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Diversidade e Direitos Humanos: um estudo sobre a forma com que o Brasil

recebe e auxilia os imigrantes.

Lucas Ravazzano1
Ana Beatriz Ribeiro Sanches2
Matheus Andrade de Souza dos Santos3
Júlio Vinicius Luz Santos4
Raine de Araújo Queiroz5
Evelyn Santana Silva6
Mayra Campos Mota Mendes Argolo7
Bélit Loiane Alves de Jesus8
Eric Cerqueira de Amorim9
Davi de Souza Antunes10

1 Graduação em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas pela Universidade Católica do


Salvador (2009), é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura
Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia e Doutor pelo POSCOM/UFBA. Atualmente é
professor dos cursos de Comunicação (Cinema, Jornalismo e Publicidade e Propaganda) da
UniFTC/Salvador

2 Líder / Apresentador(a), Discente de publicidade e propaganda pela rede UniFTC E-mail:


anabeatriz.sanchess@gmail.com

3 Có-Líder / Pesquisador, discente de Publicidade e Propaganda pela Rede UniFtc. Email:


Matheus.andrade.serv@gmail.com

4Pesquisador, discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


julio.santos3@ftc.edu.br

5Pesquisadora, discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


raine140999@gmail.com

6Pesquisadora, discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


evellyn680@gmail.com

7Pesquisadora,discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


mayramotta15@gmail.com

8 Pesquisadora, discente de Jornalismo pela rede UniFTC. E-mail: belit.jesus@ftc.edu.br

9Pesquisador, discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


ericmorym@gmail.com

10 Pesquisador, discente de Publicidade e Propaganda pela rede UniFTC. E-mail:


daviantunes88@icloud.com
2

Resumo
O objetivo deste trabalho é sintetizar e avaliar as políticas públicas de auxílio à
imigrantes, visando melhorias no atendimento desses novos cidadãos. Nosso
objetivo central é identificar as falhas no sistema público expondo de que forma os
imigrantes são tratados e como poderíamos melhorar esse atendimento para que
assim, consigamos integrar essas minorias de forma efetiva.

Palavras-chave: Diversidade. Direitos humanos. Imigração. Imigrantes.

Abstract
The objective of this work is to summarize and evaluate public policies to help
immigrants, aiming at improving the care of these new citizens. Our central objective
is to identify flaws in the public system, exposing how immigrants are treated and
how to improve this service so that we can effectively integrate these minorities.

Keywords: Diversity. Human rights. Immigration. Immigrants.


3

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................................4
2.ONU E A ACNUR................................................................................................................. 5
3. REFUGIADOS NO BRASIL................................................................................................. 6
4. REALIDADE E DESAFIOS DOS REFUGIADOS NO BRASIL.............................................7
5. AUXÍLIO GOVERNAMENTAL PARA OS REFUGIADOS....................................................
8
6. POLÍTICAS DE INSTITUIÇÕES PRIVADAS PARA
REFUGIADOS..........................9
6.1 XENOFOBIA E RACISMO .............................................................................................. 13
6.2 OUTRAS ONGS ............................................................................................................. 15
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 19
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 20
9. APÊNDICE A – Entrevistas....................................................................................21
4

1. Introdução

Os movimentos imigratórios no Brasil vêm acontecendo desde o século XVI.


Com a chegada dos portugueses, sendo eles os primeiros imigrantes a atingirem
solo brasileiro, diversas pessoas oriundas da África foram trazidos à força para
serem comercializadas no país. Com o passar do tempo e através de muitas lutas,
decretos como a Abertura dos Portos às Nações Amigas e leis como a Lei Eusébio
de Queiroz, ajudaram para que chegasse ao fim a comercialização de escravos e
ocorresse o movimento chamado “Boom Migratório”, em que diversas pessoas ao
redor do mundo imigraram para o Brasil. Ao longo do século XX, com o processo de
desenvolvimento dos meios de comunicação e informação, tornou-se perceptível o
fluxo de diversos grupos deixando seu país de origem em decorrência de
perseguições políticas, étnicas, religiosas e violação dos direitos humanos. Segundo
as decisões de mérito realizadas pelo Comitê Nacional para os Refugiados,
atualmente no Brasil, cerca de 75.727 mil pessoas solicitaram o reconhecimento
como refugiadas, sendo em sua maioria venezuelanos (53.485), seguidos por
pessoas da República Árabe da Síria (3.898) e do Senegal (3.258). Também é
possível observar na Decisões de mérito que a maioria dos refugiados são homens
(46.615), ficando na frente das mulheres (46.615) e das pessoas sem gênero
(2.037). A faixa etária dessas pessoas que pediram o reconhecimento são de 18 a
29 anos (29.053), seguidamente das de 30 – 45 anos (28.702). Porém, apesar de
75.727 mil pessoas solicitarem o reconhecimento, apenas 86,9% conseguiram ser
concedidas, tornando o Brasil com 65.811 mil pessoas reconhecidas como
refugiadas.
5

