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Vol. 6 .

Nº 10/2023
JUNHO / 2023
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Remuneração de membros de en dades


Maior Segurança nas Escolas: Mulheres em cargos de gestão e
sem fins lucra vos, Dirigentes Estatutários
e Dirigentes Não Estatutários Estratégias e Soluções Eficientes liderança: “Missão Scalabriniana”
Presente junto às en dades eclesiásticas
por mais de 20 anos, o AXIS INSTITUTO
tem desenvolvido inúmeros trabalhos nas
áreas de Educação, Saúde, Assistência e
Promoção Social, com é ca, competências
específicas e compromisso com a
Vida Religiosa Consagrada.

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Editorial
Num cenário de muitos desafios para toda a Neste número também trazemos um
sociedade, hoje e ao longo dos úl mos anos, interessante ar go sobre a gestão de um
este número 10 da Vertentes marca os 5 anos ins tuto religioso que presta relevantes
da revista. Lançada em 2018, temos procurado serviços sociais, e ainda um outro ar go que é
nos manter fiéis à ideia original de trazer, para um “mergulho” muito significa vo nos
as ins tuições católicas e público do terceiro centenários franciscanos.
setor, informações e conhecimentos ligados à
educação, à filantropia, à saúde e às obras Convidamos você, leitor e leitora, a nos enviar
sociais católicas. Acreditamos que o nosso alguma mensagem alusiva à nossa Vertentes.
intuito de buscar expandir e disseminar A revista tem sido significa va para você? Você
conhecimento nessas áreas vem sendo aprecia os ar gos publicados? A respeito de
atendido. Nesse intento, temos publicado que área do conhecimento você mais gosta de
inúmeros ar gos, gen lmente escritos para a ler? Você gosta da diagramação e da arte da
Vertentes, por dezenas de colaboradores, revista? Apreciaríamos receber comentários e
c o n s u l to re s , a m i g o s e p ro fi s s i o n a i s , sugestões vindos de você!
Você pode enviá-los a nós pelo e-mail:
religiosos/as e leigos/as, oriundos de diversas
comunicacao@axisins tuto.com.br
áreas de atuação, no Brasil e no exterior, e com ou pelo WhatsApp:
diferentes perfis acadêmicos. A todos, eles e (31) 99336-2030.
elas, nossos mais sinceros agradecimentos
pelo auxílio nesta caminhada e pela riqueza de Boa leitura e até a próxima oportunidade!
suas contribuições.
Axis Ins tuto
Este número da Vertentes traz ar gos que Diretoria
abordam a segurança nas escolas, a
remuneração de dirigentes de en dades sem
fins lucra vos, a polí ca da qualidade em
ins tuições de saúde, o bem-estar de
funcionários nos ambientes de trabalho e a
comunicação social na sociedade, vista pela
Igreja. Igualmente relevante é a questão da
saúde mental dos sacerdotes, tema abordado
por um dos ar gos presentes nesta edição.
Sumário
06 12

Remuneração de Membros de En dades


Comunicação Social - do Concílio aos dias atuais
Sem Fins Lucra vos e Dirigentes
Por Márcio Moreira, Me

18 28 36

Maior Segurança Nas Escolas: A Importância da Saúde Mental no Presbitério:


O Bem-estar no Ambiente de Trabalho
Estratégias E Soluções Eficientes Cuidando dos Líderes Religiosos
Por Sebas ão V. Castro, Dr Por Marcelo Augusto Torres Moreira Por Laudinha Dornelas

42 50 60

Implementando a Polí ca da Mulheres em Cargos de Gestão e Liderança:


Centenários Franciscanos
Qualidade em Ins tuições de Saúde A Experiência do Ins tuto Cristóvão Colombo
Por Adriana Candido, Andréa Belo e Fabíola Monteiro Por Paula Leão. Me Por Orie a Borgia, Dra

DIRETORIA PROJETO GRÁFICO


Áriston Silva, Márcio Moreira, Sebas ão Castro, Renato Ba tucci Equipe de Comunicação Axis (Marcos Antonio Ramiro)
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ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA

As Congregações O Governo Geral tem


O patrimônio dos Colégios,
no Brasil podem enviar poder civil para des tuir
Hospitais e obras
dinheiro para o Governo a Diretoria de uma Obra

?
Geral no exterior da Congregação no Brasil
?
pode ser alienado? Como
?
Se sua Instituiçã o, para ins civis, ainda nã o é uma
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COMUNICAÇÃO SOCIAL - DO CONCÍLIO AOS DIAS ATUAIS

Por Adilson Souza, MSc1

1 - Matemá co, Teólogo. Superintendente do Axis Ins tuto.

06
“É intrínseco à sociedade humana o direito à
informação sobre aqueles assuntos que
interessam aos homens e às mulheres, quer
tomados individualmente, quer reunidos em
sociedade, conforme as condições de cada um.”2

A Igreja, no decorrer da história mostrou-se, e ainda o faz,


preocupada com os meios de comunicação social. A questão e tal
inquietação não se fazem por menos, dada à capacidade de
influência que a comunicação tem entre os povos, seja no aspecto
posi vo, ou de forma prejudicial às pessoas, à sociedade e aos seus
atores em geral.

Dentre os documentos gerados pelo Concílio Va cano II, encontra-se


o Decreto Inter Mirifica – com quase 60 anos de história e ainda vivo
entre nós – do qual destacamos o excerto acima e que mostra o
cuidado da Igreja com os meios de comunicação social. A sua
importância é destacada logo no início do decreto e a relação com a
ordem moral também chama a atenção quanto ao fato de que os
meios sejam aproveitados não só para o bem dos cristãos, mas
também para o progresso de toda a sociedade humana.

O documento destaca a comunicação e a sua potencial força,


podendo esta cons tuir-se de forma tão intensa que os 'homens, não
estando prevenidos, dificilmente serão capazes de descobrir,
dominar e, se der o caso, a pôr de lado.' Daí, o necessário
discernimento ao encarar a Comunicação como instrumento de
ameaça ou como oportunidade estratégica nas ins tuições,
tomando-a como fator posi vo e de força no dia a dia organizacional.

Como os diversos meios hoje presentes e à disposição de todos


conseguem chegar ao local mais longínquo, ainda que, muitas vezes,
nem todas as pessoas tenham adequadas condições de acesso, a
tecnologia e as formas de transmissão colocadas na mesa se tornam,
assim, instrumentos eficazes e fac veis para que a Igreja alcance sua
meta, quer seja, levar o Evangelho a todos os povos3, com vistas à
salvação das almas4.

2 - Concílio Va cano II. Decreto Inter Mirifica sobre os Meios de Comunicação Social, item 5 (1963)
3 - Evangelho de Marcos 16, 15.
4 - Código de Direito Canônico, Cânone 1752 (1983).

07
Sobre a formação de consciência das pessoas no meio,
cabe citar o direito à informação sobre as coisas que
convêm a todos, lembrando que o uso correto deste
direito deve exigir, sempre, que a informação seja
sempre verdadeira e íntegra. E que sejam respeitadas a
jus ça, a caridade, a dignidade e a moral, tanto na
obtenção da no cia como na sua divulgação.
Neste caso, a orientação do Decreto vai de encontro ao
que, frequentemente, tem ocorrido no Brasil,
potencializado de maneira espetaculosa e danosa,
durante o úl mo pleito eleitoral. Assim, para fazer
frente à situação de extrema preocupação e geradora
de violência dado à disseminação de fake news de forma
corriqueira e banal, o país vem se debruçando sobre
importantes discussões legais acerca de marcos que
definam, de forma clara, o que seria permi do e os
limites de tais informações ou desinformações, a
depender da pitada colocada pelo propagador das
mesmas.
O documento Conciliar se preocupa com aqueles que
receberão as mensagens, principalmente os jovens,
chamando-os à moderação e disciplina no seu uso, para
que não se excedam e se tornem ví mas e escravos de
(excesso) dados, redes sociais e um mundo
completamente virtual e desprovido de uma base real,
lógica e localizada. Aqui se coloca a importância dos
educadores, nas escolas e obras em geral, bem como de
todos aqueles que detêm posições estratégicas e de
liderança junto às en dades eclesiás cas para um
devido direcionamento, apoio e envolvimento desses
junto às crianças e jovens (podemos arriscar dizer,
também junto aos adultos) em geral. Denota-se aqui,
nessa perspec va, o imprescindível conhecimento dos
educadores e lideranças para uma efe va orientação e
ponderação quanto às ferramentas de apoio e à
comunicação social em si. Aliás, a boca só falará daquilo
que o coração (e a mente) es ver cheio. Devemos
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enfa zar que, além dos 'orientadores' citados acima,


cabe aos pais um papel precípuo quanto à educação dos
filhos, incluindo nesta tudo que envolve os meios de
comunicação (e relacionamento) social, tais como, a

08
navegação virtual, a presença em eventos diversos, tais
como shows, espetáculos, baladas e tudo quanto os
envolve e, literalmente, os sufoca, socialmente, no dia a
dia.
Considerando que outras partes também se inserem
nessa relação - sociedade X meios de comunicação -, as
autoridades civis e os responsáveis pela elaboração das
leis têm suas responsabilidades quanto aos aspectos
legais que permeiam o assunto. A esses compete, tal
como afirma o documento do Concílio, 'defender e
tutelar a verdadeira e justa liberdade de que a
sociedade moderna necessita, inteiramente para seu
proveito'. E, ainda, é papel do poder público, 'procurar
de forma justa e zelosa, por meios legais, que não se
cause dano aos costumes e ao progresso da sociedade
através de um mau uso destes meios de comunicação'.
Corroborando o que apresenta o Decreto Conciliar, a
Carta Magna5 brasileira diz, expressamente, que 'a lei
federal deve regular as diversões e espetáculos
públicos, cabendo aos órgãos públicos informar sobre a
natureza deles, as faixas etárias a que não se
re co m e n d e m , l o ca i s e h o rá r i o s e m q u e s u a
apresentação se mostre inadequada'. No entanto, na
prá ca, o que se vê é bem distante da realidade
desejada e prescrita nas letras da lei. Só como exemplo,
uma célebre produção cinematográfica dos anos 80 (A
Lagoa Azul), foi exibida pelo menos 20 vezes na
programação global da 'Sessão da Tarde', e como o
próprio nome indica, em horário aberto e disponível às
crianças e adolescentes. E somente no ano de 2017 (37
anos após o lançamento do filme), o Ministério da
Jus ça entendeu e decidiu que o filme extrapolava
quanto ao conteúdo e classificou-o como impróprio
para menores de 12 anos de idade. Poderiam ser citados
diversos outros exemplos, sem muito esforço para
lembrá-los e relacioná-los, tais como propagandas de
cigarro, bebidas, desenhos animados com extrema
violência ('Pica-pau', 'Papa-léguas e Coiote'...) novelas e
filmes com cenas de nudez, sexo quase explícito,
violência, atos discriminatórios, desvios morais e
an é cos, etc.

