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Artes Visuais
Ao longo desta obra, são destacadas a prática imprescindível da leitura de
imagens e alfabetização visual, assim como a importância do desenho durante o
desenvolvimento da criança. Cada um dos capítulos conta ainda com a seção Na aula
de Arte, destinada ao professor e à prática escolar, com propostas de trabalho sobre
os conteúdos apresentados.
e n h o
Desenhar não é apenas traçar linhas no papel, mas comunicar-se, observar,
De s
movimentar-se e expressar-se. Você está convidado(a) a explorar as possibilidades
que o desenho tem a oferecer como forma de expressão e autoconhecimento,
diversão e comunicação.
Apresentação 7
3.1 Ritmo 43
3.2 Equilíbrio 44
Gabarito 141
Apresentação
Desenhos são para a gente folhear, são para serem lidos que nem poesias,
são haicais, são rubaes, são quadrinhas e sonetos.
(Mário de Andrade)
O ato de desenhar vai muito além de traçar linhas no papel. Desenhar é comunicar-se, é
observar, é movimentar-se, e é expressar-se, trazendo para fora o que temos de bagagem. Por isso,
o professor de Arte deve estar atento ao desenvolvimento da prática do desenho desde a primeira
infância, ponto por ponto, linha por linha. Para colaborar nessa relação de aprendizagem, trazemos
neste livro algumas abordagens principais sobre essa técnica artística.
Abordando desde as paredes das cavernas até o papel produzido industrialmente, passando
pela argila, cera e papiro, o Capítulo 4 apresenta algumas das inúmeras possibilidades de suportes
que já foram utilizadas para produzir um desenho, principalmente o papel.
Convidamos profissionais e alunos a explorarem tudo o que o desenho tem para oferecer
como forma de expressão e autoconhecimento, diversão e comunicação. Aproveitem, criem, e bons
desenhos!
Introdução
ao estudo do
desenho
Produzir marcas em uma superfície é um ato quase tão antigo quanto a humanidade.
Se essa é uma das definições de desenhar, o ser humano o faz desde os primórdios. Assim
como outras formas de expressão, essa técnica foi se desenvolvendo de diferentes maneiras
ao longo dos tempos (HUTTER, 2019).
O desenho se faz presente em diversas áreas do conhecimento, além da arte: na
botânica (Figura 1), na zoologia, na anatomia, na arquitetura, na indústria, na publicidade,
entre outras. Em qualquer desses campos e assuntos, o desenho pode servir como registro,
expressão e linguagem.
Figura 1 – Desenho de botânica
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anatômicos (que até hoje ilustram livros de Medicina) aos projetos de máquinas, passando
por desenhos arquitetônicos (como o da Figura 2) e de outras áreas, Da Vinci utilizou o
desenho como forma de expressão, como registro da sua maneira de pensar e para ilustrar
as suas descobertas.
Figura 2 – Desenho arquitetônico
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Fonte: DA VINCI, L. Estudo de uma igreja central. c. 1488. Giz e tinta sobre
papel: 24 x 19 cm. Biblioteca do Instituto de França, Paris.
A linguagem do desenho era muitas vezes utilizada por Da Vinci em lugar da escrita
ou da matemática, pois era considerada a melhor forma de expressar seus pensamentos
(CAPRA, 2008). Dessa forma, o artista se utilizou do desenho da mesma forma como
é proposto por Tiburi (2010, p. 14), que considera “o gesto de pensar como ato de criar
conceito por meio de traços”. Portanto, o ato de desenhar vai muito além de apenas produzir
marcas em uma superfície, trata-se de pensamento e expressão.
Para classificar algumas formas de pensar por meio do desenho, algumas modalidades
foram criadas, já que as técnicas de desenho se desenvolveram e muitas opções surgiram
para a realização dessas práticas. Abordaremos aqui as seguintes modalidades específicas
da área artística: desenho de observação, desenho de memória, modelo vivo, paisagem,
desenho figurativo e desenho abstrato.
Introdução ao estudo do desenho 13
De acordo com essa afirmação, o espectador utiliza o órgão da visão para observar
e realizar a leitura de imagens, considerando todo o seu conhecimento enquanto sujeito.
Portanto, tudo o que somos e pensamos exerce influência direta naquilo que observamos.
Ao falar de desenho de observação, devemos refletir sobre esse ato de observar e sobre
o desenho enquanto técnica. Para Tiburi e Chuí (2010, p. 19) “o desenho, ao contrário do que
pensam muitos, não é uma ação das mãos, é uma ação do olhar”. Com a educação do olhar,
desenvolve-se melhor a capacidade de representação por meio das técnicas de desenho.
A ação das mãos e do olhar precisa de muita prática para esse desenvolvimento. Todo
mundo pode aprender a desenhar. O caderno de esboços é o grande aliado da prática de
desenho, principalmente do desenho de observação. Podemos considerar como desenho
de observação tudo aquilo que é observado e registrado graficamente direto de um modelo,
que pode ser uma natureza morta, uma paisagem, entre outros. É importante ter sempre
à mão um caderno ou bloco para que se possa registrar a qualquer momento esse motivo
que chame a atenção. Pode ser um caderno de rascunhos, anotações e esboços.
Segundo Vasari (2011, p. 44), “é chamado esboço um primeiro desenho feito para
se encontrarem as melhores posições e a primeira composição da obra”. Observe a seguir,
na Figura 3, como o artista reproduziu em poucas linhas a paisagem com o castelo. Os
registros no caderno podem ser até mais simples, apenas traços gerais.
14 Artes Visuais: desenho
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O artista Paul Klee criou essa obra (Figura 4) motivado por um dos contos mais
famosos do poeta e escritor alemão E. T. A. Hoffmann. Diversos elementos do conto
fantasioso podem ser observados na obra, como a árvore, a garrafa e os relógios (THE
MET, 2019). Contos, canções e poemas são estímulos poderosos para a produção em
desenho de criação.
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Fonte: DA VINCI, L. Estudos anatômicos do ombro. Fonte: BUONARROTI, M. Estudo para Ignudo. c.1508. Giz
c.1510. Giz e tinta sobre papel: 28,9 x 19,9 cm. sobre papel: 27,9 x 21,4 cm. Teylers Museum, Haarlem,
Milão, Itália. Países Baixos.
1.4 Paisagem
O desenho de paisagem caracteriza-se por retratar cenas da natureza ou do ambiente
externo e adquire maior representatividade a partir do século XIX, com a popularidade
dos artistas que trabalham ao ar livre. Com as ideias impressionistas sobre a luz e a cor, o
trabalho ao ar livre tornou-se cada vez mais comum entre os artistas.
Vincent Van Gogh, muito conhecido por suas pinturas, produziu um número
notável de desenhos de paisagem. O artista valorizava muito a habilidade de desenhar,
considerando-a a raiz de tudo (IVES; STEIN, 2000). Ele desenhava quase por compulsão.
Suas cartas para o irmão Theo são, em grande parte, ilustradas pelos seus traços e desenhos,
com referências aos assuntos sobre os quais escrevia.
Figura 8 – Desenho de paisagem
Fonte: VAN GOGH, V. Rua em Saintes-Maries-de-la-Mer. 1988. Caneta, pena e tinta sobre giz em
papel: 24,3 x 31,7 cm. Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque, Estados Unidos.
No Brasil, alguns dos principais artistas com produções abstratas são: Hélio
Oiticica (1937-1980), Lygia Clark (1920-1988), Abraham Palatnik (1928-) e Luiz Sacilotto
(1924-2003).
Na aula de Arte
Considerações finais
Produzir um desenho implica saber observar, ler imagens ao redor e reproduzi-
las por meio de traços, seja seguindo modelos observados, seja combinando imagens do
repertório mental ou simplesmente criando formas expressivas. A capacidade de desenhar
está diretamente relacionada à prática. Por isso, quanto mais se desenha, melhor ficará o
produto final, em qualquer técnica que se escolha.
22 Artes Visuais: desenho
Atividades
1. A imagem a seguir pode ser classificada em qual modalidade de desenho? Quais são
as características dessa modalidade?
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Fonte: WRIGHT, J. Estudo do terreno perto do Vesúvio. 1774. Lápis sobre papel: 31,1 x 45 cm
Introdução ao estudo do desenho 23
2. Indique, entre as obras a seguir, qual pode ser classificada como figurativa e qual é
abstrata. Justifique sua resposta.
a)
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Fonte: MALEVICH, K. Oradores no Tribune. 1919. Tinta e aquarela sobre papel: 24,8 x 33,8 cm.
b)
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Fonte: VAN GOGH, V. Women Working in Wheat Field. 1890. Giz sobre papel.
Van Gogh Museum, Amsterdam, Holanda.
Referências
ABSTRACIONISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 2019. Verbete de Enciclopédia. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.
br/termo347/abstracionismo. Acesso em: 16 jun. 2019.
AUMONT, J. A imagem. 13. ed. São Paulo: Papirus, 2008.
CAPRA, F. A ciência de Leonardo da Vinci: um mergulho profundo na mente do grande artista. São
Paulo: Cultrix, 2008.
HUTTER, H. R. Drawing. Encyclopædia Britannica. 4 jun. 2019. Disponível em: https://www.
britannica.com/art/drawing-art. Acesso em: 16 jun. 2019.
IVES, C.; STEIN, S. A. Vincent van Gogh (1853–1890): The Drawings. In: HEILBRUNN Timeline
of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000. Disponível em: http://www.
metmuseum.org/toah/hd/gogh_d/hd_gogh_d.htm. Acesso em: 16 jun. 2019.
LÉPORI, L. R. Atlas da arte anatômica: um olhar de seis séculos. EC Europe, 2007.
SYMONDS, KM. Life Drawing: a short history. Centre for Science and Art (CSA). Disponível em:
http://www.stroudlifedrawing.com/history.html. Acesso em: 16 jun. 2019.
THE MET. Tale à la Hoffmann. Paul Klee. Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/
collection/search/483143. Acesso em: 16 jun 2019.
TIBURI, M.; CHUÍ, F. Diálogo / desenho. São Paulo: Senac, 2010.
