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Os 4 pilares

para a educação
no Brasil

Por Ilona Becskeházy

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
ÍNDICE

INTRODUÇÃO

PARTE1: Tudo começa com um


bom currículo, mas a BNCC
queima a largada

PARTE 2: Quem controla os


livros didáticos controla a
mente das futuras gerações

PARTE 3: Saber avaliar é


inerente à função de ensinar

PARTE 4: A sociedade
brasileira não está apta a
formar as novas gerações

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correspondente

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
INTRODUÇÃO

Aceitei o desafio de escrever sobre políticas edu-


cacionais para os doutos e fiéis leitores da Gazeta
do Povo em 2022. A minha ideia está sendo, tanto
quanto possível, não ficar fazendo listas dos pro-
blemas, mas descrever e comentar medidas efica-
zes para resolvê-los. Das mazelas, falam todos.
Das soluções, falam poucos. Sobre as já testadas e
em andamento em países cujos alunos apresen-
tam média alta de desempenho em provas inter-
nacionais, não fala ninguém.

Meu desafio é que explicar essas políticas que fun-


cionam não é fácil. Descrever seus desenhos é bem
mais complexo do que se pode chutar em artigos
de imprensa e até em produções acadêmicas (es-
tou falando do que se produz aqui no Brasil, que é
de chorar de vergonha e raiva, uma vez que a es-
trutura de pós-graduação que as produz é uma pe-
drada no bolso do pagador de impostos). Mas o se-

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gredo do sucesso educacional onde todos aprendem
muito é o mesmo de uma obra bem feita: projeto
ótimo e execução melhor ainda.

A estrutura da “casa” da política educacional nos-


sos leitores já conhecem: currículo, livro didático,
avaliação e formação docente. Se esses componen-
tes são de péssima qualidade aqui em nossa terri-
nha, o resultado não pode ser outro.

Tentem imaginar a nossa capacidade instalada de


implementação dessa infraestrutura de políticas
educacionais efetivas, que ensinam de verdade, e
eficazes, com um balanço custo-benefício aceitá-
vel, partindo de uma massa crítica de profissionais
brasileiros da educação formada no mais puro e
acachapante paulofreirismo panfletário. É prati-
camente nenhuma!

Pensem: se municípios, estados, escola privadas e


governo federal tomassem coragem política para
aplicar uma prova de redação com mil palavras
(aproximadamente cinco parágrafos), exigindo
seguir as regras cultas da Língua, e uma de Mate-

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mática com Geometria e equações de 1º grau (ma-
téria de 5º ano em países desenvolvidos), pouquís-
simos docentes alcançariam notas aceitáveis.
Muito menos ler em inglês, compreender o que se
passa nesses países em termo de política curricu-
lar e educacional e, menos ainda, fazer a transpo-
sição delas para as condições locais.

Até hoje, esse fenômeno só aconteceu de forma


concentrada no Município de Sobral, Ceará e, de
forma diluída, na gestão estadual do mesmo esta-
do. Outros casos famosos comumente citados apre-
sentam alguns sérios furos estatísticos, como bai-
xa adesão às provas de aferição da qualidade (a
nota sobe...) e alta evasão sistêmica (alunos de bai-
xo desempenho são retirados da contagem). En-
tão, pessoal, estamos mesmo na várzea, sem um
gato para puxar pelo rabo.

Muitos leitores (porque lêem a Gazeta e outras fon-


tes de qualidade) já entenderam isso e estão seria-
mente cogitando partir para o ensino domiciliar,
se é que já não o fizeram. Ou já o praticam em tem-
po parcial. Acham que não? Nossas estatísticas

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mostram alta correlação positiva entre níveis edu-
cacionais mais altos de mães/família e desempe-
nho escolar dos filhos. Isso é o homeschooling que
a esquerda não conseguiu proibir (ainda!).

Então, meus querid@s, é sobre isse que vocês vão


ler no E-book!

No meio do caos educacional, trago más notícias,


mas, pelo menos, tento explicar causas e conse-
quências do que se fala por aí.

Ilona Becskeházy, maio de 2023.

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O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
PARTE 1

Tudo começa com


um bom currículo,
mas a BNCC queima
a largada

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
Vou começar, com este artigo, a série de
quatro partes para explicar, individual-
mente, os fundamentos essenciais de uma
política educacional eficaz, ou seja, aque-
la que leva todos os alunos a aprender mui-
to, levando-se em conta uma ambição
acadêmica alinhada com a de países mais
desenvolvidos que nós. Por exemplo, In-
glaterra, Portugal, Singapura e Finlândia.

