Brazilian Journal of

ARTIGO DE REVISÃO Neuroanatomy ISSN: 2594-956X

Nervos vago e glossofaríngeo-Revisão

Vagus and glossopharyngeal nerves-Review

Marcelo José da Silva de Magalhães, Msc1, Claudiojanes Reis, PhD 2,Débora Layse de Freitas Sá 3; Débora Oliveira Abreu3;
3 3 3
Edimara de Oliveira Dantas Andrade ; Maria Rios Silva Eloy ; Victória Rios Silva Eloy

1-Neurocirurgião e cirurgião de nervos periféricos e dos plexos do Hospital Vila da Serra- Nova Lima-MG, Hospital Aroldo Tourinho-Montes Claros-MG, professor do curso
médico das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) e Faculdades Integradas Pitágoras (FipMOC).
2-Professor do curso médico das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE).
3-Acadêmicos do curso de medicina das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE).

*Correspondência para: Dr. Marcelo José da Silva de Magalhães

Endereço: Rua Capelinha n° 270, Bairro Sumaré, Montes Claros-MG, CEP 39.402-315
Email: marcelo7779@yahoo.com.br

Submissão: 27 de Agosto de 2019. Publicadoem 02 de Setembro de 2019

Resumo
Do ponto de vista anatômico e semiológico, o vago e o glossofaríngeo são pares de nervos cranianos que se
assemelham em sua trajetória e em algumas de suas funções. Patologias que acometem tais nervos são pouco
documentadas em detalhes, incomuns e podem ser de difícil diagnóstico, já que os sinais e sintomas apresentados
pelos pacientes nestes casos tendem a ser abrangentes para diversas patologias distintas. Para a construção do
presente trabalho foram realizadas buscas com os descritores nos idiomas inglês e português nas bases de dados
PUBMED e SCIELO. O trabalho objetivou fazer uma revisão de literatura acerca da anatomia, semiologia e patologias
dos nervos cranianos vago e glossofaríngeo. Dentre as principais doenças encontradas estão a Síndrome de Ortner,
neuropatias crônicas do vago, neuralgia do glossofaríngeo e neuromas do glossofaríngeo. No decorrer deste artigo foi
discutida a anatomia e semiologia dos nervos em questão e as patologias supracitadas.

Palavras chave: anatomia; neuralgia; nervos cranianos; nervo vago; nervo glossofaríngeo; doenças.

Abstract
From the anatomical and semiological point of view, the vagus and the glossopharyngeal are pairs of cranial nerves
that resemble each other in their trajectory and some of their functions. Pathologies affecting such nerves are poorly
documented in detail, uncommon, and can be difficult to diagnose, since the signs and symptoms presented by
patients in these cases tend to be comprehensive for several different pathologies. For the construction of the present
work, searches were carried out with different descriptors and languages in two databases online, besides the use of
books. Among the main pathologies found are Ortner's Syndrome, chronic vague neuropathies, glossopharyngeal
neuralgia and glossopharyngeal neuromas. In the course of this article will be discussed the anatomy and semiology of
the nerves in question and the aforementioned diseases.
Key-words: anatomy; neuralgia; cranial nerves; vagus nerve; glossopharyngeal nerve; diseases.

