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a CAPÍTULO VIII
CONSEQUÊNCIAS DO USO PROLONGADO DE
INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS
DOI: 10.51859/AMPLLA.tam719.1121-8
Larissa Ciarlini Varandas Sales ¹
Karinne Da Silva Assunção 1
Raíssa Grangeiro de Oliveira 1
Davi Lopes Santos 1
Andressa Nogueira Cardoso 1
Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur ²
RESUMO
Os inibidores da bomba de prótons (IBP) consistem em uma classe de fármacos que
atuam bloqueando irreversivelmente a bomba de prótons das células parietais,
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1. INTRODUÇÃO
a Presentes no fundo e no corpo do estômago, as glândulas oxínticas possuem as
células parietais, que são responsáveis pela secreção de ácido clorídrico (HCl) e de
fatores intrínsecos. Essas células da mucosa gástrica liberam ácido através da bomba de
prótons H+ / K+ / ATPase após estimulação pela ligação de histamina, liberada pelas
células cromafins, aos seus receptores H₂. A partir disso, os fármacos da classe inibidores
de bombas de prótons (IBPs) atuam bloqueando irreversivelmente as bombas de
prótons das células parietais, impedindo a secreção de ácido no lúmen estomacal.
Consequentemente, estes fármacos são amplamente utilizados para tratamento da
doença de refluxo gastroesofágico (DRGE), úlceras pépticas e na infecção pela bactéria
Helicobater pylori (PAZ et al., 2020; BRIGANTI et al., 2021; CHAMNIANSAWAT et al.,
2021)
Os IBPs são administrados na sua forma lipofílica e inativa, capaz de atravessar a
membrana celular e, em ambiente ácido, assumem sua forma ativa, que se liga
irreversivelmente às bombas de prótons. Importantes fármacos para o tratamento de
diversos distúrbios, como dispepsia e esôfago de Barrett, os IBPs substituíram a
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aaaaaaaaaaaaa bacteriana do trato gastrointestinal (CORSONELLO; LATTANZIO, 2019; PAZ et al., 2020;
2. METODOLOGIA
Para a produção deste capítulo, foi conduzida uma pesquisa bibliográfica
resultando em uma revisão narrativa de literatura, de caráter descritivo e qualitativo. As
fontes de pesquisa utilizadas foram as bases de dados Science direct, Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), via portal Pubmed; Web of Science e
Embase, acessadas via Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) - acesso CAFe (Comunidade Acadêmica Federada).
A estratégia de busca foi desenvolvida a partir da utilização dos seguintes
descritores obtidos no Medical Subject Headings (MeSH): Proton Pump Inhibitors,
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aaaaaaaaaaaaa inclusão também foi utilizado, resultando, então, em 25 estudos para compor esta
a revisão de literatura.
3. REVISÃO DE LITERATURA
Ação dos inibidores da bomba de prótons
Os inibidores da bomba de prótons (IBPs) são medicamentos muito eficazes no
tratamento e na prevenção de distúrbios relacionados à secreção de ácido gástrico,
sendo utilizados amplamente para tratamento de doenças como o refluxo esofágico,
úlceras gastroduodenais, síndrome de Zollinger-Elisson ou prevenção e tratamento de
lesões gástricas induzidas por anti-inflamatórios nãp-esteroides (AINES) (PILKOVÁ,
2019). Os IBPs atuam inativando irreversivelmente a H+ / K+ / ATPase (bomba de
prótons), um transportador da membrana das células parietais, o que aumenta o pH
gástrico e diminui o volume total da secreção gástrica (KOLIMARALA; BEATTIE; BATRA,
2019. CAI et al., 2019). São exemplos de IBPs: omeprazol, pantoprazol, lansoprazol,
rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazol (KÜNG; FÜRNKRANZ; WALOCHINIK, 2019).
