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▪ O GRUPO GEOCORRENTE
O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o
A EQUIPE
sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica,
procurando identificar os elementos agravantes, motivadores CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos
e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em (Coordenador-geral do Grupo Geocorrente)
andamento, assim como as com potencial iminência de
ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso
conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja
Jéssica Germano de Lima
pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos (Coordenadora do Grupo Geocorrente)
e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento
dos problemas correntes internacionais. Noele de Freitas Peigo
(Editora responsável)
▪ O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS
O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos André Figueiredo Nunes
e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado
com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a
Brenda Cardoso Severino Leão
pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro Caio Ferreira Almeida
de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior
grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, Diane de Almeida Cruz Gustavo
assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos
de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e Felipe Augusto Rodolfo Medeiros
graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Igor Lourenço Oliveira
Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e Lais de Mello Rüdiger
correlatas, de diversas instituições de ensino.
Luciane Noronha Moreira de Oliveira
▪ CONTATO
Matheus Souza Galves Mendes
Comentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser Pedro Allemand Mancebo Silva
enviados para geo.corrente@yahoo.com.br. Thayná Fernandes Alves Ribeiro
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves
Vivian Mattos Marciano
(Pesquisadores do Grupo Geocorrente)
Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial
da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.
América do Sul
Venezuela e a dependência do petróleo
A Venezuela possui a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, quase vinte vezes maior do que
a do Brasil, que está em torno de 15 bilhões de barris. Nos últimos meses, em razão da redução da demanda,
associada ao aumento da produção em alguns países, o preço mundial do produto caiu para a faixa dos 80
dólares (em junho de 2008, antes do estouro da crise financeira, chegou a ser cotado a 145 dólares o barril),
fato que criou uma instabilidade e gerou preocupação na Venezuela. Esse país possui grande dependência da
exportação petrolífera, atividade responsável por cerca de 95% das receitas em moedas estrangeiras. Com o
dinheiro obtido pela venda do petróleo, o governo importa e subsidia produtos básicos, muitos dos quais o país
é incapaz de produzir.
Em agosto desse ano foi divulgado pelo Banco Central da Venezuela que a inflação acumulada nos
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últimos 12 meses ultrapassava a barreira dos 60%. O Fonte: Trading Economics
fato foi agravado por um crescente desabastecimento
de produtos básicos importados, o que elevou ainda
mais os níveis de escassez no país. Assim, ao que tudo
indica, o quadro econômico venezuelano se tornará
ainda mais complexo caso o preço do barril continue
caindo.
No dia 31 de outubro, o presidente Nicolás Maduro
anunciou que a Venezuela apresentará uma proposta
conjunta com o Equador para defender o preço do
petróleo em ambos os países na próxima reunião da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), que acontecerá no dia 27 de novembro, em Viena. Venezuela e Equador são, respectivamente, membro
pleno e membro associado do MERCOSUL, de modo que o fortalecimento das economias desses países da união
aduaneira é um fator importante não só para o Brasil, mas também para os demais países da América do Sul.
[3]
África Subsaariana
O inesperado protagonismo cubano Fonte: CDC
[4]
das comunidades que lá vivem por se tornarem alvos estratégicos
Fonte: Flicker Flame
do Estado Islâmico, que pretende dominar completamente a área
com vistas a acumular dinheiro com a venda de petróleo. Por
outro lado, a oportunidade existe porque as milícias curdas têm
sido a principal força terrestre de combate ao grupo islâmico,
além de receberem armamento, treinamento e apoio logístico da
força aérea norte-americana para consolidarem uma posição forte
e impedirem o avanço do inimigo comum.
Mas qual seria o preço cobrado pelos curdos em caso de
vitória definitiva sobre o Estado Islâmico? A administração do
presidente Barack Obama pretende duas respostas potencialmente
incompatíveis dos curdos. Em primeiro lugar, quer que eles sirvam
como um aliado chave na campanha para destruir o Estado Islâmico, com todo o financiamento e equipamento
militar que tal papel acarreta. Em segundo lugar, quer que resistam à separação do Estado iraquiano.