Como citar esse artigo: Magalhães e Reis et. al. Nervos vago e glossofaríngeo-Revisão. Braz. J. Neuroanat. 2(4): 17-22; 2018.
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ARTIGO DE REVISÃO
1.0-Introdução
Glossofaríngeo e vago são pares de nervos cranianos que
promovem a condução de estímulos nervosos sensitivos e
motores, denominados nervos mistos. Esses nervos são
responsáveis pela inervação de diversos tecidos. O IX par está
envolvido na inervação do terço posterior da língua, da úvula,
tonsila, tuba auditiva, seio e corpo carotídeos e da glândula
parótida; o X par promove a inervação da laringe e das
vísceras torácicas e abdominais, ambos os nervos são
1,2
responsáveis pela inervação da faringe.
Embora incomuns, algumas das nevralgias que acometem
tais nervos não são raras, podendo associar-se a transtornos
na vida dos pacientes. Várias técnicas de descompressão
microcirúrgicas estão sendo implantadas para otimizar o
tratamento dessas doenças 3.
As doenças que acometem esses nervos podem ocorrer de
forma independente entre eles como na Síndrome de Ortner
ou, devido primordialmente à relação anatômica existente
entre o IX e X par, eles podem ser afetados simultaneamente
como nos neurinomas do glossofaríngeo. 4,5
O objetivo desse trabalho foi fazer uma revisão de literatura
visando abordar as principais doençasque acometem os
nervos vago e glossofaríngeo correlacionando-as com suas
trajetórias anatômicas.
2.0 Metodologia
Este estudo constitui uma revisão de literatura a respeito das
doençasque acometem os nervos vago e glossofaríngeo.
A coleta de dados foi realizada durante o mês de junho de
2019 e utilizou-se para pesquisa a base de dados National
Library of Medicine (PUBMED) e o Scientific Electronic Library
Online (SCIELO). Foram incluídos neste estudo artigos nos
idiomas inglês e português, trabalhos que abordassem
aspectos da anatomia e semiologia dos nervos IX e X e que
correlacionassem essas informações com doenças que
afetam os nervos em questão.
A busca de artigos científicos que se adequassem aos
critérios de inclusão se deu, inicialmente, na base PUBMED
com os descritores vagus nerve “and neuralgia e vagus
nerve “and” dysphagia, foram obtidos 208 artigos, dos quais
14 se adequaram aos critérios de inclusão, atendendo ao
objetivo do estudo. Ainda sobre o nervo vago, foi pesquisada
a expressão vagus nerve diseases com filtro dos últimos cinco
anos, o resultado foi de 299 artigos, dos quais houveram 10
selecionados. Em seguida, foi utilizado filtro dos últimos cinco
anos para os seguintes descritores glossopharyngeal
diseasese glossopharyngeal neuralgia, sendo obtido um total
de 227 trabalhos, sem do selecionados 18 os quais
atenderam aos critérios de inclusão. Completou-se a buscana
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base PUBMED utilizando os termos anatomy “and”
glossopgaryngeal nerve, resultando em 1537 artigos, dos
quais 07 foram empregados na construção do trabalho
devido aos critérios de inclusão supracitados.
Posteriormente foi realizada uma busca na base de dados
SCIELO, o descritor utilizado foi nervo vago, sendo obtidos 37
resultados e selecionado apenas 01. O descritor
glossopharyngeal anatomy também foi empregado,
apresentando 02 resultados, porém os mesmos não se
adequaram corretamente ao tema abrangido.
Após a seleção dos artigos conforme os critérios de inclusão
previamente definidos, foram seguidos, nessa ordem, os
seguintes passos: leitura exploratória; leitura seletiva e
escolha do material que se adequasse ao objetivo e tema
desse estudo, seguido de leitura analítica dos textos.
3.0 Resultados
Dos 2310 artigos encontrados na busca nas bases de dados
online foram escolhidos 50 para leitura. Os trabalhos em
inglês totalizaram 48, em português 01 e em espanhol 01.
O período de publicação ficou compreendido entre os anos
de 2008 e 2019, sendo que no ano de 2019 concentrou-se o
maior número de artigos. Após a leitura e fichamento dos
artigos selecionados, apenas 20 compuseram o estudo por
abordarem as características clínicas desejadas dos NC IX e X.
4.0 Discussão
4.1 Anatomia
a-Nervo glossofaríngeo
O nervo glossofaríngeo, também conhecido como IX par
craniano, é um nervo misto com funções motoras, sensitivas
e parassimpáticas.2 Possui intrínseca relação anatômica e
funcional com o nervo vago.6 Embriologicamente, o nervo
glossofaríngeo formou-se a partir do terceiro arco faríngeo.2
O IX par craniano inerva o terço posterior da língua, a
superfície anterior da epiglote, a tonsila, a tuba auditiva, o
seio e corpo carotídeo, e a glândula parótida.6 (Figura 2) Tem
sua origem aparentena região do sulco lateral posterior do
bulbo, e sua origem aparente no crânio, na região do forame
jugular.2 (Figura 1)
Ao sair do crânio, em seu trajeto pelo forame jugular (Figura
1), há uma ramificação timpânica, constituída de fibras
parassimpáticas (Tabela 1), que irão inervar a glândula
parótida; surgem, também, dois gânglios, superior e inferior,
formados por fibras sensitivas.2 (Tabela 1)(Figura 2)
Continuando o seu trajeto descendente, o nervo
18