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) 11, a crise dos refugiados é
a crise humanitária mais intensa do século. Dados apontam que no Brasil, o número
de refugiados reconhecidos anualmente cresceu de 86, em 2011, para 26,5 mil em
2020, sendo a maioria Venezuelanos, Haitianos e Angolanos. Ao chegar no Brasil,
com o sentimento de esperança e alívio por ter teoricamente se livrado de
problemas como perseguições, guerras e violação de seus direitos, os imigrantes
acabam sendo expostos a outras barreiras como o racismo, a xenofobia e muitas
dificuldades de inclusão encontradas no país.

2. ONU E A ACNUR

A ONU elaborou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS)


norteados em temáticas ambientais, políticas e econômicas ao redor do planeta,
dentro os quais cabe destacar a Erradicação da pobreza (01); Educação de
qualidade (04); fome zero (02) e Redução das Desigualdades (10).

Se tratando de refugiados, pessoas que fogem do seu país natal para outra
nação mediante a conflitos políticos, guerras ou perseguições que colocam suas
vidas em risco, a ONU atua através da ACNUR, Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados em busca de assegurar e proteger refugiados ao redor do
Mundo. No Brasil a ACNUR tem sua sede localizada em Brasília, possuindo outras
unidades em São Paulo, Manaus e Boa Vista.

Mas será que a longo prazo essas pessoas são auxiliadas e asseguradas
efetivamente? O choque cultural, a falta de oportunidades e dificuldades em se
adaptar a uma nova língua são alguns dos desafios encontrados pelos refugiados
residentes no Brasil.

A ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), define refugiados da seguinte


maneira:

11 Fundada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), é
uma organização Internacional cujo objetivo é promover a paz global entre as nações, além da
cooperação mundial sendo constituída por 193 países-membros. Possui sede nos Estados Unidos em
Nova Iorque e é composta por seis órgãos: Assembleia Geral; Conselho de Segurança; Conselho
Econômico e Social; Conselho de Tutela; Corte Internacional de Justiça e Secretariado.
6

São pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados
temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião,
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião
política, como também devido a grave e generalizada violação de direitos
humanos e conflitos armados.

Ainda, pela própria ACNUR, surgem termos para diferenciação entre


refugiados, migrantes e deslocados internos, que são pessoas que se tornam
refugiados dentro do país em qual vivem, mas não atravessam uma fronteira
internacional em busca de refúgio. Os deslocados internos se mudam em vista de
motivos e problemas semelhantes aos de um refugiado internacional, como
instabilidade econômica, entre outros fatores que forçam a situações em que essas
pessoas são colocadas
Além dos refugiados e deslocados internos, há os apátridas, pessoas que
nenhum país reconhecem a sua nacionalidade, sendo um povo que fica vulnerável e
invisível devido ao motivo da falta de nacionalidade, e assim, acabam impedidas de
utilizarem serviços comuns em muitos países, como acesso à saúde, educação,
abertura de conta bancária e realizar a compra de algum bem móvel ou imóvel.

3. REFUGIADOS NO BRASIL

Segundo as decisões de mérito realizadas pelo Comitê Nacional para os


Refugiados, atualmente no Brasil, cerca de 75.727 mil pessoas solicitaram o
reconhecimento como refugiadas, sendo em sua maioria venezuelanos (53.485),
seguidos por pessoas da República Árabe da Síria (3.898) e do Senegal (3.258).

Também é possível observar na Decisões de mérito que a maioria dos


refugiados são homens (46.615), ficando na frente das mulheres (46.615) e das
pessoas sem gênero (2.037). A faixa etária dessas pessoas que pediram o
reconhecimento são de 18 – 29 anos (29.053), seguidamente das de 30 – 45 anos
(28.702). Porém, apesar de 75.727 mil pessoas terem solicitado o reconhecimento,
7

apenas 86,9% conseguiram ser concedidas, tornando o Brasil com 65.811 mil
pessoas reconhecidas como refugiadas.

