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Iniciação
à Filosofia do
Jornalismo
(Ensaio)
“Prêmio Orlando Dantas – 1959”
1960
Livraria Agir Editora
Rio de Janeiro
A JEAN-MAURIGE IGE RERMANN
Presidente da O.I.J. —Paris
Prof. RONALD IIILTON
da Universidade de Stanford — Califórnia
Dr. FRANCIS E. TOWNSEND
Ad
Adido
ido Cultu
ltural dos EE.UU
.UU. — Washing ington
ton
JAROSLAV KNonwdn
Secretário Geral da O.LJ. —Praga
Luís SuAREZ
do Sindicato Nacional de Redatores de Prensa
— México
Prof. P. P. SINGI-I
Diretor do Departamento de Jornalismo da
Universidade de Panjab — índia
CARLOS RIZZINT, TEISTÂ0 DE ATAÍDE G ANTÔNIO OLINTO
pioneiros dos altos estudos jornalísticos no Brasil e “ad inemoriam”
Prof. Luiz SILVEIRA
Diretor da Escola de Jornalismo Casper Líbero
— S. Paulo
Prof. MÁRIO MELO
Decano dos jornalistas pernambucanos
O AUTOR DEDICA
ÍNDICE
PREFÁCIO ..................................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 13
PRIME
PRIMEIRA
IRA PAR
PARTE
TE:: AS MAN MANIFE IFESTSTAÇ AÇÕ ÕES DO DO JORN
JORNAL ALISMISMO O ....
...................
..............
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........21
.21
ORIGE
IGEM E EVO EVOLUÇLUÇÃO ................
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...................
............. 23
Pré-história do Jornalismo ............................................................................................................24
A fas
fase histó
istórrica
ica .......
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..2
26
Primórd
rimórdios
ios do
do Jorna
Jornalism
lismo o brasileiro
brasileiro ...............
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...... 28
DA ATUALIDADE .........................................................................................................................66
DA VARIEDADE ...........................................................................................................................72
Varieda
ariedade
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Espec
ecializa
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ção
o ..............
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.........73
..73
Jorna
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DA INTE
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........77
.77
Interpretação e Seleção ................................................................................................................78
Interpretação e Vocação ...............................................................................................................79
Extens
xtensivida
ividade
de e Inten
Intensiv
sivida
idadede ..............
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........881
DA PERIODICIDADE ....................................................................................................................82
Atr
Atra
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istóri
ria
a ....
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....
..8
83
Nos Tempos Modernos .................................................................................................................86
DA POPULARIDADE ....................................................................................................................89
Extensão da Popularidade ............................................................................................................91
Popularidade e Liberdade .............................................................................................................98
Condições da Popularidade ..........................................................................................................98
DA PROMOÇÃO .........................................................................................................................100
Jornalismo e Sociedade ..............................................................................................................100
As Campanhas Jornalísticas e o Bem Comum ..........................................................................103
Jornalismo e Direito ....................................................................................................................104
Jornalismo e Opinião ..................................................................................................................110
O PÚBLICO ................................................................................................................................117
O Público, Agente Ativo ..............................................................................................................118
Balanço do Trabalho do Público-Agente ....................................................................................122
O EDITOR ...................................................................................................................................123
O Editor-Financista .....................................................................................................................124
O Editor-Idealista ........................................................................................................................128
O Estado-Editor ..........................................................................................................................132
O Estado, Editor-Idealista ...........................................................................................................137
O TÉCNICO ................................................................................................................................140
Fase da Manufatura ....................................................................................................................141
Fase da Mecanofatura ................................................................................................................143
O Problema da Automatização ...................................................................................................150
Jornalismo e Automatização .......................................................................................................151
O JORNALISTA ..........................................................................................................................158
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................223
PREFÁCIO
A muitos surpreenderá venha de um jornalista de província — certo que de província
com as tradições culturais de Pernambuco — uma contribuição de tantos e tão altos méritos
paira o conhecimento do jornalismo, em sua técnica e em seu espírito, como esta Iniciação à
Filosofia do Jornalismo, de Luiz Beltrão.
Entretanto, as condições em que, pelo menos até bem pouco, se fazia jornal na
província, sem as limitações de rígida especialização, davam aos bons jornalistas provincianos o
domínio integral dos segredos de seu ofício; habituavam-nos de cedo a redigir desde o registro
dos “faits divers”, à crônica internacional ou ao grave artigo doutrinário. Além disso, o contato
mais direto com o fato, em si, e com as suas reações, confere à posição daqueles jornalistas, em
face de um e de outras, o caráter de participação integral, quase sempre rica de calor humano,
até nos impulsos de suas paixões.
A prática do jornalismo de província adquire, com isso, peculiaridades que, se o
diferenciam, também o valorizam, em termos de identificação mais profunda entre o jornal e os
que o fazem e entre estes e o meio social. A modesta imprensa do interior, em seu heroísmo
anônimo na luta pela sobrevivência, é o mais vivo exemplo dessa identificação.
De Pernambuco vieram, aliás, já com os nomes consagrados, para unia atuação mais
ampla no jornalismo brasileiro — se quisermos citar apenas valores dos nossos dias —, figuras
da expressão profissional de Barbosa Lima Sobrinho, Aníbal Freire, Assis Chateaubriand, Osório
Borba, diferentes no estilo e feitio, mais todos eles, pelo equilíbrio, pela vivacidade, pelo ânimo
combativo, verdadeiros mestres no ofício. Dentre os que lá ficaram e morreram, poder-se-iam
referir nomes como Gonçalves Maia, Manuel Caetano, Carlos de Lira Filho e, mais
recentemente, aquele autêntico professor de ética que foi Caio Pereira, para quem a expressão
“magistratura da imprensa” definia seu próprio conceito de jornalismo, fiel à preocupação da
justiça ao dever da verdade. Ou, dos atuais, esse outro admirável artífice de jornal, Aníbal
Fernandes, mestre de mais de uma geração, sempre ágil e lúcido em sua extraordinária
sensibilidade jornalística para o fato que vai ser notícia.
Jornalista de província, no bom sentido, Luiz Beltrão concilia em sua atividade
profissional e didática a força da vocação com o gosto pela formação. Ocupando duas cátedras
em Cursos de Jornalismo, uma de Ética, outra de Técnica, até nisso revela seu ilimitado
interesse pelos problemas da imprensa, em sua universalidade: o espírito que anima a tarefa
jornalística, os fundamentos morais da profissão, de um lado; e, de outro, os aspectos ligados,
propriamente, à arte de fazer jornal. Sua participação em numerosas reuniões da classe, a
coerência da posição assumida em face de determinadas teses, as viagens a outros países, com
olhos atentos de repórter empenhado em apreender as experiências alheias, tudo isso lhe atribui
uma autoridade que o mérito deste ensaio consolida e amplia.
Sabe-se que a imprensa está sofrendo, em todo o mundo, a séria concorrência de outros
agentes de comunicação, com suposta primazia do rádio e da TV. Esta posição de desvantagem
é, porém, simples aparência. Pela circunstância de ser, talvez, dentre aqueles agentes, o mais
adequado à experimentação simultânea do maior número das leis da propaganda, tais como as
definiu Domenach,o jornal continua a manter o antigo prestígio, na competência dos modernos
instrumentos formadores da opinião.
Luiz Beltrão adota, aliás, para “jornalismo” o conceito mais amplo; com ele identifica o
veículo, qualquer que seja, da informação sofre o fato corrente, e da interpretação desse fato,
“com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o
bem comum”.
pensamento, ética, história e legislação de imprensa, importância do jornal na sociedade,
intercâmbio de informação internacional, aspectos técnicos da profissão são exigidos, hoje, tanto
nas democracias ocidentais como nas chamadas democracias populares. Visam levar o
jornalista a familiarizar-se com os temas fundamentais, econômicos, sociais e políticos do seu
país e com a aplicação das ciências exatas, naturais e sociais à solução dos problemas
humanos e das questões internacionais, manipulando e utilizando as notícias relativas ao
estrangeiro com o propósito de cooperar pela concretização dos ideais de justiça, liberdade e
paz mundial.
Estamos certos de que essa, desarmonia entre as elites e o jornalismo, êsse
descompasso entre os jornalistas e o público, as incompreensões e os conflitos entre o poder e a
opinião decorrem, antes de tudo, de um generalizado desconhecimento do que seja o jornalismo,
da sua missão, da sua influência na cultura, no progresso e na civilização dos povos, do
indeclinável dever que todos temos de assegurar a essa atividade humana essencial a mais
essencial de tôdas as suas condições de desenvolvimento: — a liberdade.
Ao que nos conste, nenhum estudo sistemático dêsses problemas foi realizado em
língua portuguêsa e as nossas livrarias e bibliotecas estão desprovidas de obras sôbre tão
importantes temas, mesmo provenientes de outros centros culturais. Alguns poucos e esparsos
estudos publicados — à exceção de obras apologéticas, históricas ou de memórias — o foram
em jornais ou em páginas pouco manuseadas de “Anais” dos congressos da classe, não
chegando a repercutir nas elites culturais e políticas, despertando-lhes o interêsse para questões
vitais à corporificação dos nossos ideais filosóficos, à solidificação das nossas reivindicações de
progresso, à efetivação dos nossos anseios de um mundo de povos livres e pacíficos. Em
conseqüência, além de ficarmos à retaguarda dêsse movimento de valorização social e cultural
do jornalismo, dele não extraímos os benefícios e vantagens de que necessitamos,
especialmente agora, na fase aguda da campanha em que nos empenhamos para a completa
emancipação nacional. Estas observações nos levaram a oferecer aos jornalistas, aos
intelectuais, aos estudantes e aos estudiosos dos fatos sociais brasileiros, o nosso contributo a
uma melhor compreensão de tão relevante matéria.
Esperamos firmemente que êste ensaio seja útil, de modo especial às nossas elites,
advertindo-as das graves responsabilidades com que arcam para a construção do futuro do
nosso país, pela defesa intransigente dos nossos foros de cultura e de civilização, pela
promoção do nosso desenvolvimento social e econômico e pela consolida ção das nossas
instituições democráticas, as quais repousam, sem dúvida, na existência ele um jornalismo livre,
vigoroso e respeitado.
______________
Neste trabalho, foram aproveitadas e ampliadas teses elaboradas, det’atidas e
aprovadas nos Congressos Nacionais de Jornalistas realizados no Recife, em 1951, em Curitiba,
em 1958 e em Belo Horizonte, em 1955; pesquisas e estudos feitos por ocasião das nossas
visitas aos Estados Unidos, em 1954, a convite do Departamento de Estado, e às Repúblicas
Populares da Tchecoslováquia e da China, a convite das respectivas Uniões de Jornalistas;
durante a realização da 1 Conferência Mundial de Entidades de Imprensa, em São Paulo, em
1954; no 1 Encontro Internacional de Jornalistas, efetuado em Heisinque, Finlândia, em 1956, e
no LV Congresso da Organização Internacional de Jornalistas, em Bucarest, Romênia, em 1958;
e ainda apostilas para o exercício das cátedras de “Ética, História e Legislação de Imprensa” e
“Técnica de Jornal” dos cursos de jornalismo da Faculdade de Filosofia do Instituto Nossa
Senhora de Lourdes, em João Pessoa, e da Faculdade de Filosofia Manuel da Nóbrega, da
Universidade Católica do Recife.
