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CONJUNTO JK:

UMA CIDADE DENTRO DE UMA CIDADE

Erich Franz Hoppe

Gabriela Zani Souza

Jaqueline Tamires Pinto Aguiar

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ARQUITETURA E URBANISMO

HISTÓRIA DA ARTE ARQUITETURA E CIDADE DO

NEOCLASSICISMO AO FUNCIONALISMO

Belo Horizonte - 2021


1

MAPA DE ILUSTRAÇÕES
Figura I - Axonométrica Explodida do Bloco B.…………………………………………....……...…..Pág. 5
<https://images.adsttc.com/adbr001cdn.archdaily.net/wp-content/uploads/2012/03/1332002263_11.jp
g>

Figura II - Maquete do Conjunto JK - Bloco B……………………...….………...………....….……..Pág. 5


<https://www.archdaily.com.br/br/01-38622/classicos-da-arquitetura-conjunto-governador-juscelino-ku
bitschek-jk-oscar-niemeyer/10-64>

Figura III - Maquete do Conjunto JK - Bloco A………………………………………………………..Pág. 6


<https://www.archdaily.com.br/br/01-38622/classicos-da-arquitetura-conjunto-governador-juscelino-ku
bitschek-jk-oscar-niemeyer/7-57>

Figura IV - Conjunto Governador Kubitschek. Foto aérea…………..….……………...……...…….Pág. 6


<https://www.archdaily.com.br/br/01-38622/classicos-da-arquitetura-conjunto-governador-juscelino-ku
bitschek-jk-oscar-niemeyer/8-58>

Figura V - Fachada modular do bloco A, fotografia por Filippo Bamberghi, 2018….…………….Pág. 9


<https://casavogue.globo.com/Interiores/apartamentos/noticia/2018/05/apartamento-no-historico-edifi
cio-jk-mistura-estilos-com-ousadia.html>

Figura VI - Conjunto Governador Kubitschek. Foto veiculada, 1951…………………..………….Pág. 11


<https://vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/8c0ddc734981_junqueira_jk03.jpg>

Figura VII - Conjunto JK, perspectiva da fachada posterior, 1951. Foto divulgação [Luiz Mauro do
Carmo Passos, Edifícios de Apartamentos Belo Horizonte (1939-1976)]....................................Pág. 12
<https://vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/14c373381ce4_junqueira_jk02.jpg>

Figura VIII - Conjunto Governador Kubitschek sem o relógio, foto aérea, 2020…………….….Pág. 13
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto_Governador_Kubitschek#/media/Ficheiro:Conjunto_JK_.jpg>

Figura IX - Planta e perspectiva de um dos modelos de apartamento, 19--…………………….Pág. 14


[Acervo da Biblioteca da Escola de Arquitetura da UFMG]
<https://vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/5a9bef18b834_junqueira_jk05.jpg>

Figura X - Axonométricas das 4 opções de apartamentos do Conjunto……………………...…..Pág. 14


<https://images.adsttc.com/adbr001cdn.archdaily.net/wp-content/uploads/2012/03/1332002249_12.jp
g>

Figura XI - Perspectiva restaurante, bloco A…………………………………………………………Pág. 15

Figura XII - Logo do grupo VIVA JK no Instagram………………...………………………………...Pág. 17

Figura XIII - Montagem de um gato preto entre as torres do Edifício JK, 2021………………….Pág. 18
<https://www.instagram.com/p/CMVFw6wsV-5/?utm_source=ig_web_copy_link>

Figura XIV - “Vovó e Vovô, amamos vocês! Saudades♥ De: Manu e Mig; Para: Vovó e Vovô”, por
Guilherme Barros, 2020………………………………………………………………………………...Pág. 18
<https://www.instagram.com/p/B-fyNFjljgF/?utm_source=ig_web_copy_link>

Figura XV - Projeção da atriz Teuda Bara, por Guilherme Barros, 2021……………………….Pág. 19


<https://www.instagram.com/p/CMLIILoFQcD/?utm_source=ig_web_copy_link>

Figura XVI - Pedido de casamento na fachada de Edifício JK, por Guilherme Barros, 2020.….Pág. 19
<https://www.instagram.com/p/B-fzArclO6o/?utm_source=ig_web_copy_link>
2

RESUMO

Este breve artigo busca destrinchar a criação, o contexto e os reflexos que o Edifício
JK trouxe para a paisagem urbanística de Belo Horizonte ao longo das décadas,
suas transformações de valor pela posterior visão dos moradores, sua pluralidade e
potência explicitada por diferentes formas de ocupação e também seus
inconvenientes e infortúnios. Assim, primeiramente nos debruçaremos sobre os
diversos significados que a obra colossal de Niemeyer trouxe, para depois entender
sua competência social e arquitetônica como um complexo habitacional e por último,
os impactos e consequências do prédio, em uma maior escala, na cidade e na vida
de seus residentes.