4. REALIDADE E DESAFIOS DOS REFUGIADOS NO BRASIL

A falta de conhecimento do idioma, as dificuldades no reconhecimento de


habilidades e experiências nos trabalhos anteriores ou diplomas acadêmicos
dificultam a inclusão laboral das pessoas refugiadas no Brasil. Contudo, muitos
refugiados acabam dependendo de programas de benefícios do governo federal,
outros entram para o trabalho informal e em casos extremos podem se tornar
pedintes de esmola na rua ou se prostituir para custear as necessidades básicas.
Na base da discussão sobre os principais desafios que as pessoas refugiadas
enfrentam ao chegar em um novo país, a Agência da ONU para Refugiados
(ACNUR) ouviu mais de 600 pessoas que participaram dos debates, que
aconteceram em outubro e novembro de 2020. Segundo dados da ACNUR no
relatório “Vozes das Pessoas Refugiadas no Brasil”, as cinco principais
necessidades prioritárias identificadas pelas pessoas refugiadas foram:

● Geração de renda e autossuficiência (55%)


● Situações que incorrem violência ou riscos na comunidade (42%)
● Acesso à moradia, água, saneamento e higiene (38%)
● Saúde (38%)
● Educação (35%)

Os imigrantes além de serem vítimas de conflitos em sua terra natal, também


enfrentam diversas adversidades quando desembarcam no Brasil. A grande maioria
vai viver em bairros periféricos e mesmo conseguindo fugir dos perigos e
dificuldades de seu país, esses imigrantes acabam tendo que enfrentar uma nova
rotina; muitas vezes marcada por episódios de violência, racismo, xenofobia, mão de
obra barata, trabalho escravo e entre outras circunstâncias. Com isso, a decepção
com o país no qual vieram buscar uma vida melhor acaba vindo à tona. A BBC
8

NEWS Brasil afirma que a crescente demanda por mão de obra no país, resultante
da expansão econômica da última década, tem exposto diversos imigrantes de
várias nacionalidades a condições de trabalho análogas às da escravidão. Eles
acabam se submetendo a jornadas cada vez mais exaustivas de trabalho,
alojamentos e condições de segurança insalubres à própria saúde. No Brasil, por
exemplo, reduzir alguém à condição análoga à de escravo é crime previsto na Lei do
art. 149 do Código Penal:

Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a


trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente
à violência. (ART. 149 Código Penal brasileiro)

A ponta do iceberg se apresenta de acordo com o Programa de Combate ao


Trabalho Forçado e Tráfico de Pessoas da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), quando o número de estrangeiros resgatados não expressa a realidade,
porque muitos desses trabalhadores têm medo de serem encontrados, o que resulta
em poucas denúncias. Dessa forma, esses trabalhadores são atraídos por falsas
promessas de emprego ou acabam entrando ilegalmente no país e se tornando mão
de obra barata, sendo que boa parte deles têm medo de denunciar a exploração a
que são submetidos e serem deportados.

Diversos fatores dificultam a adaptação dos imigrantes estrangeiros no país,


como por exemplo as diferenças culturais e os desafios com o idioma. Além das
barreiras físicas, a língua pode ser outro entrave para a interação entre os povos.

5. AUXÍLIO GOVERNAMENTAL PARA OS REFUGIADOS

O Brasil possui uma lei específica para refugiados, a Lei 9.474 de 1997, que
estabelece a determinação da condição de refúgio, bem como os direitos e deveres,
9

além de cláusulas de cessação da condição de refugiado ou perda da referida


condição. A Lei Brasileira considera como refugiado “todo indivíduo que sai do seu
país de origem devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça,
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas imputadas, ou devido a
uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos no seu país de
origem”.

Quem migra para o Brasil tem seus direitos garantidos pela Lei nº 13.445, de
24 de maio de 2017, que disciplinou a migração no país e estabeleceu princípios e
diretrizes para as políticas públicas para o imigrante. Essa nova Lei de Migração
substituiu a Lei nº 818/49 e se caracteriza por definir os direitos e os deveres do
migrante e do visitante, bem como regular a sua entrada e estada aqui e estabelecer
princípios e diretrizes para as políticas públicas também ao emigrante.