5 - Evangelho de Mateus 12, 34.

09
Dentro deste contexto, cabe citar que, no Brasil, temos um dos mais
concentrados poder de mídia nas 'mãos' de alguns empresários das
comunicações. Poucos grupos de grande penetração audiovisual,
impresso, radiofônico e virtual, comandam todo o país; esse
reduzido grupo é formado, basicamente, por 'Globo', 'Silvio Santos',
'Record', 'Bandeirantes', 'Folha' e 'RBS' (Rede Brasil Sul de
Televisão). Com tamanha concentração, o que se mostra um
verdadeiro oligopólio, muitos divulgam apenas o que lhes convém –
inclusive em acordos de assuntos e 'furos' de reportagens - e
omitem o que é importante para a nação. Porém, como concessões
públicas, deveriam ser meios de informação e de debate de ideias
para toda a população, o que, infelizmente não se percebe em
grande maioria das produções veiculadas pelos meios disponíveis.
A Gaudium et Spes6, também versando sobre o tema, diz que 'novos
e mais perfeitos meios de comunicação social permitem o
conhecimento dos acontecimentos e a rápida e vasta difusão dos
modos de pensar e de sen r o que, por sua vez, dá origem a
numerosas repercussões'. Assim, cabe a todos que usam dos meios
diversos da comunicação a favor das/pelas en dades eclesiás cas
(e, claro, de outras ins tuições), a exploração inteligente e
estrategicamente efe va de tais meios para levar a seu público a
mensagem devida que possa, de fato, agregar valor às pessoas, às
relações e a todas as partes interessadas em questão.
E, externando cuidado, e preocupado com o futuro, o Papa Paulo VI,
na promulgação do Decreto Inter Mirifica, ins tuiu que se
celebrasse o Dia Mundial das Comunicações, para que os fiéis
fossem doutrinados a respeito das suas obrigações no tema,
convidados a orar por esta causa e contribuir com este fim, com
vistas ao sustento e fomento frente às necessidades do orbe
católico, das ins tuições e das inicia vas promovidas pela Igreja no
assunto.
Frente, portanto, a essa incumbência, a Igreja comemorou, no dia
21 de maio úl mo, o 57° dia Mundial das Comunicações. E o Papa
Francisco, na mensagem para este dia, enfa zou que “basta amar
bem para dizer bem”, lembrando o centenário da proclamação de
São Francisco de Sales como padroeiro7 dos jornalistas católicos.
Para este grande Santo da Igreja, a comunicação nunca deveria
reduzir-se a um ar cio, a uma estratégia de marke ng – diríamos
nós hoje –, mas deveria ser o reflexo do ín mo, a super cie visível
dum núcleo de amor invisível aos olhos.

6 - Cons tuição Pastoral Gaudium Et Spes - Sobre A Igreja No Mundo Atual. Item 7 (1965)
7 - Proclamado por Pio XI através da Encíclica Rerum omnium perturba onem (26/01/1923)

10
Por fim, que o tema deste Dia Mundial recém celebrado, “Falar
com o coração. Testemunhando a verdade no amor' (cf. Ef 4,15)”,
possa, de fato, ser apreendido, vivido e u lizado como mote de
transformação da comunicação e, consequentemente, de reflexos
e mudanças em uma sociedade na qual 'basta amar bem para
dizer bem'.

Adilson Souza, MSc

Matemá co, Mestre em Engenharia Metalúrgica e Especialista em Gestão Estratégica.


Superintendente do Axis Ins tuto e Consultor Organizacional Sênior. Professor de Graduação e Especialização:
UIT/Itaúna, Ins tuto Santo Tomaz de Aquino (ISTA) e Faculdade Vicen na de Curi ba (FAVI). Teólogo e aluno
da Escola Diaconal da Diocese de Divinópolis/MG.

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REMUNERAÇÃO DE MEMBROS DE ENTIDADES


SEM FINS LUCRATIVOS, DIRIGENTES ESTATUTÁRIOS
E DIRIGENTES NÃO ESTATUTÁRIOS

Por Márcio de Souza Moreira, Me1

1 - Contador, Mestre em Finanças e Sócio do Axis Ins tuto.

12
É de longa data a discussão sobre a possibilidade de de presidente, vice, secretária e tesoureira cujas
remuneração dos dirigentes das ins tuições sem fins funções e atribuições encontram-se descritas no
lucra vos. A legislação veio se aprimorando e tornando estatuto social.
tal hipótese viável e mais segura, no tocante à garan a
da imunidade ou da isenção usufruída no caso das O dirigente não estatutário é aquele que, em geral,
ins tuições que possuem o cer ficado de en dade exerce cargo dire vo de administração e gestão
beneficente de assistência social (CEBAS). execu va, sendo que suas atribuições não são
necessariamente previstas no Estatuto Social e ele,
Cabe esclarecer que entende-se por dirigente dentro de um projeto de governança, não é o centro
estatutário aquele cujas atribuições estão formalmente de estratégias ins tucionais e sim um executor. Em
prescritas no estatuto social e este, membro, faz parte regra, ele possui vínculo emprega cio ou, em
da en dade e do centro estratégico de decisões, sendo alguns casos, apesar de ques onável, à luz da
sua autonomia de fazer ou deixar de fazer limitada pelas legislação trabalhista e tributária, são contratados
prescrições existentes em lei e, especificamente, no como pessoa jurídica em caráter autônomo e
instrumento estatutário. Cita-se, por exemplo, os cargos determinado.2

Numa breve explanação histórica, parte desse arcabouço que trata


sobre a remuneração dos dirigentes, é formado pelo seguinte regramento:

Lei n° 9.637/98
Legislação que dispõe sobre a qualificação de en dades como organizações sociais; foi o primeiro texto legal que previa a
possibilidade de o dirigente ser remunerado. É um texto jurídico de aplicação no âmbito federal nas relações com as
Organizações Sociais (OSs), sendo necessária a regulamentação nas esferas municipais e estaduais para legalizar tal situação.

Lei n° 9.790/99
Esse texto jurídico disciplina a qualificação da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e em seu inciso VI,
ar go 4°, discorre sobre a “possibilidade de se ins tuir remuneração para os dirigentes da en dade que atuem efe vamente na
gestão execu va e para aqueles que a ela prestam serviços específicos, respeitados, em ambos os casos, os valores pra cados
pelo mercado, na região correspondente à sua área de atuação”.

Lei n° 12.868/13
Alterou o texto da lei referente à filantropia, colocando as condições para o gozo da isenção das en dades cer ficadas, porém,
não impedindo a remuneração dos dirigentes estatutários e não estatutários, tal como exposto nos incisos I e II do ar go 29.

Lei n° 13.151/15
Alterou novamente a lei referente à filantropia, ra ficando que os dirigentes poderiam ser remunerados, desde que atuassem
efe vamente na gestão execu va e respeitados como limites máximos os valores pra cados pelo mercado na região
correspondente à área de atuação da en dade. No caso de associações, os valores a serem definidos para a remuneração dos
dirigentes seriam tomados via decisão do órgão maior de deliberação, no caso, a assembleia geral.

Lei n° 13.204/2015
Alterou a legislação tributária federal (Lei n° 9.532/1997), ra ficando a possibilidade de remuneração dos dirigentes
estatutários e não estatutários, es pulando os critérios de limites máximos referenciais atrelados aos valores de mercado local.

2 - Ar gos 593 e seguintes do Código Civil, bem como do ar go 442-B da CLT.