ARTIGO DE REVISÃO
glossofaríngeo segue adjacente à veia jugular interna e à
artéria carótida interna, no qual surge um ramo que inerva o
7
seio e o corpo carotídeo , cuja função, associado ao nervo
vago, é de controlar a pressão arterial e a concentração de
oxigênio e dióxido de carbono no sangue2; prosseguindo seu
trajeto, o IX par craniano atinge posteriormente o músculo
estilofaríngeo, inervando-o, com função motora para
deglutição.6 O nervo continua e ramifica-se em ramos
faríngeos, linguais e tonsilares inervando-os por meio das
2
fibras aferentes e das eferentes. (Tabela 1)
As variações anatômicas do nervo glossofaríngeo
predominam na região faríngea, onde esse nervo curva-se
anteriormente em torno do músculo estilofaríngeo, porém,
estudo revelou que, ocasionalmente, ele penetra neste
músculo. Pequena parcela da população apresentava
conexões intracranianas entre o nervo glossofaríngeo e o
nervo vago, o que merece consideração durante a cirurgia da
fossa posterior para evitar a transecção dessas fibras
nervosas.2
Figura 1- Base de crânio.
Seta vermelha indicando o
forame jugular esquerdo.
b-Nervo vago
O nervo vago é o maior nervo craniano do corpo, incluindo
funções motoras e sensoriais. O vago percorre o pescoço,
tórax e abdome, alcançando várias partes de sistemas e
órgãos, como língua, faringe, coração e sistema
gastrointestinal. A ampla distribuição pelo corpo permite que
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haja várias correlações clínicas do nervo vago. Este nervo
emerge do bulbo e apresenta origem real no crânio por meio
do forame jugular. (Figura 1) Há dois gânglios no vago
(superior e inferior) que surgem do forame jugular. O nervo
acessório espinhal associa-se ao nervo vago apenas distal ao
gânglio inferior.8
A respeito dos núcleos e gânglios do nervo vago salienta-se o
núcleo ambíguo; o núcleo motor dorsal do vago, os gânglios
superior e inferior do vago. (Figura 2) As fibras nervosas do
núcleo ambíguo são eferentes, fibras viscerais especiais que
8
auxiliam na deglutição e na fonação. (Tabela 1) As Fibras
originadas do núcleo motor dorsal desse nervo são eferentes,
fibras viscerais gerais que provêm o equilíbrio muscular
involuntário de órgãos como o coração, pulmão e esôfago e
ainda, inervação das glândulas no decorrer do trato
gastrointestinal.8 O gânglio superior do nervo vago gera
inervação somática geral aferente a orelha externa e
membrana timpânica. O gânglio inferior do décimo par
craniano disponibiliza fibras viscerais aferentes gerais aos
corpos carotídeos e aórticos. As fibras aferentes especiais do
X par chegam ao núcleo do trato solitário. O gânglio inferior
também está envolvido com a sensação gustativa à faringe e
conduz essa informação ao núcleo do trato solitário.8
Diante disso, o vago percorre dentro da bainha carótida,
onde se posiciona dorso lateralmente às artérias carótidas
interna e comum e medialmente à veia jugular interna. O
nervo vago direito desloca-se anteriormente para a artéria
subclávia e posteriormente para a artéria inominada; declina
até a cavidade torácica, movendo-se à direita da traqueia e,
posteriormente, ao hilo à direita, deslocando-se
medialmente para originar o plexo esofágico associado ao
nervo vago esquerdo. O vago esquerdo transita ventralmente
para a artéria subclávia e adentra na cavidade torácica entre
as artérias carótida comum e subclávia esquerda, além disso,
segue dorsalmente para o nervo frênico e posterior para o
pulmão esquerdo, seguidamente até o esôfago que organiza
o plexo esofágico com o nervo vago direito.8
Nota-se a presença de quatro ramos do décimo par no
pescoço: ramos faríngeos, nervo laríngeo superior, nervo
laríngeo recorrente e nervo cardíaco superior.
Os filamentos do nervo faríngeo emergem do gânglio inferior
incluindo as fibras sensitivas e motoras. Essas fibras originam
o plexo faríngeo e as suas ramificações suprem os músculos
faríngeo e palatino. O plexo faríngeo viabiliza também a
inervação do plexo intercarótido que permeia informações
do corpo carotídeo.8
O nervo laríngeo superior percorre entre as artérias carótidas
externa e interna; o nervo se bifurca em ramos internos e
externos próximos ao hióide. O nervo laríngeo interno cruza a
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membrana tireo-hióidea penetrando na laringe, enquanto a desnutrição, desidratação e pneumonia por aspiração. 9
porção externa percorre distalmente com os vasos
tireoidianos superiores e inerva o músculo cricotireoideo,
além disso, o ramo interno abastece a mucosa superior à
glote, enquanto toda a musculatura laríngea recebe
suprimento através do nervo laríngeo recorrente, exceto pelo
8
músculo cricotireoideo (inervado pelo nervo laríngeo).
Observa-se que o nervo vago dentro da bainha da carótida
produz o nervo cardíaco superior que está relacionado ao
8
sistema parassimpático e desloca-se para o coração.
O vago emite ramos brônquicos anteriores e posteriores.
Os ramos anteriores estão no pulmão formando o plexo
pulmonar anterior, e os ramos posteriores originam o plexo
8
pulmonar posterior .
Os ramos esofágicos do nervo vago organizam o plexo
esofágico. Filamentos gástricos abastecem o estômago,
ramos celíacos inervam o pâncreas, baço, rins, supra-renais e
intestino delgado.8