A “receita” que os governos desses países usaram


se aplica tanto a redes de escolas públicas ou pri-
vadas, quanto a escolas isoladas e até mesmo ao
ensino em ambiente doméstico. Sem esses quatro
elementos bem desenhados e operacionalizados,
não há santo ou mágico que dê conta de ensinar
nem aos cães! Os ingredientes, que devem ser con-
siderados na ordem em que estão sendo listados e
com o propósito explicitado, são os seguintes: 1)
currículo, uma lista organizada e clara do que de-
ve ser aprendido a cada período letivo; 2) material
didático de alta qualidade que traga várias opções
sobre como apresentar os conceitos e procedimen-

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tos ditados pelo currículo aos educandos, além de
exercícios que guiem o processo de aprendizagem
de cada um dos objetivos; 3) avaliações bem feitas
que possibilitem a verificação do aprendizado dos
itens do currículo, individualmente, de modo a que
se possa identificar dificuldades e apoiar o progres-
so dos alunos; e 4) capacidade didática para o edu-
cador, o que, genericamente, chamamos de for-
mação docente – mas que serve para pais e outros
tutores, incluindo os treinadores de cachorrinhos.

Para facilitar, vou ilustrar minha breve explicação


sobre currículo mostrando o que os educadores de
Paulofreireland foram capazes de fazer sob as nos-
sas barbas (praticamente sem oposição, a não ser
da mamãezinha chata que vos escreve). Apresen-
tarei dois conjuntos de exemplos do que deve apa-
recer em um currículo, comparando com pérolas
contidas na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). Esse documento normativo, produzido por
ONGs desde dentro do Ministério da Educação a
partir de 2012 e homologado já no Governo Bolso-
naro em 2019, foi vendido pela imprensa à nossa
sociedade como sendo um grande avanço educa-

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cional e festejado pelos militantes da esquerda, pois
finalmente tornaram obrigatório o ensino (que já
era de cunho) marxista em todas as salas de aula.

Sem esses quatro elementos bem desenhados e


operacionalizados, não há santo ou mágico que dê
conta de ensinar nem aos cães

Afinal, o que é um currículo? Como já foi dito, é


uma lista hierarquizada, lógica e explícita de ob-
jetivos de aprendizagem para um determinado fim
pedagógico. É um texto do tipo injuntivo, como o
são as receitas e as leis. Ou seja, textos que fazem
com que o leitor aja, ou saiba que deve agir, de de-
terminada forma. Para que isso ocorra, há uma sis-
temática a ser seguida: nas receitas, os ingredien-
tes e suas quantidades são listados primeiro e ,
depois, de que forma e ordem devem ser usados.
Em um currículo, a unidade normativa mínima que
se busca é – analogamente ao artigo de cada lei –
o que se chama no paulofreirês da BNCC de “ha-
bilidades”. Na verdade, são os tais “objetivos de
aprendizagem”, os quais, obviamente, todos os
alunos devem aprender. A sutileza de não os cha-

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mar de “objetivos de aprendizagem” é que se tira
do foco a responsabilização sobre o que se espera
que cada aluno aprenda por ir à escola. Portanto,
que cada professor lhes deve ensinar, um parâme-
tro de “controle social” que os sindicalistas abo-
minam. Esses objetivos devem, obrigatoriamente,
1) ser organizados em torno de cada disciplina –
pois cada uma conta com cânones, conceitos e
princípios próprios – e 2) ser listados em ordem
de complexidade, pois é assim que o cérebro dos
seres humanos aprende: de maneira cumulativa,
do mais simples para o mais complicado.

Vamos aos exemplos. Sim, estão cheios de chati-


ces técnicas, mas sem que os pais e cidadãos co-
muns entendam o buraco em que nos metemos,
jamais dele sairemos. Força!

Para a BNCC, nossos alunos só podem ser conside-


rados como tal a partir da tal “idade da razão”, aos
7 anos. Essa seria a única explicação lógica para
seus formuladores terem deixado para a pré-es-
cola (4 e 5 anos – etapa obrigatória e custeada pe-
los pagadores de impostos) e para o 1º ano do en-

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sino fundamental apenas arremedos de atividades
pedagógicas de cunho lúdico. Enquanto nossos an-
jinhos atrasados ficam com os rudimentos do “di-
reito a brincar” que, na visão dos doutos das ONGs
se opõe ao direito de aprender, seus pares em pa-
íses desenvolvidos vão à escola desde pequenos pa-
ra aproveitar a janela cerebral de aprendizagem
descrita pela Ciência Cognitiva. Vamos ver?

Em Paulofreireland, as habilidades de compreen-


são de textos para os alunos de 1º e de 2º anos (6
e 7 anos de idade) são as seguintes:

(EF12LP02) Buscar, selecionar e ler, com a media-


ção do professor (leitura compartilhada), textos
que circulam em meios impressos ou digitais, de
acordo com as necessidades e interesses.