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No caso das filantrópicas a remuneração, também, é dos conselheiros, dos benfeitores ou equivalentes,
permi da, não sendo o cer ficado como en dade assim compreendidos os pais, os avós, os bisavós, os
beneficente de assistência social (CEBAS) uma restrição filhos, os netos, os bisnetos, os os, os sobrinhos, os
ou empecilho para a remuneração de dirigentes sogros, os cunhados, etc. Essa exigência legal é
estatutários e não estatutários, certamente, desde que estratégica e necessária para afastar e impedir a
observadas as disposições legais. Tal previsão está possibilidade fá ca do nepo smo nas ins tuições sem
devidamente ra ficada na Lei Complementar fins lucra vos.7 E, finalmente, que o total pago a tulo
187/20213 que subs tuiu a Lei 12.101/20094 que, por de remuneração para o conjunto de dirigentes, pelo
sua vez, já permi a tal remuneração. exercício das atribuições estatutárias, deve ser inferior a
5 (cinco) vezes o valor correspondente ao limite
No livro que trata sobre o “Direito Tributário'”, Baleeiro individual estabelecido.8
(1959)5 já discorria sobre a incoerência e absurdo em
não remunerar os dirigentes, dado que eles são Cabe destacar que, inclusive, não há impedimento à
necessários à uma boa gestão da en dade e têm remuneração de dirigente estatutário ou diretor que,
necessidade quanto à remuneração frente à natural e cumula vamente, tenha vínculo estatutário e
intrínseca subsistência a ser por eles man da. O autor já emprega cio, exceto se houver incompa bilidade de
chamava a atenção para que a quan a remuneratória jornadas de trabalho.9
vesse um balizamento de mercado ou, mais
especificamente, a referência de um valor pago em A legislação das filantrópicas traz duas considerações
iguais condições naquelas empresas. importantes que, por analogia, recomendamos que seja
aplicada a todas as en dades sem fins lucra vos,
Ressalte-se, ainda, no tocante ao dirigente estatutário, independente de terem o CEBAS ou não. A primeira é a
que a lei determina para a preservação do status observância de um limite de mercado para as
tributário da organização, que ele receba remuneração remunerações, devendo estas serem fixadas em
inferior, em seu valor bruto, a 70% do limite observância aos valores pra cados na região, em sua
estabelecido para a remuneração dos servidores do área de atuação. A segunda, extremamente coerente, é
Poder Execu vo Federal.6 que tais remunerações de dirigentes, estatutários ou
não, sejam deliberadas pelo órgão superior da en dade
E mais, para que se garanta a possibilidade de e que tais decisões constem em ata, sendo que, no caso
remuneração, sem restrições a tulações e implicações das Fundações, tais deliberações devem ser
tributárias, o dirigente não pode ser parente até 3° grau comunicadas ao Ministério Público.10
(sanguíneo ou por afinidade), cônjuge dos ins tuidores,

3 - §1.º, art. 3º da lei complementar nº 187/2021


4 - §1º, art. 29 da lei nº 12.101/2009
5 - BALEEIRO, Aliomar, Direito Tributário da Cons tuição. Publicação nº. 8, do Ins tuto de Direito Financeiro, Rio de Janeiro, 1959, p. 187.
6 - §1º, inciso II, art. 3º da lei complementar nº 187/2021
7 - § 2°, inciso I do ar go 29 da lei nº 12.868/13.
8 - § 2°, inciso II do ar go 29 da lei nº 12.868/13 e §1º, inciso II, art. 3º da lei complementar nº 187/2021.
9 - § 3°, do ar go 29 da lei nº 12.868/13.
10 - §2º, art. 3º da lei complementar nº 187/2021.

14
Quanto ao assunto, o Prof. Roque Antonio Carrazza É importante lembrar que os documentos estratégicos
(2015) esclarece que “a imunidade somente cai por de governança e os norma vos internos de gestão,
terra quando, sob a aparência de salários (aí dentre eles as cons tuições, regras de vidas, polí cas,
compreendidas todas as demais tributações diretrizes e regimentos internos devem estar alinhados
trabalhistas), os funcionários, dirigentes e gestores com tal permissão (remuneração de dirigentes), sendo
forem alvo de verdadeira distribuição de lucros” e, per nente que sejam visitados, rediscu dos e
assim complementa, “é irrazoável, além de ilógico, repactuados, se for o caso, os termos de parcerias
pretender que diretores execu vos trabalhem numa firmados com entes públicos que, pautados na
en dade, ainda que beneficente, na base do legislação orgânica (municipais ou estaduais), seguem
voluntariado, até porque tal entendimento entra em uma interpretação restri va e contrária à legislação
conflito com diretriz apontada no art. 7º, VII, da federal.
Cons tuição Federal”, sendo esta a transcrição da
citação cons tucional: Art. 7º São direitos dos Cabe enfa zar que, no caso dos religiosos,
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: (...) VII - religiosas e clérigos, também é plenamente
garan a de salário, nunca inferior ao mínimo, para os legal a remuneração dos dirigentes por
que percebem remuneração variável. exercício de funções, previstas ou não, no
estatuto das en dades vinculadas.
Assim, no nosso entendimento, é de ampla e total
per nência a remuneração dos dirigentes, sejam estes
estatutários ou não estatutários, desde que a en dade No entanto, entendemos que, independentemente
atente para o norma vo legal que se impõe, com vistas à desta opção (remuneração de dirigentes), a separação
uma efe va gestão e potenciais resultados, bem como, das a vidades socioassistenciais (em geral nas
que se mantenha imaculada no tocante à imunidade associações) das a vidades canônicas (nas organizações
tributária e às isenções usufruídas. religiosas) deva ser formal.

Em resumo, neste caso, os religiosos, as religiosas e os clérigos, podem


ser remunerados por suas funções nas associações (en dades
vinculadas), receber os valores que lhe forem fixados e, pelos votos
evangélicos, no caso dos membros da Vida Religiosa Consagrada,
transferir tais recursos para o ente eclesiás co (organização religiosa).

15
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Gerenciais) de performance.

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na a vidade fim, no carisma e na essência de sua missão.
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Documentação contábil

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estatutária e de mandatos. sistema de proteção de crédito.

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fiscal quanto as cer dões nega vas.

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O BEM-ESTAR NO AMBIENTE DE TRABALHO

Por Sebastião V. Castro, Dr1

1 - Psicólogo, Doutorado em Polí cas Públicas, Diretor do Axis Ins tuto

18
Introdução

Não são de hoje as discussões acerca de como deve ser o ambiente


de trabalho nas organizações para os empregados produzirem
melhor. Nem sempre a questão do bem-estar ou do “bem-sen r”
está presente nesses debates. Numa visão instrumental das
condições subje vas dos funcionários, o “sen r-se bem” teria,
como fim úl mo, o produzir mais e melhor. Os inúmeros estudos de
clima organizacional, ao longo do úl mo século, perguntam-se
exatamente isso: como deve ser o clima da ins tuição para que a
produção seja beneficiada?2 Bancados pelas maiores corporações
do planeta, tais estudos, em sua maioria, têm sido bastante
limitados, parciais e recortados, a par r da questão acima, isto é,
um bom clima leva a uma melhor produção. O verdadeiro estado
psíquico dos empregados, o seu bem-estar “real” tem importado
pouco, para a maioria das organizações.

No entanto, a par r do conhecimento de que cada pessoa é um ser


“integral”, que não “se desliga” do seu mundo pessoal, interior e
exterior “extra-trabalho” (ou seja, as coisas que faz fora do
ambiente de trabalho), quando chega na empresa, as pesquisas
mais recentes têm buscado inves gar os estados psíquicos
“inteiros” da pessoa, e não apenas aquela parte deles mais
diretamente envolvidos no trabalho. Ou seja, os olhares dos
estudiosos têm se voltado para a inteireza da pessoa, a par r da
constatação de que o seu trabalho e o seu desempenho profissional
são afetados por esse estado “completo”. Neste sen do, tem
ganhado destaque o conceito de bem-estar no trabalho como algo
que é afetado pelo “restante” da vida da pessoa e que, por seu
turno, afeta essa “outra parte”; exemplificando: um péssimo
ambiente de trabalho causará danos ao empregado não só no
momento, nas horas do seu trabalho, mas também fora da
empresa, podendo afetar a sua vida como um todo.

2 - Para ampliar o conhecimento sobre clima organizacional, sugiro a leitura do livro, de minha autoria, “Gestão de Pessoas em Ins tuições Confessionais”,
disponível na plataforma do Axis. h ps://plataforma.axisins tuto.com.br/categoria-produto/livros/

19
Ambiente de trabalho como provedor de
bem-estar

Na vida contemporânea, e descartada alguma mudança


nos regimes de trabalho – de presencial para remoto,
voltando ao híbrido e ao presencial – durante a
pandemia de Covid-19, a maior parte da chamada “vida
produ va” da pessoa é passada em ambientes
corpora vos. Com as 8 ou 9 horas diárias de trabalho,
mais os períodos de deslocamento para o trabalho,
cerca de 10 a 12 horas por dia, para o trabalhador
regular, são devotadas ao trabalho, o que significa,
grosso modo, metade do dia completo, ou cerca de 75%
das horas a vas do dia. Esse grande número de horas
“ao redor do trabalho” acaba por ter um “peso”
relevante na vida de cada um.
Neste sen do, a questão que se deveria colocar é: o
ambiente de trabalho deve ser um provedor de bem-
estar para o trabalhador, considerando o seu bem-estar
psíquico e a sua produ vidade ou o empregador não
tem qualquer responsabilidade ou consideração de
ordem moral para proporcionar bem-estar, já que lhe
interessa, tão somente, a parcela produ va de cada
trabalhador? E, ainda, o trabalho em si mesmo, ou seja,
aquilo que efe vamente se faz, se executa, em qualquer
área deve ser fonte de sa sfação e contentamento para
quem o executa, ou essa questão não tem relevância,
uma vez que o que a empresa busca é a mera execução
de tarefas ligadas a uma profissão ou cargo?
Examinemos a primeira questão, a ligada ao ambiente
de trabalho ou, mais tecnicamente, ao clima
organizacional como provedor de bem-estar. Diversos
fatores estão implicados no clima, no ambiente de
trabalho; múl plos fatores o compõem ou são afetados
por ele. Um equilíbrio entre todos os fatores de clima
(mais de duas dezenas deles) pode representar um
importante ganho para a empresa, na medida em que,
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num ambiente respeitoso e agradável, a produ vidade


tende a aumentar, como mostram estudos múl plos, ao
longo de décadas. A dimensão cole va – clima – afeta a
dimensão individual, ou seja, cada indivíduo.

