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Esta aula tem dois objetivos, que se refletem nos dois itens que a compõem: o
primeiro trata, de certa forma, de uma revisão das aulas anteriores do enfoque 2,
pois analisa resumidamente como ocorreu a evolução da cidade potiguar e sua
relação com o território, a partir das funções que a primeira exerceu ou assumiu ao
longo do tempo, em relação a este último. Ao tratar deste assunto, ele também
analisa o modelo ou tipologia de surgimento ou gênese da cidade potiguar, em
diferentes períodos. O segundo objetivo, aliado ao primeiro, é apreender como a
evolução funcional da cidade potiguar resultou no crescimento dos núcleos urbanos
do Rio Grande do Norte na primeira metade do século XX. O crescimento urbano
então verificado pode ser visto como a continuidade de um processo de urbanização
que se justificou historicamente graças às funções que os núcleos iniciais exerceram
em épocas passadas.
1 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão; FERREIRA, Angela Lucia. De la ville de la conquête a la ville moderne
ou les métamorphoses de la fonction militaire de Natal et Assu. In: Laurent Vidal. (Org.). La ville au Brésil
(XVIIIe-XXe siècles): naissances, renaissances. Paris: Les Indes Savantes, 2008, v. , p. 61-74. Ver
também :
Rubenilson B. Teixeira E2.A5 - A marcha para a urbanização
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Rubenilson B. Teixeira E2.A5 - A marcha para a urbanização
CONCLUSÃO
O estudo da evolução das funções historicamente exercidas pelas aglomerações e
sua relação com o território aponta interessantes pistas de análise do fenômeno do
nascimento e renascimento da cidade potiguar ao longo da história.
A abordagem proposta permite indicar não somente momentos de nascimento de
diferentes tipos e categorias de núcleos urbanos, mas de identificar modelos de
surgimento da cidade, que surgem em épocas diferentes, por razões diferentes, e
que estão profundamente relacionadas ao território.
A análise permite ainda lançar luz sobre alguns aspectos específicos do fenômeno
urbano – as características físico-espaciais ou mesmo étnicas, por exemplo –
segundo grupos de cidades, aspectos que podem se relacionar a determinadas
funções que as aglomerações devem exercer
Finalmente, a análise torna possível acompanhar e principalmente compreender
etapas de nascimento, evolução, estagnação, morte ou renascimento de cidades
específicas, ao longo das diferentes etapas propostas neste trabalho.
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Rubenilson B. Teixeira E2.A5 - A marcha para a urbanização
2 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuário esta tístico do Brasil, 1996. Vol. 56.
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78 % da população total em 1996, isto é 123 082 167 dos 157 079 573 habitantes.
Definitivamente, o Brasil se torna um país urbano ao longo do século XX.
As dificuldades de desenvolvimento da província, em seguida do Estado do Rio
Grande do Norte são imensos. Elas se revelam, por exemplo, na necessidade de
melhorar as estradas, fator primordial de consolidação da rede urbana. Um dos
grandes obstáculos ao processo de modernização do Estado era o mau estado das
comunicações entre as diferentes aglomerações, durante todo o século XIX. As
classes dirigentes da província e do Estado republicano, constituídas pela burguesia
nascente, se preocupavam com o problema. Assistimos assim, a partir das duas
últimas décadas do século XIX, à criação e à extensão da rede ferroviária. O
desenvolvimento das estradas de ferro começa no litoral açucareiro, permitindo a
ligação entre as cidades produtoras e o porto de Natal. 3 A rede ferroviária continua
sua expansão até os anos 1960, totalizando 648 km, unindo alguns dos principais
centros urbanos. O sistema viário, desenvolvido a partir de 1909, adquire
verdadeiramente importância entre 1930 e 1960. Seguindo uma política nacional que
privilegia o transporte rodoviário, ele se torna efetivamente o principal meio de
comunicação entre as cidades. Cabe observar que tanto o sistema ferroviário como
o rodoviário principalmente, seguem parcialmente as antigas estradas de
escoamento do gado, primeiro sistema de comunicação entre as aglomerações.
Evidentemente, outros meios modernos de comunicação, desde o telégrafo, em
1878, chegam progressivamente ao Estado que, como em todo lugar, se beneficia
da evolução tecnológica dos novos tempos.
