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Uma bandeira para a república

Pablo Lima

Em 15 de novembro de 1889, o exército brasileiro derrubou o regime monarquista


constitucional que vigorava no Brasil desde a independência, declarada em 1822. Em
seu lugar, o exército implantou, à força, um regime republicano, colocando fim ao
Império do Brazil e dando início à república dos Estados Unidos do Brasil. A família
imperial foi expulsa do país, exilando-se na França, onde o ex-imperador D. Pedro II
passou seus últimos anos, junto às suas filhas e demais parentes próximos.

Os motivos para a proclamação da república são vários e fazem parte de uma


complexa história. Entre eles, é importante destacar a “questão militar”, representada
pela reivindicação de maior participação e poder político pelo exército, que saiu
vitorioso da Guerra do Paraguai (1863-1870). Por sua vez, a “questão religiosa”,
marcada pela disputa entre o Papa e o Imperador pelo controle da igreja católica no
Brasil, detentora de inúmeras propriedades imobiliárias e fundiárias, além de enorme
poder político e social, também contribui para a perda de apoio eclesiástico à
monarquia. A “questão republicana”, caracterizada pelo movimento republicano, de
caráter positivista, também vinha mobilizando diversos setores sociais contra a
monarquia. E, por fim, a “questão servil”, que era o fato problemático de o Brasil ter
como base produtiva o trabalho de africanos e seus descendentes escravizados,
depois que todas as demais nações americanas já haviam abolido a escravidão, deu
origem ao movimento abolicionista brasileiro que pressionou o governo imperial a
abolir a escravidão em 1888. Esta foi a gota d’água. No ano seguinte, a monarquia era
encerrada.

O novo regime republicano necessitava de novos símbolos. Assim, nos seus primeiros
dias, a república foi marcada por um intenso debate acerca da bandeira nacional que
deveria, doravante, representar o país. Militares, civis, ex-nobres, monarquistas e
republicanos positivistas apresentaram diferentes propostas de uma nova bandeira.
Em um debate com fundamentos históricos, representantes desse setores engajaram-
se nesse debate a fim de responder à seguinte pergunta: qual deveria ser a nova
bandeira para o novo regime republicano?

Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892)

Quem sou?

Militar alagoano, o mais graduado do exército do Brasil. Proclamador da república,


porém não era republicano. A vida toda fora monarquista e amigo do Imperador.

Quais os meus objetivos?

Implantar o regime republicano de modo ordeiro, sem romper com os símbolos do


império. Defendia manter a mesma bandeira nacional à qual ele havia jurado lealdade.

Proposta de bandeira:

José Lopes da Silva Trovão (1848-1925)

Quem sou?

Republicano ativista, signatário do Manifesto Republicano de 1870 e abolicionista.


Membro de um clube republicano no Rio de Janeiro, liderou a comitiva que apresentou
a Deodoro da Fonseca a proposta de nova bandeira.

Meus objetivos:

Defender que a nova república tivesse uma bandeira aos moldes da dos E.U.A.,
significando o novo regime inspirado naquele país, rompendo com a simbologia
imperial

Proposta de Bandeira

Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927)

Quem sou?

Filósofo e matemático fluminense, republicano e adepto do positivismo. Cultuava a


religião da humanidade.

Meus objetivos:

A nova república deveria ser guiada pelos ideais positivistas do amor, ordem e
progresso (lema de Auguste Comte). Assim elaborou uma proposta que mantinha
linhas gerais e cores da bandeira imperial, mas substituía o brasão imperial pra esfera
armilar, representando a configuração do céu visto do Rio de Janeiro em 15 de
novembro de 1889, com uma faixa contendo o slogan positivista..

Proposta de bandeira:

Antônio da Silva Jardim (1860-1891)

Quem sou?

Advogado, jornalista e ativista político republicano paulista extremamente atuante. Foi


candidato a deputado, porém não foi eleito.

Meus objetivos:

O novo regime deveria romper com tudo que lembrasse o império. Assim, propôs que
a nova bandeira substituísse completamente as cores anteriores (verde e amarelo) por
cores que representassem as três raças formadoras do povo brasileiro: branco
(europeus), vermelho (indígenas), e preto (africanos).

Proposta de bandeira:

Júlio César Ribeiro Vaughan (1845-1890)

Quem sou?

Escritor e gramático mineiro, republicano, abolicionista, anticlerical e adepto do


naturalismo. Autor de A Carne (1888), livro que aborda temas polêmicos para a época,
como o amor livre, o divórcio, e o papel da mulher na sociedade

Meus objetivos:

Propôs uma nova bandeira quando da abolição da escravidão inspirada na bandeira


dos E.U.A., com as cores das três raças fundadoras do povo brasileiro, com uma
imagem do mapa do Brasil, que deveria ser a bandeira do novo regime.

Proposta de bandeira:

Venceslau Pereira Escobar (1857-1938)

Quem sou?

Advogado, escritor e jornalista gaúcho. Membro do Partido Republicano


Riograndense. Era contrário ao positivismo, defendendo o liberalismo republicano.

Meus objetivos:

Defender que a nova bandeira deveria estar isenta de influências do positivismo,


ideologia que considerava autoritária e anti-liberal. A proposta de bandeira deveria
manter as cores da bandeira imperial, com a esfera armilar, sem, no entanto, a frase
positivista.

Proposta de bandeira:

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