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Quanto à segunda questão, se o empregador tem ou
não algum compromisso moral em proporcionar bem-
estar aos empregados, o foco dos estudos, até bem
recentemente, recaía sobre o “interesse” do
empregador: se ele se interessa por melhor
produ vidade, provavelmente vai prover ambientes ou
oportunidades laborais que propiciem bem-estar ao
trabalhador. Nessa abordagem, o bem-estar do
empregado é instrumental em relação à produ vidade,
por ter uma relação proporcional direta com ela. Por
outro lado, hoje, discute-se se, do ponto de vista moral,
ao perceber, o empregador, que 75% do tempo a vo do
funcionário é vinculado, de algum modo, à empresa,
talvez ele, empregador, veja um impera vo moral em
proporcionar ambientes saudáveis, respeitosos, limpos
e pautados por relações interpessoais sadias. Essa seria
a razão intrínseca para proporcionar ambientes de
trabalho saudáveis, ao invés de tantos ambientes
tóxicos como se vê, hoje. Não haveria, neste caso,
nenhuma vinculação direta, ou interessada, com a
produ vidade. Essa seria a empresa é ca, responsável,
madura, justa. Ins tuições católicas maduras e
responsáveis se “encaixam” nesse perfil. Um bom
número de empresas laicas também já se posicionam
desta forma.
Quanto ao terceiro ponto, o contentamento em relação
ao trabalho está, por sua vez, mais diretamente
relacionado a fatores individuais, ao gosto de cada
funcionário e ao seu perfil pessoal e laboral. A área de
seleção de pessoas se preocupa, por exemplo, em
encontrar o candidato certo para a vaga certa, isto é,
procura cruzar os requisitos do cargo com as habilidades
e competências do candidato à vaga. Quando esses
fatores coincidem, aumenta a probabilidade de o
trabalhador ter contentamento com o seu trabalho.
Neste sen do, seu bem-estar pessoal é mais provável. E,
ainda, considerando quantas horas por dia passa
“fazendo o seu trabalho”, e durante tantos anos de sua
vida, esse sen mento de “bem-estar” pode evoluir para
um sen mento eudaimônico com o trabalho, tornando
a pessoa feliz por fazer o que faz, por ser quem é, em
termos profissionais e pessoais, já que uma dimensão
transborda para a outra. O profissional pode a ngir a
sua plenitude, com o trabalho sendo parte essencial
desse “estado de felicidade eudaimônica”.

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Do bem-estar laboral para o “bem-ser” laboral e pessoal


O estado de bem-estar pode ser visto como um meio para se a ngir fins como
felicidade, sucesso, empoderamento, fama, respeito e consideração social, etc. Em
termos mais concretos, o bem-estar está relacionado à pessoa ter saúde, segurança,
lazer, moradia, férias, oportunidades de formação, dentre outros fatores.

Dos primórdios da revolução industrial, quando o empregado não nha


absolutamente qualquer bem-estar no ambiente de trabalho, aos dias de hoje, com
os avanços sociais e legisla vos de proteção ao trabalhador, à sua família, à criança,
aos mais vulneráveis, dentre outros grupos “atropelados” pelo “progresso”, vemos
grandes e significa vos avanços, não só no ambiente laboral, mas na sociedade em
geral, no tocante à grada va melhoria do bem-estar de funcionários, em empresas
de todos os portes e de todos os segmentos. Conquanto sejam ainda verificadas
constantes “quebras” e violações desse contrato social, é cada vez mais socialmente
percebida a importância de as corporações se preocuparem com o bem-estar de seus
empregados.

O bem-estar vinculado ao bom ambiente de trabalho e, ainda, ligado ao


contentamento com o que se faz, como já exposto, pode levar a pessoa a um estado
de “bem-ser” profissional e pessoal, isto é, a uma experiência duradoura e perene de
plenitude, de felicidade eudaimônica, de sen mento de completude, de a ngimento
de propósito, “preenchendo” a pessoa/profissional de modo posi vo. E,
considerando, uma vez mais, a relevância do trabalho para a vida de todos nós, a
busca por esse estado de “bem-ser” pode ser um caminho para o equilíbrio interno,
para a paz interior. Em outras palavras, seres humanos felizes com o seu trabalho,
com as suas realizações no campo profissional, são pessoas mais “inteiras”, mais
completas, mais equilibradas e felizes.

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Mas a ins tuição precisa ter algum “compromisso”
com a felicidade dos seus empregados?

Se pensarmos as ins tuições, mormente as católicas, Esse sen mento de realização contribui para o bem-
como “Obras para pessoas”, construídas por pessoas, estar de cada um e para a sua felicidade profissional e
seria óbvio concebermos essa responsabilidade ou pessoal. Isso, no entanto, no mundo capitalista
compromisso ins tucional com a felicidade ou, no “selvagem” frequentemente não ocorre. Seja por
mínimo, com o bem-estar, também dos funcionários. A miopia empresarial, seja por ganância, seja por
coerência interna começaria por aí, ou seja, se a Obra perversidade ou egoísmo, os ambientes de trabalho
trabalha para a promoção da vida da criança, do jovem, têm se tornado cada vez mais tóxicos. Longe de se
do adolescente, ou de quem quer que seja, coerente preocuparem, de forma genuína e autên ca, com o
seria que também se ocupasse da promoção da vida de bem-estar dos empregados e dos parceiros, muitas
quem contribui com seu propósito ins tucional. Assim, o rga n i za çõ e s c r i a m a m b i e nte s co m p e vo s
seus empregados seriam também “merecedores” de tal desrespeitosos, ambientes egoístas, amorais, “pobres”
promoção humana que, aqui, pode ser entendida, pelo e desqualificadores, reduzindo os empregados, muitas
menos em parte, como o bem-estar pessoal e vezes, a “coisas”, mecanismos, negando-lhes dignidade,
profissional e a felicidade de quem ali labora. respeito e consideração.

Quando se verifica essa coerência entre o interno e o Por conseguinte, tais organizações contribuem para o
externo, entre a elaboração e o resultado, toda a Obra se adoecimento sico e psíquico dos seus empregados.
fortalece. Inúmeras pesquisas de clima realizadas, ao Isso desemboca na infelicidade de muitos. E então, o
longo de mais de duas décadas, pelo Axis Ins tuto, junto mundo do trabalho passa a ser o mundo do sofrimento,
a Obras católicas, mostram que quando se verifica essa da angús a, da perda de autoconfiança, de
coerência, ou seja, quando a Obra trata “bem”, de forma depauperamento da autoes ma. Para além da “quebra”
justa e honesta, os seus funcionários, como trata os seus da produção, “quebram-se” os espíritos, as vontades, as
alunos ou beneficiários ou pacientes (em hospitais), os boas-vontades, os sonhos, as esperanças. E isso,
funcionários se sentem muito “realizados”, com o evidentemente, contribui para o adoecimento social,
sen mento fortalecido de estarem trabalhando para para o esfacelamento das relações interpessoais e
um propósito maior, qual seja, a Missão da Ins tuição comunitárias, para a corrosão e o destroçamento do
Católica. tecido social mais amplo.
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23
Resgatando o humano
nas organizações

Temos chamado a atenção, em ar gos,


cursos e seminários, para o fato de que
gestão de pessoas é responsabilidade de
todas as lideranças das organizações. E para o
fato de que tal gestão precisa ser inclusiva, a
par r da criação e do fortalecimento da
coesão e da confiança interna, tanto das
pessoas em si mesmas, quanto confiança na
própria ins tuição.

Resgatar o humano significa, apenas,


reconhecer que o cerne das ins tuições são
as pessoas, suas vidas, seu suor, seus
esforços, sua inteligência. Todos os
processos, equipamentos, estruturas sicas,
produção, toda a concretude que se tem,
tudo é criado pelo ser humano e tem como
propósito e alvo também seres humanos,
eventualmente chamados de consumidores,
clientes, etc. Numa dimensão mais ampla, o
foco das empresas é a sociedade, a vida das
pessoas, em seus diversos arranjos. Não há
sen do, pois, em não se reconhecer o caráter
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humano de todos os empreendimentos, em


todas as áreas.

24
Como atores sociais importantes, as
organizações precisam “redescobrir o
humano” em seus funcionários; como
“motores da economia” essas ins tuições,
todas elas, precisam resgatar a “economia
humana”, humanizar a economia, como tem
exortado o Papa Francisco, colocando a
economia a serviço da vida, e não esta a
serviço daquela. Ceifar as organizações de
seu caráter humano não é nem inteligente,
nem moralmente aceitável, na medida em
que estarão, caso o façam, ou persistam em
con nuar fazendo-o, criando um mundo
cada vez mais árido, sociedades cada vez
mais insanas e desequilibradas, relações
humanas cada vez mais esvaziadas de seus
conteúdos espirituais, afe vos e é cos.
Sociedades doentes, desajustadas, não
farão a economia florescer. Pelo contrário,
significará o ocaso de toda a vida, para a
qual, então, a economia não fará mais
qualquer sen do.
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, ‘‘Perda de Alunos nas


Escolas Católicas’’ e ‘ Governança, Compliance e Riscos’’.

