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Revista Cien fica da FMC. Vol.

16, nº 2, 2021 ARTIGO DE REVISÃO


DOI 10.29184/1980-7813.rcfmc.255.vol.16.n2.2021

SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CARPAL TUNNEL SYNDROME: A LITERATURE REVIEW

Liliane Ferreira Alexandre¹, Layra da Silva Alves¹, Inês Raquel Alves da Silva Rosário¹, Frederico Miranda
Pessanha¹, Marlana Ribeiro Monteiro²
1Acadêmico no curso de medicina na Faculdade de Medicina de Campos-RJ
2Professora da Faculdade de Medicina de Campos- RJ
Faculdade de Medicina de Campos, Avenida Alberto Torres, 217, Centro Campos dos Goytacazes- RJ, CEP
28035-581. Telefone (22) 2101-2929
Endereço para correspondência: Fundação Benedito Pereira Nunes. Avenida Alberto Torres, 217, Centro
Campos dos Goytacazes- RJ, (22) 98813-0958, email: bra2223@gmail.com

RESUMO ABSTRACT
A síndrome do túnel do carpo é a síndrome Carpal tunnel syndrome is the most
mais comum de encarceramento do nervo common peripheral nerve entrapment syndrome
periférico mundialmente. Os achados do exame worldwide. The clinical symptoms and physical
sico e os sintomas clínicos em pacientes com essa examina on findings in pa ents with this syndrome
síndrome são amplamente reconhecidos e há are recognised widely and various treatments exist,
diversos tratamentos, desde opções cirúrgicas e não including surgical and non-surgical op ons. Despite
cirúrgicas. Apesar dessas vantagens, há uma these advantages, there is a paucity of evidence
escassez de evidências sobre as melhores about the best approaches for assessment of carpal
abordagens para avaliação desta patologia e para tunnel syndrome and to guide treatment decisions.
orientar as decisões de tratamento. Embora o Although the best means of integra ng clinical,
melhor meio de integrar aspectos clínicos, func onal, and anatomical informa on for selec ng
funcionais e informações anatômicas para a seleção treatment choices has not yet been iden fied,
de opções de tratamento ainda não foram pa ents can be diagnosed quickly and respond well
iden ficadas, os pacientes podem ser to treatment. The high prevalence of carpal tunnel
diagnos cados rapidamente e respondem bem ao syndrome, its effects on quality of life, and the cost
tratamento. A alta prevalência da síndrome do túnel that disease burden generates to health systems
do carpo, seus efeitos na qualidade de vida e o custo make it important to iden fy the research priori es.
que a carga da doença gera para os sistemas de Keywords: carpal tunnel syndrome; peripheral
saúde tornam importante iden ficar as prioridades nerve.
de pesquisa.
Palavras chave: síndrome do túnel do carpo, nervo
periférico

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INTRODUÇÃO inextensível definido como o espaço localizado entre