Palavras-chave: Conjunto Governador Kubitschek; Edifício JK; Oscar Niemeyer;


Conjunto Habitacional; Modernismo; Monumentalidade; Mega-estrutura; Pluralidade;
Diversidade; Estigma;

INTRODUÇÃO

A arquitetura moderna, que se originou ao longo dos anos 1920 e se afirma


após a II Guerra Mundial, procurava superar os desafios colocados pela
modernidade, servindo-se para tanto dos novos materiais e incorporando novos
sistemas construtivos. A industrialização permitiu inovações nas construções e,
aplicada aos materiais tradicionais, permitiu uma maior eficácia na sua utilização.

A introdução de novos materiais estruturais como o aço, ferro e


principalmente o concreto armado foram um divisor de águas para as novas
técnicas construtivas, que passaram a ter novas possibilidades plásticas,
respondendo às exigências daquele novo estilo que se afirmava.

Rompia-se então com o sistema oitocentista e nasce a vanguarda européia


do século XX, representada por Le Corbusier, Sigfried Giedion, entre outros
expoentes da arquitetura explorando as qualidades estéticas próprias do concreto
armado.

A escola modernista assume uma autonomia estética que procurava a


racionalidade da construção e uma linguagem baseada em grandes vãos com
3

extensos envidraçados, volumes puros, e a preferência por superfícies lisas e


rebocadas.

Uma junção de acontecimentos políticos e as condições históricas do período


de transformação pelo qual passava o Brasil e o mundo nas primeiras décadas até a
metade do século XX impulsionaram a divulgação da produção arquitetônica e
voltou a atenção da crítica a ela. Foi a época em que se lançaram ao mundo
arquitetos como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Reidy, Roberto Burle Marx,
entre outros profissionais brasileiros os quais tiveram uma projeção grandiosa
durante as gerações seguintes.

Nesse contexto, a figura de Oscar Niemeyer se torna extremamente


importante para a arquitetura modernista no Brasil. Conhecido por ser o responsável
pelo projeto de Brasília (junto a Lúcio Costa), também tem sua marca fortemente
assinalada em Belo Horizonte em grandes projetos como a Pampulha — hoje
patrimônio mundial da humanidade, pela UNESCO —, resultante do contato do
arquiteto com o político Juscelino Kubitschek. Por meio dessa união, Niemeyer foi
responsável por vários outros projetos em Minas Gerais, como o Edifício JK,
idealizado no início da década de 1950.

Ao colocar os olhos no Complexo Governador Kubitschek, também


conhecido como Edifício JK, uma verdadeira cidade vertical formada por dois
prédios, a primeira coisa que qualquer pessoa nota é sua monumentalidade. Tal
proporção (ou desproporção) do conjunto em relação ao seu entorno reflete
importantes conceitos da visão modernista de Niemeyer, um nome de enorme peso
no mundo inteiro, com seu valor estético, simbólico e político na escala urbana.

Com seus 1,6 mil metros quadrados de área total, o prédio possui 1.086
apartamentos, de 9 tipologias diferentes, com capacidade de ocupação para mais
de 5 mil habitantes -mais populoso que 222 cidades mineiras- o que o torna não
somente uma complexa rede habitacional mas um projeto audacioso ainda nos dias
de hoje.
4

FORMAS PARA ALÉM DO TEMPO E ESPAÇO

Primeiramente, em uma dimensão quase pré-iconográfica de análise1, a


edificação de Niemeyer foi concebida a partir de uma forma quadrilátera simples e
com retas que se entrecruzam, sendo que sua complexidade estrutural começa pela
base e se consolida em sua grandeza arrebatadora.

“Niemeyer trabalhou o Conjunto em duas escalas distintas e de forma


precisa: uma monumental (acima da plataforma que cobre o nível térreo
apoiada em pilotis) e uma escala humana no nível das ruas que se integram
no complexo habitacional. A primeira escala faz referência à paisagem
natural da cidade. [...] A escala humana é cuidadosamente desenvolvida ao
nível do sujeito, observador, que passa pelas calçadas que se infiltram no
conjunto.”2

O Bloco A, possui 26 andares, 647 apartamentos, 76m de altura e 100m de


largura, sendo exclusivamente residencial. Já o Bloco B é constituído de 36
andares, 439 apartamentos e 100m de altura, um dos maiores prédios de Belo
Horizonte, abriga também alguns estabelecimentos comerciais. O edifício maior é
sustentado por pilares em forma de concha criando um pilotis coberto por uma
plataforma de geometria indefinida. A cobertura se estende para a direita formando
uma ponta delicada e também é sustentada por outros pilares, em forma circular,
gerando um novo e maior pilotis. Já a edificação mais baixa é sustentada por uma
plataforma elegantemente ondulatória e amorfa, criando uma mesma configuração
de pilotis duplo.