UNA STORIA Lunga. Accademia delle Arti del Disegno. Disponível em: https://www.aadfi.it/
accademia/. Acesso em: 16 jun. 2019.
VASARI, G. Vida dos artistas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
Fundamentos
do desenho
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A linha tem tensão e direção. É a direção que faz com que possamos distinguir a
horizontal, a vertical e a diagonal (como na Figura 3, a seguir), que são os três principais tipos
de linhas retas. Os demais tipos de linhas são derivados dessas, como as linhas quebradas ou
angulares. Além disso, a menor distância entre dois pontos é sempre uma reta.
Fundamentos do desenho 29
Linhas a
s ngu
ha lar
s lin es
da
ção
Dire
vertical
quebrada
mista
horizontal ângulo obtuso
Já a linha curva surge quando a linha reta apresenta fortes pontos de tensão, obrigando-a
a formar um arco, como na Figura 4. Os pontos que iniciam e terminam a linha reta podem
se encontrar na formação de uma linha curva, transformando-se em um plano.
Figura 4 – Linha curva
As linhas formam os limites de um plano. De acordo com Wong (2001, p. 42), “um
plano tem comprimento e largura, mas não tem espessura. Tem posição e direção” das
retas que o compõe, mas não tem profundidade.
Figura 5 – Planos
Fonte: KANDINSKY, W. Pequeno sonho em vermelho. 1925. Óleo em papelão: 35,5 x 41,2 cm.
Kunstmuseum, Berna, Suíça.
Fundamentos do desenho 31
ru.co.la/ Shutterstock
vale a pena destacar uma forma qualquer e experimentar repetir, rotacionar, aumentar e
transformar essa forma, produzindo certa variedade de composições.
De acordo com Wong (2001), a forma bidimensional foi criada pelo ser humano para
suas representações em desenho, pintura e escrita. As representações bidimensionais têm
comprimento e largura, mas não profundidade. Para realizar um desenho tridimensional,
portanto, é preciso pensar de uma forma diferente da que exige o desenho bidimensional.
A representação tridimensional pressupõe imaginar o motivo, observando-o por
todos os lados, como se pudesse segurá-lo nas mãos. Devemos considerar as suas três
principais dimensões – comprimento, largura e profundidade –, ou seja, medi-lo nas
direções vertical (de cima para baixo), horizontal (esquerda para direita) e transversal
(frente para trás). Assim, teremos três planos representados (de cada dimensão): o vertical,
o horizontal e o transversal. Se duplicarmos esses planos, teremos os planos da frente e
de trás (vertical), os planos superior e inferior (horizontal) e os planos lateral esquerdo e
lateral direito (transversal). Com esses planos, formamos o cubo, como na Figura 11, que
mostra os planos duplicados (WONG, 2001).
Figura 11 – Figura tridimensional
Pseudonyma/Shutterstock
Linha do horizonte: “Às vezes chamada linha dos olhos, a linha do horizonte é
uma linha horizontal imaginária que divide a terra do céu. Ela fica exatamente
na altura dos olhos quando se olha para frente.” (COMBS; HODDINOT, 2016,
p. 206, grifo nosso)
Após determinar a linha do horizonte, deve ser definido o ponto de fuga, isto é,
o ponto situado na linha do horizonte para onde todas as retas convergem (observe na
Figura 14). Alguns desenhos têm mais de um ponto de fuga (como na Figura 15).
36 Artes Visuais: desenho
attaphong/Shutterstock
Esses conhecimentos facilitarão o raciocínio quando for necessário calcular
proporções entre os elementos de uma composição. Um bom exercício para isso é observar
as perspectivas trabalhadas em diferentes obras, como pinturas, fotografias e desenhos.
Oana_Unciuleanu/Shutterstock
Em seguida, devemos verificar como estão iluminados. Observe, na Figura 16, as
áreas com mais e com menos luz, além dos tons intermediários. Para perceber as áreas
mais claras e mais escuras, às vezes facilita fechar parcialmente os olhos, pois assim somos
mais capazes de nos desligarmos de detalhes de cor, por exemplo, para nos concentrarmos
apenas na luz.
Essas áreas mais claras e escuras podem
Figura 17 – Desenho com luz e sombra
ser marcadas no desenho com linhas, para,
posteriormente, ser aplicado o tom adequado.
O importante é definir qual área é a mais
escura e qual é a mais clara, preservando esta
última – de preferência, deixando-a apenas
com a cor do fundo (cor do papel), pois é mais
difícil clarear do que escurecer uma área, em
qualquer técnica de desenho.
Veja, na Figura 17, como Van Gogh
trabalhou com diferentes tons para mostrar
as áreas de luz e sombra. Observe a área mais
escura na frente do jarro. Observando também
as áreas mais claras (abaixo do bico e na asa),
você vai perceber que elas não apresentam
traços do grafite, só o fundo do papel.
Em seguida, pode-se definir os meios- Fonte: VAN GOGH, V. Jarro de leite. 1862. Lápis sobre papel.
Museu Kröller-Müller, Otterlo, Holanda.
-tons, isto é, as áreas de luz e de sombra
38 Artes Visuais: desenho
intermediárias. É interessante fazer uma escala dos tons que serão trabalhados em um
papel à parte, desenhando alguns quadrados e preenchendo-os com o tom mais forte, o
mais claro e os intermediários. Dessa forma, é possível definir quantos tons serão utilizados
no desenho e em que áreas serão aplicados.
hachuras: traços
paralelos ou
Hachuras, pontos ou linhas podem ser aplicados para cobrir as áreas de sombras.
cruzados usados Muitos artistas utilizam também o esfuminho para fazer as passagens de cor graduais.
para marcar
as sombras e
meias-tintas.
Na aula de Arte
Considerações finais
Os conhecimentos sobre como realizar uma representação gráfica bidimensional
ou tridimensional têm como finalidade facilitar o trabalho do indivíduo que deseja
se expressar e pensar por meio do desenho. Essa técnica artística é acessível a todos,
no sentido de que é por meio da prática que se aprende a desenhar, não importando
habilidades artísticas prévias. A arte de desenhar exige muito trabalho de quem se propõe
a realizá-la, pois é fazendo que se aprende.
• MUSEU Vivo: Edith Derdyk. SescTV. (23 min. 10 seg.). Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=SYP3gacfIM8. Acesso em: 16 jun. 2019.
O documentário Museu Vivo: Edith Derdyk apresenta a artista e sua produção,
relatando seu processo de trabalho com o desenho e a linha.
Atividades
1. Como explicar a diferença entre desenho bidimensional e desenho tridimensional?
Referências
COMBS, J.; HODDINOT, B. Desenho para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
KANDINSKY, W. Ponto, linha, plano. Lisboa: Edições 70, 1976.
TIBURI, M; CHUÍ, F. Diálogo / desenho. São Paulo: Senac, 2010.
WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Outros conceitos
sobre desenho
3.1 Ritmo
De acordo com Wong (1992), o ritmo de uma composição é formado pelo
movimento e pela velocidade originados da direção sugerida pelos elementos retratados.
Desenhos figurativos ou abstratos podem demonstrar um ritmo visual semelhante ao
ritmo musical, de acordo com a disposição dos elementos da representação.
Há diversas formas de trabalhar o ritmo em uma composição, e ele pode ser alterado
verificando o posicionamento dos elementos visuais básicos. Esses elementos podem, por
exemplo, estar paralelos, rotacionados (em torno de um centro) ou contrastados. Observe
o movimento sugerido pelas linhas paralelas em diferentes tamanhos, lado a lado, no
desenho de Theo van Doesburg (Figura 1).
Figura 1 – Ritmo por paralelismo
Observe, na Figura 2, como a artista Liubov Popova trabalhou o ritmo com algumas
linhas paralelas e o contraste de linhas curvas e retas em direções praticamente opostas.
Além delas, os espaços entre os elementos sugerem a velocidade do movimento.
3.2 Equilíbrio
Uma composição equilibrada provoca uma sensação agradável ao olhar. Quando
não há equilíbrio, o espectador sente desconforto, mesmo não sabendo a causa. Isso ocorre
porque alguns elementos da composição podem apresentar um peso maior do que outros.
Combs e Hoddinott (2016, p. 104) conceituam equilíbrio como “um arranjo estável
do peso visual dentro da composição”. Se sua intenção é contrabalançar os pontos de tensão
de uma composição, é necessário determinar, em primeiro lugar, quais são esses pontos de
tensão, para verificar se estão dispostos de forma que as forças estejam distribuídas.
Ao determinar todos os elementos que serão utilizados em uma composição, é preciso
verificar se os pesos visuais estão contrabalançados, ou seja, se um elemento marcante de
um lado é equilibrado por outro de peso semelhante ou complementar doutro. Se não
for esse o caso, será necessário reorganizar, incluindo, excluindo ou trocando elementos
Outros conceitos sobre desenho 45
Nessa obra (Figura 3), Malevich repete as formas e as cores, invertendo-as, fazendo uso
de um equilíbrio simétrico. A simetria é a forma mais fácil de equilibrar, e chega-se a esse
resultado repetindo os mesmos motivos ao dividir a obra em um eixo imaginário; porém
devemos ter cuidado para que uma composição simétrica não se torne monótona. Nesse caso,
a assimetria pode ser uma saída para resolver o problema, por meio do deslocamento, da
inserção ou da repetição de algum elemento, tornando possível equilibrar assimetricamente.
Figura 4 – Equilíbrio assimétrico
Observe, na Figura 4, como o artista trabalhou com uma massa mais escura na parte
direita ao alto, o centro da composição mais iluminado e uma camada também escura,
porém mais leve, em primeiro plano, sobressaindo-se, à esquerda. As formas claras e
escuras, grandes e pequenas, leves e pesadas equilibram-se quando utilizadas em pontos
destacáveis da composição; cabe ao desenhista definir esses pontos de tensão. Desenhos
de retrato também exigem que a figura humana esteja em uma posição que não provoque
a sensação de desequilíbrio; por isso, ela deve estar em seus pontos de apoio.
3.3 Cor
Para que nossos olhos percebam as cores, é necessária uma quantidade suficiente
de luz no ambiente. Além disso, nossa percepção pode se modificar conforme a fonte
luminosa que incide sobre os objetos.
