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ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO
E LITERATURA INFANTIL
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Base Nacional Comum Curricular (BNCC), propõem que a alfabetização das
crianças ocorra até o segundo ano do ensino fundamental, “com o objetivo de
garantir o direito fundamental de aprender a ler e escrever” (Brasil, 2007). Esse
novo documento norteador da educação básica em todo o país já foi entregue
pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, ao Conselho Nacional de Educação
(CNE), em abril de 2017. Como argumento, o ministro destaca o seguinte
enunciado:
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Tema 4 – Como selecionar e elaborar as atividades de alfabetização e
letramento na sala de aula da educação infantil?
Tema 5 – O ciclo de alfabetização: um repensar nas práticas
pedagógicas.
CONTEXTUALIZANDO
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crianças. É, talvez por ser leitora do Paulo Freire também, acho que tem
que ter esse vínculo pra essa aprendizagem mais significativa, mais
rápida, para ser alfabetizadora precisa você convencer o aluno de que
aquilo é importante. E a melhor maneira é com essa relação boa que a
gente consegue com eles. Primeiro preciso conhecer essa turma, tenho
que considerar o que eles já sabem, eu tenho que ter esse diagnóstico de
alguma forma, se eu não tenho o diagnóstico eu não consigo ir pra frente.
[...], você tem que ter o diagnóstico muito claro na sua turma e ter mais
planejamentos, você vai ter que considerar o grupo que ainda esta nessa
condição, o grupo que esta na outra condição e o grupo que esta mais a
frente, que a gente sempre tem. É difícil? É difícil, mas ainda acho muito
mais fácil de fazer esse trabalho hoje do que como era antigamente onde
a gente tinha turmas de primeira série com 30 alunos, 33 alunos, era
assim. E eu lembro muito bem as minhas turmas. E quando chegava o
final do ano reprovavam 7, 8 e eu chorava muito quando eles reprovam
[...]
Professora Marilene: ser professor alfabetizador é aquele que consegue
junto com os alunos [...] formar seres humanos melhores no sentido de
que eles se apropriem da leitura e da escrita além da decodificação, além
de entender os símbolos e ler palavras, mas que eles consigam ler
palavras, símbolos, imagens consigam ler o mundo, que consigam
interpretar, que consigam pensar, que consigam fazer, que não sejam
apenas sujeito decodificadores, mas sujeito leitores de mundo e
transformadores acima de tudo de sua realidade. Eu acho que quando a
criança se apropria da leitura e da escrita com esse olhar de análise crítica
ele será um sujeito que transforma sim a sua realidade, pra mim isso é se
apropriar da alfabetização e do letramento. [...] Ser letrado é conseguir
essa leitura de mundo para se transformar e transformar a sua realidade, é
ser um sujeito histórico, social, humano, é ser um ser humano de
totalidade, um ser humano que pensa [...] Que se incomoda com as coisas
que [...] Ajuda outras pessoas a serem pessoas melhores que se indigna
com os dias sem justiça. Para mim quando se alfabetiza quando você é
letrado [...].
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teorias e as concepções que constroem esse mundo da aprendizagem da leitura
e da escrita, é imprescindível que o professor e os profissionais que trabalham
com o ensino e aprendizagem da linguagem compreendam as especificidades
de cada etapa e níveis de ensino em que irão atuar.
Pensando nas propostas pedagógicas para a infância e considerando o
desenvolvimento infantil e não apenas o conhecimento escolar, há aspectos
relevantes na construção de conhecimentos e na organização das práticas
pedagógicas nas escolas públicas brasileiras. Os conceitos de alfabetização e
letramento, de educação e de infância devem ficar muito claros para quem
trabalhará nessas etapas de ensino com a necessidade de articulação entre:
áreas do conhecimento; diferentes linguagens; interdisciplinaridade.
Algumas questões importantes para pensar sobre o planejamento, o
professor e suas ações na sala de aula: para quem estou planejando? O que
ensinar para esses alunos? Para que devo ensinar esses conteúdos? O que
devo considerar em meu planejamento? Qual é o nível de aprofundamento que
devo levar em conta (tanto o meu quanto do meu aluno)? Qual é a metodologia
e os procedimentos que devo usar?
Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus princípios,
objetivos e diretrizes educacionais, fundamentando-se na
inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e educar, pois esta
é uma concepção norteadora do projeto político-pedagógico elaborado
e executado pela comunidade educacional. (Brasil, 2010c, grifo meu)
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Direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer.