As duas torres juntas não passam de 15% da área total de implantação, o


que acaba realçando muito as áreas livres na base do terreno, com espaços
cobertos e descobertos, e uma grande fluidez entre zona pública e privada. A ideia
de Niemeyer era criar um ambiente que pudesse ser relativamente independente da
cidade, de vida social própria e auto suficiente. Porém, o projeto original foi alterado
diversas vezes assim como sua proposta de utilização e antes de se tornar um
conjunto habitacional, foi cogitado como museu, hotel e até como um edifício público
reservado para questões governamentais.
1
Segundo Panofsky (2009), a descrição pré-iconográfica na história da arte é “apreendido pela
identificação das formas puras, ou seja: certas configurações de linha e cor; pela identificação de
suas relações mútuas como acontecimentos; e pela percepção de algumas qualidades
expressionais.” A sua aplicação na arquitetura seria então como em uma análise formal da
plasticidade e tridimensionalidade que refletem na qualidade espacial da obra.
2
FRACALOSSI, Igor. "Clássicos da Arquitetura: Conjunto Governador Juscelino Kubitschek (JK) /
Oscar Niemeyer" 2012
5

Fig. I - Axonométrica Explodida do Bloco B

Fig. II - Maquete do Conjunto JK - Bloco B


6

Fig. III - Maquete do Conjunto JK - Bloco A

Fig. IV - Complexo JK. Foto aérea

Ao se comparar as diferenças altimétricas do prédio com suas proximidades


é indiscutível como a edificação aparece quase que de forma alienígena na região.
7

Ainda, o espanto é legitimado pela forma como que a vida citadina na época se
dava (ora, ainda o é) associada a valores tradicionais muito arraigados no interior do
estado. Ainda que Belo Horizonte fosse planejada no final do século XIX de forma a
ser fortemente baseada no urbanismo parisiense, muitos de seus costumes
continuavam provincianos. A relação de uma Belo Horizonte metropolitana com seu
entorno, como um atrativo pólo econômico das mais diversas atividades, esteve
presente desde sua gênese. Junto de toda essa teia sócio-econômica vieram para o
centro urbano diversos grupos, dentre eles operários, trabalhadores liberais,
comerciantes, e mais ainda nos meados do anos 50, pessoas buscando melhores
qualidade de vida pelo êxodo rural. Dessa forma, mesmo que o formato urbano
imposto fosse pautado nos moldes europeus, a população viu, usufruiu e ocupou a
cidade do modo mais mineiro possível, e qualquer coisa fora disso seria visto como
um choque, seja de forma positiva ou negativa.

Além disso, o impacto visual massivo que o Complexo JK traz, pelo seu
descomunal contraste altimétrico, está não somente diretamente relacionado com a
tendência modernista de se projetar megaestruturas mas também com a produção e
disseminação de um discurso monumentalista pelas forças políticas da época.
Porém, antes de tudo, é necessário diferenciar a ideia de megaestrutura e
monumento e entender como e onde esses conceitos relacionam a obra de
Niemeyer com o espaço urbano, o tempo histórico e a sociedade belo-horizontina.

De início, edificações de proporções gigantescas acompanham a história da


humanidade há milênios e estão presentes em praticamente todos os continentes.
Um dos exemplos mais conhecidos dessas grandes construções se situam na África
e nas Américas, onde estão localizadas pirâmides erguidas por métodos antigos,
ainda não totalmente esclarecidos pela academia. Ainda, durante a idade média na
Europa, o avanço das técnicas construtivas permitiram vencer grandes vãos. Já no
século XVIII, Étienne-Louis Boullée, já buscava a transcendência estética pela
grandiosidade e imponência da natureza em suas formas geometrizadas ao
conceber, no papel, o Cenotáfio de Newton, que seria ainda mais alto que as
pirâmides do Egito. Dessa forma, todos estes esforços posteriores serviram de base
para a criação do conceito de megaestrutura, que vai muito além da escala e
segundo sua etimologia, seria:
8

“Não apenas uma estrutura de grande tamanho, mas...também uma


estrutura que frequentemente:

1-Está construída com unidades modulares;