Certamente, se triunfarem sobre seus inimigos, o preço cobrado pelos curdos pode ser a reivindicação
de independência, colocando em risco o processo de reconstrução norte-americana do Iraque após Saddam
Hussein. Tal evento poderia gerar uma onda separatista nos outros Estados que contêm partes do território do
Curdistão e gerar um novo conflito no Oriente Médio.
[5]
Europa
Fonte: Stratfor O difícil caminho para a consolidação do TTIP
O TTIP (Acordo Transatlântico de Comércio e
Investimentos) é um acordo internacional que pode ser
considerado bilateral entre os Estados Unidos e a União
Europeia. Tal acordo foi negociado em meio ao clima de
austeridade e estagnação econômica nos anos seguintes
à crise de 2008 e seria, para muitos economistas
europeus, a alavanca providencial para a recuperação
das finanças do velho continente. Isso porque, de
acordo com as informações fornecidas pela Comissão
Europeia, tal acordo teria um impacto de quase €120
bilhões para o bloco econômico e cerca de €90 bilhões
para os EUA. Ainda se especula um aumento de €100
bilhões em negociações para o restante do mundo.
Contudo, o referido acordo ainda não saiu do papel
e, desde 2013, quando o presidente norte-americano
Barack Obama anunciou as conversas francas sobre o
tratado, não se concretizou um documento final que determine o pacto entre os signatários. Embora a proposta
inicial trouxesse uma notável melhoria, ultimamente o TTIP tem encontrado barreiras para sua implementação:
a questão da espionagem da NSA na Alemanha e protestos da sociedade civil contra cláusulas que aparentemente
ferem questões ambientais têm conseguido atenção nas cátedras europeias e ameaçado a continuidade das
conversas.
Com a guinada conservadora oriunda da crise econômica, o apoio dos partidos europeus à finalização do
tratado, prevista para 2015, é incerto. Os esforços norte-americanos são bastante compreensíveis, uma vez que
a Europa sempre foi considerada espaço de projeção do poder econômico dos EUA.
É interessante posicionar o Brasil nesse contexto: nono parceiro comercial europeu, representando 2,1%
(€73 bilhões) do total de trocas, o país pode perder área de atuação caso o acordo efetivamente saia do papel.
Não há uma evidência clara disso, mas há uma potencialidade de mudança na dinâmica comercial brasileira.
Vale ressaltar que, no último dia 31, a UE requereu à OMC uma explicação por parte do Brasil acerca das taxas
praticadas no mercado interno que iriam de encontro às regras da organização.
Europa
A extensão da OTAN à Terra do Fogo Fonte: Geopolítica do Petróleo
[6]
(uma de 2.590 metros e outra de 1.525 metros), que permitem a operação de aeronaves de transporte de tropas
e de blindados. Como parte desse complexo militar, foi construído um porto de águas profundas, chamado
de Mare Harbour, no qual atracam os submarinos nucleares e os navios britânicos que patrulham as águas
da região (normalmente, uma fragata ou contratorpedeiro, um navio patrulha e um navio de apoio logístico).
Estima-se que entre 1.000 e 2.000 militares britânicos, sem contar os embarcados nos navios e submarinos,
estejam atualmente estacionados nas Malvinas (Falklands). O porto de Mare Harbour também apoia os navios
de pesquisa britânicos que participam do Programa Antártico daquele país.
A movimentação de tamanho aparato militar encontra justificativa para além das alegações tradicionais,
como a defesa dos cidadãos malvinenses (cerca de 3,2 mil). O controle sobre as Malvinas (Falklands) significa
também o controle das rotas que unem o continente americano à África, da conexão com a Antártica e com o
Oceano Pacífico por meio do estreito de Magalhães e da passagem de Drake. Alguns interesses econômicos
também se colocam em questão, como é o caso das reservas de hidrocarbonetos em torno das Malvinas
(Falklands), bem como das riquezas pesqueiras daquela região.