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Portanto, a questão que se coloca nesse ponto agora é refletir de que
forma é possível propiciar práticas significativas de alfabetização respeitando a
cultura da infância em um diálogo com seus direitos propostos pela BCNN, em
que o processo de leitura e escrita, faça sentido para ela. Pois conforme alerta
as DCNEI (Brasil, 2010), no “Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitando as
especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados
no Ensino Fundamental”. E é nesse contexto, que o letramento adquire sentido
na educação infantil na viabilização da alfabetização, como afirma Soares (2004,
p. 22):
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de forma a viabilizar a compreensão do sistema alfabético, de forma coerente e
conectada com a realidade da criança.
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“Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (Brasil, 2013).
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direitos, portanto a criança se constitui no centro do planejamento curricular,
respaldado por uma proposta pedagógica da instituição de educação infantil,
que garanta a sua “função sociopolítica e pedagógica” (Brasil, 2010c, p. 2)
considerando que:
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papel de ouvinte, mediador e observador do processo ensino e aprendizagem,
propiciando à criança ser sujeito de suas ações.
Mediante esses apontamentos pautados na legislação, também se faz
necessário uma reflexão acerca do papel do professor na educação, em uma
perspectiva psicológica da aprendizagem com suas respectivas implicações ao
trabalho educativo, até porque, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
as potencialidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Freire,
2008, p.22). Portanto, o professor precisa ter consciência que a criança tem suas
potencialidades, e que seu papel, enquanto educador, será aquele outro que
mediará o desenvolvimento de tais potencialidades. Nas palavras de Rinaldi
(2012, p. 314):
5“A ZDP refere-se aos processos que a criança consegue realizar apenas em colaboração com
outros, na atividade coletiva, ou seja, que só podem efetivar-se no plano interpsíquico. O que a
criança é capaz de fazer hoje no plano interpsíquico, conseguirá fazer amanhã com autonomia,
no plano intrapsíquico, como conquista de seu desenvolvimento psíquico individual” (Vygotsky,
1991, p. 174) também explicado na terceira aula.
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não fuja ao seu objetivo. Nela podemos agregar o conteúdo e o critério de
avaliação, ou seja, deixar claro o que pretendemos com esse instrumento
mediador da aprendizagem. Essa atividade compreende ações para a produção
e construção do conhecimento para as crianças nos diferentes níveis.
A educação infantil subdivide-se em creche de até 3 anos e pré-escola de
4 a 5 anos. Devemos então ter o cuidado pedagógico com essas atividades, pois
elas deverão ser condizentes com a faixa etária, seguindo o currículo e a
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino no qual a escola está
inserida. O aluno dessa etapa aprende fácil e prazerosamente através da
brincadeira, do brinquedo e do jogo, mas, para que tenha articulação e contexto,
é interessante começar a sua aula utilizando também a literatura infantil, a
ludicidade com enfoque no desafio, no cantar, no dançar.
Contudo, ao inserirmos a escrita no início da infância, permitiremos à
criança compreender que a função social adentra a expressão, comunicação,
informação, ideais e sentimentos. Porém, é preciso ter cuidado em relação ao
aprendizado da escrita na escola e em relação a como os alunos interagem
nesse mundo, por isso são imprescindíveis a alfabetização e o letramento das
crianças da educação infantil, pois é a forma pela qual os professores
apresentam a escrita para a criança que vai permitir que ela utilize esse recurso,
como leitora e produtora de textos.
O aluno de até 3 anos deve desenvolver sua fala, estimular seu
conhecimento de corpo, de espaço, com atividades que envolvam percorrer o
espaço existente, com estímulo auditivo, com a mediação do adulto, com a
manipulação de objetos e o nome do objeto, formando assim a relação da
associação do objeto e seu nome, criando um sentido social. O desenvolvimento
da linguagem oral, assim como de outras linguagens como a pintura, a
modelagem, o desenho, a dança e a produção de sons, contribui
significativamente para a aprendizagem da escrita, pois permite que a criança se
aproprie da escrita como um instrumento cultural complexo.
Essa é uma perspectiva de escrita enfocada pelos estudos de Vygotsky
cujas contribuições sobre a aquisição da escrita são reiteradas por Mello (2006,
p. 181);
Parto da ideia de que muito do que temos feito com a educação das
nossas crianças carece de uma base científica e que, frente aos novos
conhecimentos que temos hoje e que já nos permitem falar em uma
nova ciência – a ciência da educação -, podemos perceber alguns
equívocos nas práticas que muitos de nós realizamos na educação das
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crianças e, a partir da concepção e de uma atitude que busque a
superação desses equívocos, podemos buscar maneiras de melhorar o
que estamos fazendo e o modo como trabalhamos para garantir isso
que todos queremos e que é a maior conquista que a educação pode
permitir: a formação e o desenvolvimento máximo da inteligência e da
personalidade das crianças. A apropriação da escrita como um
instrumento cultural complexo é elemento essencial na formação da
inteligência de cada sujeito.