2-É capaz de uma ampliação grande e também “ilimitada”;
3-É uma armação estrutural na qual se pode construir – ou ainda “conectar”,
ou “fixar”, depois de ter sido pré-fabricadas em outro lugar unidades
estruturais menores ( por exemplo, habitações, casas ou pequenas
edificações de outros tipos);
4-É uma armação estrutural, a qual se supõe uma vida útil maior que a das
unidades menores que ela poderia sustentar.”3

Logo, de acordo com a definição de Banham, Le Corbusier teria produzido a


primeira megaestrutura em 1930 na Argélia com o edifício “A” em Fort l´Empereur,
sendo que ele “[...] não se define apenas pelo tamanho, mas o fato dele
corresponder à densidade programática de uma cidade.” NICOLLI (2014, pág. 23).
Dessa forma, de forma análoga à Le Corbusier, Niemeyer projeta o Complexo JK
com a ideia de ser um microcosmo urbano dentro da própria cidade. No complexo, o
uso de formas indecisas mas fluidas na base da edificação pelo arquiteto remete à
proposta polivalente de utilização das áreas abertas, passíveis de sofrerem
alterações e ampliações, assim como também postula seu segundo valor
etimológico.

“ A megaestrutura tinha o sentido de ser um sistema autossuficiente em relação ao


ambiente, pois continha sua própria infraestrutura necessária para uma cidade.
Apesar de preconizar a capacidade de ampliação e um perfil incerto, sua tentativa de
concentração de atividades correspondia à imposição da ordem [...]”4

Ainda segundo Silvana Nicolli (idem, pág. 24), as megaestruturas “[...]


mantinham a ideia do système préconisé, do sistema fechado e global, que ignorava
ou sobrepunha a topografia ou quaisquer preexistências locais sem afetar seu
desenho.” Ou seja, a descontinuidade altimétrica seria uma parte essencial da
proposta, ainda que desrespeitando a conformidade vertical e estética de seu
entorno, fato este que causou um enorme repercussão na época. Além disso, outra
evidência do Complexo JK ser dado como uma megaestrutura seria por sua
modularidade. Na figura V, ao observar a parte externa, os apartamentos do edifício
se compõe como uma rede de pequenos quadrados, que de 3 em 3 revelam
características únicas de acordo com o morador. Além dessa malha geométrica criar

3
BANHAM, Reyner. Megaestructuras. Futuro urbano del passado reciente. Barcelona: Gustavo Gilli,
2001. p. 9. ( citação do texto de Ralph Wilcoxon de 1968, traduzido por Silvana Nicolli)
4
NICOLLI, Silvana. “Formas Vazias na arquitetura: a existência precede a essência.” 2014, pág 24.
9

uma fachada marcante do prédio, diferente de qualquer outra da região, ela também
revela o quão reduzidas são as moradias.

Já no aspecto de sua monumentalidade, o Edifício JK faz parte de uma


história político-econômica pautada no jogo de interesses, já fora idealizada pelo
próprio Juscelino Kubitschek, até então governador de Minas Gerais, em conjunto
com o empresário Joaquim Rolla. Dessa forma, a obra foi veiculada como
publicidade por parte do governo sendo atestado que “um ponto que muito contou
na conquista do aval de um Estado sequioso de marcar sua presença em grande
escala foi a habilidade dos ‘modernos’ em lidar com o monumental”5. Assim, pode
se afirmar que, inicialmente, o aspecto monumental do edifício fora forjado a priori
da própria obra e seus significados e valores foram atribuídos de forma artificial.

Fig. V - Fachada de disposição modular do bloco A

Precipuamente, a etimologia do termo “monumento” se evidencia no grego


como “mnemosynon” derivada da palavra grega antiga “mnēmonikos” que se traduz
por algo “relacionado à memória”. Ainda, em sua origem latina, “Monere, recordar
ou lembrar; menini, lembrarse; mementum, a lembrança ou recordação.
5
CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura
(1930-1960). Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2006, p. 105.
10

Monumentum significa: sinal do passado; o que perpetua o passado” (CHOAY, 2006,


p.114).