O Autor deve agradecer, especialmente, a colaboração que recebeu por parte dos
professôres e jornalistas Ruy Antunes, frei Romeu Perea, Rod W. Horton, Vamireh Chacon, Zita
An.drade Lima, Fernando Sigismundo, José da Costa Porto, Paulo Cavalcanti, Reinaldo Câmara,
Andrade Lima Filho e Geraldo Campos de Oliveira, que leram ou participaram dos debates sôbre
os temas tratados no original, oferecendo sugestões de relevante interêsse para a efetivação do
ensaio. Estende os agradecimentos ao “Diário de Notícias” que, com a instituição do “Prêmio
Orlando Dantas — 1959” para estudos sôbre jornalismo, proporcionou, não sòmente facilidade
editorial como oportunidade a que os círculos intelectuais se voltassem para os problemas
técnico-profissionais e sociais jornalísticos.
AS MANIFESTAÇÕES DO JORNALISMO
Contém:
ORIGEM E EVOLUÇÃO
Prehistória do jornalismo
A fase histórica
Primórdios do jornalismo brasileiro
CONCEITO DO JORNALISMO
papel no Brasil — menos de três quilos por habitante/ano — nos coloca numa posição
humilhante em relação já não dizemos a países muito mais desenvolvidos, mas até aos nossos
vizinhos, pois a Argentina tem um consumo duplo do nosso. A solução do problema da produção
de celulose e papel de imprensa, qué urge dada a importância assinalada dessa matéria prima
na alfabetização do povo e difusão da cultura, estará em uma modificação substancial da
orientação do govêrno, cujos estabelecimentos de crédito recusam, sem maiores estudos,
financiamento para a implantação de indústrias do tipo médio (25 a 30 toneladas por dia),
distribuídas na região produtora de pinho, com o aproveitamento da madeira em lascas não
utilizada pelas serrarias e, o que é mais importante ainda, o emprêgo de desfibradoras e outras
máquinas, ora fabricadas em São Paulo. no Rio e no Paraná.
A es
escassez do pa papel, que
que nã
não popoderá ateatennder à cre
cresscente de demanda e à ad adoção e
popularização do sistema de imprimir em películas de celulóide, celulóide, parece-nos indicar uni novo
caminho ao jornalismo escrito: a substituição, no futuro, do jornal na sua forma atual pelo jornal
em micro-filme para a leitura eu aparelhos reprodutores ou projetores, como já existem em bi
bibliotecas, arquivos, universidades, clubes e associações culturais. O micro-filme, micro-filme, se bem que
exija
exija a posse dede aparelho
aparelho especiais
especiais de reprodução e projeção, tem tem sôbre
sôbre o jornal
jornal im
impresso em
papel diversas vantagens, tais como: facilidade de transporte e arquivamento; melhor técnica
para o uso das côres; comodidade para o leitor, que não terá de conduzir grossos volumes de
fôlhas impressas, que não somente pesam como têm outros inconvenientes, como o
desprendimento de tinta e a rápida e fácil destrutibilidade redução das despesas em maquinaria
e mão
mão de obra para as emprêsas
emprêsas e, final
finalmente
mente maismais vasto alcance
alcance pela sua utili utilização
zação nas
emissoras
emissoras de televisão.
tele visão. O em emprêgo do micro
micro-fi
-filme
lme se está general
generalizando
izando nos países mais
adiantados cultural e tècnicamente
ècnicamente:: nos Estados
Estados Unidos,
Unidos, tivem
tivemos os oportunidade
oportunidade de de visitar
visitar o
arquivo do New York Times, onde as coleções volumosas e devoradoras de espaço das edições
daquele famoso órgão da imprensa mundial estão concentradas em poucos metros de caixas de
aço.
Para resolver o cruciante problema espacial, “inúmeras instituições adotaram o recurso
de construções especiais longe da sede; tal solução gerou o duplo inconveniente de aumentar as
despesas e criar outro problema: o do transporte dos da tos entre a sede e o depósito-arquivo. O
micro-filme, quer em bandas, é largamente utilizado para reduzir massa criada por tanto papel
impresso,
mpresso, manusc
manuscririto
to ou datilograf
datilografado.
ado. Com o uso do micr micro-
o-fifillme, obtem-se
obtem-se uma uma economia
economia
espacial e de pêso que pode oscilar entre 80 e 90 por cento. Assim o conteúdo de cem armários
para arquivo pode ser reproduzido e disposto em um só classificador para micro filme, cujas
dimensões não ultrapassam as medidas de um armário comum. Basta pensar que um rôlo de
microfilme de 16mm, com imagens duplas de 8 mm, conterá, ao longo de trinta lineares, cerca
de 10.000 cartas. A bobina de 30 metros tem um diâmetro de 12 cm... Considere-se ainda, que
as modernas micro-fumadoras automáticas permitem a execução de duas imagens de 8 mm
lado a lado... Considere-se, também, que o processo de micro-filmagem, quer em 35 quer em 16
mm,
mm, é extraor
extraordinàr
dinàriiamente
amente rápido,
rápido, tendo-se em conta o fato fato de que 30.000 documentos
documentos podem
ser microfilmados em uma jornada de trabalho .” Entre os grandes jornais brasileiros cujas
10
edições, para efeito de arquivamento, são micro-filmadas figuram O Globo, Diário de Notícias,
última Hora e Correio da Manhã, todos do Rio11.”
A fix
fixação em pelíclículas
las de
de celuló
lulóid
ide
e de notíctícias
ias e “slo
“sloggans” pu public
licitá
itário
rios é aind
inda muito
ito
utili
utilizada
zada para projeção em praça pública, em telas telas especiai
especiaiss ou nas-par
nas-paredes
edes dos grandes
O RÁDIO E O JO
J ORNALISMO
RNALI SMO ORAL
RAL
Por milênios, a palavra falada foi a única forma de expressão jornalística. Na nossa
época, o jornalismo oral não sômente subsiste, através do rádio, do telefone e da fita mago
ética,
ética, como assum
assumiuiu tal
tal im
importância que a sua técnica reclam
reclamaa estudos
estudos especiai
especiais.
s.
O rádio
rádio foi pela primeira vez utilizado para a transmissão de notícias em 1922 por
Gabriel Germinet, lançando, através da estação parisiense de Radiola, um serviço quotidiano de
novidades sob o nome de “Paris Informations”13. Em outubro de 1925, uni grupo de jornalistas,
tendo à frente Maurice privat, arrendou a grande antena da Torre Eiffel e deu curso a uma idéia
que, nos finsfins do século passado,
passado, em 1883, Louis de Peyram
Peyramontont tentara efetivar
efetivar nos Foll
Follies-
Marigny, reunindo um público, diàriamente, para ouvir a leitura não só de noticias como de
artigos — e até ilustrando as palavras com desenhos e caricaturas traçadas em um quadro
negro pelos próprios autores. Privat, cuja concepção de jornalismo falado era mais prática, pois
que levava a matéria aos interessados em diversos pontos da cidade, por meio de alto-falantes,
obteve êxito ao ampliar, com a introdução de tôdas as seções que compõem o jornal impresso,
inclusive a publicidade, o simples informativo até então rádio_difundido. Le Journal de la Tour
teve logo imitadores: na Bélgica, em 1926, surgia um jornal falado; em a administração das
comunicações sem fio, em Paris, ia o seu “Rádio Jornal da França”, transmitindo de um estúdio
nos Champs Elysées; em 1932, no México, a XEW lê as notícias mais destacadas publicadas
pelo diário PJxcelsior. Em todo o mundo, sob a natural reação das emprêsas editoras de jornais,
que viam no rádio um perigoso concorrente, o rádio- jornalismo firma o seu definitivo prestígio na
terceira década do século14. Coube aos editores norte_americanos, com o seu reconhecido
pragmati
pragmatism smo,o, oferecer
oferecer uma solução
solução para o conflit
conflito
o rádio versus
versus imprensa:
imprensa: — o rádio deveria
associar-se aos jornais e agências de informações, o que aconteceu nos Estados Unidos e em
outras nações, onde, a cada jornal importante, se subordinava uma rádio_emissora. Essa
política foi referendada pela Conferência das Novas Formas de Imprensa, reunida em 1934, em
Bruxelas, segundo a qual “estas duas formas de jornalismo, que se completam com felicidade,
devem colaborar e ligar-se eventualmente por acordos para fornecer paralelamente ao público a
sua quota de informações.” 15
O prim
primitivo
itivo sistem
sistemaa de
de dif
difundir
undir informaç
informações
ões pelo
pelo rádio,
rádio, com alto-f
alto-falantes
alantes colocados
colocados em
diversos pontos da cidade de Paris (prestigiado pelo próprio Presidente Poincaré, diária- mente,
“quando o tempo estava bom” transmitia entre as 18,30 e as 19 horas da torre Eiffel,
constituindo-se “numa verdadeira pequena atração nos anos de 1924 e 1925... parecia uma
12 Na capital pernambucana, o jornal eletrônico, inaugurado “em agosto de 1957, está instalado em avenida central
sôbre um edifício de 12 pavimentos. Foi uma iniciativa do jornalista e radialista Ernani Séve.
13 Já em 1920, umauma emissor
emissora
a instalada
instalada em Pittsburg,
Pittsburg, nos EstadosUnidos, a K.D.K.A., transmiti
transmitira,
ra, no mês de
novembro, boletins com os resultados das eleições presidenciais então realizadas.
14 Pernambuco detém o pioneirismo dos jornais falados no Brasil, lançados pela emissora da PRA-8, do Recife, em
fins de 1926, sob a orientação dos jornalistas Mário Libânio e Carlos Rios.
15 Conf. Rená Sudre — Le Huit
Huitiéme
iéme Art
Art — Paris,
Paris, 1945 e J. Preveyer Carracedo
Carracedo — Radioperi
Radioperiodismo
odismo — La Habana,
1952.
espécie de lanterna mágica sonora e provocava mais curiosidade e espanto do que interêsse
racional”), 16 é adotado ainda hoje na maioria das pequenas cidades brasileiras para a
transmissão de matérias de interêsse local e retransmissão de noticiários das grandes estações
dos centros urbanos com as quais entra em cadeia. São os chamados serviços de “difusoras” ou
de alto-falantes, existentes na maioria das cidades do nosso “hinterland”, que não possuem
estações de rádio próprias.