(EF12LP04) Ler e compreender, em colabora-


ção com os colegas e com a ajuda do professor ou
já com certa autonomia, listas, agendas, calen-
dários, avisos, convites, receitas, instruções de
montagem (digitais ou impressos), dentre outros
gêneros do campo da vida cotidiana, consideran-

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do a situação comunicativa e o tema/assunto do
texto e relacionando sua forma de organização à
sua finalidade.

(EF12LP18) Apreciar poemas e outros textos ver-


sificados, observando rimas, sonoridades, jogos
de palavras, reconhecendo seu pertencimento
ao mundo imaginário e sua dimensão de encan-
tamento, jogo e fruição.

E apenas para os de 2º ano, ou seja, apenas a par-


tir dos 7 anos, os paulofreirenses podem:

(EF02LP26) Ler e compreender, com certa au-


tonomia, textos literários, de gêneros variados,
desenvolvendo o gosto pela leitura.

Agora vamos ver como é a normativa curricular na


terra da finada Rainha Elizabeth II, onde os alu-
nos entram no 1º ano com 5 anos:

[no 1º ano] Os alunos devem ser ensinados a: com-


preender tanto os livros que eles já podem ler com
precisão e fluência quanto aqueles que ouvem:

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▶ baseando-se no que eles já sabem ou em in-
formações de fundo e vocabulário [do texto]
fornecidos pelo professor;

▶ verificar se o texto faz sentido para eles à me-


dida que lêem e corrigir leituras imprecisas;

▶ discutir o significado do título e eventos;

▶ fazer inferências com base no que está sendo


dito e feito;

▶ prever o que pode acontecer com base no que


foi lido até aquele ponto.

Percebam as seguintes diferenças de abordagem


para a mesma etapa de escolarização: 1) confun-
de-se o que os alunos devem fazer (atividades:
buscar, selecionar e ler) com o que devem apren-
der (compreender); 2) no documento brasileiro,
não se fala em livros, mas em textos, com uma lis-
ta ridícula de exemplos deles (listas, agendas, ca-
lendários, avisos, convites, receitas, instruções de
montagem); 3) apreciar não é um verbo para cur-

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rículo – sim, eles devem aprender a gostar de ler,
mas isso só se dá a partir da compreensão; 4) ob-
servem a relutância em se admitir que os alunos
devem estar lendo com autonomia – e compreen-
são, óbvio – mesmo no 2º ano; 5) na Inglaterra,
não há problema em dizer que os alunos DEVEM
ser ensinados – já desde os 5 anos –; 6) percebam
como é bem mais fácil saber o que vai se passar em
sala de aula a partir dos objetivos propostos na In-
glaterra, do que no Brasil; 7) os alunos – de 5 anos!
– devem aprender a pereber se compreendem o
que lêem e corrigir a forma de ler, para treinar a
fluência, a qual pressupõe compreensão – é com
a observação da fluência de leitura oral que o pro-
fessor sabe se o aluno, pelo menos, entendeu as
informações mais básicas explícitas no texto; 8)
os verbos utilizados para descrever os objetivos de
aprendizagem podem ser observados e aferidos
pelo professor (ou pais) para se verificar o apren-
dizado do aluno a todo momento.

Agora vamos para um exemplo de Matemática na


BNCC, comparando paulofreiristas brasileiros e os
reducionistas tecnicistas de Singapura. Paulofrei-

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ristas primeiro: essas são TODAS as “habilidades”
apresentadas na BNCC relacionadas ao conceito de
fração do 2º ao 4º ano.

(EF02MA08) Resolver e elaborar problemas en-


volvendo dobro, metade, triplo e terça parte, com
o suporte de imagens ou material manipulável,
utilizando estratégias pessoais.

(EF03MA09) Associar o quociente de uma di-


visão com resto zero de um número natural por
2, 3, 4, 5 e 10 às ideias de metade, terça, quarta,
quinta e décima partes.

(EF04MA09) Reconhecer as frações unitárias


mais usuais (1/2, 1/3, 1/4, 1/5, 1/10 e 1/100) como
unidades de medida menores do que uma uni-
dade, utilizando a reta numérica como recurso.

A seguir, os malucos de Singapura, que trans-


formam crianças de 6 anos em robozinhos, coi-
tadinhos.

No 1º ano, os alunos aprendem as quatro opera-

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ções aritméticas e, no segundo, já são apresenta-
dos à notação de frações e aprendem a somá-las e
subtraí-las. No 4º ano, os alunos trabalham com
números mistos, frações impróprias e frações co-
mo parte de um conjunto de objetos – o que é di-
ferente do bom e velho pedaço de pizza do 2º ano
no Brasil. Além de resolver problemas de até duas
etapas com esse tipo de notação antes do fim da
educação elementar.

