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Ano I ▪ Edição 4

Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2014

▪ O GRUPO GEOCORRENTE
O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o
A EQUIPE
sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica,
procurando identificar os elementos agravantes, motivadores CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos
e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em (Coordenador-geral do Grupo Geocorrente)
andamento, assim como as com potencial iminência de
ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso
conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja
Jéssica Germano de Lima
pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos (Coordenadora do Grupo Geocorrente)
e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento
dos problemas correntes internacionais. Noele de Freitas Peigo
(Editora responsável)
▪ O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS
O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos André Figueiredo Nunes
e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado
com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a
Brenda Cardoso Severino Leão
pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro Caio Ferreira Almeida
de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior
grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, Diane de Almeida Cruz Gustavo
assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos
de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e Felipe Augusto Rodolfo Medeiros
graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Igor Lourenço Oliveira
Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e Lais de Mello Rüdiger
correlatas, de diversas instituições de ensino.
Luciane Noronha Moreira de Oliveira
▪ CONTATO
Matheus Souza Galves Mendes
Comentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser Pedro Allemand Mancebo Silva
enviados para geo.corrente@yahoo.com.br. Thayná Fernandes Alves Ribeiro
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves
Vivian Mattos Marciano
(Pesquisadores do Grupo Geocorrente)

Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial
da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.

• América do Sul • Rússia e ex-URSS


• América do Norte e Central • Sul da Ásia


África Subsaariana
Oriente Médio e Norte da África


Leste Asiático
Sudeste Asiático e Oceania
Regiões
• Europa • Ártico e Antártica
América do Sul
Fonte: 321 Energy
Depois de 76 anos...
Após a Bolívia perder a saída para o mar na Guerra do
Pacífico (1879-1883), para o Chile, visualizou como única
alternativa a saída para o Atlântico pelo Rio Paraguai, que
corta a região do Grande Chaco. Em 1938, após assinado
o Tratado de Paz de Buenos Aires, deu-se por encerrado o
conflito armado entre a Bolívia e o Paraguai pelo Chaco
Boreal, com os paraguaios, vitoriosos, incorporando
a maior parte da região em disputa, impedindo o acesso
boliviano, por rio, ao Atlântico. Os paraguaios esperavam
que, por possuírem uma vasta região com grande
expectativa de reservas de petróleo, a exploração teria êxito garantido, contudo, foi a Bolívia que obteve
sucesso na exploração do combustível fóssil na parte que lhe cabia do Chaco.
Entre 1947 e 2005 o Paraguai explorou 49 poços sem sucesso, porém, no último dia 20 de outubro, foi
encontrado petróleo na parte paraguaia da região do Chaco. A responsável pela descoberta foi a President
Energy, uma empresa petrolífera britânica, que encontrou poços de petróleo com comercialização, a princípio,
rentável, aguardando a realização de novos testes. O resultado desses testes pode demorar cerca de dois meses,
de modo que, obtendo um posicionamento afirmativo, a exploração será iniciada já no próximo ano.
A descoberta pode vir a ser um problema para o Paraguai, uma vez que devido às dificuldades para se
localizar petróleo no país, sua legislação é flexível, pois oferece incentivos às empresas estrangeiras, como, por
exemplo, 80% do valor obtido para as empresas e somente 20% para o governo. Atualmente, existe uma nova
Lei de Hidrocarbonetos em discussão, que defende que 52% dos lucros fiquem com o Estado paraguaio e 48%
com as empresas.
É válido ressaltar que o Exército do Povo Paraguaio (EPP), um grupo insurgente com forte discurso
nacionalista, pode vir a se opor a essa exploração do petróleo paraguaio, com grande margem de lucros para
as empresas transnacionais, desestabilizando um país vizinho ao Brasil, e com quem possuímos a estratégica
parceria na ITAIPU BINACIONAL. Caso o Paraguai venha a se tornar mesmo um exportador de petróleo, a
riqueza gerada pode vir a mudar a realidade de um dos países mais pobres da América do Sul (só acima da
Guiana e do Suriname). As oportunidades para as empresas brasileiras, incluindo o escoamento desse petróleo,
possivelmente por oleodutos, por portos nacionais, também justifica o interesse em acompanharmos de perto o
desenrolar dessa descoberta.