O Brasil sempre teve um papel pioneiro e de liderança na proteção


internacional dos refugiados. Foi o primeiro país do Cone Sul a ratificar a Convenção
relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, no ano de 1960. Sendo um dos
primeiros países integrantes do Comitê Executivo da Agência da ONU para
Refugiados (ACNUR), responsável pela aprovação dos programas e orçamentos
anuais da agência.

Presente em 135 países, a ACNUR promove a integração de pessoas


refugiadas, deslocadas internas e apátridas às comunidades que as acolhem, para
que possam reconstruir suas vidas de forma autônoma. Além de garantir abrigo e
serviços básicos para recém-chegados ao país, essas ações podem ser realizadas
através das doações que recebe.

A maior parte do valor arrecadado pelo ACNUR Brasil é proveniente do


Fundo Geral do ACNUR (42%), um fundo criado com doações irrestritas para ser
distribuído entre os diferentes programas do ACNUR no mundo conforme
necessidade, seguido por doações de governos (41%). As doações do âmbito
privado (9%) vieram principalmente de parceiros corporativos, fundações, grandes
doadores e pessoas físicas. O restante dos recursos veio de organizações
intergovernamentais e das Nações Unidas.
10

6. POLÍTICAS DE INSTITUIÇÕES PRIVADAS PARA AUXÍLIO DE


REFUGIADOS

Apesar dos auxílios fornecidos pelo governo brasileiro e proteção jurídica, a


máxima prevalece: sonho que se sonha só é só sonho. Sozinho, apenas com o
aparato público, o acolhimento e mudança de vida dos refugiados não seria
possível. Como parceria, as Organizações Não Governamentais (ONGS), que são
instituições privadas e sem fins lucrativos, desenvolvem um papel de importância
imensurável nessa história. Esses institutos foram responsáveis pelo pioneirismo de
direitos humanos responsáveis por informar e apoiar os refugiados.

Segundo Gilberto M. A. Rodrigues, na obra ‘’O Grande Desafio Humanitário’’,


foi através da intervenção da ONG Cáritas Brasileira, sob a coordenação das
Arquidioceses do Rio de Janeiro e de São Paulo, que os primeiros refugiados não
europeus chegaram ao Brasil entre os anos de 1975 e 1980.

A Cáritas Brasileira, fundada em 12 de novembro de 1956, é uma das 170


organizações-membro da Cáritas Internacional. Sua origem está na ação
mobilizadora de Dom Helder Camara, então Secretário-Geral da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
As orientações do Concílio Vaticano II marcaram a ação da Cáritas que,
desde então, vive sob os valores da pastoral transformadora. A Cáritas é um
organismo da CNBB e possui uma rede com 187 entidades-membro, 12
regionais e 5 articulações.

Os primeiros abrigados no país, que não eram europeus, foram vietnamitas e


cubanos, que fugiram da guerra contra os Estados Unidos e suas consequências, e
da revolução do sistema econômico, respectivamente. (JUBILUT, 2007)

Precisamente a partir da década de 90, as ONGS surgiram em quantidade e


se estabeleceram efetivamente como parte da sociedade brasileira. As atividades
das instituições se consolidaram após a Constituição Federal de 1988, quando as
organizações passaram a ter um papel presente na vida da população, sobretudo
11

construindo confiança com os cidadãos nos destinos das doações financeiras e de


recursos.

Assim, as ONGs transformaram-se nas últimas duas décadas em sérios


empreendimentos da sociedade civil, atuando muitas vezes em parceria com o
poder público, às vezes de forma pioneira em áreas que são ignoradas pelas
instituições estatais.

As instituições privadas oferecem a essa população serviços essenciais como


assistência jurídica, psicológica, aulas educacionais de inserção à língua
portuguesa, suporte na busca de vagas de emprego, regularização da
documentação, recolhimento e distribuição de roupas, alimentos, brinquedos,
materiais de higiene.

Em agosto de 2018, a Cáritas, responsável pelo acolhimento dos primeiros


migrantes do Brasil, se uniu à Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e
fundou a “Casa de Direitos”. A ong faz parte da Cáritas Nordeste 2, que tem sedes
em Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Em entrevista à discente Bélit Loiane, Daniela Florêncio da Silva, Educadora


Social do Programa de Migração e Refúgio da CBNE2 (Cáritas Brasileira Regional
NE2). Doutoranda em Geografia na UFPE e Pesquisadora Associada do Instituto de
Estudos da África da UFPE, relatou os desafios de manter a ONG.