25
CURSO
POR
IMERSÃO
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CURSO PRESENCIAL

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MAIOR SEGURANÇA NAS ESCOLAS:


ESTRATÉGIAS E SOLUÇÕES EFICIENTES

Por Marcelo Augusto Torres Moreira, Espec.1

1 - Diretor Execu vo da Notum

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Introdução

Em meio a um cenário em constante transformação, a segurança nas


escolas surge como um pilar fundamental para garan r um ambiente
propício ao aprendizado. Este ar go propõe desbravar os aspectos
cruciais que permeiam a temá ca da segurança escolar, delineando
estratégias e abordagens eficazes, enfa zando o papel de todos os
membros da comunidade escolar na construção de um ambiente
seguro.

Dentre os tópicos abordados, estão a avaliação e o gerenciamento de


riscos, destacando-se como alicerces primordiais dentre as demais
estratégias de segurança. Ao final, será possível constatar que a
segurança escolar não é um projeto está co, mas um processo
dinâmico que requer monitoramento, revisão e adaptação
constantes.

O texto também trata sobre o papel vital da comunicação e da


cooperação entre a escola, a família e a comunidade, demonstrando
como esses três pilares, quando trabalhados em conjunto,
fortalecem a segurança escolar e criam um ambiente de aprendizado
mais seguro e acolhedor.

Outro ponto crucial discu do é o treinamento em gerenciamento de


crises e a preparação para emergências, apontando a necessidade de
capacitar todos os envolvidos, incluindo o corpo docente, os demais
funcionários, os pais e os alunos, com as habilidades necessárias para
lidar efe vamente com situações de emergência.

O ar go ainda aborda a importância da implementação de polí cas


de segurança escolar, ilustrando como a formulação e comunicação
eficazes dessas polí cas podem ajudar a prevenir incidentes e a
responder de maneira adequada quando ocorrerem.

Por fim, o trabalho ressalta o papel vital dos alunos na promoção da


segurança e do bem-estar nas escolas, incen vando o
reconhecimento dos alunos como par cipantes a vos na criação e
manutenção de um ambiente seguro.

Este ar go se propõe a ser um recurso importante, visando fomentar


uma abordagem colabora va e proa va para a segurança escolar,
essencial para o desenvolvimento educacional no século XXI.

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Avaliação e gerenciamento de riscos nas escolas

No contexto da segurança escolar, a avaliação de riscos surge como a


primeira linha de defesa, formando a base sobre a qual todas as outras
estratégias de segurança são construídas. Esta avaliação me culosa das
potenciais ameaças e vulnerabilidades dentro de uma ins tuição de ensino
serve para trazer à luz áreas de preocupação antes que elas evoluam para
problemas mais graves. Por exemplo, uma avaliação de risco pode
iden ficar a necessidade de maior supervisão em áreas específicas da
escola, ou uma polí ca mais forte contra o bullying.

No entanto, a avaliação de riscos não deve ser vista como um exercício


único. Na verdade, ela é um processo con nuo que precisa ser revisto e
atualizado regularmente. Escolas são organismos dinâmicos, com novos
estudantes, professores e funcionários entrando a cada ano, além de
possíveis mudanças na infraestrutura. Portanto, uma avaliação de riscos
precisa ser flexível o suficiente para se adaptar a essas mudanças e robusta
o suficiente para con nuar fornecendo conhecimentos valiosos sobre a
segurança escolar (Borum et al., 2010).

A gestão de riscos, que se segue à avaliação de riscos, é um processo


estratégico de implementação de medidas para prevenir, mi gar e
responder aos perigos iden ficados. Isso pode abranger uma variedade de
ações, desde mudanças sicas na escola, como melhorar a iluminação ou a
supervisão de áreas específicas, até a implementação de polí cas e
programas que visam resolver problemas psicossociais, como a violência e
o bullying. Esses problemas, embora menos tangíveis do que questões de
infraestrutura sica, têm um impacto significa vo no bem-estar dos alunos
e na cultura geral de segurança da escola (Espelage & Swearer, 2003).

Para que essas estratégias de gestão de riscos sejam eficazes, é essencial a


par cipação de todos os membros da comunidade escolar. A segurança não
é responsabilidade exclusiva da administração da escola ou do corpo
docente; é um esforço cole vo que exige o envolvimento a vo de todos,
incluindo alunos e pais. A iden ficação de riscos, a implementação de
medidas preven vas e a resposta a situações de emergência são tarefas que
requerem a colaboração e cooperação de todos. Nesse sen do, a gestão de
riscos também contribui para a construção de uma comunidade escolar
mais unida e resiliente.

Em suma, a avaliação e a gestão de riscos são componentes essenciais para


a segurança nas escolas. Este é um processo con nuo que requer um alto
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nível de vigilância, a capacidade de se adaptar às mudanças e a cooperação


de toda a comunidade escolar. Uma escola segura é o resultado de uma
comunidade que se preocupa cole vamente com a segurança e o bem-
estar de todos os seus membros.

30
A Importância da Comunicação e Cooperação
entre Escola, Família e Comunidade na
Segurança Escolar

A comunicação e a cooperação eficazes entre a escola, a


família e a comunidade desempenham um papel central na
promoção da segurança escolar. Nesse contexto, a segurança
não depende apenas das medidas internas tomadas pela
administração da escola e pelo corpo docente, mas também
das relações que a ins tuição mantém com as famílias dos
alunos e a comunidade em geral.

A família tem um papel crucial, pois os pais e responsáveis


podem fornecer informações valiosas sobre o
comportamento e as a tudes de seus filhos, que podem ser
indica vos de problemas subjacentes que podem afetar a
segurança escolar. Além disso, um lar que apoia a educação e
os valores educacionais pode reforçar as medidas de
segurança adotadas pelo colégio (Kim & Sheridan, 2015).

Ao mesmo tempo, a comunidade em geral também tem um


papel importante a desempenhar. Os membros da
comunidade podem atuar como olhos e ouvidos adicionais
para a escola, observando e relatando comportamentos
suspeitos ou preocupantes.

Além disso, as ins tuições de ensino podem colaborar com


organizações comunitárias locais, como departamentos de
polícia e comércios, para desenvolver e implementar
estratégias de segurança mais amplas e eficazes (Thapa et al.,
2013).

A comunicação aberta e transparente é a chave para fomentar


a cooperação efe va entre a escola, a família e a comunidade.
Os colégios devem manter as famílias e a comunidade
informadas sobre suas polí cas e procedimentos de
segurança, bem como quaisquer incidentes de segurança que
possam ocorrer. Em contrapar da, as famílias e a comunidade
devem se sen r confortáveis e encorajadas a comunicar suas
preocupações e observações à escola.

A segurança escolar é um esforço cole vo que exige a


par cipação a va de todos os membros da comunidade
escolar, incluindo a família e a comunidade em geral. A
comunicação e a cooperação eficazes entre todos esses
atores são essenciais para criar um ambiente seguro.

31
Treinamento em Gerenciamento de Crises e Preparação para Emergência

É crucial que as escolas estejam preparadas para lidar com


emergências e crises que possam surgir. Uma resposta eficaz a
tais situações muitas vezes pode fazer a diferença entre um
incidente con do e uma tragédia. É aqui que entra o
treinamento em gerenciamento de crises e preparação para
emergências, uma componente essencial de qualquer
estratégia de segurança robusta (Brock et al., 2009).

O treinamento em gerenciamento de crises fornece as


competências necessárias para lidar efe vamente com uma
variedade de situações de crise, desde incidentes de violência
até desastres naturais. Por meio deste treinamento, os
funcionários aprendem a avaliar rapidamente uma situação
de crise, a tomar decisões informadas, sob pressão, e a
executar ações de resposta adequadas (James & Gilliland,
2013).

Por outro lado, a preparação para emergências envolve a


criação e implementação de planos de emergência. Esses
planos delineiam as ações a serem tomadas em resposta a
diferentes pos de emergências, designam responsabilidades
específicas a cada integrante do corpo docente e estabelecem
procedimentos de comunicação e evacuação. O obje vo é
garan r que, no caso de uma emergência, todos os envolvidos
saibam exatamente o que fazer para manter a segurança e a
ordem (Fein et al., 2002).

Porém, o treinamento e a preparação para emergências não


devem se limitar aos funcionários da escola. Os alunos
também devem ser incluídos nesses processos, ensinando-os
a agir apropriadamente em situações de emergência e a
reconhecer comportamentos ou situações de risco. Este
envolvimento dos alunos não só melhora a eficácia das
respostas em situações de emergência, mas também
promove uma cultura de segurança entre os estudantes
(Brock et al., 2009).

O treinamento em gerenciamento de crises e a preparação


para emergências são componentes indispensáveis na
construção de um ambiente escolar seguro. Ao preparar tanto
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os funcionários da escola quanto os alunos para lidar com


situações de emergência, é possível minimizar a desordem e
garan r a segurança de todos.

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Implementação de Polí cas de Segurança Escolar

A segurança escolar não é um conceito está co, mas sim um processo dinâmico que envolve a
implementação de polí cas eficazes e relevantes. Segundo a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2009), essas polí cas devem contemplar a prevenção,
intervenção e resposta a situações de risco e emergências.

A implementação de polí cas de segurança escolar deve ser embasada em uma avaliação de risco
abrangente e acurada, considerando a complexidade das ameaças que podem afetar a ins tuição.
Elas devem abranger desde protocolos de segurança sica até estratégias de apoio psicossocial,
passando por planos de gerenciamento de crises e estratégias de engajamento da comunidade
escolar (Thapa et al., 2013).

Todavia, polí cas bem redigidas e abrangentes não são suficientes por si só. A comunicação eficaz
dessas polí cas para todos os membros da comunidade escolar é fundamental para que sejam
compreendidas e seguidas (Cornell & Mayer, 2010). Estudantes, funcionários, professores e pais
precisam estar cientes dos procedimentos de segurança, dos seus papeis e responsabilidades.