A síndrome do túnel do carpo (STC) é uma a canaleta carpiana, que compõe o fundo e o
neuropa a de aprisionamento e, assim como tal, se re náculo dos flexores, que cons tui o teto. É
caracteriza por ser um distúrbio que reduz a função delimitado na borda ulnar pelo hâmulo do hamato, o
da musculatura da mão devido a compressão e/ou pisiforme e o piramidal e na borda radial pelo
tração do nervo mediano ao nível do punho, escafóide, o tendão do flexor radial do carpo e o
podendo também afetar a sensibilidade da região, trapézio. A base é formada pela cápsula e os
principalmente do lado palmar. A STC representa a ligamentos radiocárpicos anteriores recobrem as
mais frequente das síndromes compressivas e é um porções subjacentes do escafoide, do semilunar, do
dos transtornos das extremidades superiores que capitato, do hamato, do trapézio e do trapezóide.
m a i s ge ra m c u sto s e i n ca p a c i d a d e s . ( D E
OLIVEIRAFILHO; DE OLIVEIRA, 2017) (HUISSTEDE et Conteúdo
al., 2018) O conteúdo do túnel é cons tuído pelo
James Paget, foi o primeiro a descrever a nervo mediano e por nove tendões: quatro tendões
STC, através de um caso de compressão do nervo do músculo flexor profundo dos dedos, quatro
mediano reportado em consequência de uma tendões do músculo flexor superficial dos dedos
fratura do rádio distal. Todavia, somente a par r da (FSD), e um tendão do músculo flexor longo do
década de 50, os trabalhos de George S. Phalen polegar (FLP). Na região palmar, o nervo mediano se
estabeleceram os princípios da STC. divide em seus ramos distais: ramo motor, em geral
Esta síndrome possui pico de incidência único, que inerva os músculos tenares, oponente do
entre 40 e 59 anos e sua prevalência é es mada polegar, abdutor e flexor curto do polegar; ramos
entre 4 e 5% da população. Outrossim, estudos motores que seguem para o primeiro e segundo
transversais vêm demonstrando prevalência de músculos lumbricais; e ramos digitais palmares
9,2% nas mulheres e 0,6% nos homens. sensi vos que inervam a pele do segundo, terceiro e
Os sinais e os sintomas clínicos mais comuns metade lateral do quarto dedo.
desta patologia são: dor, parestesia e dormência no Na entrada do túnel, o nervo mediano está
território de sensibilidade do nervo mediano situado dorsalmente em relação ao palmar longo
(par cularmente no indicador, médio, dedo polegar (PL) ou entre o flexor radial do carpo (FRC) e o PL. Em
e face radial do dedo anular), podendo haver piora posição neutra do punho, o nervo mediano está em
noturna dos sintomas. frente ao FSD do indicador, entre o FLP e o FSD do
indicador ou em frente ao FSD do dedo médio. Na
OBJETIVOS parte distal do túnel o nervo mediano se divide em
Realizar uma revisão bibliográfica para seis ramos: o ramo motor ou tenar, três nervos
estabelecer um conhecimento geral acerca da digitais palmares próprios (radial e ulnar do polegar e
Síndrome do Túnel do Carpo e abordar fatores de radial do indicador) e os nervos digitais palmares
risco e causas, caracterís cas clínicas, diagnós co, comuns do segundo e do terceiro espaços. O ramo
diagnós co diferencial e tratamento. tenar passa através de um túnel separado antes de
entrar nos músculos tenares em 56% dos casos.
MÉTODOS Territórios de inervação do nervo mediano na mão
O método u lizado nesse estudo foi a Sobre o plano motor, o nervo mediano
revisão bibliográfica e estudo descri vo. Obteve-se inerva classicamente os músculos de oposição, o
material a par r de ar gos cien ficos. As palavras- abdutor curto do polegar, oponente do polegar e
chave u lizadas para pesquisa foram u lizadas na feixe superficial do flexor curto do polegar e os dois
língua portuguesa e inglesa. O descritor u lizado primeiros músculos lumbricais.
para a pesquisa foi: túnel do carpo, nervo mediano, O território sensi vo do nervo mediano
nervo periférico, anatomia. ocupa a metade radial do dedo anular e a face
palmar de três dedos radiais. Na face dorsal, ele
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA compreende as duas úl mas falanges dos três
Anatomia primeiros dedos e a metade radial do quarto. Quanto
O túnel do carpo é um túnel osteofibroso mais proximal o ramo cutâneo palmar acima do

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ligamento anterior, mais explicada é a falta de acometendo território de inervação do nervo