América do Sul
Venezuela e a dependência do petróleo
A Venezuela possui a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, quase vinte vezes maior do que
a do Brasil, que está em torno de 15 bilhões de barris. Nos últimos meses, em razão da redução da demanda,
associada ao aumento da produção em alguns países, o preço mundial do produto caiu para a faixa dos 80
dólares (em junho de 2008, antes do estouro da crise financeira, chegou a ser cotado a 145 dólares o barril),
fato que criou uma instabilidade e gerou preocupação na Venezuela. Esse país possui grande dependência da
exportação petrolífera, atividade responsável por cerca de 95% das receitas em moedas estrangeiras. Com o
dinheiro obtido pela venda do petróleo, o governo importa e subsidia produtos básicos, muitos dos quais o país
é incapaz de produzir.
Em agosto desse ano foi divulgado pelo Banco Central da Venezuela que a inflação acumulada nos

[2]
últimos 12 meses ultrapassava a barreira dos 60%. O Fonte: Trading Economics
fato foi agravado por um crescente desabastecimento
de produtos básicos importados, o que elevou ainda
mais os níveis de escassez no país. Assim, ao que tudo
indica, o quadro econômico venezuelano se tornará
ainda mais complexo caso o preço do barril continue
caindo.
No dia 31 de outubro, o presidente Nicolás Maduro
anunciou que a Venezuela apresentará uma proposta
conjunta com o Equador para defender o preço do
petróleo em ambos os países na próxima reunião da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), que acontecerá no dia 27 de novembro, em Viena. Venezuela e Equador são, respectivamente, membro
pleno e membro associado do MERCOSUL, de modo que o fortalecimento das economias desses países da união
aduaneira é um fator importante não só para o Brasil, mas também para os demais países da América do Sul.

América do Norte e Central


Canal do Panamá x Canal da Nicarágua
Há pouco mais de cem anos, em agosto de 1914, era realizada pelo navio norte-americano “Ancón”
a primeira travessia dos oitenta quilômetros do Canal do Panamá, construído pelos EUA. Desde então, a
importância deste canal se tornou cada vez maior, porém, durante décadas, sua infraestrutura não acompanhou
a crescente demanda por esta travessia, em especial com o crescimento da participação chinesa no comércio
internacional.
Um século depois, as obras de ampliação do Canal do Panamá, iniciadas em 2007, estão 80% concluídas, o
que aumentará a atual capacidade de 5.000 TEU’s para 13.000 TEU’s (1 TEU é equivalente a 1 container de 20
pés). O custo total da obra está orçado em 5,3 bilhões de dólares, majoritariamente com financiamento japonês
e europeu.
Em paralelo a essa ampliação, há um avanço no projeto de construção do Canal da Nicarágua, o qual visa
suprir toda a demanda de navios que desejam fazer a travessia entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. A grande
vantagem desse novo canal é a largura de 83 metros e a profundidade de 27,5 metros, características que irão
permitir a passagem de embarcações até 18.000 TEU’s. A previsão de início das obras é de dezembro de 2014,
com sua inauguração em 2019.
O projeto do Canal da Nicarágua está orçado em 40 bilhões de dólares, segundo o grupo detentor do
projeto, HKND, oriundo de Hong Kong. Originalmente, grande parte do orçamento desse projeto vem da
China, contudo, em meados de 2014, a Rússia surgiu como parceira para a construção do canal, que pode ser
muito importante para o escoamento de importações russas e o aumento de sua influência na América Latina.
A criação do Canal da Nicarágua é uma clara inserção da China numa tradicional região de influência dos
Estados Unidos. Essa inserção se dá em um momento de grande crescimento e expansão econômica do país na
região. O interesse chinês nos países latino-americanos, incluindo o Brasil, se dá, principalmente, na intenção
de vender seus produtos industrializados, e garantir matéria-prima, como é o caso dos alimentos e recursos
minerais, para seu grande mercado consumidor.