2º ano - Subeixo: Frações

1.1 fração como parte de um todo

1.2 notação e representação de frações

1.3 comparar e ordenar frações cujos denomina-


dores não excedam 12

Frações unitárias e frações iguais

2.1 Somar e subtrair frações iguais dentro de um


mesmo inteiro, com seus denominadores não
excedam 12

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3º ano - Subeixo: Frações

1.1 frações equivalentes

1.2 expressar uma fração em sua forma mais re-


duzida

1.3 comparar e ordenar frações não equivalentes


cujos denominadores não excedam 12

1.4 escrever a fração equivalente de outra, dado


o denominador ou numerador

2.1 somar s subtrair frações equivalentes dentro


de um mesmo inteiro com seus denominadores
não excedendo 12

Percebam a diferença entre os dois currículos. No


Brasil, os alunos não aprendem NADA de Mate-
mática na educação infantil e se lhes propõe no 2º
ano, resolver problemas com os CONCEITOS de
“dobro, metade, triplo e terça parte”, pois eles ain-
da nem viram a notação de números fracionários,
que só lhes será apresentada no 4º ano. Por isso,

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devem fazê-lo com “o suporte de imagens ou ma-
terial manipulável, utilizando estratégias pesso-
ais”. Haja estratégia pessoal não apenas para re-
solver, mas para FORMULAR problemas de fração
só com pedacinhos de pizza e barras de chocolate.

Outra questão (que não se percebe nos exemplos


acima) é que os alunos brasileiros até o 5º ano, só
trabalham o conjunto de números Naturais (nú-
meros inteiros e positivos)! Além disso, não po-
dem usar letras na notação matemática, portanto,
álgebra, nem pensar. Ou seja, nem pensar em ve-
rem números negativos, o que todos seus pares já
vêem desde que começam a escola formal.

Espero que esses exemplos os tenham deixados


muito incomodados e aflitos. É só com a indigna-
ção informada que poderemos alterar nosso futu-
ro educacional, seja para todo o país, seja apenas
para nossos filhos.

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O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
PARTE 2

Quem controla os
livros didáticos
controla a mente
das futuras
gerações

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Antes de seguir, relembro aos leitores que os qua-
tro elementos estruturantes de uma política edu-
cacional que se pretende eficaz são: currículo, li-
vros/materiais didáticos, avaliação e formação
docente. Assim, depois de se estabelecer o que vai
ser ensinado por meio de um currículo, o passo se-
guinte é escolher como vai ocorrer a aprendiza-
gem. O como é a famosa didática: apresentar con-
ceitos, formulações, algoritmos e tarefas de cada
disciplina para o ambiente de ensino. A didática
não sai da cabeça brilhante de um professor quan-
do ele entra em sala de aula, mas do suor da testa
de seus colegas com larga experiência tanto nos
cânones, princípios e concepções de Língua Por-
tuguesa, Matemática, etc., quanto na maneira de
apresentá-los e na competência das atividades que
o aluno deverá performar a cada faixa escolar pa-
ra que escolas, famílias e os próprios alunos te-
nham certeza de que aprenderam o esperado. Os
professores, depois de muito aprenderem com li-
vros didáticos e docentes mais experientes, pas-
sam a dominar essa arte.

Uma política - ou prática efetiva de ensino, pois

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essa receita se aplica a qualquer lógica de ensino,
incluindo o doméstico - precisa dar conta do ób-
vio: o objetivo de aprendizagem listado no currí-
culo é exatamente o mesmo que será testado na
avaliação (tema do meu próximo artigo). Se eu di-
go que um aluno de 2º ano vai saber “somar e sub-
trair frações iguais dentro de um mesmo inteiro,
com seus denominadores não excedendo 12”, pre-
ciso garantir que haverá uma avaliação que con-
tenha uma sentença aritmética composta por fra-
ções de denominadores iguais entre 1 e 12, com
numeradores que, entre si, somados ou subtraí-
dos, mantenham-se dentro dos limites 1/12 a 12/12.

Esse caminho entre o que é necessário ensinar pa-


ra que todos possam usufruir do direito à educa-
ção e a necessária verificação do aprendizado, que
é a materialização desse direito, é pavimentado
pela didática contida em livros, materiais e ins-
trumentos didáticos de alta qualidade. Não existe
educação sem aprendizado, é preciso repetir essa
frase simples à exaustão, porque, no Brasil, fomos
convencidos de que a disputa pela alocação de re-
cursos financeiros para educação substitui a pre-

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ocupação com o que é efetivamente aprendido. As-
sim, a atenção à didática esvaneceu. É
fundamental retomar o foco no que os alunos
aprendem ou deixam de aprender e o livro didáti-
co de qualidade é o melhor investimento que so-
ciedade, governos, famílias, escolas, professores
e alunos podem fazer para superar a ignorância
gerada dentro da escola.

