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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

Igreja Presbiteriana do Brasil


Curso de Teologia

METODOLOGIA DA PESQUISA EXEGÉTICA


PROFA. DRA. LÁZARA COELHO
2023.2

FASCÍCULO 1:
DELIMITAÇÃO DA PASSAGEM

1. OBJETO DA DELIMITAÇÃO
• Os limites da passagem.

2. NECESSIDADE

• O texto bíblico foi escrito, originalmente, em escrita contínua, sem espaço entre as
palavras e sem subdivisões de versículos, perícopes e capítulos.
• Atual divisão em versículos e capítulos é de Stephan Langton, arcebispo de Cantuária,
em 1227.
• Objeto de estudo da Delimitação da Passagem: seus limites.

3. OBJETIVO

Estabelecer os limites, com a maior precisão possível, do texto de uma passagem a ser
interpretada. Em outras palavras, identificar a completude da passagem, ou seja, uma
unidade autônoma de sentido, o início e o fim de uma perícope.

Nota: “o texto constitui unidade autônoma quando seu conteúdo possui uma mensagem
própria e característica, distinta da mensagem dos textos anteriores ou subsequentes.”
(Wegner, 1998, p. 86)

4. DEFINIÇÃO

Delimitação da passagem refere-se ao “[...] estabelecimento da exata extensão do texto como


unidade literária autônoma, ou seja, o estabelecimento dos limites do texto de uma passagem
a ser interpretada.” (Wegner, 2001, p. 84) Em outras palavras, delimitar uma passagem é
localizar, por meio de critérios objetivos, suas fronteiras e, a partir daí, identificar se é uma
unidade autônoma de sentido.

5. CRITÉRIOS

Dentre os critérios utilizados para delimitar um texto para a interpretação, estão (cf. Stuart;
Fee, 2008, p. 31-33; 207):

Copyright 2020, de Lázara Divina Coelho


Só pode ser citado com autorização expressa da autora.
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a) Coerência interna, isto é, “[...] o texto constitui uma unidade autônoma quando seu
conteúdo possui uma mensagem própria e característica, distinta da mensagem dos
textos anteriores ou subsequentes.” (Wegner, 2001, p. 86);
b) Limites estabelecido nas duas versões do texto grego (NA e GNT);
c) Comparação com as principais versões em língua portuguesa (CRF, ARA, RA, BJ, NVI
etc.);
d) Mudança de gênero. Ex.: Mc 4.30-32 + 4.35-41;
e) Mudança cronológica: observar o emprego de advérbios temporais: “[...] nu=n (agora),
sh/meron (hoje), prwi/ (cedo), o)ye/ (de tarde), e)/ti (ainda), e)/peita (em seguida),
eu)quj (imediatamente), pa/lin (novamente) e outros”. (Wegner, 2001, p. 353);
f) Mudança topográfica. Ex.: Em Mc 1.9 Jesus vai para o rio Jordão; em 1.12 encontra-
se no deserto; em 1.16, junto ao Mar da Galileia); em 1.21, em Cafarnaum [...] (Wegner,
2001, p. 353);
g) Mudança de personagens. Ex.: “Em Mc 1.16-20, a história gira em torno de Jesus,
Simão, Tiago e João; em 1.21ss, a história tematiza o encontro de Jesus e um homem
possesso de espírito imundo.” (Wegner, 2001, p. 353);
h) Mudança de conteúdo geral: quando isso acontece, significa que está havendo mudança
dos assuntos abordados. Exs.: “[...] o trecho de Mc 2.18-22, geralmente considerado
uma unidade de sentido, pode, em verdade, ter reunido duas mensagens distintas: 2.18-
20 + 2.21-22.” (Wegner, 2001, p. 353);
i) Mudança de linguagem. Ex.: de uma linguagem discursiva (Mc 4.39) para uma narrativa
(Mc 4.10);
j) Natureza das conjunções: em textos argumentativos a natureza das conjunções
utilizadas pelo autor podem estar sinalizando a conclusão ou a continuidade de um
assunto. Exemplificando: para “[...] finalizar um conteúdo, são mais empregadas as
conjunções coordenativas conclusivas”: ga/r / kai/ ga/r (porque, com efeito),
toigaro/un (pois, portanto), dio/ / dio/ti (portanto, por isso), e a)/ra e ou)=n
(portanto) e as subordinativas finais i(/na, w(j, o(/pwj (para que, a fim de que); mh/, i(/na
mh/m i(/pwj mh/ (para que não). (Wegner, 2001, p. 353)