[3]
África Subsaariana
O inesperado protagonismo cubano Fonte: CDC

O número de novos infectados pelo vírus Ebola vem


diminuindo, mas dados da Organização Mundial de Saúde
apontam que cerca de 13.600 pessoas já contraíram a doença e
aproximadamente 5.000 já morreram. Apesar da confirmação de
que a Nigéria e o Senegal conseguiram erradicar a doença de seus
respectivos territórios, outros eventos isolados como os quatro
casos da doença nos EUA e um na Espanha, requerem atenção
das autoridades sanitárias. Por conta do temor que a doença
venha a se proliferar, a comunidade internacional tem aumentado
o efetivo de ajuda humanitária, incluindo a constituição da UN
Mission for Ebola Emergency Response (UNMEER), sediada
em Gana, que já conta com 118 profissionais, não apenas no
escritório central, mas também nos escritórios abertos nos três países mais impactados (Libéria, Serra Leoa e
Guiné).
Inúmeros países têm buscado a contenção do avanço da doença por meio de políticas impostas em seus
aeroportos a viajantes oriundos de regiões com o surto da doença, além do auxílio que fornecem aos países
que mais sofrem com a enfermidade. Essa ajuda aumentou após a divulgação, em 19 de outubro, de uma
carta escrita pela presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf. No texto, a presidente expressou que a África
ocidental poderá ter uma “geração perdida”, devido ao estrago que a patologia causou. O Banco Mundial
estimou que os impactos do vírus representam uma perda de 360 milhões de dólares somente no PIB dos três
países mais afetados.
Alguns países tem mostrado um inesperado protagonismo no combate contra o vírus, como é o caso de
Cuba, que já enviou um contingente de 256 médicos e enfermeiros para região, podendo chegar a 461, ainda
em novembro. Além do envio dos profissionais, Cuba também promoveu, em 20 de outubro, uma reunião
extraordinária da Alianza Bolivariana para los Pueblos de América (ALBA), em Havana, a fim de coordenar
o combate ao vírus pelos países membros. Enquanto isso, a ministra da Saúde de Guiné Bissau, em entrevista
concedida em 04 de novembro, confirmou que Portugal montará um hospital de campanha com 30 profissionais
de saúde portugueses, dentro do Hospital Militar de Bissau, ainda em novembro. Até o momento, informes na
imprensa dão conta de que o Brasil, também membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, e maior
economia do Atlântico Sul, apoiou com alimentos e remédios.

Oriente Médio e Norte da África


Curdistão: um novo velho problema?
O Curdistão é uma enorme região com cerca de 500.000 km² que cobre parte dos territórios de países como
Turquia, Síria, Irã e Iraque. Em outras palavras, os curdos são o maior grupo étnico do mundo sem pátria
definida.
No Iraque, os curdos representam, aproximadamente, um quarto da população nacional, habitando de forma
semiautônoma principalmente a região norte do país, rica em petróleo. O surgimento do Estado Islâmico, e
sua pretensão de restabelecer um califado no Oriente Médio, envolveu os curdos diretamente no combate a
este grupo, o que tem sido tratado pelos mesmos como um risco e uma oportunidade. Por um lado, alguns
dos principais campos de produção de petróleo no Iraque estão em área curda, o que torna frágil a situação