Continuando nosso exemplo, para que um aluno


possa demonstrar que domina o objetivo de apren-
dizagem exemplificado acima, ele já deverá ope-
rar com destreza o valor posicional de números
inteiros até a segunda ordem (dezenas) e a sua
aritmética, compreender a noção de fração/divi-
são e saber usar a notação matemática correspon-
dente. Embora esse item curricular seja elemen-
tar, é possível perceber que os alunos já devem ser
capazes de fazer processamentos cognitivos bem
complexos para qualquer ser humano. O material
de ensino de bom padrão traz explicações bem sim-
plificadas de cada etapa, utiliza soluções gráficas
para que o aluno forme o conceito em seu cérebro
e o tempo todo propõe atividades de treino e veri-

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
ficação do que está sendo ensinado. O cuidado com
a apresentação e digestão paulatina de cada com-
ponente é essencial para que o conjunto do apren-
dizado realmente ocorra. Além disso, há recursos
pedagógicos extras, como material dourado e ou-
tras utilidades pedagógicas que facilitam, pela ma-
nipulação de objetos concretos, a formação das
ideias (neste caso) matemáticas no cérebro de ca-
da aluno. Essa lógica vale para tudo que deveria ser
aprendido nas escolas.

Acontece que o material didático no Brasil é quase


totalmente regulado pelo Governo Federal. O Pro-
grama Nacional do Livro Didático, que absorve a
maior parte da produção de livros nacionais, pa-
rece uma boa ideia: o Ministério da Educação faz
um edital que define aspectos pedagógicos, técni-
cos e gráficos para que possa executar a compra
centralizada de praticamente todos os livros di-
dáticos (e paradidáticos) que circulam nas escolas
públicas e (não se iludam) pautar os das escolas
particulares. Uma comissão avalia o que as edito-
ras produziram com base no edital, libera para os
professores das escolas selecionarem o que lhes

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mais apraz e vivemos felizes para sempre. Só que,
quem controla a equipe técnica responsável pela
elaboração do edital e, como parte do processo, as
demais equipes que analisam o que as editoras pro-
duziram com base nele, tem nas mãos a quase to-
talidade do que circula pelas mentes de nossos alu-
nos. É muita tentação, não?

Se, por um lado, a compra centralizada permite


uma redução brutal nos custos dos livros (quase
sempre os únicos) disponibilizados aos nossos alu-
nos, por outro, é urgente que a sociedade passe a
prestar mais atenção em quem participa do pro-
cesso, o que está definido no edital, qual a respos-
ta das editoras e que opções os professores esco-
lhem para suas escolas. É preciso dar muita sorte
para que algo desafiante e de qualidade vá para as
salas de aula e que ali, oxalá, o professor ensine
tudo o que foi proposto. No ambiente de escolas
pagas, esse necessário controle de qualidade do
material de ensino é raro, mas possível. No am-
biente público, que atende mais de 80% de nossas
crianças e jovens, é praticamente impossível.

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Ultimamente tenho analisado com muito vagar e
atenção os livros usados no fim do ensino funda-
mental e no ensino médio, principalmente no que
diz respeito à abordagem de assuntos relaciona-
dos ao agronegócio. A má qualidade dos textos, a
mediocridade das atividades de aprendizagem e a
doutrinação de esquerda mais deslavada são sim-
plesmente revoltantes.

Recentemente, um novo edital de livros para pré-


-escola permitiu que milhões de alunos recebes-
sem em suas escolas material de ensino parecido
e até melhor do que é usado em escolas privadas
de bom nível. Com os mesmos recursos será pos-
sível fazer muito mais pelos alunos. É quase um
milagre, mas essa nova lógica de gestão de políti-
ca educacional não foi apenas combatida pelo la-
do nefasto do Legislativo Federal, há relatos que
professores e equipes técnicas se recusam a usá-
-lo por darem trabalho demais (com outras des-
culpas, claro).

A verdade é que dormimos no volante por tempo


demais. Nosso carrinho verde e amarelo dirige-se

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
rapidamente para o precipício levando 220 milhões
de pessoas dentro. No setor educacional é onde se
pode notar isso com mais clareza.

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PARTE 3

Saber avaliar é
inerente à função
de ensinar

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Antes de entrar no tema da avaliação, vamos re-
lembrar alguns pontos. Primeiro, “ensino efetivo”
(efetividade escolar ou school effectiveness, no
original da linguagem acadêmica em inglês) é o
nome que se dá ao “fenômeno” em que todos ou
praticamente todos os alunos de um contexto de
ensino - em geral escola - aprendem o que foi pro-
posto. E os quatro pilares da efetividade escolar
(ou da educação domiciliar, comunitária e até em-
presarial) são: currículo claro (quanto mais am-
bicioso, melhor); livros didáticos de qualidade que
apresentam conceitos, explicações e tarefas para
treino e verificação do aprendizado proposto; ava-
liação permanente desse aprendizado, por meio
de atividades que induzam o aluno a performar -
de preferência, individualmente - a habilidade es-
pecífica que se quer observar; e construção de ca-
pacidade didática, mais popularmente conhecida
como formação docente (como se apenas os do-
centes pudessem ser os instrutores).

