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1. Acadêmico do curso de Graduação em Farmácia da Faculdade Ingá; 2. Farmacêutica, Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Esta-
dual de Maringá, Docente do Curso de Graduação em Farmácia da Faculdade Ingá.
* Faculdade Ingá, Rodovia PR 317, 6114, Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87035-510. prof.giselylopes@uninga.edu.br
RESUMO 1. INTRODUÇÃO
A Síndrome da Tensão Pré-Menstrual (TPM) é um conjun- As plantas medicinais são utilizadas pelo homem na
to de sinais e sintomas que ocorrem ciclicamente relacio- prevenção e no tratamento de diversas doenças, desde a
nados com a menstruação, apresentando intensidade sufi- antiguidade aos tempos modernos. As propriedades te-
ciente para interferir na vida social e profissional de muitas rapêuticas de determinadas plantas foram descobertas e
mulheres. Atualmente a TPM vem sendo muito estudada, propagadas pelas gerações, por meio da observação e da
bem como a Ansiedade, a qual é o sintoma mais comum
experimentação pelos povos primitivos, fazendo parte da
desta Síndrome. O presente estudo tem como objetivo rever
a literatura sobre o uso de fitoterápicos na TPM sob o en-
cultura popular1. Os principais produtos ativos com pro-
foque da Fitoterapia Cientifica, como recurso terapêutico priedades medicinais são oriundos, principalmente, do
no alívio dos sintomas físicos e emocionais. O levantamento metabolismo secundário vegetal2. De fato, as plantas são
bibliográfico foi conduzido a partir de artigos publicados reconhecidas por sua habilidade em produzir uma grande
sobre o assunto nos bancos de dados online e em livros de variedade de metabolitos secundários e pelo seu uso na
Fitoterapia. Foram selecionados 69 referencias abordando medicina popular para tratamento de uma ampla gama
o tema proposto. Assim, verificou-se que a Fitoterapia é um de doenças3.
método seguro para o tratamento, alívio e melhora da qua- As oportunidades para a identificação de produtos
lidade de vida das mulheres que sofrem de TPM.
com possível utilização farmacêutica aumentam com a
PALAVRAS-CHAVE: Tensão pré-menstrual, fitoterapia, diversidade das espécies. Ao se considerar a perspectiva
plantas medicinais. de obtenção de novos medicamentos, a indústria farma-
cêutica na busca de moléculas biologicamente ativas tem
levado em consideração estudos etnofarmacológicos,
ABSTRACT considerando o fato que a seleção de espécies vegetais
para a pesquisa e desenvolvimento, baseada na alegação
The Premenstrual syndrome (PMS) is a set of signs and symp-
toms that occur cyclically related to menstruation, with enough
de um dado efeito terapêutico em humanos pode consti-
intensity to interfere with the social and professional lives of tuir-se num valioso atalho para a descoberta de novos
many women. Currently the PMS has been much studied, well agentes terapêuticos, visto que o uso tradicional pode ser
as the anxiety, which is the most common symptom of this encarado como uma pré-triagem quanto à utilidade tera-
syndrome. This study aims to review the literature on the use pêutica da espécie vegetal4.
of Herbal Medicines in PMS with a focus on Phytotherapy Assim, os cientistas reconhecem que as matas, espe-
science-based, as a therapeutic resource for relieving physical cialmente no Brasil e América Latina, guardam o segre-
and emotional symptoms of PMS. The literature review was do da cura de muitas enfermidades. As plantas consti-
conducted from articles published on the subject in online da- tuem um verdadeiro tesouro verde: carregam complexos
tabases and phytotherapic books. We selected 69 references
covering the theme. Thus, it was found that the herbal medi-
coquetéis, denominados princípios ativos, preparados
cine is a safe method for the treatment, alleviation and im- pela engenharia química da natureza em milhões de anos
provement in quality of life of women suffering from PMS. de eventos e testes evolutivos. O controle e o conheci-
mento desse tesouro são hoje motivo da cobiça desde o
KEYWORDS: Premenstrual syndrome, phytotherapy, medi- curandeiro que comercializa folhas na praça até os
cinal plants. grandes laboratórios farmacêuticos5.
