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Biologia estrutural dos agentes infecciosos e

resposta imunológica

Segundo período – Curso de Enfermagem

Profa. Dra. Ana Beatriz Rossetti Santos


2023
Tópicos a serem abordados nesta aula

•Histórico da Imunologia

•A origem das células do sistema imunológico(SI):


Hematopoiese

•Principais células do SI
IMUNOLOGIA
•Imunologia: estudo dos mecanismos de defesa do
organismo contra agentes infecciosos e substâncias
estranhas

•Imunidade: capacidade do organismo de se defender


contra o desenvolvimento de doenças

•Sistema imunológico: Conjunto de células e moléculas


responsáveis pela defesa de nosso organismo.

•Resposta imunológica: Resposta coletiva e


coordenada de células e moléculas do sistema
imunológico à introdução de substâncias estranhas.
Os primeiros registros sobre o uso de um método para prevenção de
doenças são do século X - crostas das feridas de doentes com varíola
eram reduzidas a pó e sopradas nas narinas de pessoas que pretendiam
se proteger da doença.

Inoculação contra a varíola realizada na China no século X. As crostas das feridas eram reduzidas a
pó e sopradas, com auxílio de um bambu, nas narinas de pessoas que pretendiam se proteger da
doença - Era importante que as crostas fossem retiradas de alguém com um caso leve de varíola e
que as crostas fossem secas – se fossem muito frescas, o “variolado” poderia ficar bastante doente.
OBS: Na África, panos eram
amarrados nos braços dos doentes e
posteriormente amarrados nos braços
de pacientes saudáveis, que logo
depois desenvolviam um quadro leve
de varíola. Essas técnicas, usadas
para prevenção da varíola,
receberam o nome de variolação e
foram praticadas também na Índia e
Império Otomano.
Edward Jenner-
médico inglês
que introduziu
a vacina contra
a varíola em
1796 (século
XVIII).
Os animais tinham uma versão
mais leve da doença, a varíola
bovina.

Em 1789, Edward Jenner


observou que os animais tinham
lesões iguais às provocadas pela
varíola no corpo dos humanos
Mulheres responsáveis pela ordenha,
quando expostas ao vírus bovino, tinham
uma versão mais suave da doença - O
contágio se dava através de algum
machucado nas mãos = feridas
semelhantes a do animal surgiam. Após
esse pequeno processo infeccioso, essas
pessoas resistiam às epidemias.
Em 1796, Jenner resolveu pôr à prova a
sabedoria popular que dizia que “quem
lidava com gado não contraía varíola”.
Acreditava-se que quem já tivesse sido
contaminado pela “varíola da vaca” estava
livre da doença.
•Primeira vacina desenvolvida contra
varíola por Edward Jenner

•Inoculação de material de uma


pústula de Sarah Nelmes
(ordenhadora infectada com varíola
bovina) nos braços de James Phipps
(maio de 1796) – A vacinação foi
efetiva. Menino ficou protegido ao ser
infectado intencionalmente pela
varíola humana.

•Jenner publicou sua descoberta


em1798.

•Apesar da oposição (ceticismo


classe médica, grupos religiosos), a
vacinação tornou-se uma prática
aceitável.

•1799 – primeiro instituto vacínico em


Londres
1802 – Fundada a Sociedade Real Jenneriana para a Extinção da Varíola
Dr. Jenner convencendo fazendeiro a vacinar sua família, pintor
desconhecido, 1910.
Medo e desinformação: os movimentos anti-vacina

À direita, Jenner, acompanhado de dois colegas. Três opositores partem pela esquerda
com xingamentos.
Vaccinus (latim) - relativo ou derivado de vacas.
Vaccinia - agente infeccioso da varíola bovina que quando inoculado no
organismo humano proporciona imunidade à varíola humana, doença
grave e freqüentemente fatal.
Vacinação – Inoculação de amostras enfraquecidas ou atenuadas de
agentes patológicos em indivíduos sadios, a fim de obter proteção contra
doenças.
Uma criança
de
Bangladesh
infectada com
varíola em
1973
“Varius” (latim) - manchado
Vítimas famosas da varíola
Ramsés V, Faraó do Antigo Egito.
Shunzhi, Imperador da China
Maria II da Inglaterra
Luís XV da França
Pedro II da Rússia
Isabel I da Inglaterra em 1562 e Abraham Lincoln em
1863 foram infectados mas sobreviveram.
Ludwig van Beethoven
Josef Stalin
Hugo I, rei dos francos de 987 a 996
Ana de Cleves, rainha da Inglaterra
Carl Gustav Jakob Jacobi, famoso matemático
Ramsés V, que viveu há três mil anos - marcas das pústulas na zona
da cabeça
Número de
países com
um ou mais
casos por
mês Varíola
oficialmente
erradicada