Fisiologicamente, ao serem estimuladas, as células parietais secretam HCl
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aaaaaaaaaaaaa Alterações causadas no trato gastrointestinal devido ao uso
perigosas, incluindo infecção por Clostridium difficile e pneumonia (BRUYNE; ITO, 2017).
CORSONELLO; LATTANZIO, 2019). A terapia com omeprazol pode levar a essa alteração
da microbiota do TGI, causando má absorção, infecções entéricas e lesões agudas ou
crônicas no estômago. Isso acontece por causa do efeito compensatório em resposta à
diminuição da produção de ácido, resultando na destruição das glândulas gástricas e
hipergastrinemia sustentada (PAZ et al., 2020). Ademais, o uso prolongado de inibidores
da bomba de prótons, como omeprazol e pantoprazol pode estar associado a um risco
aumentado de desenvolver câncer de estomago (ABRAMENKO et al.,2020).
O uso crônico de inibidores da bomba de prótons pode danificar a estrutura e
função da junção estanque paracelular, podendo causar inflamação intestinal crônica e
supressão da área de absorção. No estudo de Chamniansawat e colaboradores (2021),
a injeção de 20 mg / kg / dia de omeprazol em ratos causou um aumento do pH
gastrointestinal ao longo de um dia e 24 semanas de experimento. A investigação das
alterações causadas mostrou atrofia das vilosidades e uma menor área de superfície de
absorção no intestino delgado dos animais tratados com omeprazol. Além disso, a
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aaaaaaaaaaaaa injeção prolongada desse fármaco diminuiu significativamente os grânulos de secreção
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aaaaaaaaaaaaa Outras alterações sistêmicas causadas pelo uso prolongado
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aaaaaaaaaaaaa suprarregulação da hepcidina, causando, a longo prazo, anemia por deficiência de ferro
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aaaaaaaaaaaaa Foi verificado que lansoprazol, omeprazol e pantoprazol não são completamente
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
a O uso de IBPs acarreta várias alterações a nível gástrico, como aumento do pH e
diminuição de secreção gástrica, modificando a microbiota do TGI. Em casos de emprego
prolongado desse tipo de fármaco, além de consequências no trato gastrointestinal, há
repercussões sistêmicas. No TGI, a utilização estendida de IBP está relacionada com a
má absorção, alterações na microbiota gastrointestinal e danificações estruturais e
funcionais na junção estanque paracelular, bem como risco aumentado de câncer de
estômago e colite microscópica. Em níveis sistêmicos, tem-se o comprometimento
ósseo, cardiovascular, cerebral, renal, hepático e genético. Assim, uma vez que estão
relacionados a inúmeros riscos e efeitos adversos, sugere-se cuidado maior por parte
dos profissionais médicos em prescrever IBP, devendo ser levado em consideração o
tempo de terapia e a adequação de seu uso, fazendo-se imprescindível a reavaliação
regular quanto a utilização crônica.
REFERÊNCIAS
TOXICOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR – VOLUME I
ACHARYA, C.; BAJAJ, J. S. Chronic Liver Diseases and the Microbiome—Translating Our
Knowledge of Gut Microbiota to Management of Chronic Liver Disease.
Gastroenterology, v. 160, n. 2, p. 556-572, 2021.
BRIGANTI, S. I. et al. Proton Pump Inhibitors and Fractures in Adults: A Critical Appraisal
and Review of the Literature. International Journal of Endocrinology, v. 2021,
2021.
BRUYNE, P. D.; ITO, S. Toxicity of long-term use of proton pump inhibitors in children.
Archives of Disease in Childhood, v. 103, p. 78-82, 2018.
CAI, Q. et al. A new strategy for extraction and depuration of pantoprazole in rat plasma:
Vortex assisted dispersive micro-solid-phase extraction employing metal organic
framework MIL-101 (Cr) as sorbent followed by dispersive liquid–liquid
microextraction based on solidification of a floating organic droplet. Journal of
Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 172, p. 86-93, 2019.
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