A cor é um poderoso elemento visual, que influencia os principais aspectos de uma
composição. São diversas as formas de se explorar as cores, produzindo uma composição
com ritmo, equilíbrio e harmonia. Para isso, devemos recordar os principais conceitos
básicos da teoria da cor, que podem ser observados em um círculo cromático, como o da
Figura 5, a seguir.
Figura 5 – Círculo cromático
IESDE Brasil S/A
Para Wong (1992), o uso da cor preta (a mais escura de todas as cores) junto à cor branca
(a mais clara e opaca) cria o contraste de tons mais acentuado. Por isso, convencionalmente,
o preto tornou-se a marca, e o branco, a superfície. O branco enquanto superfície pode
receber qualquer cor sem interferir nela. Apesar disso, outras cores devem ser exploradas
como superfície, pois produzem efeitos ricos em tonalidades quando as demais cores são
aplicadas sobre elas.
Outros conceitos sobre desenho 47
3.4 Textura
A textura é um importante elemento visual por meio do qual se podem obter
equilíbrio e contraste. Texturas contrastantes podem equilibrar uma composição, além de
deixá-la mais interessante. Podemos pensar em contrastes básicos de textura, como brilho
48 Artes Visuais: desenho
Fonte: REDON, O. Duas árvores. 1875. Carvão sobre papel: 63,5 x 49,5 cm.
Figura 8 – Texturas 1
Fonte: VAN GOGH, V. Campo trigo e ciprestes. 1889. Lápis, caneta e tinta sobre papel: 47 x 62 cm. Museu Van
Gogh, Amsterdã.
pressão sobre o papel. Veja no desenho de Da Vinci, na Figura 9, além da textura da pele,
como as linhas curtas e curvas representam o cabelo.
Perceba que o maior espaçamento entre as linhas produz texturas mais abertas em
áreas de mais luz, enquanto as mais fechadas (mais próximas) produzem maior efeito de
sombra. Veja a seguir, na Figura 10, algumas das diferentes possibilidades de hachuras que
podem ser produzidas por qualquer técnica de desenho.
Figura 10 – Hachuras
Golden Shrimp/Shutterstock
Fonte: VAN GOGH, V. Mulher costurando. 1885. Giz sobre papel: 30.5 cm x 36.9 cm. Museu Van Gogh, Amsterdã.
Observe, na Figura 11, como a composição é resolvida por meio da janela, que
permite a entrada de luz e contrasta com as áreas mais escuras. Além disso, o artista utiliza
recursos gráficos na parede e no chão para produzir os tons intermediários e equilibrar a
composição.
Desenhar as formas negativas de uma composição também é uma forma de estudá-
la melhor, treinando o olhar para aspectos muitas vezes deixados em segundo plano.
Entre as maneiras de se trabalhar as figuras de acordo com o fundo estão a repetição,
a variação de tamanho e a superposição. A superposição de figuras pode sugerir um
avançar ou recuar, ou seja, uma figura à frente de outra pode sugerir profundidade; assim
como a redução de tamanho de certas figuras sugere seu afastamento e o aumento dá a
sensação de proximidade.
52 Artes Visuais: desenho
Outro recurso para trabalhar a figura é o uso do fundo branco, que destaca mais as
figuras de cores escuras, enquanto um fundo preto ou escuro destaca as figuras de cores
claras (WONG, 2001). O uso de cores contrastantes entre figuras e fundo também podem
proporcionar um efeito de dinamismo para o espectador.
Nem sempre é possível trabalhar com a repetição de figuras e, nesse caso, uma
solução pode ser o uso de elementos que apresentem semelhanças, como formas parecidas
ou as mesmas cores.
Na aula de Arte
1. Texturas
Considerações finais
A prática de desenhar considerando todos esses conceitos básicos levará ao
aprimoramento da técnica: quanto mais desenhar, melhor será o resultado dos desenhos.
Dessa forma, chegará o momento em que a técnica não precisará ser tão destacada, pois o
aprendizado terá sido efetivo e o ato de desenhar fluirá espontaneamente.
Outros conceitos sobre desenho 55
Atividades
1. Descreva o que é o ritmo em uma composição gráfica e de que forma ele pode ser
trabalhado.
Referências
COMBS, J.; HODDINOTT, B. Desenho para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
TIBURI, M.; CHUÍ, F. Diálogo / desenho. São Paulo: Senac, 2010.
WONG, W. Principios del diseño en color. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 1992.
WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Papel como
suporte
Fonte: TÁBUA cuneiforme: texto gramatical babilônico tardio. ca. 1º milênio a.C.
Argila: 8,1 × 6,5 × 2,2 cm. Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Fonte: TÁBULA. 500 a 700 d.C. Madeira e cera: 26,7 x 30,2 x 14 cm. Museu
Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Sonia Bonet/Shutterstock
atualmente, novas opções de suportes para
expressão, como os aparelhos digitais, muitos
outros materiais foram sendo experimentados.
O papiro, de origem vegetal (Figura 3), foi um
suporte tão utilizado na antiguidade quanto é o
papel hoje.
Cyperus papyrus é o nome científico para o
papiro, uma planta cultivada nas margens dos rios
africanos, como o Nilo, e considerada sagrada, pois
sua flor é comparada, pelos egípcios, aos raios do
sol (ASUNCIÓN, 2002).
Papel como suporte 61
Segundo Rocha e Roth (2005), o papiro era utilizado para diversos fins, como para
a produção das tiras de sandálias (Figura 4). Porém, de 3.200 a.C. até a Idade Média,
aproximadamente no século X, o papiro foi um importante suporte de caligrafia como arte.
Figura 4 – Sandálias egípcias
Fonte: EGITO antigo. Par de sandálias. ca. 1580-1479 a.C. Papiro, grama e junco:
28,7 × 12,8 cm. Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque.
Para transformar a planta em suporte, o seu talo era fatiado em lâminas (Figura 5),
sobrepostas perpendicularmente e pressionadas para liberar a seiva, que atribuía unidade,
formando uma folha parecida com papel (Figura 6). Depois de seca, essa folha era polida
com marfim ou ágata (ASUNCIÓN, 2002).
Figura 5 – Transformação do papiro em folha
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62 Artes Visuais: desenho
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Até o século V, aproximadamente, utilizava-se o papiro enrolado em madeira ou osso.
Esses rolos eram denominados volumen, podendo medir até 40 m. O material de escrita
era o calamus: uma cana oca talhada – a pena de ave só viria a ser adotada posteriormente.
Podia também ser usada uma espécie de borracha: a spongia deletis (ASUNCIÓN, 2002).
Apesar da fragilidade do material, o papiro é muito durável e ainda hoje existem
alguns utilizados há aproximadamente 5 mil anos. A flexibilidade desse material permitiu
seu uso por muito tempo e foi dele que derivou o nome e a pesquisa para o surgimento do
novo suporte: o papel.
3 – Formação da folha
4 – Prensagem das folhas
de papel sobre a rede de
de papel.
fibras de bambu ou tela.
Making_Paper.gif/Wikimedia
5 – Secagem do papel
nas paredes de um forno;
depois de descolado, era
impermeabilizado.
A invenção do papel teve uma importância muito maior do que apenas a possibilidade
de um novo suporte para expressão. O papel permitiu o registro e a disseminação do
conhecimento de uma forma muito mais ampla, facilitada e economicamente viável.
Devido à sua importância, a fabricação do papel manteve-se em segredo durante muitos
anos, aproximadamente até o ano de 751, quando, durante algumas batalhas, prisioneiros
chineses acabaram revelando o processo de fabricação (BRITT, 2012).
No período de sua expansão, os árabes aproveitaram bastante o invento chinês e
a facilidade local de cultivo do cânhamo e do linho, tornando-se um grande centro de
produção papeleira. Durante o século X, a produção de papel foi superior à de papiro. Foi
assim que, por volta do século XII, o papel chegou à Europa, que até então ainda utilizava
o pergaminho (BRITT, 2012).
O linho é uma planta herbácea (Figura 8), cujas fibras são amplamente utilizadas
na produção têxtil. Sua semente, a linhaça, é usada na indústria alimentícia e para fins
artísticos, como a produção de tintas (LINHO, 2015). Até hoje o linho é considerado uma
matéria-prima de excelente qualidade.
Figura 8 – Linho em flor
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Papel como suporte 65
Pergaminho: “suporte utilizado desde 258 a.C., obtido por meio da raspagem
e do polimento da pele de animais como cabras, ovelhas ou vitelos. Até o
século XIII, era fabricado exclusivamente nos mosteiros, sendo chamado de
charta pergamena. Forte concorrente do papiro, também se apresentava em
rolos, passando a ser utilizado em folhas a partir do século V.
Por ser feito da pele de animais, era preciso muito gado para suprir a produção
de pergaminhos, o que fez com que alguns fossem reaproveitados, como
os conhecidos palimpsestos, cujos textos anteriores puderam ser lidos pelo
uso de raios ultravioleta” (ASUNCIÓN, 2002).
LaKirr/ Shutterstock
As fontes de fibras para a produção de papel podem ser: plantas, madeiras, trapos,
papel para reciclar. Cada fonte produz um tipo específico de papel. A preocupação do uso
da madeira como fonte é o esgotamento do recurso natural, já que é preciso uma quantidade
considerável de árvores para uma produção industrial de papel. Por isso, diversas iniciativas
vêm sendo realizadas com a intenção de reflorestar e reciclar.
É imprescindível que a educação da arte aborde essa questão, estimulando a
consciência ecológica e os hábitos de reciclagem e de sustentabilidade. A opção de utilizar
o papel reciclado, sempre que possível, colabora bastante, já que a sua produção utiliza
uma quantidade bem menor de fibra virgem.
Quase todos os tipos de papel são adequados ao desenho, exceto aqueles em que
a superfície não permite fixar os traços ou registros. O desenhista é quem escolhe as
características do papel, de acordo com os efeitos que deseja produzir: papel artesanal ou
industrial, liso ou rugoso, com alta ou baixa rugosidade, com ou sem textura, importado
ou não. Sugerimos experimentar os mais variados tipos para saber os efeitos que podem
ser explorados com as técnicas disponíveis.