Atualmente percebe-se um fenômeno surpreendente,
a busca e intensificação do uso de plantas pela popula- nervosa, edema, dores abdominais, mastalgia, ganho de
ção, com fins medicinais. Neste contesto, o mercado de peso, cefaleia, aumento de apetite, fadiga, palpitação e
fitoterápico vem crescendo muito últimos. tremores, além disso há relatos de quadro depressivos,
Relatos de literatura sugerem que, quando utilizados associados a episódios de insônia, choro fácil, esqueci-
de maneira adequada, os medicamentos fitoterápicos mento e confusão7.
apresentam efeitos terapêuticos, às vezes, superiores aos A TPM apresenta-se de forma bastante semelhante a
medicamentos convencionais, com efeitos colaterais depressão atípica, ou seja, com humor deprimido, rea-
minimizados. No entanto, a utilização inadequada dos ções excessivas, hiperinsônia, aumento do apetite com
fitoterápicos, como a automedicação, o uso irracional, predileção por carboidratos, fadiga, sensibilidade à re-
pode trazer uma série de efeitos colaterais, entre eles jeição, ansiedade e irritabilidade. Além disso, outra evi-
estão reações alérgicas, efeitos tóxicos graves em vários dência a favor da associação entre TPM e transtornos
órgãos e até mesmo desenvolvimento de certos tipos de depressivos é o fato de que um dos tratamentos mais
câncer. Estudos mostram que 4% das causas de interna- efetivos para controle dos sintomas pré-menstruais são
ção de pacientes em hospitais da Coréia do Sul ocorrem alguns medicamentos relacionados há sintomas depres-
devido ao uso abusivo de plantas medicinais6. sivos9,10.
Dessa forma, compreende-se a necessidade de vali- Segundo Souza11, os principais fatos responsáveis
dar as pesquisas com plantas medicinais, corroborando pelas alterações do humor durante esta fase, estão rela-
os dados etnofarmacológicos, buscando consolidar a cionados a 3 fatores principais: (1) a própria menstrua-
fitoterapia científica, baseada no uso de medicamentos ção que já interfere no humor e bem-estar feminino na
fitoterápicos com eficácia, segurança e qualidade. fase pré-menstrual, assim como durante a fase da mens-
Neste contexto, este manuscrito tem como objetivo truação; (2) as alterações do ciclo hormonal, que produ-
realizar uma investigação sistemática dos fitoterápicos zindo variabilidade cíclica em certos aspectos no fun-
que fazem parte do arsenal terapêutico utilizado para o cionamento do sistema nervoso central; (3) a vulnerabi-
tratamento da tensão pré-menstrual, buscando desenvol- lidade de algumas mulheres, que responde de forma
ver um referencial teórico sobre o assunto. desproporcionada, física e emocionalmente a agentes
adversos.
2. MATERIAL E MÉTODOS No entanto, existem evidências de que as mudanças
de humor, frequentemente encontradas na TPM, estão
A pesquisa foi realizada através de revisão bibliográ- ligadas a alterações cíclicas da atividade serotoninérgica
fica com artigos nacionais e internacionais obtidos das (atividade que é responsável pelo humor e apetite) do
bases de dados BIREME (Biblioteca Virtual em Saúde), sistema nervoso central, e os desejos alimentares
PUBMED (Us National Library of Medicine), LILACS pré-menstruais seriam manifestações destas alterações.
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências Algumas pesquisas sobre as causas da TPM mostram
da Saúde) e SCIELO (Scientific Electronic Library), complexos mecanismos envolvendo hormônios ovaria-
com o intuito de realizar uma análise interpretativa sobre nos, opióides endógenos, neurotransmissores, prosta-
o uso racional de fitoterápicos na tensão pré-mestrual glandinas, sistema nervoso autônomo, sistema endócrino,
(TPM). entre outros12,13.
De acordo com a literatura, a etiologia da Síndrome
3. DESENVOLVIMENTO da Tensão Pré-Menstrual, tem natureza desconhecida14.
No entanto alguns autores, referem-se que um ou mais
Sindrome da tensão pré-mestrual
fatores responsáveis pela sintomatologia sejam produzi-
dos pelo corpo lúteo e, que regridem após os níveis de
Atingido mulheres em todo o mundo a síndrome
progesterona e estrógeno alcançarem suas concentrações
pré-menstrual (SPM), também conhecida como tensão
na fase folicular, no final da fase lútea15.
pré-menstrual (TPM) é um incomodo para a maioria das
De acordo com Halbreich16, não foi constatado a-
mulheres em fase reprodutiva. A TPM está relacionada a
normalidades nos níveis hormonais (FSH, LH, estróge-
alterações físicas e psíquicas, que comprometem a vida
nos, progesterona, prolactina ou testosterona) entre mu-
social, profissional e familiar das mulheres acometidas
lheres que apresentam ou não sintomas da TPM. Os ní-
por ela7. Segundo Silva8, cerca de 70% das mulheres
veis de estrogênio aumentam nas três primeiras semanas
possui sintomas físicos e emocionais relacionados à
do ciclo, assim como aumentam também as endorfinas
TPM, com maior ou menor intensidade.