Ano
Dois estudantes de uma mesma turma, um deles vacinado e outro não vacinado que pegou a doença,
lado a lado.
Esta foto – um vacinado contra varíola e outro que não havia sido vacinado – foi publicada em 1901 e
tirada pelo Dr. Allan Warner no Hospital de Isolamento de Leicester. Foto: The Jenner Trust.
Personagens e fatos marcantes na História da saúde
Qual é a origem dos seres vivos?
Teoria da Abiogênese (Teoria da geração
espontânea) – teoria dominante no século XIX
 Determinava que a vida poderia surgir a partir de
materiais sem vida, inanimados.
Acreditava-se que:
 Sapos nasciam de pântanos.
 Roedores nasciam de grãos mofados.
 Larvas surgiam da carne estragada
espontaneamente.
Abiogênese x Biogênese: os defensores
A teoria da abiogênese foi a primeira a surgir. Assim, os
seus defensores remontam a tempos mais antigos.

Os principais defensores da abiogênese foram: Jean


Baptitste Van Helmot, Willian Harvey, René Descartes,
Isaac Newton e John Needhan.

Os principais defensores da biogênese foram: Ernest


Haeckel, Thomas Henry Hurley, Stanley Miller, Lázzaro
Spallanzani, Francesco Redi e Louis Pasteur.
O FIM DA ABIOGÊNESE

Em 1668, Francesco Redi Em 1862, Louis Pasteur realizou


foi primeiro a questionar a um experimento que derrubou
teoria da abiogênese definitivamente a abiogênese.
Delineamento experimental que desestabilizava a teoria da
abiogênese = Jarras cobertas com uma fina rede permitindo
entrada do ar fresco = Larvas surgiam somente nas carnes
das jarras abertas (porque as moscas entravam e
depositavam seus ovos).
Cientista italiano Francesco Redi - Em 1668 questionou a
teoria da abiogênese
John Needham e Lázaro Spallanzani: embate científico
sobre a teoria da geração espontânea (abiogênese)

John Needham - adepto da Lázaro Spallanzani - adepto


teoria da geração espontânea da biogênese
(abiogênese)
O experimento de Needham (1745)

Frascos com
caldo de carne

Needham acreditava que micorganismos só podiam surgir espontaneamente a partir da matéria


sem vida.

Diversos frascos contendo caldo de carne foram aquecidos por 30 minutos até o ponto de fervura e
foram vedados com rolhas = fervura foi realizada para eliminar microrganismos já presentes no
caldo. Após a fervura, Needham deixou os frascos selados por diversos dias = Posteriormente
o pesquisador notou a presença de microrganismos e concluiu que as criaturas microscópicas
surgiram espontaneamente graças a “força vital”.
O experimento de Spallanzani (1776)

Frascos com
caldo de carne

Derretimento do gargalo =
frascos hermeticamente
vedados (imediatamente) =
vedação não permitia a
entrada e saída de ar.
Spallanzani utilizou oito frascos com
caldo de carne e ferveu por período
mais prolongado que Needham:
• Quatro recipientes foram vedados
com rolha de cortiça (assim como
realizado por Needham).
• Quatro recipientes sofreram
vedação hermética.

Resultados de Spallanzani:
 frascos fechados com rolhas –
presença de microrganismos
 frascos hermeticamente fechados –
NÃO foi notada a presença de
seres microscópicos.
Spallanzani concluiu que:

 As criaturas microscópicas não surgem de forma


espontânea por causa da “força vital”.

 Microrganismos são levados pelo ar e entram no caldo,


contaminando a solução.

Spallanzani acredita que:

 Needham não tinha vedado os frascos corretamente = a


entrada dos micróbios foi permitida.
 Needham também não teria fervido tempo suficiente para
exterminar previamente todos os microrganismos do
caldo.
Teoria da Biogênese = germes podem invadir
organismos e causar doenças (contraria a ideia de que a
matéria bruta poderia originar um novo ser)

Louis Pasteur
Louis Pasteur (químico, bacteriologista e cientista francês) em
1861, através de um experimento, conseguiu demonstrar a
impossibilidade da geração espontânea - Adicionou caldo nutritivo
a um balão de vidro com gargalo alongado – aqueceu o gargalo
deixando-o com “formato de pescoço de cisne” – prosseguiu com a
fervura do caldo a uma temperatura até que o meio se tornasse
estéril (ausência de microrganismo) – Entretanto, o caldo
continuou em contato com o ar e o balão ficou em repouso por
muito tempo.
O que aconteceu depois?
Depois da fervura o líquido
permaneceu estéril, mesmo tendo
ficado em repouso e em contato
com o ar. Por que permaneceu
estéril?