par cipação na sintomatologia da zona tenariana. mediano. De forma clássica, os sintomas acentuam-
se no período noturno, por vezes de forma intensa,
Fatores de risco e causas chegando a despertar o paciente. Alguns autores
Fatores de risco suspeitos de síndrome do consideram essa manifestação como um sinal da
túnel do carpo (STC) incluem diabetes mellitus, doença que sugere o diagnós co. Movimentos
menopausa, hipo reoidismo, obesidade, artrite e repe vos com o punho como costurar, escrever
gravidez. Como o hipo reoidismo, a menopausa e a dentre outros podem exacerbar os sintomas. A
gravidez são fatores de risco, existe forte suspeita de progressão da doença pode resultar em redução da
que alterações hormonais podem ser o causador; no sensibilidade na distribuição do nervo mediano e
entanto, não existem evidências para apoiar esta diminuição de força e em casos graves, podem se
hipótese. Gravidez provavelmente aumenta o risco espalhar proximalmente ao antebraço, parte
de STC por uma combinação de edema e alterações superior do braço e às vezes ombro.
hormonais; dados epidemiológicos mostram que a Quando os portadores da referida síndrome
incidência de STC relacionada à gravidez é alta são perguntados especificamente sobre localização
(7–43% quando diagnos cados da dor e os sintomas sensoriais, eles geralmente
e l e t ro fi s i o l o g i c a m e nte e 3 1 - 6 2 % q u a n d o relatam que os sintomas nas regiões proximais são
diagnos cado com base na história e apenas caracterizados por dor e não por dormência,
estudos de exame clínico). Início agudo com formigamento ou outras anormalidades sensoriais.
sintomas marcantes e fraqueza motora não é Por muitos anos, critérios diagnós cos sensoriais na
infrequente, e os sintomas frequentemente literatura foram limitados a sintomas que ocorrem
persistem após o parto. no nervo mediano no território da mão. No entanto,
Fortes evidências suportam diabetes po 1 na prá ca clínica, mais critérios sensoriais foram
e po 2 como fatores de risco para a STC, da mesma u lizados, não limitando os sintomas aos primeiros
forma, o excesso de peso aumenta o risco de STC em três dígitos, mas incluindo todo a super cie palmar.
1,5 vezes e obesidade aumenta o risco em duas Esse padrão, constantemente observado de
vezes. No entanto, não há comprovação para um anormalidades, pode ser secundário a um
mecanismo específico pelo qual a diabetes ou mecanismo do sistema nervoso central
obesidade aumenta o risco de STC. (envolvimento ulnar simultâneo ou sensibilização
A associação entre computador, teclado ou central respec vamente), ou ambos. Evidências
mouse e STC ainda é controverso. Evidências sugerem que os sintomas limitados para os três
disponíveis sugerem que, no máximo, uso excessivo primeiros dígitos podem indicar comprome mento
de computadores é um fator de risco menor, mais grave do nervo mediano, isto é, distribuição
provavelmente resultante do estresse mecânico do dos sintomas na área inervada pelo nervo mediano é
n e r vo ca u s a d o p o r co ntato co m te n d õ e s associada a alterações mais graves na condução
circundantes excessivamente usados. nervosa. Assim, a distribuição dos sintomas deve ser
definida com a maior precisão possível e fortemente
Caracterís cas clínicas considerada ao decidir a estratégia de tratamento e
A síndrome é caracterizada inicialmente por determinar prognós co.
parestesias noturnas intermitentes e disestesias que
aumentam em frequência e ocorrem durante as Diagnós co
horas de vigília. Em seguida, perda de sensibilidade Em primeiro lugar, não existe um padrão-
desenvolve-se juntamente com fraqueza e atrofia ouro para o diagnós co posi vo da STC. Uma
muscular mais tarde no curso da doença, que resulta história clínica cuidadosa pode nunca estabelecer a
de extensa degeneração axonal. Esta sequência de causa da mesma no paciente, enquanto que a
sintomas é bastante pica, raramente ocorrendo em história bem descrita em combinação com o exame
outros distúrbios além da referida STC. sico consistente na STC na maioria dos casos pode
As manifestações clínicas iniciais são levar ao diagnós co correto. Apesar dessa patologia
queimação, dor, formigamento e dormência na con nuar a ser um diagnós co clínico, o teste
m ã o, g e ra l m e n t e d e e v o l u ç ã o i n s i d i o s a , eletrodiagnós co subs tuiu um exame sico