Além disso, é essencial que haja um sistema de monitoramento e avaliação con nuos dessas
polí cas de segurança. Dessa forma, será possível iden ficar lacunas, fazer ajustes e melhorar
con nuamente as prá cas de segurança, tornando-as mais eficazes.

A implementação dessas polí cas é uma etapa importante para garan r um ambiente propício ao
aprendizado e isso requer planejamento, comunicação eficaz, monitoramento e compromisso
con nuo de toda a comunidade escolar.

33
Envolvimento dos Alunos na
Promoção da Segurança e Bem-estar

A ideia de que a segurança é responsabilidade exclusiva Considerações Finais


dos adultos é um equívoco. Na verdade, os alunos
desempenham um papel fundamental na promoção da A segurança escolar é uma responsabilidade que deve
segurança e do bem-estar nas escolas. De acordo com ser compar lhada por todos os membros da
um relevante estudo da área, o envolvimento dos comunidade, desde os administradores até os alunos. É
alunos em questões de segurança é vital para a criação fundamental que o colégio seja um ambiente seguro e
de um ambiente de aprendizado seguro (Karcher & Lee, acolhedor, tanto sica quanto emocionalmente e, para
2002). alcançar esse obje vo, ações efe vas e uma abordagem
proa va devem ser adotadas.
Os alunos são muito mais do que apenas des natários
passivos das polí cas de segurança escolar. Eles são A avaliação e o gerenciamento de riscos devem ser
observadores a vos e par cipantes em seu ambiente e priorizados para garan r a preparação necessária para
têm uma compreensão única dos desafios e problemas lidar com possíveis ameaças. Além disso, a comunicação
que podem surgir (Borum et al., 2010). Incen var os e cooperação entre a escola, a família e a comunidade
alunos a compar lhar suas percepções e experiências são fundamentais para a construção de um ambiente
pode revelar percepções valiosas e, com isso, formar seguro.
estratégias de segurança mais eficazes.
O treinamento em gerenciamento de crises e a
A par cipação dos alunos também se estende à preparação para emergências são essenciais para
prevenção do bullying, um problema persistente que garan r que a escola esteja pronta para lidar com
afeta a segurança e o bem-estar dos alunos no mundo situações adversas. A implementação de polí cas de
todo. A pesquisa demonstrou que os esforços de segurança escolar eficazes deve ser priorizada.
prevenção do bullying são muito mais eficazes quando
os próprios alunos estão envolvidos (Olweus, 1993). Os alunos também devem ser reconhecidos como
par cipantes a vos no processo de criação e
Por fim, a promoção de habilidades socioemocionais manutenção de um ambiente escolar seguro. Eles não
entre os alunos é uma estratégia importante. Estudos devem ser vistos apenas como beneficiários, mas como
sugerem que a educação socioemocional pode reduzir agentes de mudança.
comportamentos de risco, melhorar as habilidades de
resolução de conflitos e promover a empa a e o É importante lembrar que a segurança é um processo
respeito entre os alunos (Zins et al., 2004). con nuo que requer revisão e adaptação constantes. As
escolas devem estar dispostas a aprender com as
Em resumo, os alunos têm um papel importante a experiências, a ouvir os membros da comunidade e a
desempenhar na promoção da segurança e bem-estar adaptar as estratégias à medida que novas informações
nas escolas. O envolvimento a vo deles não apenas e desafios surgem.
melhora a eficácia das estratégias de segurança, mas
também promove uma cultura de respeito e
responsabilidade compar lhada.

34
Em resumo, a segurança escolar é uma prioridade
e deve ser uma preocupação constante.
Trabalhando juntos, os envolvidos podem
garan r que a escola seja um ambiente seguro,
acolhedor e propício à aprendizagem.

Marcelo Augusto Torres Moreira, Espec.

Diretor Execu vo da Notum, organização especializada em protocolos de emergência para situações


de crise em ins tuições de ensino; bacharel em Comunicação Organizacional pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná; especialista em Gestão Estratégica e mestrando em Gestão,
Empreendedorismo e Inovação pela Universidade do Algarve em Portugal.

REFERÊNCIAS

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Imagem: Pixabay

A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL NO PRESBITÉRIO:


CUIDANDO DOS LÍDERES RELIGIOSOS

Por Laudinha Dornelas, Espec.1

1 - Psicóloga Clínica; Professora no Centro Universitário Univér x.

36
34
INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002) a definição de


“saúde mental” sofre interferência quando diferenças culturais,
julgamentos subje vos e teorias relacionadas concorrentes
atuam de forma direta ou indireta nessa definição. Quando se
usa a expressão “saúde mental”, está se definindo o nível de
qualidade de vida mental e emocional que o indivíduo possui e o
equilíbrio que faz no uso de suas faculdades mentais, tornando o
conceito de saúde mental bem mais amplo e complexo do que
simplesmente relacionar esse conceito a transtornos mentais
(BRASIL, 2016).2

A saúde mental tornou-se, assim, um tema relevante e de ampla


discussão, seja pela sociedade, seja pelos profissionais da área.
A preocupação com o bem-estar emocional e psicológico das
pessoas tem crescido consideravelmente, e isso inclui aqueles
que exercem liderança religiosa, como os membros do
presbitério. O presbitério desempenha um papel fundamental
nas igrejas, oferecendo direção espiritual, liderança e suporte à
comunidade. No entanto, é essencial que esses líderes também
cuidem de sua própria saúde mental para con nuarem servindo,
de maneira eficaz e saudável. Neste ar go, exploraremos a
importância da saúde mental no presbitério e destacaremos
algumas estratégias para promovê-la.

2 - OMS-Organização Mundial da Saúde. Ministério da Saúde. Relatório Mundial da Saúde. Saúde mental: nova concepção, nova esperança. 1.ª edição,
Lisboa, Abril de 2002.

37
SAÚDE MENTAL NO PRESBITÉRIO:
UM OLHAR FRATERNO

Oliveira e Junges (2012)3 inves garam sobre a saúde mental e


espiritualidade/religiosidade na visão de psicólogos e estes relataram
que espiritualidade/religiosidade, quando bem integradas na vida do
sujeito, contribuem de forma posi va para a sua saúde mental; e
apontaram a relevância em criar espaços de discussão e
esclarecimentos sobre os conceitos de espiritualidade/religiosidade e
sua relação com a saúde mental.

A vida sacerdotal é composta de muitos desafios; muitos padres ficam


chocados com a realidade que encontram ao assumirem uma
paróquia, ou ficam surpresos com a responsabilidade que é ser
sacerdote; travam uma batalha interna e se fecham às questões
pessoais; nesse momento a psicoterapia pode se tornar uma aliada,
orientando-os em assuntos ín mos e par culares, para os ajudar a
manterem a sua vocação.

A psicoterapia poderá ser uma grande aliada na resolução de conflitos


emocionais, além de contribuir, junto a cada um, para o seu
autoconhecimento. A preparação eclesial é delicada; precisa ser
cercada de cuidados, e o indivíduo em preparação para o o cio de
padre deve conhecer bem as dificuldades que cerca essa profissão,
estar preparado para os desafios e ser forte o suficiente para viver os
conflitos que, com certeza, irão fazer parte dessa escolha (PINTO,
2018)4.

Uma boa saúde mental no presbitério é essencial para garan r o bem-


estar dos líderes e, consequentemente, o funcionamento adequado da
comunidade religiosa. Quando os membros do presbitério estão com a
saúde mental em equilíbrio, eles são capazes de oferecer um suporte
mais eficaz aos membros da igreja, tomar decisões fundamentadas,
lidar com conflitos de maneira constru va e manter um ambiente de fé
Imagem: Pixabay

e esperança. Além disso, líderes religiosos com saúde mental posi va


também servem como modelos para os membros da congregação,
incen vando-os a cuidar de sua própria saúde mental.

3 - OLIVEIRA, M. R.; JUNGES, J. R. Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Rev. Estudos de Psicologia.
Universidade do Vale do Rio dos Sinos. v.17, n.3, p. 469-476. 2012.
4 - PINTO, E. B. Padres em Psicoterapia: esclarecendo singularidades. 5ª ed. São Paulo. Editora Ideias & Letras. SP. 2018.

38
Em carta aberta enviada ao Santo Padre Papa Francisco, em 30
de dezembro de 2020, preocupada com os desfechos da
pesquisa cien fica que ora iniciara para a conclusão de curso,
coloquei em minhas palavras o meu coração e a minha
preocupação com o tema, que tratava da doença mental no
presbitério, e em reposta a esta carta o Santo Padre me agracia
com a seguinte mensagem, citando Madre Tereza de Calcutá; o
Papa Francisco escreve:
“Mas por onde começar? Por e por mim, respondeu
ela”. Tinha vigor aquela mulher! Sabia por onde
começar. Hoje eu roubo a palavra a Madre Tereza e
digo também a você: Começamos? Por onde? Por e
por mim! Cada um, em silêncio, se interrogue: se devo
começar por mim, por onde começo? Cada um abra o
seu coração, para que Jesus lhe diga por onde
c o m e ç a r. S e e s v e r m o s v e r d a d e i r a m e n t e
enamorados de Cristo e sen rmos o quanto ele nos
ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria
que contagiará quem es ver ao nosso lado.”

Eduardo Braga e Silva em “A Dor Visível dos Homens Invisíveis”,


escreve sobre a rede de apoio que ampara e acolhe o homem
religioso e acrescenta:
“o homem se manifesta em toda sua mul plicidade
em seus atos sociais. O homem religioso, que carrega
em si uma vocação ao serviço, não pode se eximir de
contar e fazer uso de suas redes de apoio para uma
vivência saudável em sua vida humana em seu
ministério pastoral! Que comece a par r de todos, e
cada um de nós!”

