Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
a CAPÍTULO V
TOXICIDADE RENAL ASSOCIADA AO USO DE ANTI-
INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES
DOI: 10.51859/AMPLLA.tam719.1121-5
João Batista Tavares de Lima Junior ¹
Leticia Teles Mesquita ¹
Paulo Victor Teixeira Firmino ¹
Ruan Pablo Cruz Fonteles ¹4
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo analisar a literatura científica acerca dos efeitos
do uso crônico de anti-inflamatórios não esteroides (AINES) sobre o sistema renal, tendo
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
em vista que o uso desses fármacos é bastante comum por conta de suas diversas
indicações clínicas. Entretanto, esta classe de medicamentos pode acarretar graves
efeitos adversos, especialmente quando usados de forma crônica e/ou inadequada, com
potencial de danos cardiovasculares, gastrointestinais e renais. Para esta pesquisa
bibliográfica, foram consultadas as bases de dados SCOPUS, MEDLINE, EMBASE, através
da utilização de descritores pertinentes à temática, sendo selecionados 23 artigos para
compor esta revisão após o processo de avaliação dos artigos. A análise dos estudos
evidenciou que a toxicidade do uso crônico de AINES tem seus efeitos refletidos em
vários órgãos do corpo, incluindo os rins. Os AINES promovem o bloqueio das enzimas
ciclooxigenase, inibindo o processo de formação de prostaglandinas, as quais são
essenciais para manter a homeostase renal. Diversas alterações renais estão associadas
ao uso crônico destes fármacos, tendo sido relatados infiltrado inflamatório intersticial,
sinais de lesão tubular e fibrose glomerular. Entretanto, alguns estudos analisados não
correlacionaram a nefrotoxicidade ao uso de AINES, suscitando a importâncias da
realização de mais estudos acerca desta relação.
60
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
a Desde a antiguidade, o homem procura soluções para as suas enfermidades. Por
volta do século V a.C., antes mesmo do avanço da ciência, Hipócrates observou, de
forma empírica, o potencial da casca do salgueiro e de suas folhas na terapêutica da dor
e da febre. Séculos depois, tal eficiência foi confirmada a partir do isolamento dos
salicilatos (década de 1830) oriundos desses elementos naturais, o que, em seguida,
ocasionou a descoberta da aspirina (salicilato de acetil) por Felix Hoffman no final do
século XIX, disseminando, assim, o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINES) em
todo o mundo (BINDU; MAZUMDER; BANDYOPADHYAY, 2020).
Na atualidade, os AINES são amplamente utilizados como analgésicos e
antipiréticos, destacando-se, ainda, o seu papel no tratamento de dores crônicas e de
condições inflamatórias, tais como osteoartrite e artrite reumatoide, além de serem
utilizados em condições cirúrgicas pós-operatórias e para o alívio de cólicas menstruais.
Esses fármacos são a primeira linha de escolha para estas condições devido a sua
considerável eficácia, alta relação custo-benefício e relativa segurança (BINDU;
MAZUMDER; BANDYOPADHYAY, 2020; KATZUNG; TREVOR, 2017).
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica cujos resultados são apresentados na
forma de revisão de literatura. Para tal, foram conduzidas buscas nas bases de dados
SCOPUS, MEDLINE e EMBASE a partir do uso dos seguintes descritores e suas
61
aaaaaaaaaaaaa combinações: “Anti-Inflammatory Agents, Non-Steroidal”, “Urogenital System”,
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A administração de anti-inflamatórios não esteroides (AINES) para o tratamento
da dor, da febre e da inflamação tem se consagrado mundialmente pela eficácia
terapêutica. Também, a ampla disponibilidade no mercado e baixos custos favoráveis,
em relação ao acesso da população aos AINES, são condições notórias em todo o mundo
(ABD ELHAFEEZ et al., 2019; MARTTINEN et al., 2021; ABUBAKAR et al., 2021). Porém,
existem diversas contraindicações ao seu uso e, apesar dos potenciais efeitos adversos
que podem causar e destas contraindicações, o número de prescrições inadequadas e
vendas não monitoradas é crescente (HULL et al., 2014).
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
62
aaaaaaaaaaaaa A administração dos AINES promove o bloqueio da atividade das enzimas
63
aaaaaaaaaaaaa de proteinúria foi de 0,72 g/l entre as quatro crianças em uso de AINES. Ademais, notou-
caráter protetivo e nem que todos os inibidores não seletivos da COX são fatores de
riscos que comprometem o bom funcionamento dos rins (OKAMOTO et al, 2020).
Amatruda e colaboradores (2021), com base em uma grande coorte delineada
para verificar os fatores capazes de promover declínio funcional em indivíduos idosos
(estudo Health ABC), verificaram que, embora houvesse a hipótese de que o uso de
AINES poderia gerar comprometimentos na função renal dos pacientes, não foi
detectada diferenças significativas na taxa de filtração glomerular entre os usuários e os
não usuários desta classe de fármacos. Os pacientes em uso dos AINES apresentavam
uma menor probabilidade de desenvolver uma relação albumina-creatinina (ACR) maior
que 30mg/g (AMATRUDA et al, 2021).