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cuidadoso em muitas prá cas. A história clínica e o vibrometria, avaliam fibras nervosas que inervam um
exame sico, incluindo testes provoca vos, são único receptor ou grupo de células receptoras. Estes
mais facilmente realizados do que os estudos de são mais propensos a mostrar uma mudança gradual
eletrodiagnós co, e são as ferramentas de e progressiva em valor à medida que mais e mais
diagnós co mais adequadas no cenário fibras nervosas são afetadas, como na compressão
ambulatorial. nervosa. O teste limítrofe é o método preferido para
A abordagem clínica em paciente com avaliar a sensibilidade da mão no STC.
acroparestesia da mão inclui certas etapas como
discu r o diagnós co no interrogatório, nos testes Teste provoca vo
provoca vos, na análise de eventuais patologias Muitos testes provoca vos foram descritos
associadas e diagnós co diferencial; determinar a para auxiliar no diagnós co da STC. Todos são
e ologia; julgar a oportunidade de fazer exames baseados em provocar um nervo mediano já
complementares, em primeiro lugar o exame comprome do a fim de exacerbar os sintomas de
eletroneuromiográfico (ENMG); propor o dormência, dor e parestesias. Uma série de testes
tratamento adaptado ao estado de gravidade, à provoca vos pode estar presente na STC. Desses
e ologia, ao local e ao contexto de a vidade. testes, o de Phalen é considerado um dos mais
Pacientes com STC frequentemente sensíveis, sendo posi vo em cerca de 80% dos
apresentam queixa de dormência e formigamento pacientes. Os três mais comuns testes provoca vos
em seus dedos. Uma avaliação sensorial minuciosa u lizados são a flexão do punho teste, conhecido
é a garan a no exame inicial. É aconselhável sempre também como teste de Phalen, a percussão do nervo
realizar a avaliação da sensibilidade antes do teste mediano teste de Tinel e teste de compressão do
provoca vo, pois os testes provoca vos podem nervo mediano. O teste do torniquete, também um
alterar a sensibilidade dos pacientes. No entanto, os teste provoca vo, raramente é usado por causa de
testes mais comuns u lizados para avaliar sua alta taxa de falsos posi vos.
sensibilidade são está cos ou movendo-se a Um dos testes mais universalmente
discriminação de dois pontos, o teste de u lizados é o teste de flexão do punho introduzido
m o n o fi l a m e nto s d e S e m m e s - We i n ste i n e por Phalen em 1951. Este teste foi originalmente
vibrometria. Compreender os sistemas de realizado mantendo os antebraços eretos, com os
receptores de fibras nervosas e seu papel na cotovelos apoiados na mesa de exame. Os pulsos
sensação são necessários para avaliar o que devem ser man dos em flexão com a ajuda da
realmente está sendo testado pelos vários testes de gravidade por 30 a 60 segundos. O teste é melhor
sensibilidade. realizado eliminando a flexão do cotovelo que pode
O teste de sensibilidade é conceitualmente produzir sintomas no dedo mínimo por causa da
dividido em testes de densidade de inervação e compressão do nervo ulnar no túnel cubital.
testes limítrofes. A discriminação está ca e móvel Dormência ou formigamento na distribuição do
de dois pontos são testes de densidade de nervo mediano é considerado um teste posi vo.
inervação. A discriminação está ca de dois pontos Nesta posição, acredita-se que o nervo mediano é
mede lentamente adaptação de receptores de fibra comprimido entre a borda proximal do ligamento
enquanto medidas de discriminação de dois pontos carpal transverso e os tendões flexores subjacentes.
móveis se adaptam rapidamente às fibras. Os testes Este teste é menos ú l se houver movimento
de densidade de inervação medem a inervação de limitado do pulso ou em casos de compressão grave
múl plos receptores periféricos e são dependentes do nervo mediano. A extensão do punho estreita o
da integração cor cal de impulsos periféricos canal do carpo e aumenta mais a pressão dentro do
p o rq u e u m e s m u l o p o d e s e r p e rc e b i d o canal do que a flexão do punho. Essa posição
normalmente na presença de algumas fibras também pode exacerbar os sintomas da STC e formar
periféricas intactas, compressão leve ou mesmo a base de outro teste provoca vo, a manobra reversa
moderada de um nervo periférico podem não de Phalen. Phalen relatou que entre 74% e 80% de
produzir qualquer alteração em um teste de seus pacientes com STC veram testes posi vos de
densidade de inervação. Testes limítrofes, como flexão do punho; no entanto, parte de sua crença no
m o n o fi l a m e nto s d e S e m m e s - We i n ste i n e diagnós co da STC foi baseada em uma resposta