Segundo Daniela, a dificuldade de trabalhar no Brasil, sobretudo no nordeste,


é a falta de estrutura. Os requisitos necessários de acolhimento no estado ainda
estão sendo desenvolvidos, com desafios diários.

‘Somente no ano passado foram construídas as leis em Recife, então as


políticas públicas ainda estão em construção e as organizações civis
participam desse processo. Temos um comitê estadual que está em
processo de fortalecimento e estamos ganhando força, estrutura e
experiência’. (Informação verbal)
12

A Casa Nordeste surgiu em 2018 durante a chegada massiva de refugiados e


migrantes venezuelanos. Somente em novembro, 3 milhões de moradores da
Venezuela saíram do país, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Dessa forma, a maioria dos acolhidos pela ONG são do país, que segundo o
ACNUR , abandonaram a pátria para escapar da violência, insegurança, econômica,
política e sanitária.

De acordo com Daniela, os setores de saúde e educação em Pernambuco


ainda não tinham experiência quando o Brasil começou a abrigar os venezuelanos, e
o desconhecimento sobre a migração e a questão do refúgio ainda é bem amplo.
(Informação verbal)

Para contribuir na cobrança e agilidade dos processos, sobretudo legislativos,


a Casa de Direitos participa de um comitê estadual que está em processo de
construção. A iniciativa tem atividades de ciências políticas, como regularização
migratória, encaminhamentos sobre a legislação do país, forma de funcionamento,
serviços que ajudam os imigrantes e refugiados em questões que partem do seu
total desconhecimento.

Quando os pedidos são negados ou embargados, Daniela relata que as


pessoas são orientadas e tentam regulamentação com o órgão competente. A
educadora ressalta novamente que muitos órgãos, sobretudo municipais, ainda
acham que os migrantes não têm direitos e que isso é uma incidência que eles lidam
no dia a dia. (Informação verbal)

‘Às vezes os refugiados ou imigrantes estão sem documentos ou vencidos e


não podem exercer seus direitos por receio. Essa parte para mim é a mais
importante. Semana passada tivemos um imigrante peruano que disse que
finalmente existia, porque antes ele estava invisível’. (Informação verbal)

Também durante a entrevista, David Ramos, migrante venezuelano e


educador social que atua no setor de refugiados da Casa de Direitos, destacou que
13

a ONG tem espaço de referência de atendimento de migrantes, jurídicos, sistema de


assistência social, acompanhamento de processo escolar no ensino fundamental,
médio e universitário, contribuindo para a educação dos imigrantes e refugiados.
(Informação verbal)

Outra medida educativa destacada por David é a validação de diplomas. A


ação consiste em fazer com que as pessoas formadas, em qualquer estágio
educacional, em seus países de nascimento, não precisem perder esse certificado e
possam seguir de onde pararam. O educador social destacou que têm obtido pouco
sucesso, mas definiu os números como interessantes, onde de pelo menos 50
processos, 10 conseguiram revalidar. (Informação verbal)

Na Casa de Direitos há ainda cursos de formação para migrantes de


português, e profissionalizantes como gastronomia, beleza, moda, costura e serviços
gerais. Os cursos se tornaram em modalidade EAD, devido a chegada da pandemia
de Covid-19.

6.1 Xenofobia e racismo

Conhecido como o país que recebe, mas não acolhe, o Brasil permanece com
os mesmos problemas enraizados. A educadora social Daniela ressaltou como um
dos desafios da vida dos refugiados e imigrantes no Brasil: a xenofobia e o racismo.

Ao tentarem construir uma vida no território brasileiro, Daniela conta que um


dos maiores problemas é a falta de oportunidades de emprego, ainda que
capacitados para a vaga.

A educadora relata que a chegada dos venezuelanos evidenciou isso em


muitas partes do país. Em 2019 ao ficar em uma pousada em Roraima, ela se
recorda de ter ouvido diversos comentários preconceituosos sobre a presença dos
imigrantes e refugiados, problema esse que se expande pelo território onde a Casa
de Direitos atua.
14

Depois de quatro anos de chegada massiva de venezuelanos, aqui em


Pernambuco eu sinto, já presenciei várias vezes, não agressão verbal, mas
aquelas pequenas sutilezas. A gente como brasileiro percebe a sutileza das
falas. (Informação verbal)

Assim como o racismo, que tem pena de dois a cinco anos de reclusão, a
xenofobia também é crime. De acordo com a Lei 9459, de 13 de maio de 1997 ,
serão punidos os crimes “resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional”.