“No caso do monumento, a característica fundamental da


obra refere-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária,
decorrendo de uma memória coletiva da sociedade. [...] os
monumentos são mecanismos de relação com o espaço e tempo,
pois determinam o espaço ilimitado e o tempo infinito.”6

Ainda de acordo com Pedroso e Dias, as cidades seriam mais propensas à


evolução do que conservação, dessa forma os monumentos seriam uma das
poucas construções que cristalizam símbolos, memórias e feitos históricos em uma
sociedade. Nesse caso, a ideia objetiva do monumental para Juscelino e Niemeyer,
seria então legitimar e marcar, no imaginário popular, os feitos do poder público
além de solidificar tal símbolo como forma de conservar a competência e eficiência
do Estado através do tempo. Dessa forma, construções monumentais apelam à
escala e trazem consigo valores de um tempo que “deseja” eternizar-se. Porém, a
questão principal no que se abrange o desejável é seu ponto forte e ao mesmo
tempo sua maior fragilidade. Sua extrema dependência com a mentalidade de cada
época faz do monumento uma obra sempre vulnerável às flutuações de valor, ora
em decadência e prestes a ruir, ora em uma tendência de resgate. Assim,
justamente reconhecendo esses fatores, JK pôs em prática um dos mais poderosos
aparatos estatais de persuasão e controle, a propaganda.

“[...] na década de 1950 a agressividade de sua imagem


despertou ainda mais opiniões em uma cidade acostumada ao estilo
de vida provinciano, à arquitetura horizontalizada e a formas de
morar e de socializar com os vizinhos bastante tradicionais. É
importante ressaltar que tal imagem começou a ser elaborada antes
mesmo de sua construção, deixando registrada não somente no
espaço urbano, mas também nas páginas dos jornais locais, a
grandiosidade da obra arquitetônica que estava por vir.”7

A atribuição dada pela mídia8 da época é bastante parcial e favorável à obra,


sem qualquer reflexão ou críticas urbanísticas, sempre veiculando “o uso de verbos
fortes, superlativos e adjetivação abundante [que] revelam a intenção de afirmar o

6
PEDROSO & DIAS. “Aproximações Teóricas: A Semiótica na análise de monumentos”, 2018, pág.
5.
7
JUNQUEIRA, Thais & LOPES, Myriam.“Edifício JK: A monumentalidade da arquitetura moderna”
2019.
8
Segundo Junqueira & Lopes, tais atribuições foram dadas “Em uma nota, provavelmente paga pelo
Estado, publicada em vários jornais da cidade” como Diário de Minas, Diário da Tarde e Folha de
Minas, todos de 21 nov. 1951.
11

projeto como um monumento moderno.” (JUNQUEIRA & LOPES, idem)

Fig. VI - Conjunto JK. Foto veiculado na divulgação do projeto, 1951

Ainda segundo Junqueira e Lopes, o modernismo brasileiro, de um âmbito


geral, sempre serviu como uma poderosa ferramenta de afirmação de poder político,
se associando à ideia de inovação e progresso. Além disso, a instrumentalização da
arquitetura trouxe ainda uma abertura muito conveniente para o setor privado, com
a possibilidade de financiar empreendimentos monumentais à favor do Estado.

“Espalhar pela cidade palácios e monumentos que, pelas características


arquitetônicas e artísticas, pelo aspecto grandioso que possam apresentar,
venham a servir de exemplo às inciativas particulares, atestem o grau de
cultura do povo e estejam, enfim, à altura do renome que tenham adquirido
nossas cidades como centros de civilização, de progresso e de riqueza”9

Um grande exemplo dessa confluência de iniciativas é o relógio luminoso


instalado em 1984 pelo Banco Itaú S.A no complexo B, que buscou usar da grande
altimetria do prédio como forma de trazer visibilidade para a empresa.

9
REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO, jan. 1939. Apud CAVALCANTI, Lauro Pereira. Moderno e
brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-1960). Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
2006, p. 19.
12

Fig. VII - Conjunto JK, perspectiva da fachada posterior, Belo Horizonte MG Brasil, 1951.

Ora, se a grandeza de um monumento está refém do valor simbólico dado


aos seus elementos pela sociedade, é a última que atribui o que é importante ou
não para a primeira. Em 2019, o relógio do Itaú foi totalmente retirado da torre do
bloco B por questões jurídicas, o que causou um enorme estranhamento para a
grande maioria dos belo-horizontinos. Aquele elemento, para os cidadãos, era
igualmente (ou até mais) valioso que a edificação em si, pois trazia um valor
histórico, emocional e até de utilidade. Dessa forma, aquilo que antes nem mesmo
estava previsto no projeto original e que seria apenas uma ferramenta de marketing
para a iniciativa privada acabou incorporando e agregando para si um símbolo de
enorme significância. Nas redes sociais, houve um movimento massivo pelo retorno
do relógio, que aderiu milhares de pessoas contando histórias e momentos pessoais
com aquele grande ícone. Logo, não se pode deixar de reconhecer que, além de
mutável, a monumentalidade tem seu esplendor baseado também na multiplicidade
e na interação entre seus componentes, pois são eles que formam o todo.
13

“Se o monumental sempre poderá ser grandioso e impressionante,


trazendo apelos de eternidade e permanência, é claro que diferentes
períodos históricos têm experiências distintas sobre o que seria
esmagador, e seu desejo pelo monumental será diverso tanto em
qualidade quanto em quantidade” 10

Fig. VIII - Conjunto Governador Kubitschek sem o relógio. Foto aérea, 2020.