[4]
das comunidades que lá vivem por se tornarem alvos estratégicos
Fonte: Flicker Flame
do Estado Islâmico, que pretende dominar completamente a área
com vistas a acumular dinheiro com a venda de petróleo. Por
outro lado, a oportunidade existe porque as milícias curdas têm
sido a principal força terrestre de combate ao grupo islâmico,
além de receberem armamento, treinamento e apoio logístico da
força aérea norte-americana para consolidarem uma posição forte
e impedirem o avanço do inimigo comum.
Mas qual seria o preço cobrado pelos curdos em caso de
vitória definitiva sobre o Estado Islâmico? A administração do
presidente Barack Obama pretende duas respostas potencialmente
incompatíveis dos curdos. Em primeiro lugar, quer que eles sirvam
como um aliado chave na campanha para destruir o Estado Islâmico, com todo o financiamento e equipamento
militar que tal papel acarreta. Em segundo lugar, quer que resistam à separação do Estado iraquiano.
Certamente, se triunfarem sobre seus inimigos, o preço cobrado pelos curdos pode ser a reivindicação
de independência, colocando em risco o processo de reconstrução norte-americana do Iraque após Saddam
Hussein. Tal evento poderia gerar uma onda separatista nos outros Estados que contêm partes do território do
Curdistão e gerar um novo conflito no Oriente Médio.

Oriente Médio e Norte da África


Tunísia e o envio de seus cidadãos para o Estado Fonte: PBS Twimg
Islâmico
A Primavera Árabe nasceu em 2010 na Tunísia e,
desde então, o país vem apresentando grandes diferenças
em relação a seus Estados vizinhos. Para começar, saiu
desse processo sem sofrer muitos danos e, entre os
Estados árabes, é um dos mais seculares, já que consegue
conciliar o processo democrático com o islamismo.
Cerca de 20,9% da população de 10,89 milhões de
habitantes são analfabetos, mas, entre os jovens de 15 a
24 anos, esta taxa é bem menor (em torno de 3%). Esses
percentuais demonstram que a Tunísia possui o melhor nível educacional dentre os países árabes.
Em janeiro deste ano, foi instaurada uma nova Constituição na Tunísia, garantindo aos cidadãos uma
ampliação de suas liberdades políticas e sociais, fazendo existir uma forte ligação com a enorme quantidade de
combatentes enviados para lutar junto ao Estado Islâmico (IS). Pesquisas indicam que mais de 3.000 tunisinos
já se direcionaram à Síria e Iraque para se tornarem membros do grupo. A expansão da liberdade possibilitada
pela Primavera Árabe permitiu que grupos armados pudessem recrutar pessoas com mais facilidade, como
pelas redes sociais, e disseminar suas ideias.
Os atrativos para se unir ao Estado Islâmico são muitos, e as redes sociais têm sido essenciais ao demonstrar
o poderio e a influência internacional do IS. Os tunisinos acreditam que melhores condições de vida lhes seriam
oferecidas, além de maiores oportunidades de emprego, já que muitos estudantes não conseguem se inserir no
mercado de trabalho após formados. Outros se identificam com propostas, como a instauração do califado, pois
não concordam com a divisão do mundo árabe imposta pelas fronteiras delineadas pelos europeus.
Portanto, o governo tunisino tem de lidar com diversos desafios, dentre os quais: o controle dos fluxos de
migração, o julgamento de crimes cometidos por seus nacionais em outros Estados e a experiência de guerrilha
adquirida pelos combatentes que retornam ao país.