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posi va teste. A sensibilidade é de 67% a 83% e a ser incluídas no diagnós co diferencial qualquer
especificidade é de 47% a 100%. patologia que cursa com dor e alterações sensi vas
O sinal de Tinel ou a percussão do nervo nas mãos, incluindo a radiculopa a das raízes C6 e
mediano são realizados tocando suavemente ao C7, a síndrome do desfiladeiro torácico, a
longo do nervo mediano no punho de proximal a compressão proximal do nervo mediano e a
distal. Uma resposta posi va é registrada se o síndrome de De Quervain.
paciente percebe formigamento na distribuição do
nervo mediano. O examinador deve realizar este Tratamento Conservador
teste gen lmente porque o uso de muita força pode Existem diversas evidências sobre a eficácia
produzir parestesias em um nervo mediano normal. da injeção de cor coide, imobilização por órteses e
A sensibilidade é de 26% a 79% e a especificidade é cor coterapia via oral. Intervenções pelos métodos
de 40% a 100%. de ultrassonografia, laser, diuré cos, vitamino-
terapia B6, perda de peso são ainda duvidosos. Não
Exame eletroneuromiográfico existem indicações com comprovação cien fica,
Compreende uma etapa de es mulo e uma nem consensos na literatura sobre a estratégia a
etapa de detecção. É um exame bilateral. A etapa adotar.
es mulo-detecção permite estudar a condução
nervosa sensi va e motora do nervo mediano e Injeção local de cor coide
destaca o abrandamento ele vo na passagem do A ação é a diminuição do volume
túnel do carpo. Permite igualmente a análise da tenossinovial e um efeito direto sobre o nervo
amplitude e da duração das respostas motoras e mediano. O principal risco é a lesão do nervo
sensi vas. Essa exploração é completada por uma mediano, que pode ocasionar muito dor, com
medida da condução nervosa do nervo ulnar sensação de choque elétrico e risco de déficit
homolateral e por estudos do lado contralateral. A neurológico e dores persistentes. Outro problema é
anomalia elétrica mais precoce e mais sensível é o risco de ruptura do tendão.
uma diminuição da velocidade de condução Usa-se comumente um ponto de injeção de
sensi va entre a palma da mão e os dedos e o 4 cm proximal à prega de flexão do punho a meio
punho. É aceito uma velocidade transtúnel do caminho entre o tendão do palmar longo (PL) e o
mediano < 45m/s patológica, por uma normal ≥ flexor ulnar do carpo (FUC), o qual é proporcional ao
50m/s. Esse exame é operador-dependente, a tamanho do eixo do quarto dedo. Posteriormente a
temperatura cutânea e a idade influem nos an ssepsia local, a agulha é colocada oblíqua e
resultados. O parâmetro mais importante, sensível lentamente a 45◦ do túnel do carpo. Não deve haver
e de ocorrência mais precoce na STC é a redução da qualquer resistência anormal. Com o auxílio da outra
velocidade de condução sensi va através do punho. mão verifica-se se a agulha não se localiza na região
Outros achados habituais são: diminuição da intratendínea e mobiliza os dedos passivamente. Em
velocidade de condução motora e, em quadros mais seguida injeta-se lentamente. Uma reação dolorosa
avançados, perda de unidades motoras com e transitória pode ocorrer dentro de horas após a
presença de potenciais de desnervação na injeção.
musculatura tenar. A ENMG tem um papel A injeção entre o flexor radial do carpo (FRC)
importante no diagnós co diferencial da STC com a e o PL é mo vo de lesão ao nervo mediano, dada a
radiculopa a cervical e com polineuropa as localização do nervo. Dreano et al a fizeram no lado
periféricas, além de ser ú l na avaliação e ulnar do PL. Dubert e Racasan relataram as medidas
seguimento pós-operatórios. do nervo mediano com os tendões do PL, do FRC e do
FUC, 1 cm a montante da prega de flexão do punho, e
Diagnós co diferencial apontaram uma zona de risco situada a 1 cm de cada
Alguns distúrbios devem ser considerados lado do tendão PL. Eles recomendam injetar através
no diagnós co diferencial da STC além da história, do FRC em um ângulo de 45◦ distal e 45◦ ulnar. Não
avaliação neurológica e estudos de condução há diferença entre uma injeção de 1 a 4 cm proximal
nervosa. A radiculopa a cervical é a desordem e uma injeção na prega de flexão do punho.
primária que pode ser confundida com STC. Devem O alívio é observado após alguns dias a

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duas/três semanas da aplicação. A injeção de Tratamento cirúrgico