SOCIEDADE SOBRE PILOTIS

Durante o desenvolvimento do projeto, a intenção era de abrigar 1% da


população belo-horizontina em suas duas torres colossais, distribuída em seus
1.086 apartamentos, inspirado na Unidade de Habitação11 de Le Corbusier, em
Marselha, França. O projeto foi de uma ousadia imensa por parte do Prefeito
Juscelino Kubitschek e do arquiteto Oscar Niemeyer, dado o horizonte ainda pouco
verticalizado da cidade.

“Nela [a arquitetura moderna], a ideia da funcionalidade, da


otimização dos espaços construídos tendo em vista o princípio
capitalista máximo da velocidade e fluidez, guiava a busca por
soluções para edifícios de uso público e privado, inclusive moradias,
em meio ao caos urbano.” 12

10
HUYSSEN, Andreas. Sedução monumental. In Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos,
mídia. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2000, p. 52.
11
Unidades de Habitação nesse contexto, como as idealizadas por Le Corbusier, se ancoram em um
modelo de morar cuja ideia central é a otimização e o senso de coletivismo gerado no edifício, com
intuito de criar um ambiente receptivo, harmônico e plural.
12
JUNQUEIRA, Thais; LOPES, Myriam.“Edifício JK: A monumentalidade da arquitetura moderna”
2019
14

Fig. IX - Perspectiva e planta do apartamento tipo 3 do (catálogo promocional) 19--

Fig. X - Axonométricas dos apartamentos do Conjunto


15

No entanto, mesmo em um contexto de crescimento industrial e


desenvolvimento capitalista, é impossível separar completamente uma obra dos
ideais políticos de seu idealizador. Isso justifica as intenções de pluralidade social
que permeiam o Conjunto JK, mesmo que projetado sobre valores burgueses, em
uma área nobre da cidade. Dessa forma, foi criado um edifício monumental, que
representasse o Estado moderno e uma sociedade de prestígio com público alvo de
elevado poder aquisitivo, mas com um ambiente que possibilitasse a convivência de
uma gama de indivíduos com as mais distintas vivências e contextos sociais.

Originalmente, as unidades foram adquiridas por indivíduos por toda Minas


Gerais, seus compradores pertencendo a esferas mais ricas, como prefeitos e elite
do interior, para que, por exemplo, seus filhos pudessem vir estudar na capital.

“A ideia do Juscelino era que aquilo fosse um ícone não só da


cidade, mas do estado.[...] Então um pouco da ideia do Juscelino era
que aquele empreendimento não só espelhasse a realidade, mas, de
certa forma, atuasse sobre a realidade e fosse uma espécie de
catalisador de crescimento. Isso não aconteceu dessa forma ”13

Fig XI - Perspectiva restaurante, bloco A (catálogo promocional)

13
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Edifício JK - MG. Habitação Social - Projetos de um Brasil [Seriado
documental]. Produção de André Manfrim. Espírito-Santo: Pique-bandeira Filmes, 2019.
16

Sua construção foi longa, se estendendo de 1951 até 1975, colocado por
Thais Velloso Pimentel em A Torre Kubitschek:Trajetória de um Projeto em 30 Anos
de Brasil (1989) como “um balão de ensaio para a tragédia e glória dos anos 90”, o
que desvalorizou o empreendimento. A queda maior se deu, porém, a partir dos
anos 70, já após o fim das obras, com tal intensidade que, principalmente devido à
falta de manutenção adequada, o prédio se tornou acessível à população de muita
baixa renda e viabilizou sua transformação em um grande conjunto de habitação
popular em uma área central da cidade.