Existe no mercado uma variedade grande de papéis próprios para desenho, em
preços também variados. No entanto, para quem está começando, o mais importante é
desenhar e, para isso, qualquer papel serve. Vários artistas consagrados deixaram traços de
seus desenhos em papéis de guardanapo.
Para conhecer melhor esse suporte tão variado, vamos analisar algumas de suas
principais características, a fim de tornar a escolha mais consciente. Cada papel apresenta
determinadas propriedades ópticas, entre elas (BRITT, 2012):
• Brilho: poder de refletir a luz, ou refletância.
• Opacidade: capacidade de não permitir que a impressão ou a escrita em um lado
da folha seja percebida no outro lado.
• Acabamento e suavidade: características da superfície do papel, como a ausência
de irregularidades sob condições visuais ou de uso.
• Cor: atualmente, a variedade de opções de papéis coloridos é muito grande. Para
embranquecer o papel e tirar a cor natural da fibra, utiliza-se o cloro; para colorir,
utilizam-se corantes naturais (chás, café, cascas de cebola etc.) ou industriais
(pigmentos em pó, tintas solúveis em água etc.). A forma mais adequada para
absorção da cor é aplicá-la na mistura da polpa, mas efeitos de pintura podem
ser produzidos no papel úmido. Com certa prática, é possível fazer misturas com
polpas coloridas no papel úmido.
Além das propriedades ópticas, o papel industrial ou artesanal apresenta também
características e propriedades que o classificam. Vejamos algumas delas:
• Resistência: todo papel deve suportar um mínimo de manipulação e uso sem se
alterar ou rasgar.
• Gramatura: peso do papel, que definirá se será cartolina, cartão etc. O papel com
alta gramatura, como a cartolina, é mais pesado do que o de gramatura baixa, como
o papel de seda, por exemplo. A gramatura da cartolina costuma ser superior a 180 g,
portanto, é um papel resistente, com maior densidade.
68 Artes Visuais: desenho
• Superfície: o papel pode ser rústico (artesanal, sem ser prensado – conforme
Figura 11), acetinado (prensado novamente depois de seco), brilhante, texturizado
(Figura 12), rugoso (Figura 13), semirrugoso etc.
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Figura 13 – Papel artesanal rugoso
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• Grau de acidez: o papel livre de ácido tende a ser mais durável. Papéis com pH 7
são neutros e têm maior durabilidade. Se o pH for próximo a zero, o papel é ácido;
se for próximo a 14, é alcalino. A conservação do papel também interfere em sua
durabilidade. Deve ser conservado em ambientes secos, sem umidade.
• Tamanho: algumas convenções de tamanho de papel foram criadas para facilitar
a indústria e o comércio, como os tamanhos A0, A1, A2, A3 etc.
Papel como suporte 69
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elbud/Shutterstock
Até o século XIX, barbas em um papel eram
consideradas um defeito, e a produção industrial
faz o corte de acordo com o tamanho exato do
papel. Atualmente, porém, muitas produções
artesanais valorizam as barbas do papel, que
podem ser largas, fibrosas, irregulares etc. Rasgar
um papel lentamente pode produzir uma falsa
barba. Veja na Figura 15, a seguir, as barbas em
um papel feito à mão:
• Texturas: quando o papel ainda úmido é
prensado, torna-se liso. Para produzir texturas
no papel, pode-se deixá-lo sem prensar ou acrescentar alguns artifícios no
momento da prensagem, como pedaços de palha ou a textura do tecido entre o
qual é prensado. Enquanto as fibras da polpa estão hidratadas, é possível fazê-las
adquirir outras características.
Como podemos ver, a diversidade de papéis é muito grande, possibilitando uma
pesquisa em torno da descoberta de suportes que mais se adéquam ao modo de cada um
de produzir seus desenhos. Além disso, a possibilidade de criar o próprio papel, de acordo
com as especificidades de cada trabalho e interferindo na sua produção, permite maior
liberdade para o potencial criativo.
Na aula de Arte
Considerações finais
Conhecer melhor a história antes da invenção do papel e os detalhes de sua
fabricação nos permite repensar a forma como lidamos com esse material tão comum, que
se apresenta com tanta variedade e se faz tão valioso por nos permitir novas possibilidades
de expressão. A arte também tem o papel de valorizar esse material e explorar todas as
possíveis formas de utilizá-lo, desviando dos caminhos tradicionais para permitir novas
descobertas a respeito desse suporte criado há tanto tempo e ainda tão importante em
tempos virtuais.
Atividades
1. Cite ao menos três materiais usados como suporte antes da invenção do papel e
descreva como cada um deles era utilizado.
Referências
ASUNCIÓN, J. O papel, técnicas e métodos tradicionais de fabrico. Lisboa: Editorial Estampa, 2002.
BRITT, K. W. Papermaking. Encyclopædia Britannica. 2 fev. 2012. Disponível em: https://www.
britannica.com/technology/papermaking. Acesso em: 28 jun. 2019.
LINHO. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 4. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 2015. Verbete. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
busca/portugues-brasileiro/linho/. Acesso em: 28 jun. 2019.
ROCHA, R.; ROTH, O. O livro do papel. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
TIBURI, M.; CHUÍ, F. Diálogo / desenho. São Paulo: Senac, 2010.
Técnicas em
escala de cinza
O contraste entre o claro e o escuro, a luz e a sombra, o branco e o preto causam efeitos
atraentes para o espectador de uma obra quando são trabalhados com harmonia. É um
desafio distribuir algumas variações de tons entre o branco e o preto em uma composição
buscando o contraste, o equilíbrio e o ritmo. Algumas técnicas de desenho oferecem essas
possibilidades e são utilizadas há muito tempo na história da arte, tais como o carvão, o
grafite e o nanquim, que veremos a seguir.
Todas essas técnicas permitem explorar a gama de tons entre o preto e o branco, seja
nas possibilidades a seco, como o carvão e o grafite, seja com o nanquim, que também pode
ser trabalhado em aguadas ou hachuras. A utilização da cor do suporte como fundo do
desenho também é uma característica que as três técnicas permitem explorar, possibilitando
experimentar diferentes cores de base para causar novos efeitos na produção artística. Por
isso, neste capítulo, vamos analisar cada uma dessas técnicas mais detalhadamente.
fotosen55/Shutterstock
Burhan Bunardi/Shutterstock
O esfuminho (Figura 4) é um instrumento que ajuda
a produzir muitos efeitos no desenho de variadas técnicas.
Essa espécie de lápis, com uma ponta de cada lado, pode
ser levemente friccionado no traçado para dar o efeito
esfumaçado. Para desenhos mais delicados e menores,
utiliza-se um esfuminho mais fino. O ideal é que não se
utilize o mesmo esfuminho para várias cores, pois elas
podem se misturar no desenho. É possível improvisar um
esfuminho com um triângulo de papel jornal, enrolando-o
a partir de uma das pontas e colando a ponta final com um
pedacinho de fita adesiva.
Segundo Parramón (1993), os dedos são os mais eficientes no ato de esfumaçar
um desenho, pois se adaptam à rugosidade do papel, além de transportar e mesclar a
umidade adequada para destacar o tom da cor, como o negro intenso no caso do carvão.
No entanto, devemos destacar que o uso excessivo dos dedos pode também prejudicar o
efeito esfumaçado no papel, devido à gordura natural da pele, que pode saturar a superfície
se esta for muito esfregada.
Se for preciso apagar ou limpar áreas mais claras do desenho, pode-se utilizar uma
borracha plástica macia ou a massa de limpa tipos, que pode ser modelada para produzir
detalhes. Modelar a massa também é uma forma de limpá-la para que não suje o trabalho.
O carvão pode ser utilizado inclinado, para produzir linhas, ou deitado, para
preencher uma grande área. O pó que se solta dele também pode ser aproveitado para
desenhar com os dedos ou para esfumar. Segurar o carvão como um giz permite maior
segurança no traço e amplitude dos movimentos do braço.
Figura 5 – Efeito do carvão deitado
Anastasiia Firsova/Shutterstock
80 Artes Visuais: desenho
De acordo com Parramón (1993), o carvão é um dos meios que oferece mais
possibilidades de desenhar por meio de manchas, massas, luzes e sombras, podendo ser
associado a outras técnicas, como o pastel, a sanguínea e o giz. O desenho com carvão
permite bons resultados em papel branco ou colorido, dependendo do grau de contraste
que se deseja obter. O uso do carvão no papel colorido favorece a aplicação de giz branco
para destacar áreas de luz no desenho, como podemos ver na obra de Degas, que explorou
amplamente essas duas técnicas, muitas vezes em conjunto com pastel.
Figura 6 – Carvão e giz branco
A menos que seja misturado com goma ou resina, deixando de ser uma técnica a
seco, o carvão não se fixa na superfície, tornando-se um meio prático para a realização
de esboços, pois pode ser apagado ou manchado com facilidade. Assim como o pastel
seco, para fixar o carvão no suporte é necessário o uso de fixadores em spray depois que o
trabalho estiver pronto. O fixador deve ser aplicado uniformemente em toda a superfície
e preferencialmente em três demãos, aguardando o tempo de secagem entre uma e outra.
5.2 Grafite
As primeiras minas de grafite foram descobertas por volta do século XV na Europa.
Esse mineral sólido e de brilho metálico, também chamado de plumbago ou chumbo
negro, é constituído de carbono e só começou a ser efetivamente utilizado por artistas
Técnicas em escala de cinza 81
a partir do século XVII. Até meados do século XVIII, o grafite era mais utilizado para
delinear esboços que seriam acabados em outras técnicas; dificilmente um desenho era
produzido todo em grafite (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2019).
Figura 7 – Grafite
Epitavi/Shutterstock
Nesta obra do século XVIII (Figura 8), Thomas Gainsborough (1727–1788), aplicou
uma aguada cinza para obter a base tonal sobre a qual produziu os traços de grafite para
descrever a folhagem, variando a pressão para sugerir claros e escuros. O artista ficou
conhecido por esse tratamento abstrato que dava às suas paisagens, destacando massas
contrastantes.