fisiológicas. Esse aumento é potencializado pelo au-
Os sintomas da TPM surgem entre 10 a 14 dias antes
mento do hormônio progesterona seguido da ovulação.
da menstruação, desaparecendo no início do fluxo mens-
Além de sua contribuição para a sensação de bem-estar,
trual. Foram catalogados mais de 150 sintomas, relacio-
as endorfinas também aumentam as sensações de fadiga
nados de maneira variada e inconstante com esta sín-
queixadas por mulheres com TPM16,17.
drome, entre eles: ansiedade, irritabilidade ou tensão
Mulheres que apresentam sintomatologia mais severa gens, transtornos visuais e nervosos28.
podem ser caracterizadas como portadoras de Distúrbios
Disfóricos Pré-Menstruais (DDPM). Estudos relatam
que estes sintomas são resultantes da interação entre os
neurotransmissores do sistema nervoso central, e os
hormônios produzidos durante o ciclo menstrual, levan-
do a sintomas severos a semana antes da menstruação,
minimizam ou desaparecem no início do sangramento
menstrual13.
Considerações sobre o uso de fitoterápicos na
TPM
Cimicifuga racemosa (L.) Nutt.
Cimicifuga racemosa (L.) Nutt (Figura 1), é conhe-
cida popularmente como “black cohosh”, pertence à fa-
mília da Ranunculaceae, é nativa do Canadá e dos EUA,
sendo utilizada popularmente para aliviar sintomas de
tensão pré-menstrual e menopausa18.
As partes da planta utilizadas popularmente são os
rizomas e raízes19. Seu estudo etnofarmacológico, cor-
roborou seu uso popular, e atualmente, emprega-se como
princípios ativo o extrato etanólico e/ou isopropanólico Figura 1. Flores de Cimicifuga racemosa (L.) Nutt, popularmente
conhecida como “black cohosh”. Fonte: Página do My Wild Flowers1.
na proporção de 40 a 60% em relação à droga vegetal20.
Com relação ao conteúdo químico avaliado até o Vitex agnus-castus
momento, o extrato padronizado corresponde a uma
Vitex agnus-castus L. (Verbenaceae) (Figura 2), é
mistura complexa, onde foram identificados: ésteres dos originalmente nativa do Mediterrâneo, sendo popular-
ácidos hidroxicinâmicos, com os ácidos fukíico, piscídi- mente conhecida como agno-casto, árvore-da-castidade,
co, além de ácidos caféicos, ferúlico e isoferúlico21; tri- alecrim-de-angola, cordeiro-casto, flor-da-castidade. O
terpenos cicloanostâmicos, denominados cimiracemosí- nome Vitex é derivado do latim “vitilium”, que significa
deos22; e triterpenos derivados do cicloartanol, livres ou trançado, entrelaçado. Possui porte arbustivo, entre 1 e 6
na forma de heterosídeos23.
m de altura, com ramos quadrangulares, cinzentos, to-
Relatos de literatura, sugerem que as substâncias bi- mentosos29.
ologicamente ativas, acteol, acetilacteol, 26-desoxiacteol, A parte utilizada são as folhas e os frutos, que se uti-
cimigenol e derivados, acteína, 26-desoxiacteína, cimi- liza popularmente na forma de chá para o tratamento da
cifugosídeo, cimiracemosídeo, desoxiacteína, TPM, menopausa e como anafrodisíaco30. A espécie
o-acetil-shengmanol, actaepóxido, o-acetilcimigenol e conta com inúmeros relatos de literatura que sugerem
27-desoxiacteína24-26, estejam envolvidas na atividade
sua ação normalizadora e balanceadora (estróge-
farmacológica, que indicam seu uso em distúrbios da no-progesterona) benéfica no tratamento da menstruação
menopausa e pré-menstruais, dismenorreia e espasmos irregular e dolorosa, infertilidade, síndrome
uterinos25,27. pré-menstrual e endometriose31-38. Estudos in vitro com-
De acordo com pesquisa realizada no Pubmed, utili- provaram seu efeito dopaminérgico e outras ações far-
zando o termo “Cimicifuga racemosa”, foram encontra-
macológicas via receptores opióides39. Os princípios
dos 586 artigos. No Brasil, esta planta faz parte da com- ativos desta planta são os óleos essenciais (monoterpe-
posição de vários medicamentos fitoterápicos como A- nos e sesquiterpenos), flavonoides (incluindo acasticina)
plause® (Marjan Farma), Cimicifuga Herbarium (Her- e glicosídeos iridoides (incluindo aucubina e agnosí-
barium Laboratório Botânico), Clifemin (Herbarium deo)40-42.