cor costeroides no local tem uma eficácia O obje vo é obter a redução da pressão
significa vamente maior do que a injeção de intratúnel pelo aumento do volume do túnel do
placebo em um mês e mais duradoura do que a carpo, por causa da secção do re náculo dos flexores
cor coterapia via oral em dois a três meses. Após a (RF). O procedimento é feito sob anestesia
injeção de cor coide local é observado um alívio locorregional ou local, em princípio em regime
temporário, o que é um bom prognós co para o ambulatorial, frequentemente sob torniquete. Os
tratamento cirúrgico. Duas injeções não têm mais métodos são, em princípio, unilaterais.
eficácia do que uma só. Mais de três injeções não Deve-se salientar para não colocar o nervo mediano
são recomendadas. O tempo mínimo aconselhado na extensão da cicatriz da incisão para que assim
entre duas injeções é de um mês. Diabetes mellitus é possa minimizar as aderências epineurais pós-
uma contraindicação. Na SCC intermitente não operatórias.
deficitária, foi ob da 93,7% de melhoria clínica e na
eletroneuromiografia (ENMG) em três meses, 79% Anestesia e cirurgia do túnel do carpo
em 16 meses, com 50% de normalização ENMG. A cirurgia do túnel do carpo pode ser
Gelbermann et al., em uma série de pacientes com realizada sob anestesia local, locorregional ou geral.
ou sem déficit, tratados por infiltração e órtese por Em caso de anestesia local, a tolerância ao torniquete
três semanas seguidas entre seis e 26 meses, é o principal fator limitante. Quanto à anestesia
encontraram apenas 22% de ausência dos sintomas locorregional pelo bloqueio dos troncos mediano,
no recuo máximo. Os parâmetros de um bom ulnar e musculocutâneo, a tolerância dos bloqueios
prognós co são: sintomas por menos de um ano e parece pior no punho do que no canal braquial.
ausência de déficit motor ou sensorial. A infiltração do túnel do carpo ligada ao
tecido subcutâneo no nível da incisão alivia mais o
Órtese de imobilização noturna com o punho em paciente durante e no pós-operatório do que a
posição neutra infiltração subcutânea somente. O torniquete é
Foi comprovado que a pressão no túnel do inflado após a injeção. A epinefrina evitaria o
carpo aumenta com a extensão e a flexão do punho. torniquete.
A posição do punho com a tala deve estar em estrita Para a cirurgia endoscópica, bloqueios
localização neutra rara para diminuir a pressão tronculares distais mediano, ulnar e musculocutâneo
intracanalicular. A órtese sob medida pode ser feita 6 cm a montante da prega de flexão do punho podem
e adaptada de acordo com as patologias prevenir a infiltração de partes moles e interferir
coexistentes (e.g. rizartrose). O desfecho desse consideravelmente na endoscopia. Segundo
tratamento parece no máximo equivalente à injeção Delaunay e Chelly,19 depois de 10 minutos, 9% e 32%
de cor costeroides. Stutzmann et al encontraram dos pacientes necessitaram de anestesia adicional no
alívio na STC moderada em 81% dos casos em três nível dos nervos mediano e ulnar. Nenhum déficit
anos. O tempo de tratamento é de três semanas a neurológico parcial ou total foi demonstrado no pós-
três meses. A órtese pode ser associada com a operatório.
infiltração.
Técnica aberta
Modificação das medidas mecânicas e É a mais an ga. A incisão de 3-4 cm se
ergonômicas estende da prega de flexão do punho, no
A diminuição, pelo menos temporária, da prolongamento da borda radial do quarto dedo, à
a vidade permite muitas vezes um alívio, linha cardinal de Kaplan. A camada de gordura da
par cularmente no caso de STC nos homens após região hipotênar é interposta no fim da cirurgia entre
excesso de trabalho manual. Em teclados a pele e o RF. Em seguida, a aponeurose palmar
ergonômicos, nenhuma mudança significa va foi média é incisada radialmente. A dissecção
encontrada em termos de melhoria dos sintomas e subcutânea, para preservar os ramos sensi vos
das anomalias à ENMG com teclados tradicionais susce veis de criar dores pós-operatórias, não
dos pacientes com STC provada. demonstrou a sua superioridade em relação a uma
incisão com um bisturi diretamente no RF. A

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hemostasia por coagulação bipolar é uma demanda. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O RF é exposto com afastadores. As pinças de A STC representa a mais frequente das
dissecação iden ficam o hâmulo do hamato. O RF é mononeuropa as compressivas e é um dos
então incisado na sua parte média no lado ulnar do transtornos dos membros superiores que mais
eixo no quarto dedo e deixa uma margem ulnar para geram incapacidades. Embora não exista um padrão-
limitar a subluxação dos flexores. A secção do RF ouro para diagnós co, diversos testes são adotados
con nua precavidamente distal até a arcada palmar e podem garan r credibilidade. O tratamento
superficial e a anastomose mediana-ulnar. conservador pode ser feito por meio da injeção de
Proximalmente, o RF é separado profundamente da cor coide, imobilização por órteses e cor coterapia
sinóvia dos flexores com tesouras de dissecação. O via oral. No entanto, podem ser adotadas outras
conteúdo do túnel do carpo é verificado: anomalia técnicas, embora estas não tenham eficácia
muscular, aspecto da sinóvia. Para se ver o nervo comprovada.
mediano, deve ser levantada cuidadosamente a
borda radial do RF com um afastador. O nervo
mediano é o componente mais superficial e radial. O
fechamento da pele é então feito.

REFERÊNCIAS
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