6. ETAPAS DA ANÁLISE

A delimitação da passagem passa pelas seguintes etapas:

a) Análise da passagem para identificá-la como unidade autônoma ou não;


b) Identificação da natureza literária do texto (se discurso, narrativa etc.);
c) Localização, segundo a natureza literária do texto, de mudanças, alternâncias,
diferenciações e rupturas (quanto a gênero; indicação cronológica, topográfica, de
personagens e de conteúdo geral; linguagem), especialmente quando se tratar de
narrativa;

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d) Isolamento de conjunções, especialmente conjunções coordenativas conclusivas e


subordinativas finais, especialmente em textos argumentativos;
e) Análise com base nos elementos encontrados, fixada na forma de texto acadêmico.

7. MODELO

1 DELIMITAÇÃO DA PASSAGEM

Segue-se a delimitação da passagem, que se refere ao “[...] estabelecimento da exata


extensão do texto como unidade literária autônoma, ou seja, o estabelecimento dos limites
do texto [da] passagem a ser interpretada” (Wegner, 2001, p. 84), Tiago 5.19-20.

A tarefa de delimitação da passagem em questão é estabelecer, com a maior exatidão


possível, os limites do texto grego, na Língua Fonte (LF) que será alvo de interpretação
neste trabalho exegético. Essa tarefa consiste em: a) conhecer profundamente o texto
grego da passagem, e b) escrever uma tradução provisória para a Língua Receptora (LR),
a Língua Portuguesa.

1.1 TEXTO
Quanto ao texto bíblico em utilização, é aquele disponibilizado na 5ª. edição da
UBS (UBS4), como segue:

4 )Adelfoi/ mou, e)a/n tij e)n u(mi=n planhq$= a)po\ th=j a)lhqei/aj kai\
e)pistre/y$ tij au)to/n, 20 ginwske/tw o(/ti2 o( e)pistre/yaj
a(martwlo\n e)k pla/nhj o(dou= au)tou= sw/sei yuxh\n au)tou= e)k
qana/tou3 kai\ kalu/yei plh=qoj a(martiw=n. (Tg 5.19-20)

1.2 CRITÉRIOS
Para a realização dessa atividade, foram utilizados, dentre os vários critérios
estabelecidos para a delimitação de passagens do Antigo e do Novo Testamentos (que
consideram o gênero literário da obra e de sua forma literária, a própria peculiaridade do
texto, entre outros), os seguintes:

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1. Coerência interna;
2. Limites estabelecido nas duas versões do texto grego (NA e UBS) em relação
às versões modernas;
3. Mudança de conteúdo geral.

1.3 DELIMITAÇÃO

Após a aplicação de cada um dos critérios acima definidos a partir do gênero


literário e da peculiaridade do texto da carta de Tiago, especificamente na passagem em
questão, onde não há a presença de conectivos (conjunções), delimita-se essa passagem
nos versos 19 e 20, considerando que o texto: a) tem coerência interna, isto é, constitui
uma unidade autônoma distinta da mensagem do texto anterior (Wegner, 2001); b) é
qualificado na NA26 e UBS4 nesses mesmos limites em absoluta coerência com as versões
modernas consultadas (CRF, ARA, RA, BJ e NVI); c) e, finalmente, há clara mudança de
conteúdo geral, pois o autor muda do assunto oração (5.13-18) para a obra que leva à
mudança de caminho (v. 19-20).

REFERÊNCIAS

ALAND, Barbara; ALAND, Kurt; KARAVIDOPOULOS, Johannes; MARTINI, Carlos M.;


METZGER, Bruce M. O Novo Testamento Grego. 5ª. ed. rev. Stuttgart: UBS, 2018. Inclui os
prefácios anteriores e introdução à quinta edição de língua portuguesa, e índices de citações, de
alusões e paralelos verbais, dos mapas, e lista de leituras alternativas.

FEE, Gordon. STUART, Douglas; FEE, Gordon. Manual de exegese bíblica: Antigo e Novo
Testamentos. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 31-33 e 255-266.

WEGNER, Uwe. Cap. 4. In: WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: manual de
metodologia. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 2001. p. 84-88.

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