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4, de 2005
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Arquivos Catarinenses de Medicina
ARTIGO DE REVISÃO
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Síndrome do desfiladeiro torácico: Revisão teórica Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 34, no. 4, de 2005 93
costela podem fazer compressão neurovascular, en- ocorre em região supraescapular, nucal, face medial do
tretanto, a compressão nesta região é principalmen- membro superior, 4o. e 5o. dedos.
te devido a movimentações que aproximem a claví- Na presença de costelas cervicais, devido à com-
cula da primeira costela, como em posição de militar pressão local, a região supraclavicular pode se mostrar
em “sentido”, pois isto promove um abaixamento dos dolorosa espontaneamente ou desencadeada por movi-
ombros, assim como ao carregar objetos pesados ou mentos que exacerbam a compressão, como hiperabdu-
por movimentos de hiperabdução prolongada, fato ção do braço e ao carregar objetos pesados, o que pro-
que ocorre em algumas profissões como professo- move o abaixamento dos ombros.
res, violinistas, nadadores. A alteração de motricidade pode variar de fraqueza
• Espaço retrocoracopeitoral: o feixe vasculonervo- à incapacitação, assim como as alterações tróficas são
so sai do espaço anterior e penetra por um canal estreito as hipotrofias e as atrofias, mais freqüentes em múscu-
limitado pela porção inicial do músculo peitoral menor e los extrínsecos da mão e antebraço.1,4,6
seu tendão de inserção no processo coracóide da escá- Os sintomas arteriais ocorrem pela isquemia, inclu-
pula. Abriga de dentro para fora, respectivamente, veia em dor, palidez, cianose, eritrocianose, parestesia, fadi-
e artéria subclávia e os cordões do plexo braquial. A ga, alterações tróficas como úlceras e gangrenas, dimi-
compressão ocorre, pois, com a hiperabdução. O pro- nuição da temperatura local. Têm como fator agravante
cesso coracóide se rebaixa, pressionando as estruturas o frio e o exercício.1,3,6,9 São relatados sintomas vaso-
neurovasculares contra o m. peitoral menor; essas es- motores, principalmente fenômeno de Raynaud.
truturas são levadas para fora do canal e vão ao en- Quanto à compressão venosa, os sintomas são de
contro da cabeça do úmero. sensação de peso, dor e ingurgitamento da extremidade
Há a possibilidade, porém mais raramente, de com- superior, aumento da temperatura da pele, cianose, ede-
pressão na região axilar devido à movimentação pela ma, turgência venosa, especialmente em ombro e região
cabeça do úmero, nervo mediano e músculo axilopei- peitoral.1,6,9
toral. A hiperabdução aproxima ainda mais a cabeça A apresentação da SDT foi classificada em dois gran-
do úmero ao feixe vasculonervoso. A artéria axilar, em des grupos: neurogênico e vascular.3
uma pequena porção, transita entre os dois feixes do O tipo neurogênico é mais comum, com aproximada-
nervo mediano, podendo haver compressão mútua. O mente 95% dos casos. Ele é subdividido em:
músculo axilopeitoral é outra possibilidade, músculo • SDT neurogênica clássica ou verdadeira: rara,
anômalo em forma de arco (arcada de Langer) sobre 1-3% dos casos, geralmente unilateral, acometendo
a região do músculo grande dorsal até a inserção do mais mulheres adultas. Está associada às anormali-
músculo peitoral maior na cabeça do úmero. Ele “abra- dades ósseas. 3,9,10
ça” a cabeça do úmero e o feixe neurovascular, po- • SDT neurogênica atípica ou controversa ou inespe-
dendo gerar sintomatologia.1,2,4,6,7,8 cífica: corresponde a mais de 90% dos casos, é descrita
principalmente como bilateral e acomete mais mulheres
Quadro Clínico jovens.9,10 Sua causa é controversa, pois não há sinal de
A SDT pode ter sintomas nervosos e/ou vasculares, compressão neurológica objetiva.9,11
os quais são divididos em arteriais e venosos.1 O tipo vascular, com aproximadamente 5% dos ca-
Freqüentemente existem sintomas nervosos, que po- sos, é subdividido em:
dem acometer sensibilidade, motricidade e trofismo. • SDT vascular arterial: rara, 2-3% dos casos, geral-
Manifestam-se com dor de intensidade e caráter variá- mente unilateral, afetando adultos jovens. Consiste em
veis, podendo ter localização imprecisa, seguida de fra- complicações da compressão crônica arterial por anor-
queza, parestesia, principalmente em mãos e dedos. Em malidades ósseas.2,3,9,10
geral, quando há compressão do cordão superior do ple- • SDT vascular venosa: rara, 1-2% dos casos. Tam-
xo braquial (C5, C6, C7) as dores são em região lateral bém conhecida como trombose venosa de esforço ou
da cabeça e do pescoço, em região do músculo rombói- Síndrome de Paget-Schroetter. Afeta mais adultos jo-
de e supraescapular, face lateral do membro superior, vens. Ocorre uma trombose espontânea da veia sub-
parte dorsal da mão, entre 1o. e 2o. dedos. A compres- clávia em decorrência do uso prolongado da extremi-
são do cordão inferior (C8 e T1) é mais comum. A dor dade superior.2,3,9,10,12
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Tratamento Referências
O tratamento clínico freqüentemente é a conduta ini- 1. Adams JGJ, Silver D. Síndrome do Desfiladeiro
cial e procura aliviar os sintomas. Utiliza, em geral, anal- Torácico. In: Sabiston DCJ, Lyerly HK, editors.
gésicos simples, antiinflamatórios, relaxantes musculares, Tratado de Cirurgia. As Bases Biológicas da Práti-
tranqüilizantes, compressas quentes e repouso. Orienta- ca Cirúrgica Moderna. 15a. edição. Rio de janeiro:
se o paciente a emagrecer se for obeso, mudar de profis- Editora Guanabara Koogan; 1999. p.1752-55.
são, evitar hiperabduzir os braços, carregar objetos pesa- 2. Colli BK, Dias LAA. Síndrome do Desfiladeiro
dos carregar bolsas. Outro ponto importante é a tonifica- Torácico. Arq Bras Neurocirurg. 1993;12:23-8.