Figura 8 – Desenho em grafite do século XVIII
Fonte: GAINSBOROUGH, T. Um grupo de árvores. ca. 1757. Grafite, escova e aguada cinza sobre
papel: 15,8 x 19,4 cm. Museu Metropolitano de arte, Nova Iorque.
82 Artes Visuais: desenho
Para o artista romântico Eugène Delacroix (1798-1863), um grafite mais macio e mais
escuro permite a espontaneidade, a liberdade e a sugestão de traços não muito definidos,
características de suas produções, como podemos ver na Figura 10, a seguir.
Figura 10 – Desenho em grafite macio
Fonte: DELACROIX, E. Monge em oração. 1821. Grafite sobre papel: 9.5 × 16.9 cm. Museu de Arte
Walters, Baltimore, Estados Unidos.
As graduações dos lápis grafite (Figura 11) são definidas por um número e pelas letras
B (que indica ser mais macio e escuro) e H (que indica ser mais claro e duro). Geralmente,
na prática de desenho, utiliza-se um lápis 6B quando se quer mais cor e maciez, mas esta
escolha depende das preferências de quem está desenhando e do que se quer produzir no
desenho. Por isso é interessante realizar esboços com os diferentes tipos de grafite para
conhecer as possibilidades de cada um e fazer as próprias escolhas com maior propriedade.
Figura 11 – Graduações de lápis grafite
IESDE Brasil S/A
6H 5H 4H 3H 2H H F
HB B 2B 3B 4B 5B 6B
Como vimos, o grafite para desenho pode se apresentar em lápis ou em uma barra,
tipo o pastel. Para apontar o lápis, pode-se usar um estilete, pois com ele é mais fácil
modelar o tipo de ponta que melhor definirá o traço – pontas mais finas, para produzir
linhas delicadas e precisas, ou mais grossas, para linhas mais expressivas e espontâneas. No
grafite em bastão, a lixa apropriada para carvão também pode ser utilizada.
84 Artes Visuais: desenho
Fonte: VAN GOGH, V. O varredor. 1883. Grafite sobre papel Wove: 220 x 310 mm. Museu de Belas Artes
de São Francisco, Estados Unidos.
Nesta obra, Paul Signac trabalha com traços curtos em grafite para compor a
paisagem marinha, introduzindo alguns pontos de cor com aquarela, em detalhes, manchas
e aguadas, permitindo que a cor de fundo do papel também interaja na composição.
O bico de pena de metal (Figura 15) foi um instrumento de escrita e desenho usado
por muito tempo, até a invenção do lápis. Há muitos modelos disponíveis no mercado, mas
basicamente consiste em um cabo onde deve ser aplicada a ponta metálica, que pode ser
redonda, quadrada, própria para caligrafia etc.
Figura 15 – Bico de pena
Liubabasha/Shutterstock
Os modelos de penas metálicas podem ser encontrados em grande diversidade, cada
uma permitindo a produção de linhas específicas, de acordo com seu formato (Figura 16).
Figura 16 – Modelos de penas metálicas
ju_see/Shutterstock
55101/Shutterstock
Essas canetas também estão disponíveis no mercado em diferentes números de ponta,
que correspondem à espessura da linha que produzem. São muito utilizadas em desenho
técnico, mas alguns artistas acabam adotando um tipo ou outro de caneta cujo traçado
tenha a ver com seu modo particular de desenhar. Na obra a seguir (Figura 18), Boccioni
explora as linhas curvas que, em alguns espaços, unem-se a ponto de se transformarem em
massas, contrapondo-se a linhas finas e interrompidas.
Figura 18 – Desenho a nanquim
Kashtal/Shutterstock
Babich Alexander/Shutterstock
Fonte: VAN GOGH, V. Rua em Saintes Maries de la Mer. ca. 1888. Caneta de bambu e nanquim
sobre papel: 24,3 x 31,7 cm. Museu Metropolitano de arte, Nova Iorque.
Devido ao poder de cobertura do nanquim, é preciso ter alguns cuidados para que o
desenho não seja danificado pelas mãos sujas de tinta ou por respingos. Para isso, o melhor
é ter papel absorvente à mão, como o papel toalha, para limpar as mãos e os instrumentos,
além de tirar os excessos das pontas e evitar os respingos. Todo cuidado é pouco com esse
poderoso material, já que o contraste entre o branco e o preto é um de seus destaques e, por
isso, qualquer pingo ou mancha interferirá na produção final.
Na aula de Arte
Fonte: VAN GOGH, V. Café Au Charbonnage. 1878. Lápis, caneta e tinta sobre papel: 14
cm x 14.2 cm. Museu Van Gogh, Amsterdã.
Fonte: VAN GOGH, V. A casa Zandmennik. c. 1879/1880. Carvão e grafite sobre papel:
22,8 x 29,4 cm. Galeria Nacional de Arte, Washington.
Considerações finais
Com as possibilidades tonais do branco ao preto podemos produzir ricas composições
trabalhando com linhas, manchas e hachuras nessas três tradicionais técnicas de desenho,
que podem ser associadas a tantas outras para enriquecer uma composição.
Nesse sentido, o trabalho com a escala de tons de cinza pode ser iniciado preenchendo
as áreas mais escuras aos poucos, explorando os meios tons em seguida e fazendo os
ajustes necessários, mantendo as áreas mais claras na cor do suporte. Essas áreas de maior
incidência de luz podem ser destacas com o giz branco no processo de finalização.
Experimentar a maior diversidade possível dos materiais das três técnicas
apresentadas é outra dica fundamental para aprofundar o conhecimento sobre elas e
experimentar maior gama de possibilidades expressivas. Portanto, desenhar com o carvão
em diferentes formatos, com toda a variedade de grafites e com diferentes formatos de
bico de pena permitirá escolher qual material lhe responderá melhor de acordo com a sua
produção. Afinal, quanto mais experiência acumular, tanto o artista quanto o educador em
arte obterão melhores êxitos em seus objetivos.
• ESTÚDIO Saci. Como fazer um esfuminho para desenho. 3 fev. 2016. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Gg0G2hLPWzE. Acesso em: 24 jul. 2019.
Nesse vídeo, podemos aprender a produzir nosso próprio esfuminho com retalho
de papel jornal ou kraft, além de visualizar a posição correta para utilizar esse
material no ato de esfumaçar desenhos a carvão, grafite, sépia e outros materiais.
Técnicas em escala de cinza 93
Atividades
1. De que formas podemos obter o efeito esfumaçado nos desenhos a carvão e como
podemos apagar ou criar áreas de luz?
2. Como os grafites podem ser classificados de acordo com a mistura de argila criada
por Nicolas-Jacques Conté? Como essa característica interfere no desenho?
Referências
BALLESTAR, V. All about techniques in dry media. EUA: Barron's Educational Series, 2005.
ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Pencil drawing. Disponível em: https://www.britannica.com/
art/pencil-drawing. Acesso em: 24 jul. 2019.
MAYER, R. Manual do artista: de técnicas e materiais. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PARRAMON, J. M. El gran libro del dibujo. Espanha: Parramon Ediciones, 1993.
VAN GOGH, V. Cartas a Theo. Porto alegre: L&PM, 1991.
Técnicas
policromáticas
Trabalhar com pontos, linhas e planos com o objetivo de criar uma composição
atraente, equilibrada, com ritmo e, ainda mais, com cores, é um desafio para qualquer
desenhista. Neste capítulo, então, veremos algumas técnicas de desenho que fogem da
representação apenas do preto e branco, conhecendo um pouco mais dos materiais que
apresentam variedade de cores e texturas capazes de enriquecer e facilitar o trabalho de
qualquer desenhista.
Fonte: LORRAIN, C. Paisagem Romana. Século XVII. Tinta sépia e aguada: 15,9 x 28,6 cm.
Museu Metropolitano de arte, Nova Iorque.
A criação dessa famosa fórmula – sanguínea ou carvão sobre papel colorido e realces
em giz branco – deu muito certo, visto que continuou a ser utilizada por muito tempo.
Técnicas policromáticas 99
Assim como a maioria das técnicas de desenho, a cor de fundo do papel (branco ou
colorido) deve ser considerada na elaboração de um desenho com lápis de cor, já que o
lápis branco não possui poder de cobertura e opacidade. Na Figura 5, a seguir, o branco do
fundo ressalta, contrastando com os traços mais escuros do desenho.
100 Artes Visuais: desenho
Fonte: SEURAT, G. Soldado esgrima, outro reclinado. 1880. Lápis de cor e grafite sobre papel. Coleção Particular.
Técnicas policromáticas 101
stasia_ch/Shutterstock
A técnica de desenho em lápis de cor não precisa do uso de fixativos, pois o grafite
adere bem ao papel como suporte. Entretanto, deve-se verificar se o lápis de cor será utilizado
com outras técnicas: nanquim, aquarela e caneta hidrocor também não precisam ser fixados,
mas no caso de carvão, sépia e sanguínea, por exemplo, deve-se utilizar um fixativo.
Essa técnica é muito valorizada por artistas que a consideram como uma forma de
usar o pigmento praticamente puro, já que a quantidade de aglutinante utilizada em sua
produção é mínima. Por isso as suas cores são permanentes. Em contrapartida, o fato de
possuir pouco aglutinante o torna mais frágil e quebradiço. A sua fixação sobre o suporte
se dá por atrito, por isso, o papel mais adequado é aquele que apresenta um pouco de
rugosidade (MAYER, 1996).
O pastel oleoso, criado no início do século XX, é constituído por uma quantidade
maior de aglutinante do que a usada no pastel seco, tornando-o mais resistente e de
consistência mais cremosa. A aparência dos desenhos em pastel oleoso difere das feitas em
pastel seco, como pode ser visto na Figura 9.
Técnicas policromáticas 103
Bokasana/Shutterstock
No século XVIII, o papel azul era o suporte mais comum para trabalhos com pastel,
não só pela facilidade de se obter o material, mas também pelo efeito que produzia. De
fato, os artistas gostam de explorar papéis coloridos para desenhar com pastel, tirando
proveito das cores de fundo, como o desenho de Degas (Figura 8).