[5]
Europa
Fonte: Stratfor O difícil caminho para a consolidação do TTIP
O TTIP (Acordo Transatlântico de Comércio e
Investimentos) é um acordo internacional que pode ser
considerado bilateral entre os Estados Unidos e a União
Europeia. Tal acordo foi negociado em meio ao clima de
austeridade e estagnação econômica nos anos seguintes
à crise de 2008 e seria, para muitos economistas
europeus, a alavanca providencial para a recuperação
das finanças do velho continente. Isso porque, de
acordo com as informações fornecidas pela Comissão
Europeia, tal acordo teria um impacto de quase €120
bilhões para o bloco econômico e cerca de €90 bilhões
para os EUA. Ainda se especula um aumento de €100
bilhões em negociações para o restante do mundo.
Contudo, o referido acordo ainda não saiu do papel
e, desde 2013, quando o presidente norte-americano
Barack Obama anunciou as conversas francas sobre o
tratado, não se concretizou um documento final que determine o pacto entre os signatários. Embora a proposta
inicial trouxesse uma notável melhoria, ultimamente o TTIP tem encontrado barreiras para sua implementação:
a questão da espionagem da NSA na Alemanha e protestos da sociedade civil contra cláusulas que aparentemente
ferem questões ambientais têm conseguido atenção nas cátedras europeias e ameaçado a continuidade das
conversas.
Com a guinada conservadora oriunda da crise econômica, o apoio dos partidos europeus à finalização do
tratado, prevista para 2015, é incerto. Os esforços norte-americanos são bastante compreensíveis, uma vez que
a Europa sempre foi considerada espaço de projeção do poder econômico dos EUA.
É interessante posicionar o Brasil nesse contexto: nono parceiro comercial europeu, representando 2,1%
(€73 bilhões) do total de trocas, o país pode perder área de atuação caso o acordo efetivamente saia do papel.
Não há uma evidência clara disso, mas há uma potencialidade de mudança na dinâmica comercial brasileira.
Vale ressaltar que, no último dia 31, a UE requereu à OMC uma explicação por parte do Brasil acerca das taxas
praticadas no mercado interno que iriam de encontro às regras da organização.

Europa
A extensão da OTAN à Terra do Fogo Fonte: Geopolítica do Petróleo

Inaugurado em 1986, a cerca de 60 km de Puerto Argentino


(Port Stanley), o Mount Pleasant Airport (MPA), de controle
da Royal Air Force, é compartilhado com outros membros da
OTAN, em especial com os EUA. Junto às ilhas Geórgia do Sul,
Sandwich do Sul e outras, as Malvinas (Falklands) são peça
importante na estratégia da OTAN.
O MPA chama a atenção por sua enorme capacidade militar,
considerada por alguns especialistas como a maior e mais bem
equipada base do Atlântico Sul. Possui duas pistas de aterrissagem

[6]
(uma de 2.590 metros e outra de 1.525 metros), que permitem a operação de aeronaves de transporte de tropas
e de blindados. Como parte desse complexo militar, foi construído um porto de águas profundas, chamado
de Mare Harbour, no qual atracam os submarinos nucleares e os navios britânicos que patrulham as águas
da região (normalmente, uma fragata ou contratorpedeiro, um navio patrulha e um navio de apoio logístico).
Estima-se que entre 1.000 e 2.000 militares britânicos, sem contar os embarcados nos navios e submarinos,
estejam atualmente estacionados nas Malvinas (Falklands). O porto de Mare Harbour também apoia os navios
de pesquisa britânicos que participam do Programa Antártico daquele país.
A movimentação de tamanho aparato militar encontra justificativa para além das alegações tradicionais,
como a defesa dos cidadãos malvinenses (cerca de 3,2 mil). O controle sobre as Malvinas (Falklands) significa
também o controle das rotas que unem o continente americano à África, da conexão com a Antártica e com o
Oceano Pacífico por meio do estreito de Magalhães e da passagem de Drake. Alguns interesses econômicos
também se colocam em questão, como é o caso das reservas de hidrocarbonetos em torno das Malvinas
(Falklands), bem como das riquezas pesqueiras daquela região.
Além disso, de acordo com Global Strategic Trends out to 2045 do Ministério da Defesa britânico, lançado
em junho deste ano, ainda que uma “corrida armamentista” na América Latina seja improvável, é quase certo
que alguns países terão forças armadas mais capazes até 2045, como é o caso do Brasil com sua modernização
do complexo industrial-militar e a intenção tanto deste país como da Argentina em desenvolver tecnologia de
propulsão nuclear. Nesse sentido, o reforço nas Malvinas (Falklands) torna-se ainda mais imperativo à OTAN
quando se analisa o longo prazo.

