além
da nossa consciência ainda compelida inconscientemente. Algo que nos parece dirigir
para isto, de tal modo que ideias, interpretações e associações que se descentram
deste impulso interior são descartadas. Algo que conhecemos mas ainda não
podemos pensar. Algumas interpretações, perspectivas, questões, são sentidas mais
próximas desta área conhecida e imprevista, sendo trabalhadas, mesmo embora
pareçam mais plausíveis do que as ideias descartadas. Mas os processos de
objetificação disponíveis para o analista e as correções do paciente, bem como o
direcionamento associativo ajudam o analista a seguir atalhos invisíveis, sentindo o
caminho à medida que prossegue (p. 76).
Após um tempo em análise, é natural que um paciente alcance certa paz de espírito em relação a seus
pais, olhando-os sob uma luz diferente, desenvolvendo novos conceitos; é natural que se torne mais
criativo, ou seja, que uma nova estrutura psíquica seja assegurada e sua vida seja modificada; é
natural que tenha novos insights e expresse novas sensações de si mesmo. Mas, antes que se depare
com suas "descobertas", está elaborando importantes tarefas internas, especialmente envolvendo
seus pais através do uso transferencial do analista. É um processo de elaboração de seus estados
perturbados sutil e inconsciente. Momentos em que resistências, falsos movimentos do self,
intelectualizações, defesas hipomaníacas, identificações projetivas são analisadas, tudo contribuindo
para o desenvolvimento de uma nova estrutura psíquica.
É um processo de elaboração de seus estados perturbados sutil e inconsciente. E, nesse processo, o
analista tem sua sagacidade envolvida num processo que tem uma lógica interna própria que eu
sentia, mas entendia somente em parte (p. 76-7). Trata-se de um processo profundamente dialético
entre as transferências, narrativas, especificações linguísticas e declarações do analisando e a
contratransferência, associações, leituras e questionamentos do analista. É esta dialética, que se

8
Um estado muito particular de consciência receptiva.

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traduz, na elaboração de duas subjetividades separadas e profundamente envolvidas, que faz com
que muito do trabalho da psicanálise seja uma espécie de elaboração onírica.
As interpretações nucleares são, então, os sonhos da psicanálise, construídos mais
através da lógica interligada de uma dialética inconsciente do que da liberação de um
processo secundário pela ação de uma intervenção cirúrgica.

Sugere, além disso, que o jogo de duas subjetividades em elaboração na formação da


genera psicanalítica é mais frequentemente um ato de engano e disfarce do que um
esforço de compreensão. Não estamos nos referindo ao engano consciente mas à
evasão de consciência organizada que de algum modo priva o trabalho de sua
integridade. Paciente e analista, através da necessária destruição das associações
livres, fecham-se, fundem-se, e condensam as comunicações mútuas. A consciência é
uma vítima do discurso inconsciente que, a meu ver, opera através das leis de
distorção inconsciente, não escapando tanto da censura como fugindo da consciência
prematura. Como discutirei posteriormente, a ironia é que os mal-entendidos do
analista sobre seu paciente, bem como as distorções do analisando sobre os
significativos do clínico, são tão essenciais para a elaboração do sonho da psicanálise
como a compreensão, bem informada (p. 77).
Em resumo:
"Genera" foi a palavra que Bollas encontrou para se referir a uma "estrutura dinâmica e mutável que
gera, engendra", um tipo particular de organização psíquica da experiência vivida e que resulta em
novas e criativas concepções de vida. São como que "matrizes" ou "nódulos" criados quando ideias,
imagens e sentimentos relacionados são atraídos por uma "gravidade psíquica coletora". Tais "genera
psíquicos" se comunicam com o inconsciente e lá se organizam gerando o desejo de novas
experiências prazerosas e a consequente busca de objetos externos.
Dessa forma, ao experienciarmos os eventos da vida desenvolvemos tais matrizes num processo
contínuo e novas percepções se ligam aos nódulos já existentes formando uma rede inconsciente cada
vez mais complexa e progressiva.
Vejamos um exemplo: Um bebê está deitado em seu berço, sozinho e calmo em seus devaneios. A
mãe aparece, sorri, diz olá e deixa ali próximo a ele um brinquedo que se move num padrão aleatório.
A atenção do bebê é atraída e vários elementos se juntam: a chegada reconfortante da mãe; um novo
objeto em seu campo de visão; uma cor vermelha estimulante; um movimento imprevisível; a
experiência prazerosa de sua resposta física, com o corpo expressando surpresa e excitação. Nesse
processo vários aspectos se inscrevem no inconsciente não porque são recalcados, mas porque são
RECEBIDOS CRIATIVAMENTE. Lá, no inconsciente, cada elemento irá se vincular a conjuntos formados
por experiências anteriores expandindo tais conjuntos e incrementando o desejo de novas excitações
prazerosas, com o bebê procurando mais do mesmo em seu ambiente. Ou seja, um breve episódio
adiciona complexidade ao inconsciente do bebê, criando elos associativos.
Para Bollas, então, o recebido é constituído a partir de impressões de coisas que se congregam no
inconsciente formando núcleos cada vez mais complexos que condensam experiências e expandem
nossa mente. Este é o "inconsciente receptivo", que arquiva percepções inconscientes e as organiza. É
a matriz da criatividade.
É assim que nós pensamos, segundo Bollas!
Nesse contexto, distinto do inconsciente recalcado, o inconsciente receptivo vive um movimento
fluido, de vaivém entre os mundos interno e externo.
Isto não exclui o recalcado, com suas matrizes que se constituem via trauma. Desse modo, trauma e
genera são as disposições fundamentais do ego na sua relação com a realidade, equilibrando-se e