Mas vamos lá, porque vocês precisam aprender co-


mo é que se faz educação a sério, já que a esquer-
da que retoma o poder agora não vai fazer nada

O s 4 p i l a r e s p a r a a e d u c a ç ã o n o B r a s i l
disso e ainda convencerá a todos, como o fez até
hoje, de que o problema é falta de grana, falta de
revolução social porque pobre não aprende, falta
de grana, falta de recursos, falta de bufunfa, de-
sigualdade social, porque falta distribuição força-
da de renda e não produtividade, porque isso é coi-
sa de liberal chauvinista patriarcal e por que falta
grana e modess para as meninas assistirem aula.
Agora vai faltar também tablets para todos. Con-
fuso, não? Mas depois dessas frases de efeito, até
você já estará abrindo a carteira de bom grado...

Então, fiquem preparados porque quando a revo-


lução chegar e todos comerem picanha, os profes-
sores andarem em jatinhos de amigos e todas as
pessoas nas escolas segurarem em suas mãos um
tablet, nossos alunos saberão tanto português e tan-
ta matemática quanto os chineses. Ah, peraí! A Po-
lícia Federal bateu ali na porta e me avisa que Por-
tuguês e Matemática são conceitos burgueses que
deixam os interlocutores ficarem confusos e estres-
sados e que as crianças precisam mesmo é apren-
der que propriedade rural tem que ser expropriada
se não tiver função social e desenvolver o senso crí-

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tico (apenas em relação a quem cogita criticar o go-
verno, porque o governo - que eles dominam - é
perfeito e achar defeitos alí é antissocial).

Passada a digressão sobre o contexto, vamos ten-


tar entender, como deveria ser a progressão de
aprendizagem, com base em como já é feita em
países desenvolvidos e como já foi implementado
nos que se desenvolveram mais recentemente, co-
mo os asiáticos.

Lá vamos nós novamente para a chatice dos exem-


plos específicos, porque, sem eles, não é possível for-
mar uma imagem mental do que preciso explicar.

Em primeiro lugar, é preciso estar informado de


que existe um conceito internacionalmente usado
para ensinar e verificar a aprendizagem dos alu-
nos - pois uma coisa não pode existir sem a outra
- que foi aniquilado pelo estamento acadêmico re-
volucionário que domina a educação no Brasil: a
Taxonomia de Bloom (ou outras decorrentes des-
ta), a qual define o que é a hierarquia de objetivos
de aprendizagem.

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Para compreendê-lo bem é preciso ler o livro que
lhe deu origem (esgotado em inglês ou português,
mas disponível em inglês e a um custo escorchan-
te, em sua revisão de Krathwohl), ou fazer uma
busca na internet para sacar o básico: a lista de
verbos observáveis que dão origem às atividades
didáticas que os alunos devem fazer, tanto para
treino durante o processo de aprendizagem, quan-
to para que o professor possa perceber se eles
aprenderam ou não o que lhes foi ensinado.

Seguem duas aplicações dessa hierarquia: uma pa-


ra compreensão de texto, outra para Aritmética.

Para compreender um texto, não basta conseguir


lê-lo, mas retirar dele informações objetivas re-
levantes para, com elas, e com outras que já foram
guardadas na caixola de cada um, refletir sobre
questões variadas, para então formar seu próprio
julgamento (pronto, já está entendido porque os
doutos marxistas paulo freiristas odeiam Bloom
et al.). Assim, quando se trabalha o texto da fábu-
la conhecida como Chapeuzinho Vermelho, é pre-
ciso saber antes de mais nada se os leitores enten-

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deram a história. Aí subimos o primeiro degrau da
escala de Bloom: identificar informações explíci-
tas no texto. Quem era a Chapeuzinho? Uma me-
nina que morava em uma casa perto da floresta. O
que sua mãe lhe mandou fazer? Levar uma cesta
com alimentos para sua avó. Quem ela encontrou
no caminho? O Lobo Mau. Só que esse tipo de per-
gunta apenas evidencia que os alunos consegui-
ram ler o texto. Um outro tipo de pergunta faz com
que os alunos tenham que fazer inferências sobre
o que leram, mas que as respostas não estão no
texto: O que a mãe da menina estava fazendo an-
tes de chamá-la para ir à casa da avó? Esta infor-
mação não aparece, mas é bem provável que esti-
vesse preparando a cesta para mãe ou sogra. Por
que o Lobo Mau deu uma indicação errada sobre o
melhor caminho para a Chapeuzinho chegar na ca-
sa de sua avó? Para dar tempo de ele chegar lá an-
tes dela e poder lhe armar uma cilada. Como que
os caçadores conseguiram dominar e matar o Lo-
bo Mau tão rápido? Porque faz parte do cotidiano
deles e porque tinham armas (kkkk, essa é mega
politicamente incorreta).