Rússia e ex-URSS
Fonte: Café com Kremlin
Eleições separadas
O presidente da Ucrânia Petro Poroshenko antecipou
as eleições legislativas previstas para 2017 a fim de
diminuir a influência do ex-presidente deposto, Viktor
Yanucovich, no âmbito do Parlamento, único órgão
legislativo do país. As eleições aconteceram no último
dia 26 com participação de observadores internacionais,
Comparação entre eleições de 2012 e 2014: em laranja, regiões como Rússia e União Europeia (UE), que não apontaram
com votos em partidos pró-União Europeia e, em azul, votos
em partidos pró-Rússia. nenhuma irregularidade no processo.
Como resultado, saiu vitoriosa a maioria de partidos
anti-Rússia e pró-União Europeia: em primeiro lugar, com 22,16% dos votos válidos, o partido Frente Popular;
em segundo lugar, com 21,83% dos votos, o partido Bloco do Poroshenko; e em terceiro lugar, o partido
Sampomnich, com 10,98%. Vale ressaltar que os três partidos são favoráveis ao ingresso da Ucrânia na União
Europeia. Além disso, em seu primeiro discurso de vitória, o atual premiê, Arseni Yatseniuk, discorreu acerca
de uma coalizão de cinco partidos pró-Europa chamada “Ucrânia Europeia” para atuar no Parlamento.
No entanto, a região do Donbass, russófila, que continua em guerra desde o ano passado com duas regiões
que se declararam unilateralmente independentes - República Popular de Donestsk (RPD) e República Popular
de Luhansk (RPL) - também realizou suas próprias eleições, já que suas lideranças não reconhecem o resultado
anterior. Realizada no dia 02 de novembro, as eleições no Donbass contaram com apoio da Rússia e desaprovação
da OTAN, da UE e da ONU.
A Rússia parece mais interessada em federalizar a Ucrânia do que promover uma cisão total do país. Como
já amplamente discutido, as enormes reservas russas de gás natural, administradas pela estatal Gazprom,
conferem ao Kremlin grande poder de barganha. Rússia, Ucrânia e UE assinaram um acordo trilateral no
último dia 30 para suprimento de gás nos meses de inverno: pelo acordo, a Ucrânia pagará US$ 378 por 1000

[7]
m³ e deverá pagar uma dívida anterior de US$ 145 bilhões. A garantia da UE e do FMI de auxiliar a Ucrânia
com o pagamento foi fundamental para o estabelecimento do acordo. É conveniente lembrar também que 15%
do gás russo consumido na Europa chega ao continente pelos gasodutos que passam pela Ucrânia.

Sul da Ásia
Escassez de água no Sul da Ásia Fonte: O Globo

Nos últimos meses, os noticiários têm mostrado a situação


alarmante de São Paulo em relação à falta de água. O cenário
emergencial na maior cidade do país abriu as portas para a discussão
sobre os possíveis causadores deste imbróglio. A falta de planejamento
do governo e a baixa incidência de chuvas foram cruciais. Mas existe
outro fator que também pesa na forma de pensar o consumo de água
no Brasil: por se tratar de um território privilegiado com grandes
reservas de água doce, criou-se uma “consciência do desperdício”,
no qual boa parte da população não dá valor a este bem e não se
importa com o enorme gasto diário.
A escassez de água é um problema grave que afeta várias regiões
do planeta e, segundo vários estudiosos, será motivo de conflitos
armados em um futuro próximo. Na verdade, já é. Veja-se, como exemplo, o Sul da Ásia. Países como Índia e
Paquistão, principalmente, têm sofrido há décadas com a falta desse recurso. Um dos motivadores do conflito
indo-paquistanês na Caxemira se deve ao fato de que aquela região é estratégica em termos de recursos
hídricos, por onde passam rios importantes da Bacia do Indo. No caso da Índia, que responde pela segunda
maior população do planeta e pelo posto de terceiro maior consumidor de água no mundo, a busca por recursos
hídricos afeta não apenas a população, como também a agricultura e a produção de energia para as indústrias. Já
o Paquistão vê na postura indiana de querer o controle total da região da Caxemira e Jammu como uma forma
de tentar submeter o país ao Governo indiano, ao tentar controlar o acesso paquistanês à água. A preocupação
é compreensível, pois 80% da água utilizada no Paquistão é proveniente da Bacia do Indo.
Voltando ao caso da Índia, a fronteira com a China, pelo estado indiano de Arunachal Pradesh, também
é alvo de disputas. Um projeto de Nova Delhi para construção de uma represa no rio Brahmaputra sofreu
bloqueio por parte dos chineses no Banco de Desenvolvimento Asiático, em 2011, já que o governo de Pequim
reconhece aquele estado como parte de seu território. Em suma, a Índia está envolvida em conflitos territoriais
em seus dois extremos que possuem como pano de fundo, entre um dos motivos principais, o acesso à água.