Ambos os tipos de pastel precisam ser fixados, caso contrário, qualquer atrito pode
danificar o desenho. Uma folha de papel manteiga ou seda fixada por trás (para que não
fique se arrastando sobre a superfície) pode proteger o trabalho, mas não é um meio
completamente eficiente (PARRAMON, 1993).
cigdem / Shutterstock
C
Os marcadores com a ponta inclinada, em forma de cinzel (Figura 11), podem ser
utilizados de três formas diferentes: com o canto da ponta, para traços mais finos; com a
lateral mais estreita; e inclinados, com a lateral mais larga.
Figura 11 – Ponta inclinada
Anna Photography/Shutterstock
Técnicas policromáticas 105
Segundo Parramon (1993), para preencher áreas de cor, o ideal é produzir traços,
um ao lado do outro, sem sobrepor e com agilidade, pois assim eles vão se mesclando sem
deixar muitas marcas. Esse efeito exige um pouco de treino e habilidade. Mas esta é apenas
uma das muitas formas de desenhar com canetinhas ou marcadores. Observe na imagem
como as linhas também podem ser produzidas de diferentes formas, em hachuras variadas.
Figura 12 – Desenho com marcadores
KUCO / Shutterstock
As cores podem também ser sobrepostas, produzindo efeitos de mesclas entre elas,
desde que se espere a secagem entre as camadas. Sobrepor a mesma cor produz o efeito de
escurecimento, com a possibilidade de fazer gradações. Entretanto, ao sobrepor camadas,
deve-se ter o cuidado de escolher papéis mais adequados, como os para a técnica de
aquarela, já que a tinta das canetas penetra rapidamente no papel. Por isso, o trabalho com
essas canetas deve ser rápido e preciso, pois se a tinta se fixa em um local por mais tempo,
pode causar manchas (PARRAMON, 1993).
Assim como outras técnicas que vimos anteriormente, as partes mais claras do
desenho devem ser previamente definidas e preservadas, para serem trabalhadas com
cuidado ou ressaltarem a cor de fundo do papel. Veja, na Figura 13, que o branco do papel
106 Artes Visuais: desenho
indica as áreas de luz. Outra possibilidade para produzir áreas claras realçadas é o uso de
tinta guache branca, que se sobrepõem à tinta das canetas.
Figura 13 – Branco como fundo
Marusoi/Shutterstock
Muitos artistas utilizam também o lápis de cor para a finalização desses trabalhos
com canetas ou marcadores, pois a aplicação de detalhes com o lápis produz realces
delicados e permite acrescentar traços para escurecer e contrastar (PARRAMON, 1993).
Algumas marcas lançaram marcadores para porcelana, indicando o uso do forno
para finalizar o trabalho. É uma boa oportunidade para experimentar o desenho utilizando
outro suporte além do papel.
Como a variedade de opções desses materiais disponíveis no comércio é grande,
deve-se considerar experimentar algumas marcas próprias para profissionais de desenho,
disponíveis nas lojas especializadas. De qualquer forma, para começar, as canetinhas
escolares desempenham um papel eficiente.
Na aula de Arte
Considerações finais
Todas as técnicas que vimos neste capítulo nos permitem desenhar colorindo. A
modernidade trouxe a variedade de materiais e cores que facilitam esse trabalho, abrindo
espaço para que a nossa criatividade invente outras formas de expressão por meio das
linhas coloridas.
Essas técnicas podem ser trabalhadas individualmente ou associadas a outras, como
fazem alguns artistas que produzem aguadas como fundo para seus desenhos. Como
vimos, sempre há uma forma nova de produzir e experimentar materiais novos ou antigos,
descobrindo a própria linguagem e a melhor forma de comunicar-se por meio dos traços
de um desenho.
• HOW to draw with markers and colored pencils. Publicado por Drawing &
Painting - The Virtual Instructor, 10 fev. 2017. (13 min). Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=G1KhFJ-DT48. Acesso em: 24 jul. 2019.
O vídeo mostra o passo a passo detalhado da produção de um desenho, com
marcadores e lápis de cor, representando um copo com gelo e bebida.
Atividades
1. Descreva a fórmula de técnicas de desenho que ficou famosa a partir do momento em
que Leonardo da Vinci passou a utilizar um giz avermelhado sobre papel de cor clara.
2. De acordo com a maioria das técnicas de desenho, que elemento deve ser preservado e
definido previamente com relação ao suporte, na produção de um trabalho? Por quê?
Referências
CONTÉ à Paris. About. Disponível em: https://www.conteaparis.com/en/about/. Acesso em: 24 jul.
2019.
ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Sanguine. Disponível em: https://www.britannica.com/art/
sanguine. Acesso em: 11 jun. 2019a.
ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Sepia. Disponível em: https://www.britannica.com/art/sepia-
drawing-medium. Acesso em: 11 jun. 2019b.
MAYER, R. Manual do artista: de técnicas e materiais. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PARRAMON, J. M. El gran libro del dibujo. Espanha: Parramon Ediciones, 1993.
TIBURI, M; CHUÍ, F. Diálogo / desenho. São Paulo: Senac, 2010.
WHITLUM-COOPER, F. The Eighteenth-Century Pastel Portrait. In: Heilbrunn Timeline of
Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2010. Disponível em: http://www.
metmuseum.org/toah/hd/papo/hd_papo.htm. Acesso em: 24 jul. 2019.
Grafismo infantil
e desenho
estereotipado
1 Podemos observar tais características em obras disponíveis nos seguintes links: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Paul_Klee,_Ohne_Titel_(Der_Todesengel).jpg; https://www.wikiart.org/pt/pablo-picasso/head-of-a-girl-1950;
https://www.wikiart.org/pt/joan-miro/the-gold-of-the-azure.
114 Artes Visuais: desenho
Giacomo Pratellesi/Shutterstock
O desenho no papel é apenas uma das primeiras formas que a criança descobre
para se expressar; é gesto, fala e sua primeira escrita. No desenho, ela pode registrar suas
emoções, suas descobertas, suas angústias e suas histórias; é uma forma tão expressiva de
linguagem que, quando há comprometimento intelectual, o desenho o revela, mostrando
em que fase de grafismo a criança se encontra.
Como destaca Derdyk (2015, p. 32), desenhar vai muito além do papel e do lápis, é a
linguagem do gesto que estimula outras manifestações, já que enquanto desenha, a criança
“canta, dança, conta histórias, teatraliza, imagina, ou até silencia”.
Em cada fase de desenvolvimento da criança, o desenho apresenta características
específicas, como aponta Moreira (2005, p. 26): “O desenho como possibilidade de brincar,
o desenho como possibilidade de falar, marca o desenvolvimento da infância, porém em
cada estágio, o desenho assume um caráter próprio”.
O objetivo de conhecer esse processo é mostrar para o educador que cada fase de
expressão deve ser respeitada, valorizada e incentivada, para que realmente possamos criar
indivíduos mais criativos em qualquer área do saber. Não é objetivo das aulas de artes criar
desenhistas, mas sim proporcionar ambientes e situações favoráveis para a expressão da
criança, estimulando seu poder criativo.
As características destacadas aqui, relacionadas a cada fase de representação gráfica,
são comuns a crianças da mesma idade, mesmo que sejam de culturas ou nacionalidades
diferentes, e servem de parâmetro para uma observação mais aprofundada a respeito do
desenvolvimento infantil. Trata-se de um desenvolvimento que acompanha o progresso da
linguagem oral e escrita. Por isso, a criança de três ou quatro anos começa a querer imitar
em seus desenhos a escrita do adulto, inventando símbolos e produzindo linhas serradas.
Quando começa a aprender a escrever, palavras e desenhos se confundem, característica
também explorada por artistas, como Paul Klee (Figura 2) e Miró.
Figura 2 – Escrita e desenho
Nesse ponto, vale lembrar que a escrita, iniciada com os hieróglifos, nasceu do
desenho (ANDRADE, 1975), firmando que o ato de desenhar é linguagem.
7.2.1 Garatujas
É uma das fases mais importantes de expressão, movimento e exploração e, ainda
assim, muitas vezes não é valorizada por alguns pais e professores, que reclamam que a
criança ainda não sabe desenhar. No entanto, esse é o início da descoberta da linguagem
gráfica e caracteriza-se pelos rabiscos, chamados também de garatujas.
Essa fase se caracteriza pelas descobertas ao segurar um lápis e deixar marcas no papel,
como se o lápis fosse uma continuação do próprio dedo. Assim também como qualquer
outro instrumento que possa ser explorado para marcar – giz, gravetos na areia, dedos no
116 Artes Visuais: desenho
vidro embaçado, entre outros – em um processo que envolve o corpo todo interagindo
com outros materiais (DERDYK, 2015).
Figura 3 - Garatujas
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De acordo com Derdyk (2015), as primeiras garatujas podem ser rabiscos aleatórios
e desordenados, em várias direções, às vezes saindo do suporte, em gestual amplo ou não.
O suporte pode ser utilizado por inteiro ou só em partes, e os rabiscos podem se sobrepor
em camadas. Nessa fase, é importante oferecer espaço e material adequado para que a
criança possa explorar à vontade.
É importante perceber que “a criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de gesticular, de
se afirmar. O grafismo que daí surge é essencialmente motor, orgânico, biológico, rítmico.
Quando o lápis escorrega pelo papel, as linhas surgem. Quando a mão para, as linhas não
acontecem. Aparecem, desaparecem” (DERDYK, 2015, p. 63).
Aos poucos, as garatujas vão se transformando e começam a surgir os círculos e
as espirais, e a criança começa a nomear algumas formas que desenha, como bichos e
familiares (MOREIRA, 2005). O limite do suporte começa também a ser respeitado.
Cabe ao educador, então, proporcionar todas as possibilidades de movimento nessa fase,
permitindo desenhar nas mais variadas posições, pois cada uma favorecerá um resultado
diferente da relação desenho e corpo: desenhar em pé (Figura 4), deitado, sentado no
chão etc. Os materiais mais adequados para facilitar este processo são os papéis de grande
formato, que possam ser presos nas paredes, esticados no chão ou nas mesas, além do giz
de cera de estaca.