ção dos músculos suspensores da cintura escapular, atra- 3. Garcia ND, Eskandari M, Tehrani H, Morasch MD.
vés de fisioterapia apropriada. Algumas vezes os riscos e Thoracic Outlet Obstruction. eMedicine Journal
benefícios dos exercícios têm de ser avaliados, principal- 2003; October 24. Avaliable from: URL: http://
mente quando se trata de idosos, portadores de costelas www.emedicine.com/med/topic2774.htm.
cervicais ou outras alterações ósseas.2,3,6,13 Técnicas como 4. Owens JC. Thoracic Outlet Compression Syndro-
acupuntura, hipnose psicoterapia também são citadas.6 mes. In: Hainovici H, editor. Vascular Surgery Prin-
A anticoagulação, terapêutica trombolítica, trombec- ciples & Techniques.New York: McGraw- Hill Book
tomia venosa e compressão elástica do membro devem Company a Blakiston Publication; 1976. p.734-57.
ser consideradas quando há acometimento venoso.1,15 5. Lindgren KA., Oksala, I. Long-term outcome of
Em geral, o tratamento cirúrgico da SDT tem indica- surgery for thoracic outlet syndrome. Am J Surg.
ção formal em aproximadamente 15% dos casos6, ge- 1995;169(3):358-60.
ralmente quando a síndrome é decorrente de anomalias 6. Araújo JD de, Arruda S. Síndromes Compressivas
ósseas sintomáticas ou complicações vasculares.2,6 Ou- neurovasculares do Desfiladeiro Cervicotoracoaxi-
tra indicação é na falha do tratamento conservador.16 lar e Síndrome do Túnel do Carpo. In: Maffei FHA,
As técnicas cirúrgicas consistem na descompressão Lastória S, Yoshida WB, Rollo HA. Doenças Vas-
dos pontos anatômicos: como ressecção do músculo es- culares Periféricas. 2nd ed. Rio de Janeiro: MED-
caleno anterior, da costela cervical, da primeira costela, SI Editora Médica e Científica; 1995. p. 1247-73.
da clavícula, de bridas fibrosas ou de outras estruturas 7. Parziale JR, Akelman E, Weiss AP, Green A. Tho-
que possam comprimir o feixe vasculo-nervoso. Muitas racic outlet syndrome. Am J Orthop.
destas excisões são feitas em conjunto, já que mais de 2000;29(5):353-60.
uma estrutura pode provocar compressão.2,6 8. Silva RP. Resultados de la cirurgia del syndrome
Há vários acessos cirúrgicos descritos2,3,4,6,17,18: transa- del opérculo torácico. Puntos críticos y reoperacio-
xilar, supraclavicular, infraclavicular, toracoplastias anterior nes. Rev Chilena de Cirurgia 2002;54(6):566-72.
e posterior. A via transaxilar é historicamente mais difundi- 9. Wilbourn AJ. Most Commonly Asked Questions
da19, embora não proporcione boa visualização vascular.1 About Thoracic Outlet Syndrome. Cleveland Clinic
Young17 se referiu a essa abordagem como a mais cosmé- Neurologist 2001; 7:308-12.
tica. Em contrapartida, a abordagem posterior promove uma 10. Sheth, RN., & Belzberg, AJ. Diagnosis and treat-
grande cicatriz e elevada morbidade, sendo raramente usa- ment of thoracic outlet syndrome. Neurosurg Clin
da atualmente.1 Entretanto, a abordagem supraclavicular N Am. 2001;12(2):295-309.
promove uma boa visualização do nervo frênico, da vascu- 11. Balci AE, Balci TA, Cakir O, Eren S, Eren MN.
larização e do plexo braquial.2,20 Adams1 refere que muitos Surgical treatment of thoracic outlet syndrome:
cirurgiões escolhem a abordagem supraclavicular para a effect and results of surgery. Ann Thorac Surg.
ressecção dos escalenos, da primeira costela e remoção da 2003;75 (4):1091-6.
costela cervical, se presente. 12. Scola RH, Werneck LC, Iwamoto FM, Maegawa
As possibilidades de complicações cirúrgicas são GH, Faoro LN, Caldeira FH. Síndrome do Desfila-
baseadas em possibilidades de lesões vasculares e/ou deiro Torácico Tipo Neurogênico Verdadeiro. Arq
neurológicas, sendo temida, por exemplo, a paralisia do Neuro-Psiquiatr. 1999;57(3):659-65.
nervo frênico. Há também a possibilidade de causar: 13. Sucher BM. Thoracic Outlet Syndrome. eMedici-
pneumotórax, quilotórax, hemorragias, tromboembolis- ne Journal 2003 September 4; 4 (3). Avaliable from:
mos, cicatrizes hipertróficas.6,14,20 URL: http://author.emedicine.com/PMR/topic136.htm.
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