“A partir deste momento, pouco a pouco as unidades são


ocupadas, revendidas ou alugadas, a despeito do conjunto não
contar com os equipamentos de apoio que iriam tornar a vida ali tão
maravilhosa quanto prometera seu catálogo de lançamento.
Desvalorizados pela má fama adquirida pelo edifício em virtude de
todas as polêmicas, os apartamentos acabaram por tornar-se
acessíveis a famílias de baixa renda, algo impensável se tudo
houvesse corrido conforme planejado.”14

O edifício ganhou então uma má reputação, conhecido por ocupar usuários


de drogas, damas de companhia e grupos marginalizados, e o preconceito com
essa ocupação de pessoas que não pertenciam ao público alvo foi um agente
importante para a construção dessa identidade. No texto de Juliana Figueiró, é
citado que os furos nos blocos de concreto na fachada oeste do bloco A, ali
colocados com intuito de promover ventilação natural nos corredores, chegaram a
ser usados para esconder armas e drogas até serem fechados por ordem da nova
administração do edifício. Em uma matéria destinada ao jornal Estado de Minas
Gerais, a moradora Andrea Martins relata, sobre esse período, que “o prédio, o
conjunto todo, era sujo e mal-falado, embora muitas pessoas de bem, de família,
morassem aqui”, e um problema recorrente era o descarte incorreto de lixo pelas
janelas, que sujava ainda mais o conjunto e perpetuava a visão da cidade sobre ele.
Há também histórias bonitas, como a de Joseline Maria de Andrade, que relembra
com nostalgia os belos campos de flores no jardim que uma vez existiu, no nível da
rua.

De fato, um conjunto com 1.086 apartamentos constitui uma enorme riqueza


de histórias únicas entre si, reunindo entre si memórias boas e trágicas, antigas e
novas, de moradores tradicionais e que escolheram ressignificar os edifícios. Mas
14
MORAIS, Pedro. Decifrando a Esfinge: uma tentativa de análise do Conjunto JK. 2001. p.12
17

todos têm em comum o fato de se apaixonarem assim que se inserem no meio.


Alguns ainda vão além, participando de grupos de defesa do complexo e de seu
entorno.

Tão organicamente quanto da primeira vez, o público e a visão do complexo


passam a mudar novamente. Isso se dá, primeiramente, pelas reformas, que se
iniciaram em 1995, com planos de durar 15 anos. Em seguida, houve também
influência de novas administrações, mais rígidas em relação a comportamentos
ilícitos que poderiam prejudicar a visão quanto à sociedade do Complexo JK, e mais
exigente quanto à limpeza e manutenção do local. Em terceiro lugar, uma
associação leal de moradores, apaixonados pela história e pelas “estórias” do CJK.
Por fim, a ocupação do edifício por jovens foi de grande importância para iniciar a
quebra de seus estigmas e sua má reputação, por trazerem consigo ideais de
tolerância e celebração de pluralidade, e estabelecendo, ali, um senso de
personalidade.

Fig. XII - Logo do grupo VIVA JK no Instagram

Como citado anteriormente, foi criada uma associação de moradores


apaixonados pelo legado e pelo potencial do edifício. Segundo sua página no
Instagram, o movimento intitulado VIVA JK busca “construir um JK vivo, harmônico e
plural”. Lá são postadas declarações de amor pelo complexo, fotos dos interiores
dos apartamentos para saciar a curiosidade - e desmentir rumores maldosos -,
informações históricas sobre o projeto e incentivos e cuidados referentes à
pandemia do coronavírus e outras campanhas de saúde. A associação participou,
ainda, de uma colaboração com o perfil Cats_of_brutalism15 no instagram, e de um
par de vídeos no youtube para o canal chamado Ruas de BH, contando um pouco

15
Conta do Instagram que exibe montagens de fotos de gatinhos e construções brutalistas, ou, como
eles mesmos colocam em sua página, “uma dose diária de gatos e concreto”
18

sobre o projeto, o contexto histórico, as unidades habitacionais e as histórias que


nascem delas. Além disso, ela ainda promove uma rede de apoio a pequenos
empreendedores que vivem ali.

Fig. XIII - Montagem de um gato preto entre as torres do Edifício JK, 2021

Durante a pandemia, o CJK teve, ainda, suas fachadas monumentais


ressignificadas ao exibir projeções, mais especificamente a fachada do bloco B.
Essa ação, veiculada por diversos jornais da capital, é vista como uma forma de
intervenção urbana em tempos de quarentena e isolamento, que usa a seu favor a
altimetria da torre para demonstrar resistência ao contexto positivo. Já houveram
inúmeras projeções diferentes, dentre elas trechos de poemas, mensagens de
esperança, de informação, mensagens de familiares, homenagens, críticas ao
governo, protestos e até mesmo pedidos de casamento.