Além disso, Melo explica que uma nova informação será processada e
apropriada se a criança conseguir interpretar e expressar por meio da
linguagem, tornando objetiva a compreensão, e essa objetividade pode ser
realizada por meio da fala, do desenho, de uma música, de uma maquete, de
uma expressão corporal, de uma escultura, de um jogo de faz de conta, de uma
dramatização ou até mesmo por meio de um texto escrito. No caso de as
crianças ainda não escreverem, o professor é o escriba dos alunos.
Nesse sentido, os planejamentos realizados pela professora devem
propor sequências didáticas desafiadoras que levem a criança a pensar,
construir algo diferente, perceber que foi capaz de realizar com autonomia ou
mesmo com a mediação do professor. É interessante que o professor busque
por planejamentos bem elaborados, que o aluno construa e reconstrua nas
atividades propostas diferentes hipóteses, com recorte, colagem, desenho,
pintura. Favorecendo, nesse contexto, a apropriação do conhecimento, pois “o
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aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido” como salienta Alves
(2003, p. 50)
Há sempre a necessidade de o professor indagar se as práticas que
realiza têm conseguido “incorporar o brincar como dimensão cultural do
processo de constituição do conhecimento e da formação humana?” (Borba,
2006, p. 38 e 39). Pois, segundo essa autora, o brincar possibilita:
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TEMA 5 – O CICLO DE ALFABETIZAÇÃO: UM REPENSAR NAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS
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professor na formação continuada, disponibilizada pela mantenedora ou outras
formações vinculadas à educação como atualização da prática pedagógica,
estudo do currículo ou trocas de experiências.
Com o ensino de nove anos houve a inclusão da criança de 6 anos no
ensino fundamental. Cabe, então, à instituição escolar, responsável pelo ensino
da leitura e escrita, ampliar as experiências das crianças.
O professor dos anos iniciais, ao repensar a sua prática pedagógica, deve
buscar associar o conhecimento científico com o que interessa ao aluno, o
lúdico, utilizando-se de diferentes gêneros textuais, da inclusão da tecnologia no
planejamento, com atividades que propiciem o pensar, o desafiar numa
perspectiva de alfabetização com prática no letramento, pois “nessas
experiências culturais com práticas de leitura e escrita, muitas vezes mediadas
pela oralidade, meninos e meninas vão se constituindo como sujeitos letrados.”
(Brasil, 2007, p. 70)
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para a formação de atitudes e valores essenciais para o fortalecimento de
vínculos familiares e de solidariedade.
Para atender às exigências previstas nas diretrizes, torna-se necessário
delimitar os diferentes conhecimentos e as capacidades básicas.
Ainda de acordo com o PNAIC, são descritos direitos de aprendizagem
gerais, que permeiam toda a ação pedagógica, com conhecimentos e
capacidades específicos organizados por eixo de ensino da língua portuguesa:
leitura, produção de textos escritos, oralidade, análise linguística.
Na análise linguística, o objetivo é destacar as especificidades do ensino
do sistema de escrita alfabética para que as crianças tenham autonomia na
leitura e produção de textos, separando tais direitos de outros aspectos da
análise linguística, também fundamentais para a ampliação das capacidades
para lidar com as situações de produção e compreensão de textos orais e
escritos.
Na produção e compreensão de textos, são muitas e variadas situações
sociais que demandam ações de escrita/fala/escuta/leitura e o uso dos gêneros
textuais no trabalho de sala de aula. É importante salientar que o nível de
aprofundamento de um determinado conhecimento que se busca ao lidar com
crianças de seis anos não é o mesmo que se busca com crianças de oito anos.
Por esse motivo “o professor, sem dúvidas, precisa estar atento às experiências
e conhecimentos prévios de seus alunos, seus interesses e modos de lidar com
os saberes escolares”. (Brasil, 2012, p.28).
Portanto,
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Dessa forma,
FINALIZANDO
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Portanto, os temas estudados nesta aula são apenas indicadores do
quanto é necessário conhecer sobre as especificidades do trabalho do professor
alfabetizador e as articulações necessárias na prática pedagógica.
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REFERÊNCIAS
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_____. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.
Resolução n. 4, de 13 de julho de 2010. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 14 jul. 2010b.
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REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação, 9. ed.
Vozes: Petrópolis, 2000.
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