5 - Capítulo III, Prevenção, Fatores de Proteção e Caminhos de Esperança, p.100.

39
O IMPACTO DA PANDEMIA NA seja pela força espiritual ou pela fé que têm. Mas os
religiosos são humanos e precisam se fortalecer para
SAÚDE MENTAL DO PREBISTÉRIO con nuar nessa missão de ajuda e acolhimento a
outros. A carga de responsabilidade e a sustentação
para con nuar nessa missão são grandes, e o apoio, por
Não se pode descartar que, com a pandemia, os que não, pode vir de profissionais devidamente
agravamentos relacionados à saúde mental foram preparados para orientá-los a seguir sua missão.
ampliados; a busca por psicólogos ou profissionais da
área foi mais expressiva. Nascimento (2021)6 explica
que, com a pandemia, aqueles com função de cuidador, Assim, refle r sobre a saúde mental tem sido algo atual
ficaram com maior fragilidade mediante os apelos e e necessário para a vida de todos, igualmente para os
sofrimentos da sociedade e, no meio presbiterial, não padres, que precisam se entregar à sua vocação e
foi diferente. Pe Euder7, afirma que: passam a vida lidando com conflitos e enfrentando
"A gente costuma dizer que o padre é um desafios, além das renúncias, para seguir na vida
homem que cura, por causa do cuidado. religiosa e, sobretudo, seguir os caminhos de Cristo.
Mas, o homem que cuida também é ferido,
ele também precisa ser cuidado. E é claro,
ele precisa ser cuidado pela própria Igreja, A vocação para o sacerdócio precisa ser algo
pelos irmãos presbíteros, dentro da sua sacramentado, em que a fé fique acima de todos os
d i o ce s e , te r o c u l vo d a p a sto r a l obstáculos porque, caso contrário, o presbítero não
presbiteral". suportará os desafios a que são subme dos, desde a sua
formação rigorosa até o exercício da profissão, que
coloca sempre à prova sua vocação. O padre é uma
Par ndo dessa afirma va, é importante e necessário referência religiosa dentro da igreja, para os seus fiéis;
que quem cuida esteja melhor, psiquicamente, do que portanto, a sua conduta precisa ser exemplar e isso o
aquele que é cuidado; nesses casos, a saúde mental torna alvo constante frente aos desafios e conflitos que
precisa ser observada e não se pode negar que, na enfrenta, mediante as exigências de sua profissão. "Em
pandemia, a busca por orientação, apoio e acolhimento, muitos casos, a fé pode não ser forte o suficiente para
principalmente dentro dos grupos religiosos, foram superar momentos di ceis", afirma Pinto (2018, p.2)8
mais constantes e isso exigiu mais serenidade e
compreensão daqueles que estão nessa função, como
os sacerdotes, e, ao mesmo tempo, maior equilíbrio Longe de fazer afirmações que atribuem dificuldades
para amparar aqueles que lhes buscavam. em relação à igreja ao lidar com questões de saúde
mental, fica evidente, porém, a necessidade de a igreja
repensar as questões relacionadas à saúde mental dos
A maioria das pessoas busca, através da religião, padres, promovendo um trabalho de prevenção e
soluções para seus problemas e dificuldades pessoais e cuidado, entendendo a singularidade da profissão e da
acreditam que os padres possam solucionar seus atuação dos sacerdotes.
problemas, independentemente do po de problema,

6 - NASCIMENTO, Cléo "Quem cuida precisa de cuidados": o desafio dos padres para cumprir o ministério e manter a saúde mental.
Disponível em: h ps://www.agenciasignis.org.br/no cias/igreja/2021/09/quem-cuida-precisa-de-cuidados-o-desafio-dos-padres-para-cumprir-o-ministerio
-e-manter-a-saude-mental. Acessado em: 06 de jun. 2023.
7 - Presidente da Organização dos Seminários e Ins tutos do Brasil (OSIB) Leste citado por NASCIMENTO, Cléo "Quem cuida precisa de cuidados": o desafio dos
padres para cumprir o ministério e manter a saúde mental. Disponível em: h ps://www.agenciasignis.org.br/no cias/igreja/2021/09/quem-cuida-precisa
-de-cuidados-o-desafio-dos-padres-para-cumprir-o-ministerio-e-manter-a-saude-mental. Acessado em: 06 de jun. 2023.
8 - PINTO, E. B. Padres em Psicoterapia: esclarecendo singularidades. 5ª ed. São Paulo. Editora Ideias & Letras. SP. 2018.

40
34
ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A SAÚDE MENTAL NO PRESBITÉRIO

Alguns cuidados podem ser recomendados para os padres:

· Autoconhecimento e autocuidado: os · Apoio mútuo e supervisão: é fundamental


líderes religiosos devem buscar um maior estabelecer uma rede de apoio dentro do
entendimento de si mesmos, de suas presbitério, onde os líderes possam
necessidades e limitações. Isso envolve compar lhar suas preocupações, desafios
dedicar tempo para a vidades que e sucessos. Reuniões regulares de
promovam o autocuidado, como exercícios supervisão, lideradas por um profissional
sicos regulares, meditação, leitura qualificado em saúde mental, podem
inspiradora e hobbies prazerosos. É oferecer um espaço seguro para a
importante que os presbíteros também expressão de emoções e o recebimento de
estabeleçam limites saudáveis em seu feedback constru vo. Isso também permite
trabalho, aprendendo a dizer "não" quando que os líderes recebam o apoio necessário
necessário e delegando responsabilidades. para lidar com as demandas da função.

O importante de tudo isso é dar a devida importância à temá ca sobre saúde mental;
assim, refle r sobre esse assunto tem sido algo atual e necessário para a vida de todos,
e igualmente para os padres, que precisam se entregar à sua vocação e passam a vida
lidando com conflitos e enfrentando desafios, além das renúncias, para seguir na vida
religiosa e, sobretudo, seguir os caminhos de Cristo.

Maria Elaudinézia Dornelas de Sousa, Espec.


(Laudinha Dornela)
Psicóloga Clínica, Palestrante, Apresentadora na Evangelizar TV, Mestranda em Ciências da Religião,
Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior, Professora no Centro Universitário Univér x.

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IMPLEMENTANDO A POLÍTICA DA
QUALIDADE EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE

Por Adriana Candido1;


Andrea Belo2;
Fabíola Monteiro3

1 - Mestre em Gerontologia (Portugal); Graduada em Enfermagem; MBA em Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente; Avaliadora do Sistema
de Gestão e Qualidade em Saúde ONA. Consultora do Axis Ins tuto.
2 - Especialista em Administração Hospitalar, Gestão Estratégica, Gestão financeira dos serviços de Saúde, Gestão de Processos, Gestão de Projetos,
Controladoria e Auditoria. Consultora do Axis Ins tuto.
3 - Especialista em Gestão Pública, Gestão de Processos, Direito Sanitário, Gestão para Resultados e Melhoria Con nua da Qualidade. Consultora do
Axis Ins tuto.

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INTRODUÇÃO
A atenção à qualidade nas ins tuições de saúde tem de melhoria da qualidade podem potenciar os cuidados
sido uma premissa cada vez mais discu da e acentuada de saúde, mas devem ser incu das e cumpridas de
no panorama mundial. O maior incen vo à averiguação forma é ca, tanto pelos médicos, enfermeiros e demais
da qualidade apresenta-se como um reflexo de dis ntos profissionais, quanto pelos pacientes (LYNN ET AL.,
fatores, tais como as regulamentações governamentais, 2007).
a influência do papel que os pacientes têm exercido, Dentre as muitas e dis ntas mudanças no setor da
num contexto enquanto clientes, bem como as saúde, reconhece-se que o mercado está em constante
inicia vas da gestão hospitalar (AL-ALI, 2014). desenvolvimento, alternando-se de um serviço
Necessidades de mudança no sistema de saúde têm orientado para o produto ou produtor, para um
acarretado muitas expecta vas por parte dos mercado voltado para o cliente - o paciente (AL-ALI,
profissionais e clientes. Novas metas ambiciosas 2014). Neste sen do, as inves gações realizadas por
buscam elevar o padrão de qualidade das ins tuições de Gautam (2005) afirmam que as estratégias para a gestão
saúde, com o obje vo de produzirem melhores das ins tuições de saúde em prol da implementação da
resultados, maior valor e impacto social. No entanto, qualidade devem incluir: preparação prévia para liderar,
permanecer na trajetória atual não será suficiente para estratégias de autorregulação, par cipação visível em
atender a essas demandas e verificar resultados a vidades da qualidade, esclarecimento dos papeis a
diferentes (KRUK, GAGE, ARSENAULT ET AL., 2018). desempenhar por todos os envolvidos, aumento do
Os inves gadores Lynn et al. (2007) definem as diálogo informal com os médicos e demais profissionais
estratégias de melhoria da qualidade como a vidades de saúde, reforma da equipe médica, criação de um
sistemá cas e guiadas por dados, projetadas para trazer departamento de gestão de qualidade, ins tuição de
melhorias imediatas e de longo prazo na prestação de padrões de alta qualidade e auditoria externa da
cuidados de saúde em ambientes específicos. Para este qualidade.
grupo, a polí ca da qualidade é, ou deveria ser, uma Nimako e Kruk (2021) reiteram que a primordialidade de
parte intrínseca das funções co dianas dos cuidados de estabelecer as bases do sistema de saúde com obje vos
saúde nas ins tuições. claros, recursos adequados, regras bem especificadas e
A qualidade em saúde é composta por espaços de incen vos eficazes é crucial para o fornecimento
cooperação entre o paciente e o profissional de saúde consistente da verificação de uma prá ca, de uma
em um ambiente de apoio, fatores pessoais do provedor polí ca e de um padrão de qualidade, e que estes não
e do paciente, e fatores pertencentes à organização de podem ser subs tuídos por simples intervenções
saúde, e ao sistema de saúde (MOSADEGHRAD, 2014). pontuais de melhoria da qualidade. Para Mosadeghrad
No que concerne às premissas da qualidade, estas estão (2014), a qualidade no sistema de saúde pode ser
englobadas em: (i) qualidade do cuidado técnico, melhorada por uma liderança visionária que
julgada por sua eficácia; (ii) qualidade do proporcione apoio, que garanta o planejamento
relacionamento interpessoal, avaliada em parte por sua adequado, formação e treinamento, que invista na
contribuição para o cuidado técnico, (iii) e qualidade das disponibilidade de recursos e gerenciamento eficaz dos
comodidades ou estruturas, verificada pela parte mais mesmos, funcionários informados e assentes nos
sica - quer material, como estrutural (DONABEDIAN, processos de colaboração e cooperação entre os
1989). Sabe-se que, se bem conduzidas, as estratégias provedores.

