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Os primeiros relatos sobre febre amarela remontam aos anos 1700. Não há citação
sobre esta doença na história médica anterior. A primeira vez que esta
denominação foi utilizada foi em 1715 durante uma epidemia em Barbados.
O Dr. Ffirth fez inúmeros experimentos, a partir de 1802, para buscar identificar a
forma de transmissão. Ele dormiu inúmeras noites em leitos que haviam sido
utilizados por pacientes graves com febre amarela. Utilizava os mesmos lençóis.
Nunca desenvolveu qualquer sintoma da doença. Realizou muitos estudos em
animais. Deu "vômito negro" como alimento para um gato e um cachorro por uma
semana. Os animais não desenvolveram a doença. Tentou fazer a contaminação,
sem sucesso, em uma ferida provocada em um cachorro. Injetou vômito na jugular
de um cachorro que morreu com convulsões dez minutos depois. Fez um estudo
comparativo, mantendo todas as condições, porém injetando água. O animal
controle morreu da mesma forma. Em 4 de outubro de 1802 ele colocou vômito de
um paciente em uma ferida provocada em seu próprio braço esquerdo. Ficou com
uma inflamação por três dias, mas nada mais ocorreu. Repetiu este procedimento
por mais 21 vezes, no período de 1802 e 1803, permanecendo sadio. Continuou
tentando diferentes formas de contaminação. Ele colocou material contaminado no
seu olho direito, inalou vapores proveneientes deste mesmo tipo de material,
ingeriu material fresco (vômito, sangue e saliva) ou na forma de pílulas. Todas as
tentativas resultaram infrutíferas. Ele teve também sorte, pois a ingestão de sangue
poderia contamina-lo. Em 1804 ele declarou que a doença não era transmitida pelo
"vômito negro". A hipótese que ele lançou era a da transmissão associada a fatores
climáticos e ambientais. Não desenvolveu, contudo, experimentos neste sentido. Os
seus estudos, apesar de serem conhecidos e divulgados, não tiveram impacto na
prática médica corrente.
A primeira proposta de que o mosquito era o transmissor da doença foi feita pelo
Dr. John Crawford, de Baltimore/EUA, em 1807. Ele propos que as medidas de
quarentena eram ineficazes.
Esta mesma proposta foi novamente apresentada em 1848 pelo Dr. Josiah C. Nott,
um ginecologista do Alabama/EUA.
O Dr. Patrick Mason, um médico escocês, que demonstrou, em 1878, pela primeira
vez, que um inseto podia transmitir uma doença, ainda que de modo não
definitivo. Neste caso foi a transmissão da Wuchereria bancrofti, causadora da
filariose. Posteriormente, em 1894, o Dr. Mason descobriu que era a mosca tsé-tsé
que transmitia uma tripanossomíase, denominada de "febre n'gana" ou "doença
do sono". Ele também orientou o trabalho do Dr. Donald Ross que, em 1896,
estabeleceu a transmisão por mosquitos da malária.
A primeira evidência irrefutável de que um inseto podia transmitir uma doença foi
feita em 1892. O Dr. Theobald Smith, microbiologista, e o Dr. Fredrick L.
Kilborne, veterinário, demonstraram a transmissão por meio de insetos da
chamada febre do Texas, uma doença bovina.
O Dr. Carlos Juan Finlay, médico cubano, com formação feita nos EUA,
apresentou, em 14 de agosto de 1881, um trabalho sobre "O mosquito
hipoteticamente considerado como agente transmissor da febre amarela". Esta
doença causava a morte de pelo menos 40% das pessoas que a contraíam.
Antes de apresentar seu trabalho testou a sua hipótese em cinco pessoas, que
permitiram que mosquitos alimentados com sangue de pessoas contaminadas as
picassem. Todas as cinco pessoas desenvolveram a doença, sendo duas na forma
leve. Nenhuma delas, contudo, foi convincente o suficiente para comprovar esta
hipótese para outros especialistas. Durante os 19 anos que se seguiram, continuou
testando esta idéia em mais 102 ou 104 pessoas. Várias delas desenvolveram a
doença, sem contudo gerarem evidências definitivas desta forma de transmissão.
Aparentemente, Finlay não se incluiu nestes experimentos.
A repercussão da proposta de Sanarelli foi muito grande, pois uma das mais
importantes preocupações do exército norte-americano, que estava envolvido na
Guerra Hispano-Americana, era o fato de terem morrido mais soldados de febre
amarela que em combate.
O Dr. Walter Reed ficou encarregado de todo o projeto, o Dr. Carrol com os
aspectos relacionados à Bacteriologia, o Dr. Agramonte com a patologia e o Dr.
Lazear com os aspectos experimentais que envolvessem a possível transmissão
pelos mosquitos.
Neste mesmo período, havia uma Comissão Inglesa para Febre Amarela, composta
pelos Profs. Herbert E. Durham e Walter Myers, da Universidade de Liverpool.