Ganhando foros de veículo jornalístico da mais subida importância, não sòmente por se
constituir num excelente instrumento de educação e propaganda como, sobretudo; por sua
extraordinário
extraordinário universali
universalidade
dade — “as ondas não não conhecem
conhecem fronteir
fronteiras
as nem contrôles aduaneiros”
aduaneiros”
— o rádio exigiu, ao contrário do jornal impresso, uma legislação e um sistema de concessão
especiais, admitidos pràticamente por todos os Estados modernos, através uns do monopólio
sôbre as emissoras outros por meio de estatutos que adotam certas medidas restritivas, a partir
da reserva das freqüências até a censura prévia dos programas informativos. Em 1949, de
acordo os dados divulgados pela UNESCO, havia, em todo o mundo, devidamente registradas,
4.870 rádio-emissoras, e o número de aparelhos receptores era de 181.849.000. Eis os números
para o Brasil: 233 emissoras, sendo 211 de ondas médias e 12 de ondas curtas; 216 de
propriedade
propriedade pri privada
vada e 7 pert
pertencentes
encentes ao Estado;
Estado; 2.500.000
2.500.000 receptores, cabendo
cabendo 51 para cada cada
mil habitantes. Já em 1958, segundo o Anuário da Imprensa, Imprensa, Rádio Televisão,
Televisão, editado por P.N.,
P.N.,
o número de estações de rádio no nosso país ascendia a 496.
O telefone,
telefone, a princípio empregado, apenas, para comunicações particulares ou
transmissão de notícias aos corpos redacionais para posterior publicação nos jornais, é, hoje,
outro
outro veículo do jornalism
jornali smoo oral. Em tôdas as grandes
grandes cidades, há “jor“jornais
nais telefônicos”,
telefônicos”, em geral
estreitamente ligados às emprêsas que exploram os serviços telefônicos, O primeiro jornal essa
espécie de que se tem notícia foi o Telefon Hirmonde, Hirmonde, fundado na Áustria pelo eletricista
Theodor Tuskas, em 1893. Contando com 20.000 subscritores, 1.000 quilômõtros de linhas, um
grande corpo de de repórteres,
repórteres, redatores
redatores e comentari
comentaristas,
stas, e transmiti
transmitindo
ndo tôdas as as seções de um
periódico
periódico imp
impresso,
resso, estava
estava àriamente “no fio” fio” das 8 às 23 horas. As suas suas transm
transmissões
issões eram
feitas com o auxílio de dois poderosos microfones, colocados um defronte do outro. Por meio de
um sistema de alarme, chamava a atenção dos subscritores quando ia anunciar um
acontecimento extraordinário, fôsse no campo político, econômico social. Utilizava também
recursos musicais
musicais ou para caractcaracteri
erizar
zar seções
seções ou para os intervalos
intervalos entre os notinoticiári
ciários.
os. 17
Quanto à fita magnética,
magnética, com a gravação de notícias notícias e comentár
comentários
ios pelo processo
eletrônico, até bem pouco era utilizada apenas nos departamentos jornalísticos da imprensa e do
rádio para entrevistas, reportagens “in loco”, retransmissões de “matchs” desportivos e outros
fins,
fins, e contrôle,
contrôle, pelas
pelas agências
agências telegráficas
telegráficas e dede publi
publicidade,
cidade, da divulgação
divulgação dede noticiário
noticiário ou
propaganda pelas mesmas distribuidas às rádio-emissoras.
Há cinco anos, entretanto, êsse gênero de periodismo, que poderíamos chamar de “jornalismo
em conserva”,
conserva”, vem sendo
sendo utili
utilizado
zado regularmente:
regularmente: — Gordon McKibben
McKibben divulgou, em The
The WaIl
WaIl
Street Journal, de New York , a existência de um semanário, o Audio Digest,
18 Digest, que possui cêrca
de 10.000 assinantes em quinze países. Destinado aos médicos muito atarefados, que não têm
tempo de ler todos os periódicos da sua especialidade, oferece, em gravação de uma hora, um
16 Segundo depoimento de Pierre Descaves, companheiro de pioneirsmo de Maurice Privat, do qual traça um
curioso perfil na sua conferência
conferência Le Journalism
Journalismee parlé, inserida
i nserida na coletânea Ploblémes et Techniques
Techniques de Presse –
Editions Domat Montchristeien – Paris, 1949.
17 No Recife, funciona um serviço informativo telefônico, o SIG, que nada obtante destinar-se especialmente à
propaganda comercial fornece notícias sôbre acontecimentos desportivos, fenômenos meteorológicos,
entretenimentos, horários, etc. Observação digna de regstro é a de que, quanto às informações políticas o SIG da,
apenas, os resultados dos pleitos eleitorais, sendo lhe vedado, por determinação estatutária da sociedade que o
mantém, qualquer divulgação de caráter partidário.
sumário de notícias colhidas em publicações e relatórios especiais das pesquisas médicas,
sendo editado pela Audio Diqest Foundation, de Hollywood. Os assinantes pagam 143 dólares
por ano pela fita semanal e o Audio Digest prepara, ainda, resumos extraordinários, duas vêzes
por mês, nos campos da cirurgia, medicina interna, anestesiologia, pediatria e ginecologia, que
são vendidos a 72 dólares por ano. Informa McKitben que o Exército Norte-Americano, hospitais,
faculdades de medicina e outras instituições são assinantes dêsse jornal eletrônico, embora o
grosso das gravações seja ainda expedido a médicos comuns, que forcejam por acompanhar os
progressos da ciência, enquanto atendem aos seus clientes.
Algumas empresas norte-americanas já estão empregando a fita magnética em
substituição ao clássico ‘jornal da casa”. Diàriamente são gravados informes, notícias e’
sugestões sôbre os negócios, questões sindicais e outros assuntos julgados de interêsse pelo
serviço de relações públicas das companhias. O sistema de gravação de “revistas falantes”, com
notícias, comentários e ensaios vem sendo incrementado, nos últimos anos, notadamente pelos
organismos de assistência aos cegos, como meio auxiliar de educação dêstes últimos,
considerando-se a insuficiência e o elevado custo do material composto em Braille. Êsse e
outros usos da fita magnética levaram Wolfgang Langewiesche a considerá-la mais do que um
mero tipo de gravação fonográfica: — “um novo instrumento, o mais poderoso para a
transmissão de idéias desde a invenção da
prensa.”
Em 1958, na França, foi lançada uma revista — Sonorama, encadernada com fõlhas
alternadas de papel e de “material plásrtico”, as primeira impressas com artigos, noticiário
editoriais, reportagens e ilustrações e as últimas “gravadas” com reportagens sonoras,
entrevistas, cantores e música orquestrada. O leitor retira as páginas de plástico e as coloca na
toca-disco para “ouvir” a revista. Dirigida pelo publicitário Claude Maxe, apresentou, em seu
número de lançamento, a gravação de uma entrevista com Jean Louis Barrault sôbre teatro,
outra com Brigitte Bardot e seu noivo, uma reportagem auditiva dos últimos acontecimentos
políticos que perturbaram a França metropolitana e ultramarina com todos os ruidos e gritos das
arruaças, alguns discursos em praça pública e a ruidosa participação da polícia, bem como
outros detalhes auditivos dos acontecimentos. Por fim, gravações de Gilbert Becaud e “The
Platters”. Sonorama — informa José Ricardo na sua seção “Rosa dos Ventos”, divulgada pelos
Diários Associados, em dezembro daquele ano — vendeu 50.000 exemplares a 500 francos
(aproximadamente 170 cruzeiros) por exemplar. Essa publicação é mensal.
Embora podendo adotar legendas escritas ou textos falados para melhor compreensão
do público, o jornalismo pela imagem19 tem no desenho, na fotografia ou na apresentação direta
dos acontecimentos os seus principais meios de expressão. Do ponto de vista psicológico, a
imagem oferece mais possibilidades de fixação do que a própria testemunha direta do fato, que
pode ser incompleta quer quanto ao ângulo do observador quer pelas falhas da atenção em
pessoa não experimentada. A imagem jornalística, procura dar uma visão sintética completa do
acontecimento, sendo imediatamente compreendida pelo espectador sem apêlo à sua
inteligência ou à sua imaginação e independente do grau de cultura que detenha idioma que fale.
Na atualidade, o jornalismo pela imagem manifesta-se através do desenho, da fotografia, do
cinema e da televisão.
19 Essa modalidade de jornalismo é, em geral, denominada gráfica, se bem que, etimológicamente, a designação
O Desenho — Depois da palavra falada, foi, sem dúvida, amais antiga expressão
jornalística no mundo, pois surge, talhado ou pintado nos muros das cavernas pré-históricas,
cêrca de 15.000 anos antes do nosso século. Se alguns dos documentos arqueológicos
apresentam desenhos humorísticos, caricaturas ou artísticas representações da flora, da fauna e
dos homens, a maior parte dêles, por exemplo, no Egito, tinha “um significado político bem
perceptível ou eram simplesmente cenas críticas e joviais dos costumes do tempo... Um dos
desenhos mais conhecidos daquele período representa uma gazela que se entretém em um jôgo
parecido ao xadrez com um leão; êste, antes que a partida termine, arrebata a aposta. Com isso
se quis expressar que as pobres gazelas indefesas não devem jogar com o leão poderoso que,
no caso, se supõe representar o faraó Ramsés III êste mesmo é, em outro de desenho, um gato
astuto, que conduz uni bando de patos inocentes... Em outra composição talhada sôbre um dos
monumentos de Tebas, satiriza-se o excesso, em damas da alta sociedade, de beber mais do
que recomenda a prudência: umas pedem às suas escravas que as sustentem e outras são
atendidas no momento extremo...”20
22 Louis Morin — Le dessin humoristique cit. por Frederico Galindo in El periodismo — Barcelona, 1953 — pág. 450.
23 Frederico Galíndo — El humour en la prensa in El periodismo — Barcelona, 1953 págs. 33-43o.
antena colocada no alto da Torre Eiffel. Três anos depois, a França possui a mais potente
emissora de TV do mundo (30 kilowatts), transmitindo a imagem em um raio teórico de 50
quilômetros, acompanhada de som. É também neste ano (1938) que a TV ultrapassa o estado
puramente mecânico (rotação de discos sôbre o emissor e o receptor e exploraçâo sôbre 30
linhas) para atingir o sistema de transmissão eletrônica, quando, em Moscou e Leningrado, são
instaladas estações que, mais tarde, viriam a cobrir um raio de 180 a 190 quilômetros. Nos
Estados Unidos, o funcionamento oficial da TV foi registrado em 30 de abril de 1939, data da
abertura da Feira Mundial de New York, embora desde o ano anterior a RCA estivesse
fabricando postos de televisão para venda ao comércio. Em 1945, no final da segunda guerra
mundial,
undial, mais um progresso decisi decisivo
vo é registr
registrado:
ado: — emprega
empregando-se
ndo-se um aparel aparelho
ho descoberto
descoberto
por Zworykin, o iconoscópio, e aperfeiçoado por Barthélemy, com lentes eletrônicas, consegue-
se a transmissão da imagem em pleno dia e mesmo sem sol. Ao engenheiro inglês J. L. Baird
são atribuidos os mais importantes estudos sôbre a transmissão da TV em côres, hoje uma
realidade.