Leste Asiático
Fonte: Renovatio
Reunificação entre as Coreias: sonho distante ou
problemática no horizonte?
No dia 27 de setembro, o ministro das relações exteriores da
Coreia do Norte, Ri Su Yong, ao discursar perante a Assembleia
das Nações Unidas, falou sobre a necessidade de reunificação
com a Coreia do Sul. Tal reunificação, em suas palavras,
deveria ser feita por meio de uma fórmula que permitisse dois
sistemas diferentes coexistirem dentro do mesmo país. Em

[8]
fevereiro, o presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, já havia criado um comitê cujo objetivo é elaborar
estratégias e propostas para que, através do diálogo e intercâmbio, as duas Coreias possam se reunificar, gerando
uma “nova era na península coreana”.
Entre os dois países o lado mais disposto a “ceder”, por mais surpreendente que isso pareça, é a Coreia do
Norte. Ela possui diversos problemas no âmbito interno - um terço de sua população é afetada diretamente pela
escassez de comida - e no externo - o país sofre diversas sanções da comunidade internacional e é acusado de
graves violações dos diretos humanos, como o uso de uma rede de prisões políticas para práticas como a tortura
e a escravidão. Além disso, o país enxerga uma mudança gradativa, para pior, na sua relação com a China, a
qual recentemente demonstrou desconforto em usar seu poder de veto no Conselho de Segurança para barrar
ações punitivas contra a Coreia do Norte devido a violações de direitos humanos.
A posição geopolítica das Coreias faz com que tanto China quanto Japão busquem influenciar tanto o Sul
quanto o Norte, de maneira a contrabalancearem um ao outro. Também temos os EUA, que estrategicamente
enxergam a Coreia do Sul e o Japão como proxys da sua política externa na região. Tão relevantes quanto
o distante fim, que seria a reunificação dos países, são os meios utilizados pelas partes interessadas. Como
exemplo, temos os Ministérios da Reunificação presente nos dois países. Deve-se ressaltar, porém, que uma
Coreia unida adicionaria um novo player de peso para o jogo de poder da região, o que não agradaria nenhum
dos outros Estados já citados.

Sudeste Asiático e Oceania


Fonte: Indonesia Digest
Os desafios da nova política indonésia
Apesar de parecer improvável, por ser um
arquipélago, a Indonésia é um dos mais populosos
países do mundo. Com aproximadamente 250 milhões
de habitantes possui a maior população muçulmana do
globo, tendo em vista que 86% dos nativos do país
professam essa fé. No âmbito econômico, é um dos
Estados fundadores do G20 e a 18ª maior economia do
mundo. Foi colônia holandesa e teve sua independência
reconhecida pelos colonizadores apenas em 1949. Entre
1965 e 1997 foi governada pelo General Suharto, que
implementou uma ditadura militar. Entretanto, após a crise econômica na Ásia em 1997, movimentos rebeldes
depuseram o General. Em agosto deste ano, Joko Widodo foi eleito o novo presidente indonésio, notável por
ser o primeiro a não possuir ligações com Suharto. Além dos desafios internos de cumprir com as promessas de
reforma estrutural, da educação, saúde e combate à corrupção; o novo presidente terá que lidar com diversos
desafios externos, principalmente nas relações com a China e no papel da Indonésia na ASEAN.
Desde 1947 a China vem reclamando a posse de diversas ilhas ao sul de seu mar territorial. Recentemente,
porém, mais um arquipélago foi adicionado às reclamações chinesas: as Ilhas Natuna, que fazem parte do
território indonésio. A Indonésia, que sempre se manteve isenta das disputas entre a China e demais países
(Brunei, Filipinas, Malásia, Taiwan e Vietnã) por ilhas no Mar da China Meridional, agora se vê ameaçada.
Além da grande quantidade de pescado e hidrocarbonetos que esse mar possui, as Ilhas Natuna se localizam
a sudeste do Estreito de Málaca, região de grande importância estratégica, como já comentado em edições
anteriores deste Boletim.
Os membros da ASEAN, principalmente Filipinas e Vietnã, vêm aumentando os investimentos em suas
forças navais. A Indonésia, por sua vez, pretende modernizar sua Marinha e já adquiriu novos navios. Ainda