Resposta: Empecilho físico – sinuosidade do gargalo – ar


fresco passava pelo tubo, mas os microrganismos ficavam
retidos nas curvas e não chegavam ao meio líquido (meio
não se tornava contaminado).
Pasteur quebrou o gargalo de alguns frascos após verificar que não
havia ocorrido contaminação - ao quebrar o gargalo expôs o caldo
inerte aos microrganismos suspensos no ar – ocorreu proliferação de
germes – os meios se tornaram contaminados
Outras contribuições de
Louis Pasteur – teoria
microbianaLouis
da fermentação,
vacina contra raiva e contra
Pasteur
antraz.
Pasteur- Vacinação de grupo de ovinos (ovelhas e carneiros), utilizando alguns
princípios de vacinação que já existiam desde 1796.

Criou uma vacina contra o antraz- Inoculação do bacilo antrax (Bacillus


anthracis) atenuado, enfraquecido – ovelhas vacinadas sobreviviam.
•Raiva humana (contraída
quando as pessoas são
mordidas por animais
doentes - especialmente
cães e lobos).

•Pasteur: fez algumas


experiências em animais e
descobriu uma vacina que,
aplicada a tempo, evitava a
morte da pessoa atacada.

•Primeira vacina em humano


(1885)- menino de nove
anos chamado Joseph
Meister.

A vacina contra a raiva levou à criação do Instituto Pasteur de Paris, em 1888.


No dia 4 de julho de 1885 Joseph
Meister foi à cervejaria Witz na vizinha
vila de Maisonsgoutte para comprar
fermento - ao chegar na aldeia o garoto
foi atacado por um cão raivoso e
recebeu catorze mordidas em pontos
diferentes de seu braço e perna do lado
direito - o tratamento durou de 6 a 16 de
julho de 1885, período durante o qual o
garoto recebeu doses crescentes da
substância - no dia 27 de julho, Joseph
foi considerado totalmente recuperado.

O caso bem-sucedido levou o cientista a


ser reconhecido pela Academia de
Ciências da França, o que fez com que
muitos outros franceses que foram
mordidos por animais raivosos viessem
procurá-lo.
Robert Koch
 Médico alemão que se dedicou ao
estudo das bactérias
 Identificou Mycobacterium tuberculosis
- derrubou ideia de que a doença era
herdada geneticamente.
(microrganismos ficaram conhecidos
como bacilos de Koch).
 Produziu culturas puras de bactérias
(um único tipo de bactéria por cultura)
 Semeaduras feitas em fatias de
batatas e gelatina solidificada (gelatina
derretia a 37oC).
 Semeaduras passaram a ser feitas em
ágar (polissacarídeo extraído de algas
marinhas) – avanço para o cultivo de
microrganismos e isolamento para
diagnósticos.
Postulados de Koch - (1876)
 Provar que: determinado microrganismo seria
responsável por determinada doença.

Conceito: “Um microrganismo, uma doença”

 Trabalhou com bactéria Bacillus anthracis –


doença altamente letal e contagiosa
principalmente em animais ruminantes
herbívoros que pastam em áreas com solo
contaminado.

 Coletou material de animal com a doença e


isolou a bactéria em cultura pura no laboratório
- inoculou a bactéria em animal sadio e
observou a mesma doença – coletou material
deste animal inoculado e recuperou a mesma
bactéria.
Postulados de Koch
Vacinação
•Louis Pasteur (1880): vacina projetada contra cólera
aviária; desenvolvimento de vacina anti-rábica –
primeira aplicação em um rapaz mordido por um cão
raivoso.

“O vírus não é nada, o terreno é tudo” (Louis Pasteur


em seu leito de morte).