Componente Nervo
Nervo vago
funcional glossofaríngeo
Gustação do 1/3
posterior da
Aferente visceral Informações de
língua.
especial interoceptores
Informação de
interoceptores
Eferente visceral Musculatura lisa
Glândula parótida
geral de órgãos. Figura 2 – Trajeto anatômico dos nervos IX e X e seus respectivos ramos.
Eferente visceral Músculo Deglutição e
especial estilofaríngeo fonação b-Disgeusia
Tabela 1 – Componentes das fibras dos nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X)
2,8 O IX par craniano é responsável pela inervação que leva à
percepção da sensibilidade gustativa do terço posterior da
4.2 Semiologia língua. Assim, a alteração da sensação do paladar nessa
A avaliação semiológica dos IX e X pares cranianos é região, caracterizada pelo gosto metálico, está relacionada
importante para o diagnóstico de possíveis lesões desses com danos ao nervo glossofaríngeo.10
nervos, associadas ou não, e é feita com base na função de c-Rouquidão
cada um. Os possíveis déficits apresentados na anamnese e
exame físico neurológico indicam as lesões parciais ou totais. A rouquidão é um sinal que deve ser observado desde a
Dentre algumas manifestações sintomatológicas estão: entrada do paciente ao consultório pela qualidade da voz. A
disfagia, disgeusia, rouquidão, e paresia do palato mole. avaliação da região laríngea deve ser feita de modo a
observar o normal funcionamento do nervo laríngeo
a-Disfagia recorrente, ramo do X par craniano. A paralisia das pregas
A deglutição é uma das funções motoras do vago e vocais, temporária ou permanente pode estar associada a
glossofaríngeo, que compõem a via de neurônios motores procedimentos cirúrgicos de cabeça e pescoço.11
que coordenam a deglutição orofaríngea, integrados no d-Paralisia do palato mole
núcleo ambíguo do bulbo, sobretudo na fase que envolve os
músculos da faringe e do esôfago. Os estágios involuntários A posição do palato e da úvula deve ser examinada em
da deglutição incluem a função do nervo laríngeo superior, repouso e durante a respiração e fonação. A maioria dos
ramo do nervo vago. A Disfagia pode estabelecer diferentes casos de paralisia do palato mole é descrita como idiopática,
níveis de interferência na vida do paciente, como mas há também as causas por infecções. Se há lesão