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Mas a hierarquia de objetivos de aprendizagem
ainda tem mais degraus (formalmente, seis): os
alunos precisam, além de lembrar de elementos
do texto e interpretá-los, aplicar o conhecimento
que adquiriram (lembre-se de alguma vez que vo-
cê desobedeceu a sua mãe: o que houve?); analisar
elementos do texto e correlatos (como você sabe
que o Lobo era mau?), avaliar (será que todas as
pessoas feias - peludas e com dentes afiados - são
más?) e criar (escreva seu próprio texto sobre al-
go que aparece no texto como desobediência aos
pais, pessoas más que enganam as outras, etc). Ao
ver essa lista, imagino que os leitores possam es-
tar pensando duas coisas: “nossa mãe! Nunca vi
esses tipos de perguntas nos livros dos meus fi-
lhos” e “uau! Que delícia ler um texto e poder fa-
zer todas essas perguntas junto com meus filhos
ou alunos”. É exatamente esse mecanismo de ti-
rar da cabeça de quem aprende reflexões cada vez
mais complexas, que faz com que eles aprendam,
passem a gostar de ler e desenvolvam autonomia
de pensamento. Só que essas são capacidades cog-
nitivas que deveriam estar sendo desenvolvidas
nas escolas/famílias, mas que são muito temidas

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pelos intelectuais orgânicos gramscinianos: daí a
campanha contra o homeschooling (ou qualquer
alternativa às madrastas paulofreiristas) e a de-
fesa irracional da BNCC (nosso suposto currículo
nacional, que citou, mas não levou em conta, o pre-
ceito da hierarquia de aprendizagem).

Na Aritmética, aplica-se o mesmo princípio. Os


alunos precisam dominar o conceito de valor po-
sicional dos algarismos na formação dos números
para poderem armar e efetuar as quatro operações.
Depois vão aplicar esse tipo de algoritmo em pro-
blemas simples que evoluem para mais complexos
e com múltiplas etapas de cálculo. A partir daí pas-
sam a poder compreender propriedades conceitu-
ais que envolvem as quatro operações, como co-
mutativa, distributiva, etc. E acabam por conseguir
escrever expressões matemáticas de primeiro grau
que lhes ajudam a compreender o mundo e resol-
ver questões do dia a dia.

As provas do Sistema de Avaliação da Educação Bá-


sica (Saeb) e Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), por exemplo, não utilizam esse tipo de

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escala (dizem que sim, mas não usam) e, em seu
lugar, puseram uma escala de lacração ideológica
e decorebas inúteis. A famosa questão do Enem so-
bre um tal dialeto de pessoas trans não trazia ne-
nhum nível de reflexão a partir de um texto, tanto
como as famosas tirinhas da Mafalda e do Maurí-
cio de Sousa não são leitura de texto, mas de ima-
gens. A forma de escolher textos e desenhar ques-
tões de prova de compreensão ou de raciocínio
matemático utilizada pelo INEP - autarquia liga-
da ao Ministério da Educação que tem exatamen-
te essa função - é absolutamente equivocada.

Ensinar é avaliar e avaliar é ensinar. Sem que o pro-


fessor possa observar os alunos trabalhando para
saber o quê, do que foi ensinado ou apresentado a
eles, já está consolidado em suas mentes e que pon-
tos precisam ser repassados, treinados ou explica-
dos de outra forma, não pode exercer sua função
social (para usar bem um termo comum na esquer-
da). Sem saber o que, como e em que sequência ava-

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liar não existe valorização dos docentes. A luta fica
apenas para aumentar seus salários mesmo.

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PARTE 4

A sociedade
brasileira não
está apta a formar
as novas gerações

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A esta altura, as senhoras e os senhores já sabem
quais são os componentes da educação efetiva: um
currículo claro que contenha a lista progressiva de
objetivos de ensino, livros didáticos que os apre-
sentem e levem à prática, avaliação permanente
do que está sendo aprendido e capacidade didáti-
ca, foco deste último capítulo.

Já vou dar logo o spoiler, pois quem for fraco de


coração já nem segue a leitura: a sociedade brasi-
leira não tem a menor capacidade de formar as
próximas gerações de técnicos, políticos, cidadãos,
professores, cientistas, engenheiros e seres mo-
rais partindo do que os futuros adultos devem
aprender na educação formal institucionalizada,
vulgarmente conhecida como escola.