Grafismo infantil e desenho estereotipado 117
KayaMe/Shutterstock
Permitindo essas variações de experimentação, a criança aprende a explorar os
movimentos do próprio corpo relacionados à sua expressão gráfica e aos materiais que utiliza,
descobrindo a melhor maneira de manipular instrumentos e de deixar marcas com eles.
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a criança ainda produz garatujas,
mas começam a surgir novas formas
e muitas histórias em torno do
desenho. Começa também o interesse
em escrever igual ao adulto, então
muitas crianças desenham linhas
serradas, como se fossem palavras,
assim como pequenos símbolos
repetidos ou sequenciados, geralmente
acompanhados de uma expressão oral.
Quando se inicia o processo
de alfabetização, deve-se estar atento
para que o desenho continue sendo
uma forma de expressão, sem perder
o caráter lúdico. A aquisição da escrita
não deve substituir o ato de desenhar.
118 Artes Visuais: desenho
7.3 Estereotipia
Para entender a importância do termo estereotipia na educação, é preciso saber de
onde ele surgiu. De acordo com a definição do dicionário, estereotipia, no que se refere
às artes gráficas, apresenta os seguintes significados (ESTEREOTIPIA, 2019): “1 Arte ou
processo de reproduzir em chapa ou clichê único, fundido a partir de um molde, páginas
que inicialmente foram compostas em caracteres ou tipos móveis. 2 Chapa obtida por esse
processo; clichê, estéreo, estereótipo, matriz. 3 Lugar onde se efetua esse tipo de impressão”.
Portanto, a estereotipia refere-se a uma forma de impressão muito usada na tiragem
de jornais e outras impressões de alta velocidade, a partir de um molde, uma forma.
Durante algum tempo da história da educação, os professores aprendiam a reproduzir
desenhos de formas fáceis a partir de moldes, para que seus alunos pudessem colorir. Não
havia espaço para criação, bastava copiar ou colorir, muitas vezes com as cores já pré-
determinadas por números (Figura 7). Por motivos de praticidade, rapidez, exigências,
inseguranças para desenhar, entre outros, isso se tornou uma prática comum, ainda que
nociva, nas salas da aula (IAVELBERG, 2013). E como afirma Derdyk (2015, p. 108), “todo
ensino que se baseia em cópia não é ensino inteligente”.
120 Artes Visuais: desenho
Viktoriia Kustenko/Shutterstock
Segundo Iavelberg (2013, p. 7), “o desenho estereotipado, aquele que se repete sem
transformações, é fruto de estagnação da criança em uma fórmula que lhe dá segurança.
Indica falta de processo criativo e pode surgir na educação infantil”. Portanto, quando a
criança reproduz o desenho estereotipado, de formas repetidas, deixa de fazer uso do seu
potencial criativo, mantendo-o em repouso e estagnando suas possibilidades de crescer.
Devemos nos manter muito atentos quanto a essa questão, pois ainda há uma grande
tendência das escolas em reproduzir desenhos prontos para colorir, principalmente por
ocasião de datas comemorativas. Os profissionais da arte podem e devem, a partir das
fundamentações teóricas (abordadas aqui, inclusive), modificar aos poucos esse cenário.
Isso pode ser feito a partir da sugestão de novas práticas, como cada criança produzir seu
próprio desenho a respeito dos temas escolares.
Para Derdyk (2015, p. 113), “o desenho mobiliza tanto a aquisição técnica e operacional
(que se refere ao manejo de instrumentos e materiais) quanto a aquisição intelectual
(produto da imaginação)”. Sendo assim, o ato de copiar não explora as possibilidades de
desenvolvimento por meio do desenho.
A utilização do desenho no ambiente escolar deve servir como expressão criativa
e não como um recurso para fins utilitários, para simples exercício de coordenação
motora. O ato de desenhar tem sua importância como linguagem expressiva e, por isso,
deve ser valorizado como tal, caminhando junto ao desenvolvimento da criatividade e da
imaginação.
7.4 Desestereotipização
É muito importante que o professor atue de forma atenciosa e sem expor a criança
que necessita desprender-se da estereotipia. Jamais fazer críticas negativas ou comentário
depreciativo sobre qualquer produção. A conduta adequada é indicar e sugerir novos
caminhos e desafios para que, aos poucos, a criança se liberte das formas prontas.
Não há fórmulas para sair do vício da estereotipia, até porque cada indivíduo possui
particularidades e razões próprias para agir dessa maneira. No entanto, o professor pode
tentar diversas opções, a começar por uma abordagem sutil da questão, valorizando o
potencial para o desenho e aumentando a autoestima.
Sobre a prática do desenho, Iavelberg (2013, p. 7) sugere que “em geral é preciso criar
intervenções didáticas, como as de sugerir meios e suportes diferentes, oferecer imagens da
arte para a criança trabalhar a partir delas ou vincular seus desenhos às suas experiências”.
Apresentar sempre imagens de qualidade deve ser uma prática frequente do
professor de artes, explorando obras que contextualizem o conteúdo a ser desenvolvido. A
122 Artes Visuais: desenho
partir dessas imagens, o professor pode propor uma leitura de acordo com a faixa etária,
destacando como o artista desenhou certo objeto e seus contornos, entre outras abordagens.
De qualquer forma, é preciso diferenciar as estereotipias do desejo de imitação, pois
crianças imitam quase o tempo todo e podem querer imitar o desenho umas das outras.
Nesse caso, o professor pode sempre destacar que mesmo que desenhem os mesmos
motivos, eles serão diferentes porque cada um tem um jeito especial para desenhar. A
imitação pode estimular, mas a cópia oprime.
Nesse sentido, a vontade de imitar deve ser utilizada a favor do aprendizado, pois
uma criança pode estimular a outra e provocar o avanço de suas potencialidades. Articular
grupos para trabalhar em conjunto, valorizando as habilidades de cada um e propondo
uma troca de aprendizado, é uma proposta enriquecedora para a turma.
Além disso, propor desenhos de observação é uma das opções para fugir das
estereotipias e até das imitações, dependendo da faixa etária e da abordagem. A observação
de um ponto será sempre diferente de outro. Se as crianças só desenham nuvens
estereotipadas, é interessante que a turma possa observar os diferentes formatos das nuvens
no céu ou em obras de arte de diferentes estilos para ver como os artistas representaram as
nuvens. Dessa forma, amplia-se o repertório de imagens e cria-se a possibilidade de novas
formas de representação, a partir das soluções inspiradas em outros artistas.
Na aula de Arte
Sychov Serhii/Shutterstock
Considerações finais
Conhecer o processo de desenvolvimento do grafismo infantil, suas características
principais e demais implicações permite estimular a criança e manter a continuidade da
sua expressão criativa, sem rompimentos durante seu crescimento.
Um dos maiores desafios para o ensino da arte é a continuidade do interesse pela
expressão por meio do desenho, sem que ele se perca ao longo dos anos escolares. O
educador em arte deve buscar e registrar a sua pesquisa por soluções que envolvam essa
questão, começando com a experimentação do trabalho em arte com adolescentes, visando
uma abordagem mais aprofundada a respeito de técnicas e profissões que envolvem a
produção artística.
Como expõe Vigotski (2014, p. 112), “a formação de uma personalidade criativa,
projetada para o futuro, prepara-se através da imaginação criativa materializada no
presente”. A escola deve, portanto, ser responsável por estimular a criatividade dessas
mentes, e a arte é um caminho eficiente para facilitar esse processo.
Atividades
1. Explique o que é desenho estereotipado.
3. Que atitudes o professor pode ter para que um aluno deixe de reproduzir desenhos
estereotipados?
Referências
ANDRADE, M. de. Do desenho. In: ANDRADE, M. de. Aspectos das artes plásticas no Brasil. 2. ed.
São Paulo: Martins, 1975.
ARTIGAS, V. O desenho. Texto da aula inaugural pronunciada na Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da USP em 1 de março de 1967. Reedição da publicação do Centro de Estudos
Brasileiros do Grêmio da FAU-USP, 1975.
DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. Porto Alegre:
Zouk, 2015.
ESTEREOTIPIA. In: MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
São Paulo: Melhoramentos, 2019. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/
busca?r=0&f=0&t=0&palavra=estereotipia. Acesso em: 25 jul. 2019.
HOLM, A. M. Fazer e pensar arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2005.
IAVELBERG, R. Desenho na Educação Infantil. São Paulo: Melhoramentos, 2013.
MEREDIEU, F. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.
MOREIRA, A. A. A. O espaço do desenho: a educação do educador. São Paulo: Loyola, 2005.
(Coleção Espaço)
VIGOTSKI. L. S. Imaginação e criatividade na infância. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
Leitura de
imagens
Frequentemente ouvimos a afirmativa de que o mundo está cada vez mais visual.
Berger (2006) destaca que, em nenhuma outra sociedade, o apelo visual foi tão grande
como na atualidade, com grande carga de mensagens visuais que nos circundam por todos
os lados.
Se estamos cada vez mais nos tornando maiores consumidores e produtores de
imagens, é preciso começar a compreendê-las e saber o que elas querem nos dizer e o
que queremos dizer por meio delas. Para que essa comunicação seja efetiva, devemos nos
alfabetizar, a fim de poder entender a linguagem das imagens.
E como todo processo de alfabetização segue um passo a passo, vamos primeiro
entender o que é imagem para, depois, conhecer alguns modos de ver essas imagens.
A partir desse processo, iniciaremos a educação do nosso olhar diante das tantas
imagens que nos são expostas diariamente.
Além desses domínios, Santaella (2012) destaca que alguns autores ainda consideram
o domínio das imagens verbais e o das imagens óticas (espelhos, reflexos etc). Como estamos
discutindo a questão da imagem no campo da arte, nos limitaremos às representações visuais.
Figura 2 - Representação visual: fotografia
De acordo com Santaella (2012, p. 14), “as imagens são chamadas de ‘representações’
porque são criadas e produzidas pelos seres humanos nas sociedades em que vivem”. Berger
(2006), por sua vez, destaca que uma imagem é uma visão que foi recriada ou reproduzida
para evocar a aparência de algo ausente, visto por um indivíduo (que a recriou), ou seja, a
imagem carrega também em si a visão daquele que a produziu.