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unilateral do glossofaríngeo, há paralisia do véu palatino
(músculo levantador do véu palatino) e desvio da úvula para
o lado normal durante a fala do paciente. Os reflexos
faríngeos e as pregas vocais podem estar íntegros.12,13
4.3 Manifestações clínicas
a-Nervo glossofaríngeo
Neuralgia do Glossofaríngeo
A neuralgia do Glossofaríngeo é um dos principais quadros
clínicos de desordem funcional que envolve o nono par de
nervos cranianos. É uma síndrome rara e dolorosa
caracterizada por dor breve e episódica, unilateral, aguda e
penetrante, com início abrupto nas regiões em que o nervo
abrange, o ângulo da mandíbula, orelha, fossa tonsilar e base
da língua.6 Outrossim, alguns pacientes podem apresentar
também uma associação dessa dor a uma estimulação vagal
excessiva durante os ataques dolorosos, além sintomas como
hipotensão, bradicardia, síncope, convulsão e parada
cardíaca.2 A neuralgia pode ser dividida em clássica, caso a
dor seja esporádica, ou em sintomática, caso a dor seja
constante. Entre as causas, pode-se elencar a idiopática
definida pela compressão do glossofaríngeo e a causa
secundária, resultado de algum trauma, neoplasia, infecção
de garganta, cirurgia e malformação. Os tratamentos
primários incluem o uso de antiepilépticos e antidepressivos,
como Carbamazepina, Gabapentina e Pregabalina, sendo a
Carbamazepina, dose inicial 200 mg / dia em dose única
(liberação prolongada) ou duas doses divididas (comprimido
de liberação imediata) ou em quatro doses divididas (solução
oral), o primeiro fármaco a ser utilizado para alívio da dor.2,6
Na condição de falha medicamentosa, faz-se necessária a
realização de procedimentos cirúrgicos de descompressão do
nervo de forma segura e eficaz, com técnicas atuais como
implante de eletrodos cerebrais profundos ou nervos
periféricos com subsequente estimulação crônica,
descompressão microvascular de conflitos neurovasculares e
lesão percutânea de estruturas neurais.14
Neurinomas do Glossofaríngeo
Os neurinomas do glossofaríngeo são tumores raros da
bainha nervosa que, por proximidade anatômica, podem
comprimir outros nervos adjacentes a ele que têm saída no
crânio pelo forame jugular, o nervo vago e o nervo acessório.
Os pacientes geralmente apresentam envolvimento em dois
nervos e identificação do principal nervo acometido não é
evidente pelos sintomas apresentados.15 Em alguns casos
podem ocorrer a síndrome de Collet-Sicard que acomete os
quatro nervos da região da base do crânio, Glossofaríngeo,
Vago, Acessório e Hipoglosso. As apresentações clínicas
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variam entre disfunções vertibulococleares, vagais e
16
glossofaríngeas. Características como surdez
neurossensorial unilateral, zumbido unilateral e apresentação
de episódios súbitos, recorrentes e intratáveis de
vômitos.16,17 O diagnóstico envolve a análise de sinais e
sintomas associados a imagens de tomografia
computadorizada de crânio e/ou ressonância magnética. O
tratamento perpassa por três opções: ressecção cirúrgica;
17
radiocirurgia; ou gestão conservadora.
b-Nervo vago
Síndrome de Ortner
As pregas vocais possuem inervação motora de um dos
ramos do nervo vago, o ramo laríngeo recorrente. Casos de
compressões e estiramento desse nervo, em qualquer ponto
de seu trajeto, desde o crânio até as artérias subclávias,
podem gerar sintomas como tosse persistente, disfagia,
disfonia e paralisia das pregas vocais secundárias que
caracterizam lesões no nervo laríngeo recorrente. As
paralisias do nervo laríngeo recorrente são atualmente
classificadas em não-cirúrgicas, cirúrgica, em casos como
tireóide, esôfago e intubação, ou uma combinação das duas.
4
Em 1897, Ortner descreveu três casos clínicos de rouquidão
associada à estenose mitral por paralisia do nervo laríngeo
recorrente a esquerda.4 A síndrome de Ortner é uma das
possíveis causas desse acometimento do décimo par de
nervos cranianos em que a compressão do nervo referido
está relacionada a causas cardiovasculares como patologias
congênitas, aumento do átrio esquerdo, aumento do calibre
da artéria pulmonar, neoplasias, mediastinite fibrosante,
cirurgias cardíacas e outras.18 O diagnóstico pode ser
realizado através de laringoscopia e tomografia
computadorizada de crânio, tórax e pescoço que
demonstrarão lesões no trajeto do nervo vago e laríngeo
recorrente além de lesão nas pregas vocais.
Neuropatias crônicas do nervo vago
O nervo vago apresenta importante e extensa inervação do
trato respiratório inferior e superior e do trato digestivo. No
trato respiratório, pode-se destacar a neuropatia
laringofaríngea crônica, doença que associa sintomas como
irritação laríngea, irritação da garganta, disfonia, sensação de
corpo estranho na garganta, pigarro, estridor e sobretudo a
tosse crônica.19 (Neuropatia laringofaríngea crônica do nervo
vago). Alterações nos ramos aferentes do nervo vago
fundamentais para os movimentos de arco reflexos laríngeo e
digestivo podem ser causados por distúrbios neurológico.
Dessa forma, estímulos distintos do nervo podem
desencadear os sintomas respiratórios citados. A neuropatia
laríngea crônica também pode estar relacionada ao
movimento das pregas vogais como uma síndrome laríngea
21
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20 7-Wang C, Kundaria S, Fernández-Miranda J, Duvvuri U. A description of the