64
aaaaaaaaaaaaa patologias humanas, o uso abusivo dessa classe de medicamentos tem gerado ônus à
a saúde de inúmeras pessoas, devido aos seus efeitos colaterais tóxicos, uma vez que
esses fármacos são frequentemente usados de uma forma inadequada, violando as
recomendações de segurança atuais (MÖLLER et al.; 2015).
Sob prescrição médica os AINES são indicados para pessoas com doenças prévias,
com o objetivo de minimizar dores agudas ou crônicas. Alguns AINES, ganharam atenção
recentemente como anti-inflamatórios eficazes para uso em osteoartrite, espondilite
anquilosante, doenças musculoesqueléticas, aterosclerose e doenças autoimunes,
como a artrite reumatoide. Contudo, alguns destes fármacos, como o piroxicam, tem
muitos efeitos adversos, como ulceração gastrointestinal, hepatotoxicidade,
nefrotoxicidade e outros, sendo contraindicados diante da presença de diversas
condições clínicas (ABDEEN et al.; 2019).
Paradoxalmente, indivíduos com patologias crônicas comumente requerem um
uso mais prolongado de AINES com o fito de reduzir as inflamações, embora não haja
modificação no curso de algumas doenças (MÖLLER et al., 2015). Esse uso crônico pode
potencializar o risco de os usuários desenvolverem sérios efeitos colaterais, a exemplo
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
das doenças renais aqui citadas, as quais, em alguns casos, são irreversíveis.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do tempo, os avanços científicos no desenvolvimento de novos
fármacos que objetivam amenizar sinais e sintomas de várias patologias, têm sido
indispensáveis para melhorar a qualidade de vida e, até mesmo, consolidar a cura de
muitos indivíduos. Contudo, o uso descontrolado desses medicamentos, como os AINES,
tem causado prejuízos à saúde de seus usuários. Diante disso, todas as informações
científicas supracitadas são esclarecedoras e podem ser úteis para minimizar os
possíveis efeitos patológicos do uso crônico de AINES, principalmente entre os pacientes
com doenças prévias, além de servir como recurso orientador para os profissionais de
saúde que detêm a responsabilidade de prescrever esses fármacos, evitando assim
prescrições indevidas.
Diante do contexto apresentado, ressalta-se a necessidade do controle do uso
desses medicamentos, pois, por apresentarem baixo custo e serem eficazes para
amenizar sintomas comuns, ao serem utilizados indiscriminadamente através da prática
65
aaaaaaaaaaaaa da automedicação, podem acarretar distúrbios fisiopatológicos, principalmente quando
a relacionada a fatores de risco, como idade avançada, diabetes e outras doenças prévias.
Tanto os AINES seletivos COX-2 quanto os AINES não seletivos apresentam
efeitos adversos quando administrados de forma crônica, incluindo nefrotoxicidade.
Dessa forma, mais estudos precisam ser realizados com o intuito de melhorar os
conhecimentos acerca dos impactos dos AINES na função renal humana.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Profa. Dra Tatiana Bachur, que foi um canal indispensável para a
realização desse trabalho científico, uma vez que manifestou todas as qualidades de
uma excelente orientadora, através de sua didática, disponibilidade, compromisso,
responsabilidade e criteriosidade técnico-científico. Além disso, estamos mutuamente
gratos a toda a equipe pela cumplicidade e determinação na produção desse capítulo.
REFERÊNCIAS
ABD ELHAFEEZ, Samar et al. Non-steroidal anti-inflammatory drugs among chronic
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
66
aaaaaaaaaaaaa BAO, Hao et al. Inhibition of glycogen synthase kinase-3β prevents NSAID-induced acute
a kidney injury. Kidney Int, v. 81, n.7, p 662-673, jan. 2012. DOI
10.1038/ki.2011.443. Disponível
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22258319. Acesso em: 11 maio 2021.
D., K.C.; B., W.I.J. Fundamentos em Toxicologia de Casarett e Doull (Lange). [Porto
Alegre-RS]: Grupo A, 2012. 9788580551327. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580551327/. Acesso
em: 03 Jul 2021
67
aaaaaaaaaaaaa HELMY, Maged et al. Endothelin ETA receptor/lipid peroxides/COX-2/TGF-β1 signalling
HULL, Sally et al. Evaluating ethnic differences in the prescription of NSAIDs for chronic
kidney disease: a cross-sectional survey of patients in general practice. British
Journal of General Practice, v. 64, n. 624, p. e448-e455, 2014.
MÖLLER, Burkhard et al. Chronic NSAID use and long-term decline of renal function in a
prospective rheumatoid arthritis cohort study. Annals of the rheumatic
diseases, v. 74, n. 4, p. 718–723, mar. 2015. DOI
https://doi.org/10.1136/annrheumdis-2013-204078. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24356672. Acesso em: 11 maio 2021.
68
aaaaaaaaaaaaa R.J.M.E.A. Rang & Dale Farmacologia. [Rio de Janeiro-RJ]: Grupo GEN, 2020.
69