A TV desenvolve lveu-se ràpràpida
idamente nosnos paíse
íses mais indindustria
trialilizzados com emis emisssões
destinadas a grandes públicos. Dados estatísticos colhidos pela UNESCO, em 1° de janeiro de
1953,
1953, nos permitem avaliar da populari popularidade
dade da da TV,
TV, isto
isto é, do seu alcance
alcance como
como veículo
periodístico, cultural e artístico: nos Estados Unidos, havia, então, 139 estações transmissoras,
22 milhões de receptores, equivalentes a um para cada 7,15 habitantess; no Reino Unido, 5
estações, 2.072.930 receptores, um para cada 24 habitantes; em Cuba, 7 estações, 100.000
receptores para cada 55 habitantes; no Canadá, 2 estações, 250.000 receptores, um para cada
56 habitantes; no México,6 estações, 50.00 receptores, um para cada 578 habitantes; na França,
2 estações, 60.000 receptores, um para cada 704 habitantes; no Brasil, 3 estações, 70.000
receptores, um para cada 751 habitantes; na República Dominicana, 1 estação, 1200 receptores,
um para cada 1.808 habitantes; na URSS, 3 estações, 80.000 receptores, um para cada 2.400
habitantes; na República Federal da Alemanha, 5 estações, 6.000 receptores, um para cada
8.000 habitantes e no Japão, 3 estações, 4.444 receptores, um para cada 21.000 habitantes.
Naquele ano, estavam sendo montadas e experimentadas estações de transmissão de TV na
Arg
Argeentin
tina, Din
Dina
amarcarca, Itá
Itálilia
a, Pa
Paíse
íses Baixo
ixos, Polôn
lônia,
ia, Suíça
íça, Ta
Tailâ
ilândia,
ia, Tu
Turquia, ia, Áu
Áustria
tria,, Bélgic
lgica
a,
Tchecoslováquia, Espanha, Suécia e Iugoslávia. Hoje, países menos desenvolvidos possuem ou
se propõem a organizar emissões de TV, enquanto o progresso técnico vai permitindo, ampliar o
raio de transmissão, mesmo sem exigência de postos retransmissores.
Uma das mais debatidas questões no campo da TV e que interessa sobretudo ao nosso
estudo é a do número
número de horas consagradas
consagradas diàri
diàriamente
amente ou semanalmente às emi emissões e do
tempo nelas dedicado às informações jornalísticas. Tanto por motivos econômicos como por
técnicos e sociais, o número de horas de funcionamento das tele-emissora é reduzido: na
Inglaterra e na França, a duração média semanal é de 32 horas, enquanto nos Estados Unidos,
diàriamente, é de 15 horas. Neste último país, onde a TV é mais popular, a maior parte das
estações difundem um resumo de notícias pelo menos quatro vêzes por dia. Os métodos de
apresentação variam muito, mas em geral, vê-se sôbre o écran um narrador, que ilustra com
filmes
filmes e vistas fixas
fixas a sua descrição das últim últimas notícias.
notícias. Os
Os filmes
filmes utili
utilizado
zadoss são
são produzidos
produzidos
especialmente, uma vez que uma convenção realizada proibiu a exibição das atualidades
cinematográficas na TV, criando-se, dêsse modo, uma nova indústria: — a tele-cinematográfica,
que produz, inclusive, filmes próprios de enrêdo, já que sòmente cinco anos depois de lançadas
é que as super-produções poderão poderão ser retransm
retransmititidas
idas no vídeo. Entre as produtoras nort norte-
e-
americanas de tele-atualidades filmadas figuram a United Press-Movietone Television News, News,
fundada em 1951; a Telenews Production Incorporated, filial da INS, fornecendo um jornal diário
de oito minutos e dois semanários,um dos quais sòmente sobre fatos esportivos e os serviços
próprios da NBC e CBS, que favorecem diversas emissoras menores com cópias das suas
atualidades.
Enquetes realizadas entre 1951 e 1952 em New York dão, apenas, 12,5 % e 13,4 % às
emissões de caráter informativo (noticiário geral, previsões meteorológicas, questões de
interêsse púbpúblilico,
co, religi
religião)
ão) ; 6,3 % e 6,9 6,9 aos programas desportivos
desportivos e 2,4% e 4,2% à
apresentação e entrevistas de personalidades.29 Os índices de popularidade dêsses programas,
em 1952,- eram os seguintes: informação e atualidades, 4,2; esportes, 11,2; e entrevistas, 5,0. A
média de uso domiciliar de receptores de televisão era, então, de 83 minutos por dia, enquanto o
público dedicava ao rádio 124 minutos, aos jornais 38 minutos e às revistas, 16 minutos. 30
Na França, numa iniciativa da UNESCO e da Radiodifusão e Televisão Francesa, foram
realizadas, de janeiro a março de 1954, emissões experimentais visando analisar as
possibilidades culturais da TV e a sua influência sôbre a conduta dos telespectadores frente a
determinados temas. Treze programas sôbre a modernização do trabalho rural e suas condições
técnicas,
técnicas, econômicas,
econômicas, sociais
sociais e humanas
humanas — produzidos
produzidos por Roger
Roger Louis,
Louis, com uma
uma equipe de
especialistas
especialistas — foram transm transmititidos,
idos, juntamente
juntamente com apresentaçõe
apresentaçõess de de “musie
“musie-hali”
-hali”,, circo,
documentários, teatro, leitura de livros, cinema, entrevistas, noticiário e reportagens diversas, O
campo de observação dos resultados foi a região do Aisne, onde foram selecionados quinze tele-
clubes31 com assistentes de diferentes graus de educação, profissões diversas, de ambos os
sexos e idades variadas. O número de indivíduos interrogados e cujas reações foram registradas
variou entre 225 e 231, segundo as questões formuladas. Essa experiência ofereceu os
seguintes resultados: salvo os programas de “music-hall” e circo, que obtiveram maior
percentagem de aprovação, 90 por cento do público acompanhou com interêsse e aplaudiu o
jorn
jornaal tele
televvisa
isado; 6060 por ce cento as rep
reporta
rtagens re
retro
trospectiv
tivas; 55
55 por cecento os “m
“magazineines” de
de
exploradores e 45 por por cento as reportagens atuais, focalizand
focalizandoo fábricas,
fábricas, aeroport
aeroportos,
os, etc.
Como meio de informação primário, isto é, veículo de transmissão das primeiras notícias
sôbre um dado acontecimento, a TV leva vantagem sôbre o jornal e o rádio, bem como sôbre o
cinema de atualidades. Tanto realizando coberturas diretas como utilizando processos rápidos
de produção de filmes para apresentação num período mínimo de tempo, mediante dispositivo
especial que permite sejam os negativos projetados no écran dos receptores em positivo,, a TV
expressa, hoje, o mais rápido meio de difusão criado pelo engenho humano. Combinando os
métodos tradicionais da imprensa, do rádio e do cinema, utilizando o pessoal técnico e
profissional dêsses outros veículos (jornalistas, locutores, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas),
a TV possui, entretanto,
entretanto, técnicas
técnicas próprias. “As “As reportagens
reportagens televisadas
televisadas permit
permitem
em ,ao público
seguir melhor do que por qualquer outro meio de informação os acontecimentos que lhe são
apresentados sob uma forma auditiva e visual ao mesmo tempo. A câmara eletrônica apresenta
certos caracteres — vantagens e inconveniêntes — que não existem na câmara cinematográfica
e que tornam necessária a especialização dos “cameramen” e realizadores. 32 Essa técnica
exige, igualmente, jornalistas especializados, tele-repórteres e tele-comentaristas. 33 Por outro
lado, dadas as suas limitações naturais de alcance, de tempo de emissão destinado às matérias
jorn
jornaalís
lístic
ticas, de imp
impossibil
ibilid
ida
ade (atu
(atua
al) de grav
ravação da ima
imagem teletelevvisa
isada34 e pela relativamente
29 UNESCO — La Télevision dans te monde — Paris, 1954 — pág. 79.
30 Conf. Anuário do Rádio — P.N. — Rio, 1954 — pág. 26.
31 Trata-se de associações para recepção coletiva das emissões de TV, organizadas freqüentemente por iniciativa
da escola em localidades do “hinterland”, mediante a aquisição de um televisor de 1 m. x 1 m. 20, por subscrição
pública, diante da qual se reunem os sócios para assistir os programas duas ou três noites por semana. Em 10
departamentos franceses, funcionavam regularmente, em 1954, cêrca de 180 tele-clubes. Previa-se que, em 1955,
17 milhões de franceses poderiam receber as emissões de TV, caso o desejassem. Sôbre o assunto, inclusive os
resultados
resultados completos
completos da experiência
experiência referida,
referida, v. J. Dumazedier
Dumazedier — Televisíón y Educación – UNESC
UNESCO
O – Paris, 1956
32 UNESCO — Obra cit. — pág. 23.
33 Quando das primeiras emissões esportivas da TV no Rio, tivemos oportunidade de observar que os
telespectadores não se conformavam com as “descrições” dos locutores, preferindo ver a imagem no écran dos
receptores e escutar a reportagem transmitida pelas estações de rádio.
34 A propósito, publicou o Anuário do Rádio, editado por P. N., Rio, em 1954, o seguinte (pág. 26): TV EM
escassa quantidade de emissoras e receptores existentes no mundo, a TV não faz desaparecer
nem substitui com plena eficiência. aos demais veículos jornalísticos. Vem provocando, isto sim,
uma salutar evolução na natureza e estilo da imprensa, do rádio e do cinema, no sentido de dar-
lhes maior profundidade e maior conteúdo interpretativo.
A pri
prim
meira
ira em
emiss
issora de
de tele
televvisã
isão bra
brassile
ileira
ira ins
instala
talad
da foi
foi a TV TV Tu
Tupi, em
em Sumaré,
ré, Sã
São
Paulo, inaugurada oficialmente a 18 de setembro de 1950. Pertence ao grupo brasileiro dos
“Diários e Rádios Associados” e seus recursos financeiros provêm da publicidade. Pelo mesmo
grupo, foram montadas posteriormente emissoras de TV no Rio e em Belo Horizonte, enquanto
que outras sociedades (Rádio Record S.A. Emissoras Unidas; Rádio Roquete Pinto, Rádio
Televisão Paulista, etc.) obtinham igualmente canais na Capital Federal e em São Paulo,
elevando-se a 9 o número de estações em funcionamento no país, em dezembro de 1958.
As
As no
norma
rmas dede emis
emisssão e div
divis
isã
ão de
de ca
canais,
is, que po
possibil
ibilitita
arão
rão a mo
montag
tagem de
de 29
290
estações em 186 pontos do território nacional, exigências técnicas e providências legais foram
estipuladas por decreto governamental em 21 de novembro de 1952. O Brasil adotou a
“definição” de 525 linhas, que corresponde a 60 tramas e 30 imagens por segundo, em convênio
com a Comissão Federal de Telecomunicações dos Estados Unidos. As estações nacionais têm
alcance num raio de 180 quilômetros. Em Pernambuco, Recife, há concessão federal para a
instalação de duas emissoras de TV, uma que será explorada pelos “Diários e Rádios
As
Associad
iados” e outra tra pela “Em
“Emprês
rêsa Jornarnal do Comércio rcio S.A.”