Tendo em vista que o crescimento do número de municípios está em estreita relação
com fatores econômicos e outros que podem explicar o processo de urbanização,
nós devemos considerá-lo novamente, como fizemos em etapas anteriores de nosso
estudo. Assim, o Rio Grande do Norte conta 37 municípios em 1900. Nenhum
município é criado até 1920. Entre esse ano e 1950, um número pouco significativo
de 11 novos municípios é instituído. Certamente que a diversificação da economia,
uma certa industrialização,4 políticas do governo federal e do Estado que vão da
retenção de água através da construção de açudes no intuito de fixar as populações
à melhoria progressiva do sistema de comunicação e de transportes, representam
avanços econômicos essenciais durante os primeiros cinqüenta anos do século.
Entretanto, o progresso é em geral muito lento. A fraca integração de sua economia
em nível nacional, seu caráter essencialmente agrário e pouco desenvolvido, que se
manifesta na concentração da propriedade fundiária e numa industrialização quase
inexistente, constituem fatores que podem explicar a lentidão da urbanização de
então.
O período compreendido entre 1950 e 1970 vê nascer os primeiros esforços de
industrialização no Nordeste, notadamente com a SUDENE - Superintêndencia de
Desenvolvimento do Nordeste - agência de desenvolvimento criada no contexto das
políticas de intervenção do Estado, em 1959. Este processo, aliado à crise do setor
agrário, vai favorecer a evolução das cidades. Em termos de desmembramentos
territoriais através da criação de novos municípios, nós assistimos, como foi o caso
na segunda metade do século anterior, a uma coincidência que não é fortuita entre
fatores estruturais e a aceleração da urbanização. Assim, entre 1950 e 1970, isto é,
num período de 20 anos, verifica-se um incremento muito sensível de 102
municípios, mais do que em toda a história do Rio Grande do Norte. Em termos
relativos, isso representa 112,5 % a mais, além dos 48 municípios existentes em
1950!
3 Assim foi construída a linha ferroviária de Natal a Nova Cruz, em direção da Paraíba, entre 1881 e 1883.
Estendendo-se por 120 km, ela liga a capital a cidades situadas no litoral. Outros percursos foram
construídos entre Natal e Ceará Mirim, em 1906. A empresa britânica The Great Western of Brazil Railway
Company desempenhou um papel capital na criação de nossas primeiras estradas de ferro. Ela
representa um exemplo, entre outros, da implicação do capital internacional nos esforços de
modernização do Estado.
4 Notadamente no domínio agrário, como a substituição do engenho pela usina de produção de açúcar e
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(Papari)
S. J. Mipibu 17 875 25 881 35 265 17 322 - 33,07
Vila Flor9 660 940 450 1 167 24,15
Arez 4 821 5 976 6 673 7 983 33,58
Apodi 12 369 16 647 15 336 21 084 26,65
Portalegre 4 655 8 099 10 545 6 168 - 23,84
5 CÂMARA, Anfilóquio. Cenários norte-riograndenses (1923). Rio de Janeiro : ed. O Norte, 1923, pp. 31-
32.
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Os dados desta coluna encontram-se in: CÂMARA, Anfilóquio. Cenários municipais..., op. cit., à exceção
da população de Natal.
7 Todos os dados desta coluna se encontram in : IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
somente em 1963.
9 Os dados da população de Vila Flor entre 1920 e 1950 referem-se à população exclusivamente urbana.
Como Extremóz, Vila Flor somente se torna novamente município em 1963. Os dados da população
desta localidade anteriores a 1963 foram tirados de diferentes fontes : Enciclopédia dos municípios
brasileiros/ sob a direção de FERREIRA, Jurandyr Pires. Vol. XVII. Rio de Janeiro : IBGE, 1960, p. 44;
CASCUDO, Luís da Câmara. Vila Flor. In : Natureza e História … op. cit., pp. 125.
10 Vale observar a evolução de duas aglomerações que possuíram grande importância no passado. Com
uma taxa de 7,84 % entre 1940 e 1970, Assu cresceu pouco, mesmo que continue a ser um dos
municípios mais povoados e mais importantes do Estado. São José de Mipibu teve uma queda
significativa de 33,07 %. Os belos dias da produção da cana de açúcar haviam terminado.
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Natal 54 836 51 897 94,64 264 567 257 673 97,39 396,50
MISSIONÁRIO
(Papari)
S. J. Mipibu 25 881 2 338 9,03 17 322 6 963 40,19 197,82
Vila Flor X 940 1 167 692 59,29 -26,38
Arez 5 976 2 115 35,39 7 983 2 633 32,98 24,49
Apodi 16 647 797 4,78 21 084 5 120 24,28 542,41
Portalegre 8 099 552 6,8 6 168 1 355 21,96 145,47
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