•Emil von Behring e Shibasaburo Kitasato (1890):


transferência do plasma de animais que haviam se
recuperado de difteria para animais que não tiveram a
infecção - animais receptores tornaram-se resistentes à
infecção pela difteria  componentes ativos (anticorpos)
neutralizavam os efeitos patológicos da toxina diftérica.
Em 1888, Von Behring e Kitassato encontraram no soro de animais imunizados
contra a difteria e o tétano, substâncias neutralizantes específicas (anticorpos) =
foi demonstrado que a proteção contra estas duas doenças pode ser garantida
passivamente através da transferência de soro (contendo anticorpos) de um
animal imune para outro animal = Estava criada a soroterapia, a qual iniciou um
processo de cura na Medicina em crianças com difteria em todo o mundo.
Vacinas
• Vacinas – substâncias como proteínas, toxinas,
partes de bactérias ou vírus, ou mesmo vírus e
bactérias inteiros, atenuados ou mortos são
introduzidos no organismo  desenvolvimento
de reação do sistema imunológico (semelhante à
reação que ocorreria no caso e uma infecção por
um agente patogênico)  produção de
anticorpos que tornam o organismo imune ou
mais resistente à futuras infecções pelo agente
infeccioso
Anticorpos x Antígenos
• Anticorpos - proteínas produzidas no
plasma após ativação de linfócitos B- fazem
parte da imunidade específica ou adquirida-
responsáveis pelo bloqueio e eliminação de
microorganismos extracelulares

•Antígenos (anti= contra; gen=gerar)-


Qualquer agente infeccioso, microorganismo
ou substância estranha capaz de ser
reconhecida pelo sistema imunológico e ativá-
lo.
Eficácia da vacinação contra algumas
doenças infecciosas comuns
Eficácia da vacinação contra algumas
doenças infecciosas comuns

 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2 a 3 milhões de


mortes são evitadas no mundo, todos os anos, devido a vacinação da
população.
 Década de 1930 - doenças infecciosas e parasitárias eram responsáveis por
45,7% das mortes no Brasil. Em 2010 esse índice caiu para 4,3%, segundo o
Ministério da Saúde. Esses dados confirmam que a vacinação reduz
drasticamente a morbidade de doenças preveníveis.
Células do sistema imunológico são
derivadas de células tronco da medula
óssea
Lecócitos circulantes no sangue
Neutrófilo Bastão ou Bastonete (seta) - neutrófilo
jovem com núcleo em forma de bastão curvado.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Neutrófilo bastão.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Neutrófilo maduro

Neutrófilo segmentado (seta): neutrófilo maduro com núcleo dividido em lóbulos (2 a


5 lóbulos) e citoplasma com granulações finas. É o leucócito que se apresenta em
maior quantidade no sangue (40 a 80%). Neutrófilos (bastões e segmentados)
possuem propriedades de defesa contra bactérias e fungos por quimiotaxia e
fagocitose.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Neutrófilos bastonetes e segmentados

Neutrófilo em transição de bastão para Neutrófilos segmentados.


segmentado (seta tracejada) e neutrófilo
segmentado (seta).

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Eosinófilos

Eosinófilo. Geralmente possuem dois lóbulos e grânulos alaranjados e grosseiros


no citoplasma. Aumentam muito durante processos alérgicos e doenças
parasitárias, tendo sua porcentagem normal no sangue periférico de 2 a 4%.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Eosinófilos

Eosinófilo (centro). Notar a presença de 3 lóbulos.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Linfócitos

Linfócito (seta): Núcleo redondo, citoplasma escasso e levemente basofílico, tamanho


pouco maior do que a hemácia. Constitui de 20 a 30% dos leucócitos, aumentando
muito sua quantidade em infecções virais.

Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos
Fonte - https://laces.icb.ufg.br/p/20026-leucocitos

Monócitos

Monócito - maiores células do sangue periférico, núcleo com formato


irregular (aspecto de rim – riniforme). As suas principais funções são a
fagocitose e a integração da imunidade celular e humoral.
Basófilo (seta): geralmente o núcleo se Basófilo (seta) e Neutrófilo segmentado (seta
apresenta em dois lóbulos e é de difícil tracejada).
visualização pela grande quantidade de
grânulos grosseiros, densos e escuros
presentes no citoplasma. Participam de
processos alérgicos e são os leucócitos com
menor presença no sangue periférico (de 0 a
2%).
Neutrófilo segmentado (seta) e Basófilo (seta Eosinófilos (setas) e Neutrófilo segmentado (seta
tracejada). tracejada).
Esfregaço sanguíneo

Colocar uma gota de sangue na


lâmina. Com a lâmina extensora em
ângulo de aproximadamente 45º
aguarde que o sangue se espalhe pela
borda da extensora e então deslize-a
de modo suave e contínuo até a
direção oposta

É importante escorregar a
lâmina de uma vez: evitar
falhas
Erros mais comuns na confecção do esfregaço sanguíneo
Áreas mais adequadas para boa visualização das
células

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