.A.”.. Ambas estão tão tom
tomando
providências preliminares de construção dos seus estúdios e antenas, devendo entrar em
funcionamento por todo o ano de 1960.
CONCEITO DO JORNALISMO
Atr
Atra
avés dessas noções histó
istórrica
icas, quise
isemos, apenas, situ
ituar o jorn
jorna
alis
lismo como ativ
tivida
idade
essencial à vida das coletividades, como uma instituição social que, no mundo moderno, assume
posição da mais alta relevância. Com efeito, os homens dos nossos dias “têm fome de conhecer
o presente.’ Para estar a par das idéias, eventos e situações correntes, procuram veículos muito
mais especializados e diversificados do que os seus ancestrais. Através de 45.000 ou mais
agências dos Correios dos Estados Unidos (para exemplificar com um país apaixonadamente
devoto das estatísticas) transita um número espantoso de cartas, publicações de negócios,
panfletos, catálogos e outras matérias impressas. Os homens de hoje são leitores de jornais.
Diàriamente, compram quase 46 milhões de exemplares de cêrca de 1.740 diários e, nos
domingos, quase 38 milhões. Semanalmente, adquirem 12 milhões de exemplares de
aproximadamente 10.000 semanários. Os leitores norte-americanos “devoram” 6.500
publicações especializadas periódicas, que atingem, anualmente, a várias centenas de milhões
exemplares; ouvem mais de 800 estações de rádio, através mais de 57 milhões de receptores;
freqüentam, em mais 17.000 teatros, com capacidade excedente de 10 milhões de cadeiras, as
exibições cinematográficas, sendo calculados em milhões, semanalmente, os espectadores. 35
decomposição da imagem em corrente magnética. Depois, é o mesmo aplicado à entrada dos receptores de
televisão e a pessoa terá um programa completo de TV. Assim, não tardará muito, teremos a televisão em conserva,
à semelhança da música gravada.” E outra não foi a previsão do General David Sarnoff, presidente do Conselho de
Diretores da RCA, no discurso com que celebrou o cinqüentenário dos seus estudos no campo da eletrônica
(resumo emem “Seleções
“Seleções do Reader’s
Reader’s Digest”,
Digest”, edição
edição brasileira,
brasileira, junho de 1957 — pág.
pág. 27) : “Talvez
“Talvez dentro de cinco
cinco
anos, os telespectador
telespectadores
es estejam aptos a gravar programas
progr amas — figuras
figuras e som em prêto e branco e em côres — em
uma fita magnética para tornarem a vê-los quando quiserem. Êsse artifício baseia-se no fato de as variações de luz,
tal e qual as do som, poderem ser transformadas em variações de magnetismo na fita. Já experimentamos esta
técnica e creio que e instrumento utilizado virá a ser aproximadamente do tamanho de um dos atuais televisores
domésticos e não mais complicado. Imagino grandes bibliotecas de óperas, peças teatrais e outras coisas de
interêsse permanente, hàbilmente gravadas e difundidas. Também será de uso generalizado uma câmara de
filmagem de TV para tirar filmes que possam ser exibidos no televisor de casa.”
Essa multiplicidade das manifestações do jornalismo nossos dias é que torna complexa
a sua definição. Conhecemos numerosos conceitos de jornalismo, uns objetivos, outros literários,
alguns positivos e outros puramente retóricos. Da nossa parte, procuramos fixar um conceito
simples, mas que inclui as características fundamentais do periodismo. Diremos, primeiro, que
fazer jornalismo é informar . Jornalismo é antes de tudo informação, costumava repetir aos meus
ouvidos de “foca” êsse mestre da imprensa brasileira que é Anibal Fernandes 36. Informação,
bem entendido, de fatos atuais, correntes, que me reçam o interêsse público, porque informar
sôbre fatos passaS dos é fazer história e o jornalismo, como o assinala Rafael Mamar, “é a
história que passa”. 37
Mas “não é função da imprensa” (compreendida como jornalismo) informar ligeira e
frivolamente sôbre os fatos que acontecem ou censurá-los com maior soma de afeto ou adesão.
Toca à imprensa elogiar, explicar, ensinar, guiar, dirigir; toca-lhe examinar os conflitos e não
agravá-los com um juízo apaixonado; não encaminhá-los com alarde de adesão talvez
extemporâneo; toca-lhe, enfim, propor soluções, amadurecê-las, torná-las fáceis, submetê-las à
censura, reformá-las; toca-lhe estabelecer e fundamentar ensinamentos, se pretende que o pais
a respeite, e que, conforme os seus serviços e merecimentos, a proteja e honre.” 38 Assim, os
fatos correntes expostos pelo jornalismo têm de ser devidamente interpretados, porquanto
“informação, orientação e direção são atributos essenciais do periodismo, que não pode ser
substituído nem sequer momentâneamente por nenhum outro agente cultural nesta tarefa junto à
sociedade.”39 Daí porque a obra jornalística se realiza dia a dia, porque os fatos, devidamente
interpretados, têm de ser transmitidos periòdicamente não ao indivíduo isolado mas a um
conjunto ou à totalidade dos homens que vivem em sociedade.
Exercendo-se pela difusão de conhecimentos, utilizando todos os recursos da técnica
disponíveis ao seu desenvolvimento, o jornalismo “tem por objeto informar e orientar a opinião,
censurar e sancionar as ações públicas dos habitantes de uma região e divulgar a cultura entre a
população de um país”, como o consideraram com precisão os jornalistas cubanos reunidos, em
1941, no seu Primeiro Congresso Nacional em Havana 40. Todo êsse trabalho tem,
evidentemente, uma função educativa, visando esclarecer a opinião pública para que sinta e aja
com discernimento, buscando o progresso, a paz e a ordem da comunidade. Em outras palavras,
a finalidade do jornalismo é a promoção do bem comum.
Chegamos, então, pelo estudo das origens e evolução e pela análise sumária dos
elementos característicos e constitutivos do jornalismo, a uma definição que nos permitirá
desenvolver melhor os nossos estudos, a seguir: Jornalismo é a informação de fatos correntes,
devidamente interpretados e transmitidos periôdicamente à sociedade, com o objetivo de difundir
conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum.
36 Anibal (Gonçalves) Fernandes, jornalista e professor de Língua e Literatura Portuguesa no Colégio Estadual de
Pernambuco. Iniciando a sua vida profissional na segunda década do século, exerceu ativamente exerceu
ativamente o jornalismo em quase todos os órgãos da imprensa recifense. Editorialista e comentarista emérito, dono
de um estilo ágil e vibrante, os artigos e crônicas da sua lavra são acompanhados com o mais vivo interêsse pelo
seu vasto circulo de leitores. Aposentado em 1955, no exercício do cargo de diretor do “Diário de Pernambuco” —
de cujo corpo redacional fêz por mais de 30 anos continua entretanto a escrever diàriamente jornais e estações
rádio emissoras de Pernambuco.
37 Rafael Minar — El arte dei periodista — Barcelona, 1906 — pág 17.
38 José Martini in Vida y Pensamiento de Marti – La Habana, 1942.
39 Octávio de La Saurée – Moraletica Del Periodismo – La Habana, 1946 – pag. 195.
40
SEGUNDA PARTE
OS CARACTERES DO JORNALISMO
Contém:
DA ATUALIDADE
Jornalismo e História
Atualidade e Atualização
Atualidade e Permanência
Manifestações da Atualidade
DA VARIEDADE
DA INTERPRETAÇÃO
Interpretação e Seleção
Interpretação e Vocação
Extensividade e Intensividade
DA PERIODICIDADE
DA POPULARIDADE
Extensão da Popularidade
Popularidade e Liberdade
Condições da Popularidade
DA PROMOÇÃO
Jornalismo e Sociedade
As Campanhas Jornalísticas eo Bem Comum
Jornalismo e Direito
Jornalismo e Opinião
Os caracteres fundamentais do jornalismo, aquêles atributos que o distinguem das
demais manifestações da atividade e do engenho humano, estão configurados na definição a
que chegamos. Com efeito, dissemos que jornalismo era a informação de fatos correntes, de
acontecimentos registrados em qualquer setor da vida social, em qualquer parte do universo, em
qualquer domínio das ciências, das artes, da natureza e do espírito, que sejam capazes de
despertar o interêsse dos homens reunidos em sociedade. E neste primeiro enunciado estão
duas das características do jornalismo: —a atualidade e a variedade.
Todavia, os fatos não são expostos sem um prévio exame por parte do agente do
jornalismo, a quem compete julgar da sua importância, analisá-los ou sintetizá-los, dêles colher e
divulgar ensinamentos, enriquecê-los ou censurá-los, de modo que cheguem ao leitor
devidamente interpretados. E aí está outro atributo do jornalismo: —interpretação.
Além disso, a obra jornalística é constante, realiza-se praticamente dia a dia, hora a
hora, na proporção em que os fatos se sucedem. Mesmo quando, sob determinada modalidade,
por exigência da técnica, o jornalismo amplia os prazos das suas manifestações, estas
obedecem sempre a uma periodicidade regular, que lhe é exigida pela comunidade a quese
destina, sob pena de não atingir os seus objetivos: a difusão sistemática de conhecimentos e a
sistemática orientação da opinião pública.
Ademais, tendo em vista que o jornalismo não se dirige a um indivíduo isolado e sim à
coletividade, essas manifestações se revestem de forma ou estilo simples, acessível à com
preensão do maior número do todo. A êsse elemento constitutivo da obra periodística se dá o
nome de popularidade.
Finalmente, observamos que, através da divulgação de informações e da crítica dos
fatos, o jornalismo pretende criar, na opinião pública, uma disposição para realizar o bem-estar
social. Não sendo uma fôrça executiva e nem sequer elaborando leis, o jornalismo se constitui,
entretanto, numa espécie de fonte de energia, que impele a sociedade à ação. Daí o caráter de
promoção, inerente a tôdas as suas manifestações autênticas.
DA ATUALIDADE
41 Tristão de Ataide — O jornalismo como gênero literário in Diario de Notícias, Rio — cd. de 10 de nor. 1957.
42 Ismael Herraiz — El Periodismo — Teória y Práctica — Barcelona, 1953 — pág. 21.
sentirá sòzinho no mundo a cogitar sôbre o problema apresentado, sem que uma “corrente de
solidariedade” a ligue a indivíduos estranhos que partilhariam, simultâneamente, daqueles
sentimentos e idéias. Por isso é que, no desenvolvimento das suas campanhas, o jornalismo
insiste, repisa, apresenta sempre aspectos novos, não deixa que a imaginação popular se
desinteresse ou que fiquem esquecidas as premissas, empregando “todos os recursos de uma
propaganda hàbilmente urdida para formar correntes de opinião e fazer com que soluções
possíveis tenham a sanção majoritária do grupo”.