Figura XIV - “Vovó e Vovô, amamos vocês! Saudades♥ De: Manu e Mig; Para: Vovó e Vovô”,
por Guilherme Barros, 2020
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Figura XV - Projeção da atriz Teuda Bara, por Guilherme Barros, 2021

Figura XVI - Pedido de casamento na fachada de Edifício JK, por Guilherme Barros, 2020
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No documentário “Habitação Social - Projetos de um Brasil”, alguns dos


entrevistados contam sobre a grande privacidade das unidades habitacionais, fato
não esperado para quem não conhece o edifício, por serem tantas e dividirem
paredes, que os moradores normalmente não interagem entre si nos corredores:
quem se conhece de corredor é porque já mora ali faz tempo. Mas, oposto ao que
pode-se pensar, isso não significa que são isolados. Pelo contrário, principalmente
com as ações do grupo VIVA JK, a convivência no complexo faz juz ao seu apelido,
“uma cidade dentro da cidade”, funcionando como uma sociedade em si, escondida
dos olhares preconceituosos que ainda lhes são direcionados, com seus
relacionamentos, organizações, colaborações e empreendimentos, gerações
permeando entre si e ensinando os valores da comunidade.

De fato, o produto final pode não fazer jus aos croquis do catálogo
promocional, nem com os usos idealizados, como museus, hotéis e restaurantes,
nem com o público alvo, mas não se distancia tanto quanto já foi pensado. Pode
não ter sido um meio de propaganda de sucesso, mas é inegável que tanto a
mega-arquitetura quanto a monumentalidade marcam o horizonte da capital tal qual
o Empire State Building em Nova Iorque, e se consolidou como parte da identidade
belo-horizontina. O Conjunto Governador Kubitschek passou por um longo período
construindo os estigmas que hoje carrega, e seus moradores sabem que ainda há
uma longa jornada para a consolidação de uma nova visão sobre este ousado
projeto, mas parecem estar dispostos a enfrentá-la.
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REFERÊNCIAS

BANHAM, Reyner. Megaestructuras. Futuro urbano del passado reciente.


Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade,


2006.
EDIFÍCIO JK - MG (Temporada 1, ep. 4). Habitação Social - Projetos de um Brasil
[Seriado documental]. Produção de André Manfrim. Espírito-Santo: Pique-bandeira
Filmes, 2019. (26min), son., color.
EDIFÍCIO JK - Partes I e II. [S.N.], Belo Horizonte, 2021. 2 vídeos (3min, 15min).
Publicado pelo canal Ruas de BH. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=OkGOq5V5i2k> e
<https://www.youtube.com/watch?v=wRmb20ZCX7A>. Acesso em 24 de março de
2021
FRACALOSSI, Igor. Clássicos da Arquitetura: Conjunto Governador Juscelino
Kubitschek (JK) / Oscar Niemeyer. 2012. ArchDaily Brasil. Disponível em
<https://www.archdaily.com.br/br/01-38622/classicos-da-arquitetura-conjunto-govern
ador-juscelino-kubitschek-jk-oscar-niemeyer> ISSN 0719-8906
HUYSSEN, Andreas. Sedução monumental. In Seduzidos pela memória:
arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2000.
JUNQUEIRA, Thais & LOPES, Myriam. Edifício JK: A monumentalidade da
arquitetura moderna. Belo Horizonte, UFMG, 2019. Disponível em
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/20.235/7592?fbclid=IwAR03oXrhX
NV-EQT5EaPgI5bihnqlfEp5cYRV-vAK6ChljzKoEZGroWPBMJQ>

MACEDO, Danilo Matoso. Da Matéria à Invenção: As Obras de Oscar Niemeyer


em Minas Gerais 1938-1955. Brasília, Câmara dos Deputados, 2008.

MACEDO, Jorge; Coutinho, Jefferson da Fonseca. Conjunto JK é uma cidade de


vidro com mais de 5 mil moradores. Estado de Minas, Belo Horizonte, 09 de
fevereiro de 2014. Disponível em
<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/02/09/interna_gerais,496531/conjun
to-jk-e-uma-cidade-de-vidro-com-mais-de-5-mil-moradores.shtml>
MORAIS, Pedro. Decifrando a Esfinge: uma tentativa de análise do Conjunto
JK. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG/NPGAU, 2001.
NICOLLI, Silvana. Formas Vazias na arquitetura: a existência precede a
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em 30 anos de Brasil. Orientador Alcir Lenharo. Dissertação de Mestrado.
Campinas, IFCH Unicamp, 1989. Disponível em
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PRÓSPERO, Victor. Megaforma e Mesgaestrutura: categorias entre técnica,


território e lugar e sua pertinência na arquitetura brasileira. 2018.
SILVEIRA, Juliana da. “CGK: Conjunto Governador Juscelino Kubitschek.” Tese
de Mestrado (Másters Oficials - Màster Universitari en Teoria i Pràctica del Projecte
d’Arquitectura) - Universitat Politecnica de Catalunya, 2006.

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