Esses elementos influenciam uns aos outros e também a nossa forma de enxergar
uma imagem. É a combinação deles que nos transmite sensações diversas, de acordo com
a maneira como são trabalhados na imagem.
Sobre as possibilidades de manipular ou enxergar os elementos visuais, Dondis (2003)
destaca duas técnicas opostas entre si: o contraste e a harmonia, considerando a primeira
como a mais dinâmica, mas enfatizando que todas as maneiras devem ser exploradas em
busca da melhor forma de transmitir a mensagem desejada (veja o Quadro 1, a seguir).
Quadro 1 – Técnica: contraste x harmonia
Contraste Harmonia
instabilidade equilíbrio
assimetria simetria
irregularidade regularidade
complexidade simplicidade
fragmentação unidade
profusão economia
exagero minimização
espontaneidade previsibilidade
atividade estase
(Continua)
Leitura de imagens 133
Contraste Harmonia
ousadia sutileza
ênfase neutralidade
transparência opacidade
variação estabilidade
distorção exatidão
profundidade planura
justaposição singularidade
acaso sequencialidade
agudeza difusão
episodicidade repetição
A partir da observação de uma imagem, dos elementos visuais básicos (ponto, linha,
cor etc.) nela representados e da forma como eles se dispõem (de acordo com as técnicas
descritas em contraste ou harmonia), dá-se início à alfabetização visual. Aos poucos,
será possível compreender os códigos dessa linguagem, descobrindo as influências que
a imagem exerce sobre nós, pois, como aponta Berger (2006), todos os elementos se
apresentam de uma vez para nós, e precisamos de tempo para perceber cada um.
passearem pela imagem. Portanto, faça o exercício de contemplar, por alguns minutos, a
obra apresentada na Figura 4, a seguir.
Figura 4 – Leitura da imagem1
1 Fonte da imagem: KLEE, P. Máquina de tuitar. Paul 1922. Guache, tinta e aquarela sobre papel: 63,8 x 48,1 cm. Museu
de Arte Moderna (MoMA), Nova Iorque.
Leitura de imagens 135
resgatar o que cada um possui de conhecimento a respeito, para saber se é uma produção
contemporânea, antiga, rupestre etc., situando-a em seu contexto.
Quando pensamos no período em que uma imagem foi produzida, podemos nos
lembrar dos principais fatos históricos ocorridos no país e no mundo, incluindo as principais
descobertas e o modo de viver de cada época. Mais especificamente, aproveitamos para
destacar o período artístico e os principais artistas desse momento.
Então, agora responda: em que período histórico a imagem anterior pode ter sido
produzida? Que movimento artístico representa? Se você não consegue perceber apenas
com a observação, passe para a próxima questão, pois ela pode ajudar a definir o período.
As técnicas e os materiais utilizados na imagem dizem muito sobre o período de sua
produção, pois os recursos foram surgindo e evoluindo com o passar dos anos. O lápis, por
exemplo, só começou a ser utilizado como técnica de desenho por volta do século XVII; a
fotografia, por sua vez, é uma criação do século XIX, e a história da gravura está ligada ao
surgimento da imprensa. Dessa forma, identificar técnicas e materiais situa a produção da
imagem em um período histórico específico.
Claro que, muitas vezes, só observando não conseguimos definir exatamente o
que foi utilizado para produzir uma obra, mas, se for possível, a legenda fornece muitas
informações. Ainda assim, antes de recorrer à legenda, o melhor seria conversar apenas
com a imagem, sem interferências.
É só depois desse momento inicial de conhecimento que devemos buscar outras
informações. Você consegue, apenas observando, definir a técnica utilizada na produção
da imagem anterior?
A partir dos conteúdos já estudados a respeito dos elementos visuais de uma
composição, podemos tentar identificar cada um deles na imagem e as relações que
estabelecem entre si.
Depois de respondidas as questões anteriores, podemos acrescentar alguns pontos
principais sobre a imagem apresentada. A contemplação dessa obra pode causar certo
desconforto para uns e sonoridade para outros, remetendo ao canto do pássaro cuco (já
sabendo que o autor é suíço, região típica desse pássaro). Isso porque a imagem representa
uma engrenagem, como as de um relógio, um relógio-cuco. Essas figuras também podem
ser comparadas a marionetes de uma máquina, dando um caráter criativo e divertido para
a cena (KLEE, 2011).
O objetivo da apreciação e do passeio do olhar é justamente evocar percepções
particulares a partir das experiências pessoais. Nesse ponto, concentra-se todo o objetivo
de quem produz uma imagem: causar sensações no espectador. Faz parte do alfabetismo
visual estar aberto a essa experiência.
136 Artes Visuais: desenho
Na aula de Arte
Considerações finais
Em determinado momento de seu livro, Dondis questiona: “Quantos de nós veem?”
(DONDIS, 2003, p. 5). Estendendo essa questão para uma reflexão mais pessoal: será que
estamos realmente vendo as imagens ao nosso redor? Com base no conteúdo apresentado
neste capítulo, conscientes da necessidade de criar um hábito de leitura de imagens para
realmente aprender a ver e a ler, devemos ter sempre em mente todos os aspectos que
envolvem a produção de uma imagem. Dessa forma, estaremos nos comunicando com as
imagens, percebendo muito do que ela tem para nos dizer.
Essa coleção reúne diversos livros, apropriados para o uso escolar, sobre a história
e a produção de artistas que desenvolveram grande parte de seus trabalhos
no Brasil, como Tarsila do Amaral, Volpi, Di Cavalcanti, entre outros. No link
indicado, é possível acessar um material pedagógico para professores, em formato
PDF, com propostas de leitura de imagens.
Atividades
1. Explique o que podemos chamar de imagem.
Referências
BERGER, J. Modos de ver. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006.
DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
KLEE, Twittering Machine. Publicado por Smarthistory, 8 out. 2011. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=M7yd8F3eay4. Acesso em: 26 jul. 2019.
SANTAELLA, L. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.
SARDELICH, M. E. Leitura de imagens, cultura visual e prática educativa. Cadernos de Pesquisa,
v. 36, n. 128, p. 451-472, maio/ago. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v36n128/
v36n128a09.pdf. Acesso em: 26 jul. 2019.
Gabarito
2.
a) Abstrata, pois não apresenta figuras e objetos reconhecíveis da nossa realidade.
b) Figurativa, pois representa uma imagem com elementos reconhecíveis na
realidade, como figuras humanas e casas.
3. Para a modalidade de desenho de modelo vivo é que se faz importante o desenho da
figura humana a partir da observação e do estudo de uma pessoa, considerando as
áreas de tensão da musculatura de acordo com a pose a ser retratada.
2. Fundamentos do desenho
1. O desenho bidimensional apresenta apenas comprimento e largura, sem
profundidade, e é constituído por pontos, linhas e/ou planos sobre uma superfície.
O desenho tridimensional, por sua vez, considera três principais dimensões:
comprimento, largura e profundidade. Utiliza-se do volume e da perspectiva para a
sua representação.
3. As texturas podem ser obtidas por meio de hachuras, ou seja, marcas gráficas
produzidas em qualquer técnica de desenho, formando-se basicamente do traçado
repetido de linhas horizontais, verticais, diagonais, mistas ou curvas. O espaçamento
entre as linhas produz efeitos de luz e sombra.
Placa de argila: material usado pelos babilônios para a escrita cuneiforme. As marcas
na argila eram feitas com objetos em formato de cunha.
Tábula: placa de madeira coberta com uma camada de cera na qual se podia
“escrever” com uma ferramenta pontiaguda de um lado e com formato de espátula
do outro, o que permitia corrigir os erros na cera.
Placas de metal: utilizadas para gravar, além de ossos de baleia, peles de animais,
conchas e cascos de tartaruga.
Papiro: espécie de papel produzido com o talo da planta de mesmo nome, fatiado
em lâminas, que, em seguida, eram organizadas e sobrepostas.
2. As fibras vegetais devem ser batidas com água para saturarem e se separarem
completamente. Em seguida, a polpa que resulta dessa mistura é filtrada em uma
tela para formar uma folha de fibra emaranhada. Depois, deve ser prensada para
espremer uma grande proporção de água. Por fim, o papel pode ser pendurado em
varal para secar, para que o restante da água evapore.
3.
2. Os grafites são graduados em uma sequência que combina números e letras: mais
duros (H) ou mais macios (B). Grafites mais macios, como o 8B, produzirão linhas
mais expressivas e mais escuras, enquanto grafites como o 6H farão linhas mais finas
e muito claras.
6. Técnicas policromáticas
1. A partir do século XV, os artistas começaram a explorar os desenhos produzidos em
carvão ou sanguínea sobre papéis coloridos, destacando os realces das figuras com
giz branco.
3. Valorizar o potencial do aluno para desenhar, aumentar sua autoestima, sugerir novas
técnicas de desenho, suportes diferentes, apresentar obras de arte para aumentar seu
repertório de imagens, entre outras.
144 Artes Visuais: desenho
8. Leitura de imagens
1. A palavra imagem possui significado amplo em variadas áreas do conhecimento. Em
artes visuais, podemos considerar imagem como um campo de observação e seus
limites, como as representações visuais bidimensionais (desenho, pintura, gravura,
fotografia etc.) e as representações cinematográficas, televisivas e computacionais,
por exemplo.
Artes Visuais
Ao longo desta obra, são destacadas a prática imprescindível da leitura de
imagens e alfabetização visual, assim como a importância do desenho durante o
desenvolvimento da criança. Cada um dos capítulos conta ainda com a seção Na aula
de Arte, destinada ao professor e à prática escolar, com propostas de trabalho sobre
os conteúdos apresentados.
e n h o
Desenhar não é apenas traçar linhas no papel, mas comunicar-se, observar,
De s
movimentar-se e expressar-se. Você está convidado(a) a explorar as possibilidades
que o desenho tem a oferecer como forma de expressão e autoconhecimento,
diversão e comunicação.