Apesar da legislação, o preconceito segue sendo uma realidade para essa e


toda a população brasileira. Entre os atendimentos à vítimas, Daniela ressalta o de
um refugiado da Guiné-Bissau, o qual disse em depoimento que o racismo é o maior
problema vivenciado desde que chegou no país.

Nas falas dos migrantes africanos isso é quase sempre presente. Semana
passada tivemos uma reunião de atendimento da Polícia Federal e um
refugiado relatou racismo como sua maior dificuldade. Da mesma forma
acontece com os brasileiros. É histórico no Brasil. (Informação verbal)

É o racismo que informa a hierarquização dos visitantes e moradores


estrangeiros, e sobretudo a produção de xenofobia seletiva (FAUSTINO E
OLIVEIRA, 2021) direcionada aos indivíduos vindos para o Brasil. Denominado por
estudiosos como xeno-racismo ou a xenofobia racializada (FAUSTINO E OLIVEIRA,
2021), o preconceito revela que há uma hierarquização e distinção entre os
acolhidos no país, o que é visto principalmente no tratamento dispensado aos
diferentes grupos de imigrantes - as ''sutilezas'' citadas pela educadora Daniela - nas
ofensas preferenciais dirigidas à tipos específicos de estrangeiros, nas condições de
vida e de subemprego enfrentadas.

Em 2022, a Comissão de Direitos Humanos através da Comissão Mista


Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados, reuniu representantes do
Ministério Público do Trabalho, senadores e estudantes refugiados da República
Federativa do Congo, para discutir a ausência de políticas públicas voltadas ao
15

acolhimento dos migrantes e refugiados no país, atrelada à intolerância da


sociedade brasileira.

O debate foi realizado após o assassinato do congolês Moïse Kabagambe,


espancado até a morte após cobrar o salário de dois serviços atrasados no Rio de
Janeiro, naquele mesmo ano. O ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos do
Brasil, disse que o crime reflete como a sociedade brasileira está “cada vez mais
intolerante e preconceituosa”, sendo consequência da ausência de uma política
pública de acolhimento (SENADO NOTÍCIAS, 2022).

Ainda no encontro, o Procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT),


Lucas Santos Fernandes ressaltou que as pessoas decidem migrar em busca de
oportunidades, e que essa expectativa de mudança de vida, na maioria das vezes,
vem por meio da promessa de trabalho. Mas ao chegarem no país, são submetidos
a condições desumanas de trabalho. Segundo a Lei de Acesso à Informação, de
2006 a 2020, 860 imigrantes foram resgatados de trabalho análogo ao de escravo
no Brasil. Para ele, o caso de Moïse e de tantos outros refugiados, é caso de
racismo, e acidente de trabalho, por levar em consideração o contexto que engloba
o fluxo migratório no Brasil. (SENADO NOTÍCIAS, 2022)

Consciente do problema enfrentado, a plataforma da ACNUR orienta às


vítimas de racismo e xenofobia no Brasil, a denunciarem os crimes através da linha
direta dos direitos humanos, delegacias de polícia ou site do ministério público
federal.

6.2 Outras ONGS

O ACNUR, é uma agência que protege e oferece assistência às pessoas


refugiadas, deslocadas e apátridas em todo o mundo, uma das maiores
responsáveis pelo auxílio a essas pessoas. O ACNUR classifica como organizações
oficialmente parceiras ONGS em dez municípios:
16

Belo Horizonte

● Serviço Jesuíta a Migrante e Refugiados (SJMR)

Boa Vista

● Centro de Migrações e Direitos Humanos

● Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados – SJMR

Brasília

● Instituto Migrações e Direitos Humanos – IMDH

● Serviço Jesuíta a Migrante e Refugiado – Escritório Nacional

Curitiba

● Cáritas Brasileira Regional do Paraná

Florianópolis

● Círculos de Hospitalidade

Manaus

● CARE (Centro de Apoio e Referência a Refugiados e Migrantes)

● Cáritas Arquidiocesana de Manaus

● Serviços Pastoral dos Migrantes


17

● SJMR (Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados)