Desde que os franceses convenceram o mundo de


que lugar de aprender era em escolas estatais lai-
cas e não no seio das famílias, monastérios ou es-
colas comunitárias, tivemos uma expansão bri-
lhante do setor educacional no mundo. Má ideia?
Não para os países da Europa que já cultivavam a
tradição de formar suas elites da nobreza, clero ou

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militar. Afinal, quem toma esse ponto de partida
faz uma expansão do sistema contando com as se-
mentes da fórmula que estou tentando explicar
aqui: currículo + livros + avaliação e, principal-
mente, expertise didática. Mas para quem estava
nos trópicos, curtindo a mulherada, a natureza
farta e ficando rico com os abundantes recursos
locais, para que estudar? Quando necessário, man-
dávamos os morgadinhos para a metrópole e fica-
va tudo certo.

Assim, quando resolvemos expandir a educação


escolar no Brasil, no início dos anos 1970, a taxa
de analfabetismo absoluto para pessoas de 15 anos
ou mais era de 33,6%, uma das maiores do mun-
do ocidental. Ou seja, mais de três a cada 10 pes-
soas não sabiam sequer escrever o próprio nome.
Como a economia tem que andar e há outras prio-
ridades, quantas pessoas capazes e com interesse
para ser professores haveria no sistema educacio-
nal quando se tomou a decisão de universalizá-lo?
Uma vez que fazer com que a população fosse re-
almente letrada continuou a não ser prioridade, o
sistema foi expandido (lembram? fornecedores,

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empregos, gastos sem fim) sem professores capa-
citados, pois nunca houve um esforço realmente
sério de construção de capacidade didática para a
nação brasileira.

Além disso, com uma população vastamente ile-


trada na base, a elite fatalmente terá todos os seus
parâmetros educacionais e acadêmicos puxados
para baixo: não há professores de alto nível para
seus filhos e os pais não têm a menor condição de
discernir o que seja educação de qualidade, quer
para cobrá-la das instituições de ensino de seus
filhos, quer para acompanhar sua vida escolar ou
ajudá-los com as tarefas de casa. Soma-se isso à
vida corrida e hedonista do mundo atual e temos
o tal fenômeno da completa terceirização da edu-
cação para os funcionários das escolas que é a ba-
se da catástrofe educacional em que nos metemos.

Capacidade didática de uma comunidade é o so-


matório da formação técnica de profissionais de
educação com o nível de instrução e padrão moral
das famílias. Aliás, é mais ou menos isso que está
no artigo 205 de nossa Constituição (aquela que

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deixou de ser).

Com baixa capacidade didática, a vida escolar das


próximas gerações de uma sociedade pode ser fa-
cilmente reduzida a uma experiência de doutrina-
ção e corrupção moral, algo que começa a incomo-
dar uma parte das famílias no Brasil e no mundo e
que tem relação com movimentos ditos conserva-
dores. Embora nem todo pai exigente seja conser-
vador e - mais importante - nem todas as famílias
que se acham conservadoras sejam exigentes com
a formação intelectual e moral de seus filhos, há
sim uma relação forte entre a percepção de que es-
cola serve para ensinar os alunos a, principalmen-
te, se comunicar efetivamente em uma ou mais
línguas, além de desenvolver raciocínio matemá-
tico complexo e uma visão de mundo que respeita
o passado e o legado de gerações passadas para
construir o futuro.

As famílias são parte do problema, mas podem


também ser parte da solução. No entanto, se as es-
colas resistem a essa cobrança por instrução em
bom nível e formação moral para o bem comum e

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insistem no modelo de criação de exércitos de zum-
bis ideológicos e consumistas, nasce outra força
dentro da sociedade: o desejo de fugir das insti-
tuições de ensino e voltar ao ensino doméstico de
antes da Revolução Francesa.

O segredo para o ensino de qualidade, tanto em


ambiente escolar quanto doméstico é ter à mão
material instrucional à altura, algo que pratica-
mente inexiste no Brasil, exatamente pela inércia
que descrevi acima. Quem quer complementar a
educação de seus filhos, ou fazê-la inteiramente
em casa ou com outras famílias, esbarra no deser-
to de obras didáticas e paradidáticas - além de se
confrontar com ira dos donos das escolas públicas
(sindicatos) e privadas. Quem passou a se interes-
sar de verdade pela educação de seus filhos des-
cobre que, no Brasil, quase não há como fugir da
armadilha do não ensino porque acordamos tarde
demais.

A solução, na minha opinião, está em editoras es-


trangeiras que guardaram o conhecimento de ge-
rações anteriores de outras sociedades ocidentais

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perceberem essa demanda por qualidade e virem
vender suas obras por aqui. Se tentarmos reinven-
tar a roda, vamos continuar chafurdando na igno-
rância acadêmica e moral.

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