Laboratório Botânico), entre outros, registrados para Agnus castus inibe a liberação do Hormônio Folículo
tratamento de sintomas do climatério e TPM.
Estimulante (FSH), e estimula a liberação do Hormônio
O efeito terapêutico geralmente é mais nítido após Luteinizante (LH), levando a um aumento indireto de
duas semanas de uso do medicamento, apresentando o progesterona, normalizando os níveis de prolactina43.
efeito máximo dentro de oito semanas. Devido ao seu Esse efeito pode ser causado por componentes diterpe-
efeito sobre o hormônio luteinizante (LH), é contraindi-
cada em crianças e adolescentes menores que 18 anos,
1
durante a gravidez e lactação. Estudos sugerem que em Em nota de rodapé: Disponível em:
doses elevadas podem ocorrer, náuseas, vômitos, verti- <http://www.mywildflowers.com/detail.asp?photo=2011/mtr137#.Ve2
S5DZRHIU> Acesso em ago. 2015.
nos, presentes no seu extrato. Estes compostos manifes- raiz, folhas, flores e caules preparavam infusões e extra-
tam suas ações dopaminérgicas ligando-se ao receptor tos, tendo ação emoliente, sedativa (tosse), estimulante
DA2 presentes no hipotálamo e hipófise anterior44-46. da circulação sanguínea, além de nutriente capilar54.
Além disso, outros constituintes além dos diterpenoides O principal constituinte do óleo de prímula é o ácido
parecem agir nos receptores opioides μ, κ, δ e na eleva- gama-linolênico (GLA)55,56. Os metabólitos do ácido
ção sérica da beta-endorfina47. Já os flavonoides neuroa- gama-linolênico (GLA) são precursores de pequenas
tivos podem modular os distúrbios de humor48. Outros moléculas biologicamente ativas (eucanoides como PG,
efeitos endócrinos parecem estar relacionados com o leucotrienos e outros derivados), que regulam caracterís-
aumento da produção de progesterona e com a formação ticas da atividade celular. O GLA apresenta diversas
do corpo lúteo49. Os principais ativos aucubina e agno- funções no organismo, sendo a principal delas a regula-
sídeos inibem a lactação. Além disso, a droga reprime a ção da síntese de prostaglandinas57.
liberação de prolactina e melhora os sintomas da No organismo, o GLA é facilmente convertido a
TPM50,51. prostaglandinas da série E1 (existem também da série E2
Agnus castus é contra-indicado na gravidez e para e E3). As prostaglandinas de série E1 (PGE1) são subs-
mulheres que estão amamentando. Deve ser evitado em tâncias tipo hormônios com propriedades an-
pacientes em uso de hormônios sexuais exógenos, in- ti-inflamatória, que exercem efeito regulador dos hor-
cluindo os contraceptivos orais. Ocasionalmente, a in- mônios sexuais femininos, estrógenos, progesterona e
gestão de Agnus castus pode ocasionar erupções cutâ- prolactina58-60.
neas, dor de cabeça, e distúrbios gastrointestinais. Devi- Níveis baixos de GLA e de seus metabólitos resultam
do aos efeitos dopaminérgicos de Agnus castus, uma em uma redução dos níveis de PGE1 e levam a uma e-
diminuição mútua do efeito pode ocorrer no caso de in- xagerada resposta do organismo à prolactina, O aumento
gestão de antagonistas dos receptores da dopamina52. na formação de PGE1 desliga o efeito periférico da pro-
lactina, que poderia ser efeito do GLA sobre os recepto-
res de membrana e sobre a produção de eucasanoides e
PG1. Quando a transformação do ácido linolênico para
GLA está bloqueada ou diminuída, há um aumento na
formação de ácido aracdônico e seus metabólitos
pró-inflamatórios. Os precursores de PG, principalmente
o GLA, influenciam na regulação de hormônios sexuais
femininos e influenciam na liberação de neurotransmis-
sores cerebrais61.
Óleo de Prímula
O óleo de prímula é obtido a partir das sementes de
Oenothera biennis L. (Onagraceae) (Figura 3), conheci-
da como prímula ou “evening primrose” = estrela do
entardecer. Este nome provém da característica de suas
flores abrirem ao entardecer53.
A planta é nativa da América do Norte e foi introdu-
zida na Europa no século XVIII, como planta ornamen-
tal. Os índios americanos usavam-na como alimento e da
2
Em nota de rodapé: Disponível em: < Figura 3. Flores de Oenothera biennis L., popularmente conhecida
http://dallasgardenbuzz.com/2013/06/15/vitex-agnus-castus> Acesso como prímula (Foto: Eva Bauer).
em ago. 2015.
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