Além disso, de acordo com Global Strategic Trends out to 2045 do Ministério da Defesa britânico, lançado
em junho deste ano, ainda que uma “corrida armamentista” na América Latina seja improvável, é quase certo
que alguns países terão forças armadas mais capazes até 2045, como é o caso do Brasil com sua modernização
do complexo industrial-militar e a intenção tanto deste país como da Argentina em desenvolver tecnologia de
propulsão nuclear. Nesse sentido, o reforço nas Malvinas (Falklands) torna-se ainda mais imperativo à OTAN
quando se analisa o longo prazo.
Rússia e ex-URSS
Fonte: Café com Kremlin
Eleições separadas
O presidente da Ucrânia Petro Poroshenko antecipou
as eleições legislativas previstas para 2017 a fim de
diminuir a influência do ex-presidente deposto, Viktor
Yanucovich, no âmbito do Parlamento, único órgão
legislativo do país. As eleições aconteceram no último
dia 26 com participação de observadores internacionais,
Comparação entre eleições de 2012 e 2014: em laranja, regiões como Rússia e União Europeia (UE), que não apontaram
com votos em partidos pró-União Europeia e, em azul, votos
em partidos pró-Rússia. nenhuma irregularidade no processo.
Como resultado, saiu vitoriosa a maioria de partidos
anti-Rússia e pró-União Europeia: em primeiro lugar, com 22,16% dos votos válidos, o partido Frente Popular;
em segundo lugar, com 21,83% dos votos, o partido Bloco do Poroshenko; e em terceiro lugar, o partido
Sampomnich, com 10,98%. Vale ressaltar que os três partidos são favoráveis ao ingresso da Ucrânia na União
Europeia. Além disso, em seu primeiro discurso de vitória, o atual premiê, Arseni Yatseniuk, discorreu acerca
de uma coalizão de cinco partidos pró-Europa chamada “Ucrânia Europeia” para atuar no Parlamento.
No entanto, a região do Donbass, russófila, que continua em guerra desde o ano passado com duas regiões
que se declararam unilateralmente independentes - República Popular de Donestsk (RPD) e República Popular
de Luhansk (RPL) - também realizou suas próprias eleições, já que suas lideranças não reconhecem o resultado
anterior. Realizada no dia 02 de novembro, as eleições no Donbass contaram com apoio da Rússia e desaprovação
da OTAN, da UE e da ONU.
A Rússia parece mais interessada em federalizar a Ucrânia do que promover uma cisão total do país. Como
já amplamente discutido, as enormes reservas russas de gás natural, administradas pela estatal Gazprom,
conferem ao Kremlin grande poder de barganha. Rússia, Ucrânia e UE assinaram um acordo trilateral no
último dia 30 para suprimento de gás nos meses de inverno: pelo acordo, a Ucrânia pagará US$ 378 por 1000
[7]
m³ e deverá pagar uma dívida anterior de US$ 145 bilhões. A garantia da UE e do FMI de auxiliar a Ucrânia
com o pagamento foi fundamental para o estabelecimento do acordo. É conveniente lembrar também que 15%
do gás russo consumido na Europa chega ao continente pelos gasodutos que passam pela Ucrânia.
Sul da Ásia
Escassez de água no Sul da Ásia Fonte: O Globo
Leste Asiático
Fonte: Renovatio
Reunificação entre as Coreias: sonho distante ou
problemática no horizonte?
No dia 27 de setembro, o ministro das relações exteriores da
Coreia do Norte, Ri Su Yong, ao discursar perante a Assembleia
das Nações Unidas, falou sobre a necessidade de reunificação
com a Coreia do Sul. Tal reunificação, em suas palavras,
deveria ser feita por meio de uma fórmula que permitisse dois
sistemas diferentes coexistirem dentro do mesmo país. Em
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fevereiro, o presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye, já havia criado um comitê cujo objetivo é elaborar
estratégias e propostas para que, através do diálogo e intercâmbio, as duas Coreias possam se reunificar, gerando
uma “nova era na península coreana”.