● Hermanitos

Pacaraima

● Centro Pastoral do Migrante – CEPAMI

Porto Alegre

● Associação Antônio Vieira – ASAV

Rio de Janeiro

● Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro

São Paulo

● Adus | Instituto de Reintegração do Refugiado

● África do Coração

● Aldeias Infantis SOS Brasil

● Associação Compassiva

● Cáritas Arquidiocesana de São Paulo

● Estou Refugiado

● IKMR

● Migraflix
18

● Missão Paz

● PARR – Programa de Apoio para Recolocação de Refugiados

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os refugiados que vivem no Brasil enfrentam uma série de desafios para


conseguir se integrar e melhorar sua qualidade de vida. De acordo com o Comitê
Nacional para os Refugiados (CONARE), o Brasil abriga cerca de 60 mil refugiados
de mais de 80 nacionalidades diferentes, sendo a maioria vindo de países como
Venezuela, Síria, Congo, Angola e Haiti.

Uma das principais questões enfrentadas pelos refugiados é a falta de


oportunidades de trabalho. Para enfrentar esse desafio, é necessário que as
empresas brasileiras abram suas portas para essas pessoas e ofereçam
19

oportunidades de emprego, reconhecendo as habilidades e competências que eles


podem trazer para o mercado de trabalho.

Outro desafio importante é o acesso à educação. Embora os refugiados


tenham direito à educação no Brasil, muitas vezes eles enfrentam barreiras
linguísticas e culturais para acessar esse direito. Para melhorar a qualidade de vida
dos refugiados no Brasil, é necessário que o governo e as instituições educacionais
ofereçam cursos de português como segunda língua, além de programas de
orientação e acompanhamento para ajudá-los a se adaptar ao sistema educacional
brasileiro.

A moradia também é uma questão crítica para muitos refugiados. Muitos


deles vivem em condições precárias e superlotadas, o que pode ter um impacto
negativo na sua saúde e bem-estar. Para melhorar as condições de moradia dos
refugiados, é necessário que o governo e as organizações não governamentais
(ONGs) ofereçam programas de habitação acessíveis e de qualidade, além de
serviços de suporte para ajudá-los a se estabelecerem em novas casas.

Por fim, é necessário que a sociedade brasileira como um todo se engaje no


apoio aos refugiados. Isso pode incluir a criação de campanhas de conscientização
e de doação de recursos, além de programas de voluntariado que permitam que as
pessoas contribuam diretamente para o bem-estar dos refugiados. O engajamento
da sociedade civil é fundamental para garantir que os refugiados sejam tratados com
dignidade e respeito, e que possam ter uma vida melhor e mais plena no Brasil.

Em resumo, para melhorar a vida dos refugiados residentes no Brasil, é


necessário que haja uma combinação de ações governamentais e da sociedade
civil. É fundamental oferecer oportunidades de emprego, acesso à educação e
habitação adequada, bem como promover a conscientização e o engajamento da
população em geral. Ao fazer isso, o Brasil pode desempenhar um papel positivo na
ajuda aos refugiados e na promoção da justiça e da inclusão social.
20

8. REFERÊNCIAS

ACNUR BRASIL. ACNUR no Brasil. Disponível em:


https://www.acnur.org/portugues/acnur-no-brasil/. Acesso em: 12 mar. 2023.

ACNUR. ACNUR-Relatorio-Vozes-das-Pessoas-Refugiadas-reduzido.pdf.
Disponível em:
https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2021/06/ACNUR-Relatorio-Voz
es-das-Pessoas-Refugiadas-reduzido.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023

ACNUR BRASIL. Apátridas. Disponível em:


https://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/apatridas/. Acesso em: 17 mar.
2023.

ACNUR BRASIL. Dados sobre refúgio no Brasil. Disponível em:


https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/dados-sobre-refugio-no-brasil/.
Acesso em: 11 mar. 2023.

ACNUR BRASIL. Legislação. Disponível em:


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Intolerância e falta de políticas estimulam violência contra imigrantes,


aponta debate. Senado Notícias, 8 de fevereiro de 2022. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/02/08/intolerancia-e-falta-de-
politicas-estimulam-violencia-contra-imigrantes-aponta-debate Acesso em: 1 de abril
de 2022

RABELO, Isabel. Em 14 anos, mais de 800 imigrantes foram resgatados de


situações de trabalho escravo no Brasil. MigraMundo, 23 de julho de 2021.
Disponível em: https://migramundo.com/em-14-anos-mais-de-800-imigrantes-foram-
resgatados-de-situacoes-de-trabalho-escravo-no-brasil/ Acesso em: 6 de abril de
2023
24

9. Apêndice A - Entrevistas

1. Qual a parte mais importante desse trabalho para vocês?

R Daniela:

O mais importante é que trabalhamos em rede com instituições públicas,


sempre em parceria, porque a migração é bem complexa, principalmente a migração
forçada. No caso das pessoas em refúgio é ainda mais delicado.