Jornalismo e Direito — Argüe-se, todavia, que nem sempre o jornalismo atinge à sua
finalidade: a promoção do bem comum. Infortunadamente esta é a verdade. Mas, pergunta-se;
qual a instituição humana que não está sujeita a erros e imperfeições? “O que não padece
dúvida, entretanto, é que o periodismo, como tôda atividade humana no convívio social, tende
fatìdicamente para um dêstes dois polos: para a degenerescência ou para o aperfeiçoamento. E
esta tendência incoercível impõe, como reativo enérgico, urgente, indispensável, o princípio e
aplicação da responsabilidade no jornalismo; o qual, em virtude dela, irá perdendo
definitivamente o seu feitio individualista, os seus caprichosos rumos pessoais ou de grupo, para
ser, como de fato há de ser, um “serviço público”.. . Os que fàcilmente enxergam os seus erros,
fecham obstinadamente os olhos para não ver os seus serviços, para não reconhecer os seus
méritos; os quais se hão de contar pelos males que evita, pelos crimes que previne, pelas
malversações que malogra, pelos interêsses que, sem ela (a imprensa) seriam sacrificados,
pelos direitos e pelas regalias que, à sua revelia, seriam postergados.” 100
Seria um contrassenso, portanto, esperar que o jornalismo se constituisse num corpo de
doutrina ou num programa de ação isento de êrro. Já porque não se destina a executar o bem
comum, mas a advertir e orientar a opinião para que esta, informada e consolidada, o promova;
já porque tôda a obra jornalística tem a sua base nos fatos correntes, que constantemente se
renovam e alteram, na aparência sem nenhuma coesão entre si; já porque o seu campo abrange
todos os setores da atividade humana e já porque se dirige a tôdas as classes e categorias
sociais — o jornalismo, pela sua própria natureza, é realizado simultânea ou imediatamente após
a ocorrência dos fatos, o que não oferece margem a uma perfeita inferência da uas
repercussões. Por outro lado, a obra periodística é vasada em linguagem ao alcance de tôdas as
inteligências, o que lhe confere um caráter mais de advertência do que de convencimento. “O
jornal, por sua própria natureza tão heterogêneo, não tem geralmente doutrina própria; só serve
às alheias; não se dirige tanto à inteligência como à vontade humana, porque, no fundo,
interessa-lhe menos assinalar motivos para convencer do que preparar um clima propício à
ação, utilizando nesta emprêsa todos os recursos psicológicos da propaganda.” 101
Dai, sòmente tomado como uma ênfase, é que se poderá considerar a imprensa como
um “quarto poder” do Estado, uma vez que lhe faltam a autoridade, baseada no reconhecimento
pela lei, e a fôrça, isto é, a capacidade de fazer cumprir as suas decisões. “Sendo o espêlho de
todos os movimentos de opinião, de tôdas as concepções políticas e econômicas, a imprensa os
reflete, modificando às vêzes as Proporções das fôrças em jôgo.Corrige, assim, a lei
democrática do número, permitindo ao talento expressar-se com mais intensidade. Por êsse fato,
seria abusivo dar-lhe o caráter de um órgão constitucional, permitindo à opinião pública como tal
expressar-se. Pertence a outros corpos desempenhar êsse papel.” 102
As tentativas que se têm feito para transformar a imprensa num “serviço público”-
tomada essa expressão na sua verdadeira acepção jurídica, como aquêle que a administração
pública presta diretamente ou por meio de concessão para a satisfação concreta de algumas
necessidades coletivas — têm tôdas redundado em limitações e contrafações dos atributos
essenciais do jornalismo. Assim ocorreu no Estado Hitlerista, para o qual o govêrno não se
deveria perturbar “pelo. brilho da chamada liberdade de imprensa e deixar-se levar à falta do seu
dever ficando a nação com os prejuízos... Êle deve, com decisão implacável, assegurar-se dêsse
meio de esclarecimento e colocá-lo a seu serviço e no da Nação.” 103 “ O mesmo sucedeu com o
fascismo: o próprio Mussolini definiu a posição do jornalismo, face ao Estado Fascista, em
discurso pronunciado a 10 de outubro de 1928, sob o tema: “II giornalismo come missione”: “Em
um regime totalitário... a imprensa é um elemento dêste regime e uma fôrça a serviço dêste
regime... Partindo desta indiscutível realidade, tem-se imediatamente uma bússola de orientação
para o que concerne à ação prática do jornalismo fascista: evita-se o que é prejudicial ao regime;
faz-se o que é útil ao regime.” A Constituição Soviética de 5 de dezembro de 1936 garante a
liberdade de imprensa, porém “de conformidade com os interêsses dos trabalhadores e com o
fim de fortificar o regime socialista” (art. 125) e Stalin, em discurso comemorativo do jubileu da
Revolução Soviética, em 5 de novembro de 1927, assim exprimiu a sua opinião sôbre a
liberdade de imprensa: “Não temos liberdade de imprensa para a burguesia, para os
“mencheviscks” e para os socialistas. Não estamos absolutamente empenhados em dar
liberdade de imprensa a tôdas as classes.” 104
OS AGENTES DO JORNALISMO
Contém:
O PÚBLICO
O EDITOR
O Editor Financista
O Editor Idealista
O Estado Editor
O Estado, Editor Idealista
O TÉCNICO
Fase da Manufatura
Fase da Mecanofatura
O Problema da Automatização
Jornalismo e Automatização
O JORNALISTA
A Vocação do Jornalista
A Curiosidade Comunicativa
A Fecundidade Jornalística
A Objetividade
A Discrição
O Senso Estético
Através de tudo quanto ficou dito até aqui, constatamos que o jornalismo tem a sua
causa e o seu objeto no organismo social. Nenhum povo, nenhuma coletividade dispensa o
jornalismo. Sem a informação e a orientação que o jornalismo trans- mite, a vida social seria
impossível e o próprio Robinson Crusoé, logo que se pôs em contacto com “Sexta-Feira”, entrou
a tentar informar-se e transmitir-lhe informações, a fim de que lhe fôsse possível viver em
harmonia com êle. O jornalismo é feito, pois, do público e para o público.118 E também, como o
verificaremos a seguir, pelo público. O que equivale a dizer ue o público é um dos agentes do
jornalismo, como o são o (ditar, o técnico e o jornalista.
O PÚBLICO
O Público, Agente Ativo — O público, contudo, é também agente ativo, quando a sua
contribuição é intelectual e direta, o que ocorre com maior freqüência do que se pensa,
especialmente na imprensa, no rádio e na televisão. 119 É o caso dos repórteres amadores,
daqueles que estão constantemente a informar às redações e emissoras fatos e ocorrências do
seu conhecimento, a fornecer fotografias e desenhos sem nenhum intuito de ganho ou interêsse
118 “Uma nota de música existe, apenas, quando há um público sensrve para escutá-la. As notas podem ser
impressas, a orquestra toca-as, mas sem público para ouvi-las elas não vivem, não são completas. Fica anenas um
som difundido sem receptor. O caso do jornal é idêntico: as coisas acontecem, os repórteres escrevem, rotativas
rolam e as bancas se abarrotam com as fôlhas do dia. Mas tudo será em vão se não houver leitores ávidos para
ficar a par dêsses acontecimentos e saber as interpretações e opiniões dos redatores.” — Rod W. Horton — Art.
citado — Comercio, Recife, O-12-57.
119 O leitor não é, apenas, um complemento econômico ao funcionamento da imprensa; é também parte das
implicações filosóficas e morais do têrmo... porque além dos Georges E. Babbits, há os leitores inteligentes e
agudos que constam, segundo a minha estimativa, em cere, 20% da circulação. É êsse grupo que não se pode
decepcionar, que conhece todos os truques e sente tôdas as distorsões de preconce debate interessado.
Constituem uma censura moral porque são dos e são articulados e são capazes de escrever cartas corruscantes à
redação injusta. — Rod W. Horton — Art. Cit.
històricamente só é possível situar o aparecimento do primeiro prelo “nos anos de 1703 a 1707,
cujo mister se limitava à impressão de letras de câmbio e breves orações devotas.” Uma ordem
régia de 8 de julho de 1706 — que é a prova do seu funcionamento —determinou ao governador
da capitania de Pernambuco Francisco de Castro Morais que “mandasse sequestrar as letras
impressas e notificar os donos delas, e oficiais da tipografia, que não imprimissem nem
consentissem que imprimissem livros, nem papéis alguns avulsos”. E assim foram destruídos “o
esfôrço e aspiração do desconhecido proprietário cujo nome a história não soube guardar, como
o introdutor da arte tipográfica no Brasil.”153 Apesar de tão severas ordenações, de prisões e
perseguições, do empastelamento e destruição de tipos e rudimentares tipografias, continuou o
nosso incipiente jornalismo a tentar utilizar a imprensa como veículo. Em 13 de maio de 1808,
Dom João VI, com a sua côrte transferida para o Brasil em face da invasão napoleônica, do
território metropolitano, por decreto criava a Impressão Régia, utilizando dois prelos e 28
caixotes de tipos e, mais tarde, concedia licença a particulares para instalar oficinas gráficas em
diversas províncias. Em Pernambuco, outro fato curioso se registrara: a primeira tipografia
autorizada a funcionar pelo Rei, de propriedade do negociante Ricardo Catanho, em 1816,
sòmente iria imprimir no auge da revolução republicana de 1817, sob a direção do padre João
Ribeiro. O primeiro trabalho que dela saiu foi o manifesto do advogado José Luís de Mendonça,
conhecida pelo nome de “Preciso”, no qual foram relatados os acontecimentos desenrolados na
citada revolução e cuja data é 28 de março de 1817. Sanelva de Vasconcelos, citando Tolenare,
Fernando Denis e Antônio Joaquim de Melo (êste último escrevente do Erário no govêrno
revolucionário), alega que a demora no funcionamento da tipografia de Catanho foi ocasionada
pela falta de alguém que conhecesse a arte de imprimir. E dá como primeiro técnico do
jornalismo em Pernambuco ao inglês James Pinches, auxiliado por dois frades e um marinheiro
francês, cujos nomes se perderam na poeira do tempo.154
Menos pelo afã do lucro do que pela sua paixão pela arte, os técnicos da tipografia e da
impressão de jornais foram os propulsores do progresso mecânico, respondendo ao apêlo de
popularidade crescente do jornalismo. Em 29 de novembro de 1814, The Times, de Londres,
circulava com impressão dupla (dos dois lados simultâneamente), graças a um invento do
alemão Frederick Koenig, tipógrafo talentoso, que não sòmente descobrira como aplicar a
energia da máquina a vapor às impressoras da época como introduzira outros aperfeiçoamentos,
embora sob a oposição dos seus colegas impressores, que se sentiam ameaçados com os
avanços da mecanofatura, que os deixaria — assim o julgavam — ao desemprêgo. Ao holandês
Van der Mey, a Ged, de Edinburgo, a Tillock e Foulis, de Glascow, aos italianos Chirio, Mina e
Giozza, de Turim, a Lord Stanhope e ao alemão Hoffman — da segunda metade do Século XVIII
ao início do Século XIX devem-se as origens do sistema de fixação dos tipos (estereotipia) com
diversas substâncias, inclusive o gesso, para a facilidade da impressão. Foi o francês Genaud
que substituiu a pasta de gesso pela de papel branco, permitindo uma perfeita cópia do original,
mediante a ajuda de prensas. E foi ainda The Times que realizou a aplicação da estereotipia à
impressão e que, através do seu proprietário e diretor John Walter, com o aproveitamento dos
experimentos do seu engenheiro Mac Donald e do italiano Marinoni, primeiro empregou a
máquina rotativa, à base daquela que William Nicholsou patenteara em 1790 para imprimir
“sôbre papel, linho, algodão e outros artigos, com fôrmas, tipos e pranchas” que se aplicavam
fortemente sôbre uma superfície cilíndrica “do mesmo modo que as letras correntes se aplicam
sôbre uma superfície plana”. A rotativa foi aperfeiçoada por Applegath e Cooper, na Inglaterra, e
por Hoe, nos Estados Unidos. Fato digno de menção e que demonstra cabalmente o perfeito