Entre os dois países o lado mais disposto a “ceder”, por mais surpreendente que isso pareça, é a Coreia do
Norte. Ela possui diversos problemas no âmbito interno - um terço de sua população é afetada diretamente pela
escassez de comida - e no externo - o país sofre diversas sanções da comunidade internacional e é acusado de
graves violações dos diretos humanos, como o uso de uma rede de prisões políticas para práticas como a tortura
e a escravidão. Além disso, o país enxerga uma mudança gradativa, para pior, na sua relação com a China, a
qual recentemente demonstrou desconforto em usar seu poder de veto no Conselho de Segurança para barrar
ações punitivas contra a Coreia do Norte devido a violações de direitos humanos.
A posição geopolítica das Coreias faz com que tanto China quanto Japão busquem influenciar tanto o Sul
quanto o Norte, de maneira a contrabalancearem um ao outro. Também temos os EUA, que estrategicamente
enxergam a Coreia do Sul e o Japão como proxys da sua política externa na região. Tão relevantes quanto
o distante fim, que seria a reunificação dos países, são os meios utilizados pelas partes interessadas. Como
exemplo, temos os Ministérios da Reunificação presente nos dois países. Deve-se ressaltar, porém, que uma
Coreia unida adicionaria um novo player de peso para o jogo de poder da região, o que não agradaria nenhum
dos outros Estados já citados.
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assim, no que concerne às Ilhas Natuna, é improvável que a China vá agir militarmente e ocupar a região
(como fez com outras ilhas), pois é beneficiária direta do comércio que circula por ali. A Indonésia de “Jokowi”,
entretanto, deve ser cautelosa, pois pode perder a posição privilegiada que possui na ASEAN caso entre em
conflito direto com a China, principalmente por não possuir a capacidade militar suficiente para sustentar
prolongadas ações contra os chineses.
Ártico e Antártica
Fonte: The Siberian Times Os interesses russos no Ártico
Um dos fatores que contribui para a inserção do Ártico
como uma região de disputa geoestratégica mundial é o recente
degelo acentuado em torno do Polo Norte, que abre novas rotas
e possibilidades de navegação, além de facilitar a prospecção de
petróleo e gás. Esse fato torna a corrida pelo controle daquelas
áreas um eixo estratégico de atuação de importantes Estados, dos
quais agora se destaca a Federação Russa, que faz da consolidação
de sua soberania nacional no Ártico uma pedra fundamental em
seus esforços de política externa no século XXI.
Recentemente, durante um voo de reconhecimento russo, foi localizada uma ilha ainda não mapeada na
região do Mar de Laptev, próximo à Sibéria. No início de outubro passado, a ilha, que recebeu o nome de Yaya,
foi objeto de um estudo cartográfico completo para ser enviado à Comissão das Nações Unidas para o Direito
do Mar, a fim de garantir a posse russa da região. A isso deve se seguir a imediata instalação de algum tipo de
presença militar, que é o modus operandi russo para assegurar novas reservas de petróleo e gás, além do livre
acesso à área.
Quando da instalação de bases militares em outras partes cuja soberania foi concedida à Rússia poucos
atores demonstraram tanta comoção quanto a organização ambientalista Greenpeace, que acusa o governo do
presidente Putin de desequilibrar o sensível ambiente do Ártico. Essa acusação se baseia, entre outras coisas,
no fato de que as bases, por vezes, ocupam antigos locais de reprodução de ursos polares e outras espécies, o
que motiva diversas ações da ONG como a que resultou na apreensão do Arctic Sunrise , em setembro de 2013,
e a prisão de vários ativistas, inclusive de uma brasileira, pelas autoridades russas.
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