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A partir daí podemos definir três pontos de afastamento conceitual (sem uma ordem
cronológica determinada) na qual a chamada Linguística Textual se distancia da Linguística
Saussureana:
1- O interesse, por um lado, voltava-se para a Análise Transfrástica, que abrangia fenômenos
não explicados por teorias sintáticas ou semânticas que se limitavam à frase apenas (como no
caso do estruturalismo). É um tipo de análise que se aplica, por exemplo, no caso da co-
referenciação, onde não se pode encontrar um sentido definido apenas na frase em si, mas é
necessária a exploração do interior do texto para que se construa uma unidade de sentido,
sendo que se parte da frase e estende-se a abrangência para o texto.
2- Por outro lado, encontramos a tentativa de uma descrição da competência textual dos
falantes de uma certa língua, sob influências da gramática gerativa, resultando na criação das
Gramáticas Textuais. Aqui, a proposta era reconstruir o texto de forma que fosse analisado
como objeto linguístico uniforme, estável e com propriedades que diziam respeito ao próprio
sistema abstrato da língua. Tais análises abrangiam o texto como mais do que uma soma dos
significados das frases que o constituíam, mas como um todo mais elevado do que a mera
soma das partes.
A pesca
O anil
o anzol
o azul
o silêncio
o tempo
o peixe
a agulha
vertical
mergulha
a água
a linha
a espuma
o tempo
o peixe
o silêncio
a garganta
a âncora
o peixe
a boca
o arranco
o rasgão
aberta a água
aberta a chaga
aberto o anzol
aquelíneo
agil-claro
esabanado
o peixe
a areia
o sol.
b) Aqui, pode-se dizer que o leitor é instigado pelo texto a julgar seu sentido de forma
intuitiva, mas ainda bem clara. Uma vez que o leitor lê o título e percebe como o texto é
escrito, já se pressupõe que lhe será descrita a atividade da pesca, de forma a deixar sua
mente captar e processar essas informações de maneira crua e direta. Neste texto em
particular, deixa-se que o leitor realize sozinho o processo cognitivo de se conectar as partes e
compreender o que o texto está dizendo e como está dizendo, ao passo em já se julga falar
sobre os lugares e processos que envolvem o processo da pesca.
“Era um feriado de Ano Novo, e todos no hospício estavam muito felizes, brincando em uma
piscina, que acabara de ser instalada, quando chega o fim da tarde e um louco fala com o
médico:
- Adorei o dia hoje, todos estão gostando muito da piscina, né, doutor?
O médico responde:
- É verdade.
O louco pergunta novamente:
- Amanhã vamos poder brincar na piscina?
Mais uma vez, o médico responde:
- Sim, amigo, amanhã vai estar muito melhor: vamos colocar água nela.”
R: Ambas se encontram como partes da Coesão Referencial, sendo que a Exofórica, que indica
referência, diz respeito às referências que o texto faz com conteúdo exterior ao texto (coisas
que, geralmente, se espera que o leitor já tenha conhecimento a respeito, como quando
ocorre a intertextualidade), enquanto a Endofórica, que indica co-referência, diz respeito às
referências que podem ser encontradas dentro do texto (referências a outras partes dele
mesmo) e podem ser encontradas nas formas de Anáfora (quando se recupera um termo
antecedente), Catáfora (quando antecipa o termo a que se refere) e Elipse (omissão de um
termo subentendido, sem necessidade de repetição).
No texto, é possível encontrar a coesão exofórica em: “Era”, já que esta ocasião a qual o texto
está se referindo não é explicitada no texto (apesar de ser possível atribuir o termo a alguma
comemoração de fim de ano no hospício); “todos no hospício” e “todos”, já que não fica claro
em momento algum no texto a quem realmente esses termos estão se referindo (nós, como
leitores, podemos interpretar e supor que estão se referindo aos pacientes, ou talvez até aos
funcionários do hospício); “Ano Novo”, já que é necessário certo conhecimento e bagagem
cultural para entender a natureza dessas festividades (algo que não é explicado no texto);
“hospício”, já que este é outro termo para o qual precisa-se de bagagem externa para se
compreender e ele é essencial para que se entenda a ironia e o humor no texto. A coesão
endofórica pode ser encontrada em:
Elipses: “Brincando” pois se refere a “todos”, omitindo qualquer outro termo, valendo-se
apenas do verbo, sem comprometer o sentido.