164 J Kayser e F. Terrou — L’Opinion Publique — Paris, 1957, págs. 236 e 191.
165 Cit. por F. Pollock — Obra cit. — pág. 143.
aplicando a Theory of Games para a solução de problemas táticos e estratégicos com a ajuda de
um calculador gigante. O perigo seria ver esta máquina empregada pelo homem ou por um
grupo, com o único fim de alargar a sua dominação sôbre os outros homens. 167
De qualquer modo, no nosso mundo hodierno, em processo de automatização, o
jorn
jorna
alis
lista,
ta, êle
êle pró
próp
prio
rio, va
vai ten
tendo rereduzido
ido o se
seu ca
campo de de ação: os
os re
repórte
rteres
res nã
não pre
preccisa
isarão
andar à cata dos fatos, pois êstes chegarão às redações pelas ondas hert hertzianas,
zianas, pelo rádio e
pela TV;168 os tradutores de mensagens telegráficas não terão mais razão de existir quando for
comum a tradutora eletrônica, capaz de verter frases de um idioma a outro em forma automática
e com grande rapidez e cujo pri prime
meiriro
o exemplar
exemplar foi exibido
exibido em 1954, em New York, York, constr
construido
uido
pela International Business Machine Company, em colaboração com o Instituto de Linguística da
Universidade de Georgetown, de Washington, e que traduzia do russo para o inglês; 169 o redator
terá suas funções igualmente limitadas, desde que o repórter poderá diretamente compor,
classificar e distribuir a matéria, por meio da telelinotipia do próprio local onde acaso esteja
colhendo os dados da notícia; o locutor de rádio ou TV verá dispensado o seu trabalho pelo
emprêgo das máquinas leitoras, invento da Eletronics Equipment Ltd., de Hayes, Middlesex,
exposto em 28 de novembro de 1958, segundo comunicado do BNS, numa mostra de
computadores eletrônicos em Londres. Ademais, os cérebros eletrônicos já são hoje uma
realidade, com dispositivos criados e experimentados, capazes de jogar damas, resolver
problemas de xadrez e até realizar inferências lógica... Por que não serão, em breve, utilizados
para escrever editoriais, fazer comentários, explicar aos tele-espectadores os acontecimentos
que são apresentados no vídeo?
Indubitàvelmente, a admiração do homem pelas maravilhas que a máquina pode obrar; a
sua progressiva escravização à máquina; a sua curiosidade intelectual e o seu gênio inventivo,
em busca da perfeição do trabalho que a máquina, isenta do cansaço, do êrro ou do sentimento,
pode oferecer; as exigências da produção e do consumo; as desilusões das comunidades ante o
fracasso
fracasso das tentativas
tentativas políticas
políticas de construção
construção social — poderão
poderão criar condições favoráveis a
uma interpretação estereotipada dos fatos sociais, passível de fazer surgir o servo-mecânico
jorn
jornaalis
lista.
ta. Po
Porqu
rque, co
como o observo rvou Gustavtavo Corçã
rção, “e
“existe
iste em nossa civil
iviliz
iza
ação uma fadfadiga
iga
moral e um enorme desejo de capitulação. Como é a técnica, aparentemente, a única coisa que
não tem envergonhado o homem... acontece o que era de esperar: os homens irão pedir à
técnica uma receita de prudência e até de felicidade. Irão procurar em testes, organogramas e
ábacos algo que os liberte da angustiosa opressão da liberdade”; e em seu socorro irão buscar
ao técnico, o miraculoso alquimista que vive isolado na sua torre de marfim, no seu “mundo
fechado da coisa a ser feita”, para quem o homem surge como “um ser indócil, repentino,
167 F. Pollock — Obra cit. — pág. 199.
168 Comunicado do Britisli News Service de 11 de Nov. de 1958, de Londres: “A. firma britânica “Granada Televjsion”
descobriu uni sistema que permite a conversão imediata de gravações de imagens e sons — em uma fração de
segundos — para enquadrá-las ao sistema de canais de televisão de qualquer país. Depois de rapidíssima
operação, as gravações podem 5cr transmitidas sem necessidade de qualquer processo ulterior ou dublagem, A
notícia, a respeito, divulgada pela “Granada Teleyision”, afiança que o dispositivo da sua invenção é unico no mundo
e qte abre imensas e novas possibilidades no que respeita ao intercâmbio internacional de programas televisados, A
4 de novembro, a “Granada Television” começou a gravar às 7,30 a transmissão televisada para a Grã-Bretanha,
através de ligação em cadeia com a Eurovisâo, das cerimônias da coroação papal em Roma. Convertidas no ato as
gravações, a primeira série delas partiu do aeroporto de Londres em um Comet de passageiros, que levantou vôo
às 11 da manhã para chegar a New York às 4,35 da tarde. Gravações ulteriores foram enviadas também de avião a
Paris, de onde partiram seguida em um Boeing que levantou vôo às 6 da tarde para aterrissar N. Y. às 9,30 da noite.
Segundo a própria “Granada Television”, o princípio em que se baseia o conversor é muito simples.
169 “O operador dêste engenho deve limitar-se a escrever mente a frase a traduzir, encarregando-se a máquina de
tôdas operações necessárias para a sua tradução, como sejam, aplicação elementares de sintaxe e de gramática,
composição da frase fonsequentes em seu ordenamento lógico-gramatical”, etc. A máquina se rege por um sistema
de fichas perfuradas, o que promete uma grande versatilidade da mesma. A frase, uma vez traduzida, é mesma
máquina tradutora sôbre o papel” J. Rey Pastor e N. Drewes - Obra cit. — págs. 322-323.
improvisador, complexo, inexato e dotado de uma absurda e lamuriosa vontade”. E o técnico
indagará de si mesmo “por que não são êles todos, os Pedros e os Joãos nítidos como um
triodo, verídicos como um galvanômetro, dóceis como um cobre?” e avaliará a tragédia humana
como “causada (quem sabe?) apenas por algum eixo com folga ou algum “Nesse momento, o
técnico desceu aescada-em-caracol de sua torre e veio misturar-se aos homens. Mas traz a
régua de cálculo como símbolo de congraçamento, mostra aos povos a nova táboa da lei, a
tábua de logaritmos, faz estatística dos famintos, traça organogramas da nova política que há de
trazer a concórdia universal da sociedade bem ajustada e que há de devolver ao homem o
paraíso perdido.” E neste “brave new world” que o tecnicismo criará, provocado pelo homem
“cansado da realidade moral, fatigado da sua própria condição, enjoado de liberdade... como se
quisesse tomar férias da sua própria humanidade”, depois de haver experimentado em vão a
felicidade da superação nietzscheana “em vez de se passar além do Bem e do Mal instalando-se
o mundo do homem aquém da realidade moral. Em vez do super-homem, anuncia-se o sub-
homem... e assim se conseguirá uma super-sociedade de sub-homens:”170
O derradeiro — e principal, na realidade — dos agentes do jornalismo é que oporá a
decisiva reação a esta visão apocalíptica do mundo do futuro, mesmo por uma questão de
sobrevivência. Sobrevivência do espírito, da criação, da polivalência que caracteriza a sua
natureza e o seu ofício. Sobrevivência do jornalismo como informador e orientador do homem
social, como impulsionador do bem comum.
O JORNALISTA
215 Cit. por Marcelo de Ipanema — Síntese da História da Legislaçcío Luso-Brasileira de Imprensa — Rio, 1949 —
pág. 91.
216 Anais da Câmara dos Deputados — Ano de 1896.
217 Barbosa Lima Sobrinho — Problemas da Imprensa - Rio — pág. 189.
sições políticas. E a situação não melhorou com o estatuto votado em 1934, Decreto n.
24.776, de 14 de julho que vigorou até o advento do regime ditatorial estadonovista, cuja Carta
Constitucional outorgada, que se inspirava na Constituição fascista da Polônia (por isso, mais
tarde, ficou conhecida como a “polaca”), transformava o jornalismo em um mero instrumento de
propaganda dos fins do regime, do endeusamento dos seus líderes, do falseamento da verdade,
de combate a qualquer ação tendente ao retôrno do país à vida democrática.
Evidentemente, sujeitando a imprensa, controlando o rádio, censurando o cine-
jornalismo nascente, impingindo a falsidade, amordaçando a crítica, facilitando a difamação
contra os adversários manietados e sem defesa, 219 o Estado Novo não contribuiu para o
soerguimento ético do jornalismo brasileiro. Ao contrário, durante os sete anos da ditadura,
fermentavam os ódios e os recalques, que mais tarde iriam eclodir no “rio de lama” cujas
nascentes do Catete abasteceriam os leitos secos dos veículos de publicidade, na fase da
reconstitucionalização. Mesmo os mais responsáveis dos jornais e jornalistas do Brasil, aquêles
que recusavam adotar e aplaudir os métodos e processos corrompidos e corrutores do regime
de imprensa vigorante, sofreram a influência nefasta da coerção que o Estado impunha ao livre
exercício profissional e, em 1945, a campanha primou pelos excessos: os donos do Estado Novo
foram, por sua vez, arrastados pela rua da amargura, sob as mais soezes injúrias e, quase
sempre, as mais baixas e duras imputações caluniosas.