irritável devido à hipersensibilidade reflexa aferente. Além
disso, o nervo vago é responsável por funções digestórias
como controle do peristaltismo, liberação de secreção
gástrica e controle da válvula pilórica. A disfunção vagal
pode, portanto, causar distúrbios que podem culminar em
patologias do trato digestório como a doença de refluxo
gastroesofágico pela diminuição da motilidade gástrica e o
esvaziamento gástrico retardado.
5.0 Conclusão
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O conhecimento das funções e das vias dos nervos vago e
glossofaríngeo são importantes não só para a fisiologia como
também para a clínica médica. Os IX e X pares cranianos são
nervos mistos, transmitindo impulsos sensitivos e motores
que suprem diversas estruturas do corpo, como o terço
posterior da língua e vísceras torácicas/abdominais,
respectivamente. Eles apresentam diversas funções, por isso,
suas doenças apresentam sinais e sintomas variados como
disfagia, disgeusia, rouquidão e flacidez do palato mole.
Dentre algumas das patologias do IX e X tem-se a neuralgia
do glossofaríngeo; uma patologia rara que se resume a um
quadro de desordem funcional envolvendo o IX par. Os
neurinomas do glossofaríngeo que se caracterizam por
tumores na bainha nervosa que tem a capacidade de
acometer outros nervos adjacentes devido à posição
anatômica no forame jugular, e a síndrome de Ortner; em
que há casos de compressão e/ou estiramento do nervo vago
acarretando tosse persistente e paralisia das pregas vocais
secundárias. Além disso, as neuropatias crônicas do vago
podem culminar em distúrbios no trato respiratório e
digestório, com a notória sintomatologia de irritação laríngea
e a doença do refluxo, respectivamente.
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Como citar esse artigo: Magalhães e Reis et. al. Nervos vago e glossofaríngeo-Revisão. Braz. J. Neuroanat. 2(4): 17-22; 2018.
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