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combinando-se entre si. São dois tipos de constelação atuando a partir do inconsciente, como vemos
a seguir.
As experiências traumáticas, então, formam suas matrizes para a proteção do self de incidências
posteriores no contato com o mundo objetal, podendo bloquear o contato, romper o vínculo, criar
sensações de vazio, como saídas alternativas à dor. Produzem isolamento, por exemplo, porque a
confiança no ambiente foi perdida. São formas de funcionamento patológico. Nestes casos
patológicos, a pessoa gravita em torno do negativo, ou seja, somente as experiências ruins contam; se
apegam a mágoas; transformam uma experiência potencialmente generativa em algo destrutivo, ou
seja, inconscientemente sabotam relacionamentos e atacam a criatividade mental, reforçando a
imagem do mundo como um lugar hostil.
Ao contrário, os genera psíquicos promovem receptividades e conexões, já que estão incubados por
catexias libidinais do mundo objetal. A percepção recebida não fica em estado estático. Ela se associa
a outras experiências, muda, se desenvolve. Dos genera, portanto, reforça-se uma visão criativa da
realidade, com desejo de exploração, fazendo o self buscar o crescimento através de mais
engajamentos com os objetos externos.
Ou seja, se o recalque significa o banimento do indesejado, outros tipos de ideias são convidadas ao
inconsciente. Então, uma teoria da recepção complementa a teoria do recalque. O inconsciente,
portanto, é formado por ideias recalcadas e ideias recebidas.
Bollas, especialmente, quando olhou para artistas e cientistas, notou que havia uma etapa preliminar
no processo criativo onde experimentam uma abstração do problema, um momento em que aspectos
díspares convergem como numa imagem mental que, em seguida, se converte num conceito
consciente. Tudo isto requer RECEPTIVIDADE, um estado de fluidez criativa.
Nesse processo não se pode deixar de falar na "intuição", que pode nos surgir como o resultado de
concentrações de pensamentos generativos inconscientes, protegidos da consciência.
É assim que o inconsciente receptivo seria um novo modelo metapsicológico, já que nos ajuda a
pensar sobre o desenvolvimento da mente e do self e, consequentemente, sobre a compreensão da
psicopatologia e da saúde.
Temos então que, a metapsicologia bollasiana nos traz, em essência, a teoria do inconsciente
receptivo, como um complemento à teoria do inconsciente recalcado, onde nos mostra o crescimento
da mente como um processo de receptividade associativa que leva ao surgimento de novos conceitos
e busca por novas experiências no mundo objetal.

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