A ausência de normas éticas no jornalismo brasileiro preocupou sèriamente os
jornalistas reunidos, em 1949, primeiro em São Paulo e, em setembro, na Bahia, nos seus II e III
Congressos Nacionais,220 quando redigiram, discutiram e aprovaram um Código de ética,
estabelecendo os deveres fundamentais do jornalismo, das emprêsas jornalísticas e dos
jornalistas profissionais, cuja atividade deverá orientar-se “sob princípios que elevem e
dignifiquem o homem”. Considerava indeclinável dever das emprêsas “coibir a publicação de
estampas e fotografias que possam ferir o pudor público, a dignidade e o decôro de alguém” e
julgava defeso ao jornalista “empregar têrmos cuja dubiedade possa produzir no ânimo do leitor
impressão contrária àquela que normalmente deve surgir do fato noticiado ou comentado,
especialmente se possa ferir o pudor público ou a dignidade e o decôro de alguém.” 221
Neste mesmo conclave, a que compareceram delegações de quase todos os Estados do
Brasil, foi apreciada a possibilidade da criação de uma Ordem dos Jornalistas que, já em 1939,
tinha ocupado a atenção dos homens de imprensa, visando, conforme Austregésilo de Ataíde, 222
“zelar pela ética da imprensa com poderes para afastar aquêles que se tenham incapacitado
moralmente no seu exercício... Os critérios dêsse afastamento, a natureza da ética deveriam no
entanto emanar sempre dos próprios jornalistas, para impedir que através dêles as vinganças
políticas, partidárias e sociais viessem a exercer as suas maléficas influências.” Observe-se que
essa idéia surgira exatamente quando a imprensa vivia sob o guante do DIP, em plena ditadura.
219 Caso típico dêsse procedimento ocorreu em Pernambuco onde, através do jornal da sua propriedade — Fôlha da
Manhã — o então interventor federal no Estado, Agamenon Magalhães, grande administrador e político e jornalista
mediocre, fez publicar um artigo intitulado “Molambo”, em que atacava na sua probidade o ex-governador Carlos de
Lima Cavalcanti, que fôra proprietário do Diário da Manhã e, deposto pelo golpe estadonovista, retornava então à
sua terra. O artigo era uma tremenda verrina e teve a mais funda e revoltante repercussão na opinião pública. A
polícia estadual impediu que os jornais e oficinas gráficas ou estações de rádio difundissem qualquer defesa do sr.
Lima Cavalcanti, para o qual não vigorava — inimigo do interventor e advesário do regime — a letra c, do n. 15, do
art. 122 da “polaca”: “é assegurado a todo cidadão o direito de fazer inserir, gratuitamente, nos jornais que o
infamareni ou injuriarem, resposta, defesa ou retificação”. Convém frisar que o dif amado dêsse tempo fora o
difamador da fase pré e post-revolucionária de 1930...
220 O Primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas foi realizado em 1908, de 9 a 22 de setembro, no Rio, e também
se ocupou de ética jornalística, combatendo o intrusismo e pugnando pela fundação de uma escola de jornalistas,
segundo referências de Edgar Leuenroth, na tese — “A organização dos jornalistas brasileiros”, apresentada ao IV
Congresso, no Recife, em 1951.
221 Conf. Regulamento e Ternário do III Congresso Nacional de Jornalistas — Salvador, 1949.
Assim mesmo, nos debates que se seguiram à exposição de Austregésilo, o sr. Belisário de
Sousa testemunhava: “e com Ordem ou sem Ordem dos Jornalistas, a verdade clara, indiscutível
e dolorosa é que os jornalistas estão ainda muito indisciplinados e inestruturados no que se
refere à educação e à ética profissional. Evidentemente melhoramos na aparência neste setor,
porque, com o progresso industrial, o fundo de personalismo agudo e agressivo se esbateu na
industrialização. Mas existe latente e larvado e, vez em quando, vamos encontrar os casos mais
típicos, dolorosos, e mais tristemente característicos da nossa deseducação profissional, da
nossa falta de ética jornalística.”223 A experiência da Ordem dos Advogados, — “inutilidade...
pois a Justiça não melhorou absolutamente, em coisa alguma, com a sua criação”, segundo o
advogado e jornalista Joaquim Inojosa, nos debates a que nos reportamos, — 224 o receio de que
o govêrno lançasse mão do organismo para deturpar-lhe os fins e tornar ainda mais precário o
exercício da profissão de forma livre e ampla, e, sobretudo, o fato de não ter o jornalista
brasileiro uma profissão liberal mas, na sua grande maioria, ser um assalariado — levaram os
congressistas do Recife, em 1951, a abandonar a idéia, rejeitando por unanimidade o projeto
que, há dois ano, vinha sendo debatido e sèriamente estudado pela classe.
Nada obstante o Código de Ética; o funcionamento de algumas poucas escolas de
jornalismo, cujo programa inclui noções de moral profissional; um sem dúvida crescente
profissionalismo da classe, com o fortalecimento e multiplicação das emprêsas; a repulsa
manifestada por diferentes setores da opinião aos métodos sensacionalistas e personalistas
ainda adotados por um grande número de jornais e emissoras radiofônicas; alguns processos
correntes na Justiça, a que respondem jornalistas enquadrados nos artigos da Lei de Imprensa,
por calúnia, injúria ou difamação — o indivíduo e a sociedade brasileiras não se acham ainda
assás protegidos contra a prática do jornalismo “amarelo”. Com efeito, como se poderá sentir
garantido na sua justa fama o simples cidadão, quando o presidente da República e as principais
figuras do govêrno são impunemente apontados à execração pública por órgãos da imprensa,
como pertencentes a um “sindicato de ladrões”? Como poderá o indivíduo confiar e respeitar um
jornalismo que faz dos assassinatos, dos suicídios, dos roubos e desfalques, da “juventude
transviada”, do “café society” — os mais freqüentes e apetitosos “pratos”, oferecidos ao público
através de reportagens escritas e faladas, com amplos e sugestivos documentários fotográficos,
visando propagar e exaltar o crime, o vício, as mazelas sociais, os desquites e “casamentos no
Uruguai”, a prostituição e dissolução da família? Como poderá o cidadão atender a sisudos
editoriais em que se clama pelo cumprimento das leis, se a própria imprensa e o rádio veiculam
diàriamente o resultado do “jôgo do bicho”, publicam o retrato e o nome do menor delinqüente;
editam revistas e magazines do tipo “confidencial” e perniciosas histórias em quadrinhos, cujos
“heróis” são pistoleiros e tarados, praticam tôda sorte de contravenções e delitos de imprensa e,
à mais ligeira tentativa de repressão legal, botam a bõca no mundo, resguardando os seus
excessos sob um elástico conceito de liberdade?
Reportando-nos às nossas considerações iniciais neste ensaio, concluimos que um dos
motivos do desapreço em que é tido o jornalismo no Brasil está, exatamente, na falta de
conformação do seu exercício às normas da moral comum e da moral profissional. Quando
tantos perigos e seduções ameaçam os agentes do jornalismo, desde o abuso do poder com o
cerceamento da liberdade, até a automatização dos espíritos, com o endeusamento da máquina
— é para a velha ciência ética, a ciência dos valores morais, que nos devemos voltar. Como
uma disciplina de vida, que nos permita garantir a liberdade e descobrir, na existência, aquêle
algo valioso, aquela finalidade que deve ser o objeto do nosso querer e do nosso agir. E como
uma disciplina para o exercício da nossa atividade profissional, mediante o estudo constante e
sistemático da nossa consciência moral, da tradição e da experiência, que nos permitirão
237 Apesar de no Conselho figurar um jornalista brasileiro, Sr. Danten Jobim, e poderem ser constituídos comités
nacionais da organizaçao, concentrando especialistas e institutos profissionais de cada país-membro, nenhuma
divulgação, e ao que saibamos, nenhuma providência foi tomada para tornar esse organismo conhecido no país e
fazer com que os estudiosos dos problemas de imprensa, rádio, televisão e cinema aufiram dos beneficios que às
suas atividades e à sua cultura traria uma participação ativa na Associação.
Os sentimentos pacifistas do povo brasileiro, — afirmados após a nossa vitória sôbre o
Paraguai na guerra de López; na demarcação das nossas fronteiras por Rio Branco e
confirmados na recusa à participação nos despojos e em justas reparações em duas guerras
mundiais; na atuação de Rui Barbosa em Haya e de Osvaldo Aranha na ONU; nas posições
assumidas todas as vêzes em que somos chamados a servir de mediadores nos conflitos entre
Estados Americanos, e, ainda há pouco, na integração por um batalhão expedicionário da fôrça
internacional que assegura a paz ameaçada em Suez — impõem ao nosso jornalismo a
continuação de uma tradição honrosa de luta pela construção de um mundo de paz,
entendimento, colaboração e amizade entre todos os povos. Mas impõem, também, uma
responsabilidade maior ao jornalista: — a atenção dedicada a algumas das mais agudas
questões da atualidade, de cuja solução depende, sem dúvida, o estabelecimento de uma paz
duradoura, fundamentada nos princípios da justiça e do direito internacional.
Problemas como o do uso pacífico da energia atômica; da interdição das armas
nucleares; do desarmamento progressivo; do fortalecimento da ONU e da OEA; da extinção do
colonialismo, da discriminação racial, da profunda desigualdade econômica entre as nações, da
fome e das endemias que devastam as populações de imensas regiões subdesenvolvidas do
mundo; do reconhecimento e garantia às minorias étnicas; da reunificação da Alemanha e de
outros povos artificialmente mantidos em diferentes Estados — aí estão a desafiar a inteligência
e a sensibilidade do jornalismo brasileiro. Que precisa de deixar de ver o mundo através de
lentes alheias, com o estabelecimento de agências e serviços informativos próprios nas
principais capitais dos cinco continentes. Que precisa de reclamar do Govêrno a criação de
cargos de adido cultural e de imprensa junto às embaixadas e junto à ONU, a fim de poder não
sòmente colher informações seguras à base das quais se capacite a colaborar nas tarefas
comuns da paz como também de propagar no exterior o pensamento, as aspirações, as
necessidades e as possibilidades do nosso país. Que precisa de adquirir, em visitas mais
freqüentes aos países estrangeiros, uma visão mais profunda e uma observação crítica mais
segura das experiências e do desenvolvimento das outras nações, a fim de eliminar da sua
produção intelectual as distorções, os falsos julgamentos, as conclusões precipitadas, repelindo
insinuações alheias e interessadas, que não raro exacerbam os espíritos e criam ambiente
propício aos desentendimentos e conflitos internacionais. Que precisa, finalmente, de integrar-se
melhor na fraternidade jornalística mundial, colhendo para o Brasil os galardões que lhe cabem
como um povo aberto à compreensão e à amizade com tôdas as nações pacíficas e livres.
Sem nenhum dos males de raiz que prejudicam um sadio internacional por parte de
outras grande potências no mundo; sem instintos imperialistas e ímpetos expansionistas; com
uma arraigada convicção de igualdade racial e uma larga tolerância religiosa e política;
desejando tão sòmente, como reza o lema da sua bandeira, o pregresso conquistado dentro da
ordem — o Brasil está em situação privilegiada para defender a propagar, por um jornalismo
livre, responsável e consciente, os princípios de uma paz duradoura, sob a égide da justiça e da
fraternidade universal.
Recife, 1953-59.
BIBLIOGRAFIA