[9]
assim, no que concerne às Ilhas Natuna, é improvável que a China vá agir militarmente e ocupar a região
(como fez com outras ilhas), pois é beneficiária direta do comércio que circula por ali. A Indonésia de “Jokowi”,
entretanto, deve ser cautelosa, pois pode perder a posição privilegiada que possui na ASEAN caso entre em
conflito direto com a China, principalmente por não possuir a capacidade militar suficiente para sustentar
prolongadas ações contra os chineses.

Ártico e Antártica
Fonte: The Siberian Times Os interesses russos no Ártico
Um dos fatores que contribui para a inserção do Ártico
como uma região de disputa geoestratégica mundial é o recente
degelo acentuado em torno do Polo Norte, que abre novas rotas
e possibilidades de navegação, além de facilitar a prospecção de
petróleo e gás. Esse fato torna a corrida pelo controle daquelas
áreas um eixo estratégico de atuação de importantes Estados, dos
quais agora se destaca a Federação Russa, que faz da consolidação
de sua soberania nacional no Ártico uma pedra fundamental em
seus esforços de política externa no século XXI.
Recentemente, durante um voo de reconhecimento russo, foi localizada uma ilha ainda não mapeada na
região do Mar de Laptev, próximo à Sibéria. No início de outubro passado, a ilha, que recebeu o nome de Yaya,
foi objeto de um estudo cartográfico completo para ser enviado à Comissão das Nações Unidas para o Direito
do Mar, a fim de garantir a posse russa da região. A isso deve se seguir a imediata instalação de algum tipo de
presença militar, que é o modus operandi russo para assegurar novas reservas de petróleo e gás, além do livre
acesso à área.
Quando da instalação de bases militares em outras partes cuja soberania foi concedida à Rússia poucos
atores demonstraram tanta comoção quanto a organização ambientalista Greenpeace, que acusa o governo do
presidente Putin de desequilibrar o sensível ambiente do Ártico. Essa acusação se baseia, entre outras coisas,
no fato de que as bases, por vezes, ocupam antigos locais de reprodução de ursos polares e outras espécies, o
que motiva diversas ações da ONG como a que resultou na apreensão do Arctic Sunrise , em setembro de 2013,
e a prisão de vários ativistas, inclusive de uma brasileira, pelas autoridades russas.

Dicas de artigos selecionados


• THE NEW YORK TIMES - 28/10/2014
ISIS and Vietnam - by Thomas Friedman
• PROJECT SYNDICATE - 03/11/2014
The Middle East’s new winners and losers - by Joschka Fischer
• THE WASHINGTON POST - 30/10/2014
Why democracy took root in Tunisia and not Egypt - by Fareed Zakaria
• THE MOSCOW TIMES - 30/10/2014
The Cold War and the Cold Shoulder for Russia - by Ghia Nodia
• PROJECT SYNDICATE - 27/10/2014
New era of global instability - by Richard Haass
[Ao clicar sobre os títulos das reportagens, abrem-se os respectivos links]

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