2. Quais são as maiores dificuldades encontradas?

R Daniela:

A dificuldade de trabalhar no Brasil, principalmente no nordeste, é que não


tem tanta estrutura. Diferente de outras cidades no sudoeste, como São Paulo por
exemplo, que tem todo um aparato legislativo bem diferente daqui.O que vemos é
que com a chegada da migração Venezuelana em 2018, a estrutura começou a ser
construída, mas ainda é cheia de desafios diários.
25

A estrutura de acolhimento no estado ainda está na parte de construção.


Somente no ano passado, que foram construídas as leis em Recife, estão ainda em
construção de políticas públicas e as organizações civis participam desse processo.

Temos um comitê estadual que está em processo de fortalecimento e


estamos nesse processo, ganhando força, estrutura e experiência. Os setores de
saúde e educação ainda não tinham experiência, o desconhecimento com migratório
e a questão do refúgio ainda é bem amplo.

3. Quais são os serviços prestados pela Casa que vocês consideram


mais importantes?

R David Ramos:

Temos um espaço de referência de atendimento de migrantes e temos uma


parceria com a Universidade Católica. Realizamos atendimentos jurídicos com
sistema de assistência social, acompanhamento de processo escolar no
fundamental, ensino médio, universitário. Temos a validação de diplomas, com
pouco sucesso, mas com alguns números interessantes, pelo menos 50 processos e
10 conseguiram revalidar, para mim essa parte é de extrema importância.

Também ofertamos disponibilização de cursos de formações para migrantes,


de português para estrangeiros e profissionalizantes: gastronomia, beleza, moda e
costura e serviços gerais. Temos cursos em plataforma EAD, atividades de ciências
políticas, comitê de migrantes, regularização migratória e encaminhamentos.

R Daniela:

Esses serviços auxiliam essa população por não conhecerem seus direitos
no Brasil, a legislação do país, a forma de funcionamento, vamos mostrando onde
ter acesso a toda essa parte pública. Quando a solicitação é negada, orientamos e
tentamos regulamentação com o órgão. Alguns órgãos municipais ainda acham que
26

os migrantes não têm direito por pura ignorância, o que demonstra o atraso legal
que o Brasil ainda enfrenta. É uma incidência no dia a dia.

Às vezes as pessoas estão sem documentos ou vencidos e não podem


exercer seus direitos por receio e tem essa parte que para mim é a mais importante.

Semana passada tivemos um imigrante peruano que ele disse que


finalmente existia, porque antes ele estava invisível.

4. Como vocês enxergam o preconceito com essa população? Escutam


relatos sobre?

R David Ramos:

É uma temática que a gente sempre conversa. Eu sinto que a xenofobia no


Brasil se dá por conta da mídia internacional. Quando a mídia começou a passar
essa experiência negativa, o país começou a ter essa visão. Falo como imigrante,
que são poucos os casos que a gente sente. Tem outras coisas, é muito mais sobre
classicismo para mim. Se você apresentar uma aparência de quem não tem boas
condições financeiras, não é tão bem recebido.

R Daniela:

Esse preconceito é meio que velado, a gente como brasileiro percebe a


sutileza das falas. Em 2019 fui para Roraima e o preconceito era imenso. Na
pousada onde fiquei a atendente só falava mal dos venezuelanos e é bem
complicado. Eu voltei em 2021 e em relação a isso tinha amenizado um pouco,
porque à medida que a operação foi aumentando com abrigos, eu presenciei os
migrantes empregados.
27

Depois de quatro anos de chegada massiva de venezuelanos, aqui em


Pernambuco eu sinto, já presenciei várias vezes. Não é agressão verbal, mas
aquelas pequenas sutilezas. Nas falas dos migrantes africanos isso é quase sempre
presente, na semana passada tivemos uma reunião guine guicao atendimento da
Polícia Federal e ele relatou racismo. Da mesma forma que acontece com brasileiros
é histórico no brasil.

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