Eles foram mandados ao Canadá e Estados Unidos para verificarem o que estava
sendo pesquisado a respeito desta doença em diferentes centros. Um dos centros
que incluíram na sua viagem foi o do Prof. Walter Reed em Cuba. Eles ficaram
dez dias em Cuba visitando também o Prof. Finlay.
Na manhã seguinte a esta deliberação, o Prof. Reed foi para Washington, pois
deveria encerrar o relatório de uma outra comissão sobre Febre Tifóide, por
solicitação do Dr. Sternberg. Este motivo nunca foi devidamente confirmado.
O Dr. Lazear era o mais ansioso por testar a hipótese de transmissão pelo
mosquito. Desde quando estava ainda nos Estados Unidos vinha defendendo esta
idéia. A primeira bateria de testes foi feita com ele e com outros nove voluntários,
todos soldados. O experimento era simples. Os mosquitos eram colocados em tubos
de ensaio com culturas de bactérias. Logo após a abrtura do tubo era colocada
sobre a pele do voluntário até que o mesmo fosse picado. Nenhum deles
desenvolveu sintomas da doença.
O Dr. Carrol seria o seguinte voluntário para um outro experimento. Desta vez
seriam utilizados mosquitos que tivessem picado previamente pacientes com febre
amarela. O Dr. Carroll, três dias após, começou a desenvolver sintomas leves da
doença. O quadro foi se agravando progressivamente, porém tendo mais
características de malária que de febre amarela. Esta hipótese foi afastada
posteriormente pelos exames realizados. Posteriormente foi confirmado que o Dr.
Carrol havia sido contaminado mesmo pela febre amarela. Ele escreveu, mais
tarde:
Eu fui o primeiro a propor que nós nos submetessemos e o primeiro a ser infectado,
mas não o primeiro a ser picado.
A sua contaminação deu força para a hiopótese de Finlay, mas não a demonstrou,
pois as condições experimentais eram muito pouco rigorosas. O Dr. Carroll havia
tido contato com pacientes com febre amarela alguns dias antes de ser picado pelos
mosquitos. Quando foi constatada a sua transmissão, um outro soldado, William
H. Dean, se ofereceu como voluntário para ser utilizado para uma transmiossão
por mosquito a partir do Dr. Carroll. Isto foi feito e ele e outros três voluntários
tiveram apenas sintomas leves.
O Dr. Reed voltou para Cuba em 4 de outubro. Nesta ocasião foi divulgada uma
outra versão sobre ao corrido com o Dr. Lazear. Foi dito que ele havia sido picado
acidentalmente pelos mosquitos enquanto coletavas estes animais para realizar um
outro experimento. O próprio livro de anotações de Lazear confirmava a exposição
intencional. Esta segunda alternativa, picadas acidentais, talvez tivesse sido
divulgada por motivos de justificar o pagamento da apólice de seguro de vida para
a viúva, que seria a responsável pela criação dos dois filhos do casal, sendo que um
deles acabara de nascer.
Um outro experimento foi feito utilizando uma pequena casa, contruída para este
fim, onde os voluntários ficariam em contato apenas com roupas de vestir e de
cama que tinham sido utilizadas por pessoas doentes. O ambiente também havia
sido impregnado de fezes, urina e vômitos, para aumentar as chances de
contaminação.Esta casa não tinha possibilidade de circulação de ar nem de luz
solar no seu interior omo forma de prevenir uma possível "desinfecção". Três
voluntários permaneceram 20 dias nestas condições, recebendo materiais
contaminados todos os dias. Nenhum desenvolveu qualquer sintoma da doença.
Outros dois voluntários foram submetidos a estas mesmas condições, sem
resultados.
Uma outra casa foi construída para ser utilizada para o experimento de
transmissão por mosquitos. Tudo na casa seria igualmente desinfetado. O seu
espaço foi dividido em duas áreas iguais, separadas por uma fina tela, mantendo os
mosquitos apenas em um dos compartimento. Um voluntário, o soldado John J.
Moran, foi picado várias vezes pelos mosquitos, e desenvolveu a doença. Os outros
voluntários, que ficaram do outro lado da tela, não tiveram qualquer sintoma.
Mesmo com esta nova evidência o Dr. Reed achava que a comprovação ainda
poderia ser refutada por outros cientistas e continuava muito preocupado com os
avanças da Comissão Inglesa. Os dosi cientistas ingleses haviam se deslocado para
o Brasil para estudar a febre amarela. Ambos desenvolveram a doença, sdno que o
Dr. Myers morreu em 20 de janeiro de 1901, quatro dias após ter sido
contaminado. O Dr. Durhan conseguiu se recuperar.
O Dr. Reed morreu em 1902, de uma causa não relacionada a febre amarela. Ele
morreu de apendicite. Em 1906 os Drs. Carroll e Agramaonte receberam o Prêmio
Nobel pelos trabalhos desenvolvidos em Cuba. Os Drs. Reed e Lazear não
puderam ser contemplados com o prêmio pois o seu regulamento só permite que
pessoas vivas o recebam.