43
Em um novo posicionamento em prol de um maior e
melhor acesso à inovação e de verificação da qualidade
nas ins tuições de saúde, bem como a crescente
influência dos pacientes e da pressão pública, verifica-se
que os pacientes têm se tornado clientes e parceiros das
organizações de saúde, par cipando cada vez mais - e
de forma a va, dos processos estratégicos e de tomada
de decisão (AL-ALI, 2014). Assim, com o intuito de
primar por uma relação profissional e humana cada vez
mais colabora va, é ca e de qualidade, este ar go -
apoiado na literatura cien fica atual, visa elencar
estratégias para ins tuir a polí ca da qualidade em
ins tuições de saúde, revisitando as premissas
necessárias para a verificação desta realidade no
contexto brasileiro e apontando alguns dos entraves
mais frequentes.
Palavras-chave: Gestão; Qualidade; Segurança do
Paciente; Ins tuições de saúde.

NUANCES DA POLÍTICA DA QUALIDADE


A realidade e necessidade da implementação de
processos em prol de uma polí ca de qualidade nas
ins tuições de saúde nos revelam muitas
possibilidades. No entanto, existem dificuldades
preponderantes na gestão das ins tuições de saúde que
se observam a par r de um ambiente amplamente
compe vo e pouco coopera vo e com carência de
apoio dos órgãos e polí cas oficiais nacionais, em
diversos países (DONABEDIAN, 1989).
Apesar da escassez de polí cas em prol de programas de
apoio, no cenário nacional brasileiro é possível verificar
algumas mudanças e ações favoráveis, nos úl mos
anos. O modelo de gestão de qualidade começou a ser
implementado no Brasil a par r de 1990 e seguiu sendo
aprimorado por inicia vas pontuais - quer privadas,
quer públicas, em busca da verificação de serviços de
Imagem: Pixabay

saúde mais confiáveis e sustentáveis.


No que toca às inicia vas públicas, alguns programas
estaduais, federais e municipais têm sido idealizados e
implementados, como por exemplo, o Programa
Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS),
criado em 1998, através do Programa Nacional de
Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH), que vem

44
reforçar os fundamentos legais do Sistema Único de
Saúde (SUS) e, consequentemente, as suas atribuições,
que “incluem o Planejamento, o Controle e a Avaliação
das Ações e Serviços de Saúde, que buscam garan r os
princípios e as diretrizes do SUS, e consequente
melhoria das condições de saúde dos indivíduos e da
cole vidade (…) Neste contexto, a avaliação configura-
se como uma das etapas fundamentais para a revisão e
reorientação das trajetórias percorridas na execução
das ações de saúde ” (PNASS, 2015, p. 5).
No contexto dos hospitais privados, por exemplo, a
Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) foi
criada em 2001, durante o 1° Fórum Top Hospital e tem
como base das suas discussões e ações - a qualidade.
Segundo o Presidente do Conselho de Administração da
ANAHP, Eduardo Amaro (à frente da direção desde
2022), a qualidade é foco central “desde a criação dos
Grupos de Trabalho focados no compar lhamento de
melhores prá cas entre os associados; a publicação de
indicadores focados em qualidade; a criação do portal
“Saúde da Saúde”, direcionado ao paciente; até o
critério crucial de admissão de hospitais-membros, que
está associado à necessidade da acreditação hospitalar”
(ANAHP, 2022, p. 3).
A garan a da qualidade não deve ser fator de
preocupação somente por parte das ins tuições de
saúde eli zadas ou uma aspiração para um futuro
distante. Esta realidade deve fazer parte da base de
todos os sistemas de saúde. Além disso, o direito
humano à saúde não tem sen do sem cuidados de boa
qualidade, porque os sistemas de saúde não podem
melhorar a saúde sem eles (KRUK, GAGE, ARSENAULT ET
AL., 2018).
São inúmeras as barreiras enfrentadas para a
implementação e verificação da qualidade nas
ins tuições de saúde. Dentre elas, podem ser
percepcionadas aquelas nas quais se incluem a
insegurança e falta de informação da liderança, falta de
atenção dos profissionais e colaboradores, má
comunicação entre a liderança da ins tuição, os
profissionais de saúde e os pacientes, a disponibilidade
de informações fragmentadas sobre a qualidade, uma
estrutura tradicional da equipe médica, a falta de gestão
profissional da qualidade e a falta de inves mento neste
âmbito (GAUTAM, 2005).

45
Dentre as principais premissas para a implementação de documental explícita para orientar o desenvolvimento,
uma polí ca da qualidade, encontra-se o papel da avaliação, pesquisa e polí ca de intervenção. Assim, no
equipe de gestão. A sua função é fornecer uma que tange ao processo de documentação mencionado,
estrutura que se baseie nas boas prá cas nacionais e revela-se a necessidade de um sistema de
internacionais, que se debruce nas estratégias que têm gerenciamento da documentação que seja eficaz e
sido validadas e implementadas, mas que, acima de efe vo, principalmente na atenção à gestão
tudo, encare a averiguação do conceito de gestão da documental e à automação de processos por meio das
qualidade como algo compa vel com a realidade Tecnologias de Informação e Comunicação no sistema
estrutural e a cultural local das ins tuições de saúde (AL- e-Saúde, estratégia que tem apontado indicadores e
ALI, 2014). Segundo Kossaify, Raspu n e Lahoud (2013), evidências cada vez mais posi vas (SALOMI & MACIEL,
a qualidade da assistência por parte das ins tuições de 2017). A crescente importância dos programas e
saúde está in mamente relacionada à 'eficiência' ou à polí cas de gestão de riscos nas organizações de saúde
'deficiência' da gestão, sendo que a sua função está fez surgir uma nova figura organizacional, o gestor de
in mamente interligada com as polí cas, protocolos e riscos, responsável pelo gerenciamento de riscos
procedimentos ins tucionais. A relação entre a gestão, ins tucionais (clínicos e não clínicos) cuja função
colaboradores, profissionais e pacientes é essencial centra-se em construir pontes, informar e confiar maior
para a implementação de um programa de saúde bem- autonomia às equipes de profissionais legi mando o
sucedido e para a implementação da qualidade em trabalho de risco e pragma zando intervenções para
contextos de saúde. democra zar as prá cas de gestão de risco nas
A garan a de qualidade protege e melhora a qualidade ins tuições de saúde (LABELLE & ROULEAU, 2017).
por meio do projeto do sistema e do monitoramento de O desenvolvimento e a implementação de diretrizes
desempenho. O monitoramento pode ocorrer cons tuem a base dos sistemas de gestão da qualidade
informalmente no curso da prá ca colabora va para qualquer organização. Assim, o gerenciamento de
(DONABEDIAN, 1989), ou pela gestão das ins tuições de processos, quer por meio de polí cas internas e/ou
saúde, de forma a garan r a supervisão, melhoria e externas, bem como dos protocolos locais é
qualidade do sistema de saúde ins tucional (KOSSAIFY, imprescindível para complementar o desenvolvimento
RASPUTIN & LAHOUD, 2013). No que concerne ao do plano de garan a da qualidade nas ins tuições de
monitoramento formal, este é conduzido por alguns saúde. No entanto, requer que os processos estejam
diferentes métodos: (I) recolha sistemá ca de organizados com rigor (FRANÇOIS, LABARÈRE,
informações sobre o processo e resultado do BONTEMPS ET AL., 1997).
atendimento, (II) iden ficação de padrões de prá ca, Outro aspecto que engloba a busca pela verificação da
(III) explicação desses padrões, (IV) ação para corrigir as qualidade centra-se no gerenciamento de auditorias
principais necessidades e desafios enfrentados e (v) (internas e externas), parte fundamental para a
verificação dos efeitos de ações elencadas. Ao invés de segurança da informação de forma a garan r o rastreio
ser uma a vidade de 'policiamento', o monitoramento do acesso, mas também pode ser u lizado o
implementa a responsabilidade profissional e contribui gerenciamento de canal de denúncias e de
para a gestão da documentação, ao documentar os comunicação, para melhorar a qualidade dos sistemas
processos e os produtos. Importa ressaltar que a de informação de saúde, nomeadamente para avaliar a
eficácia deste passo depende (i) da liderança, (ii) das forma como são u lizados ou mal u lizados (CRUZ-
caracterís cas organizacionais, (iii) das caracterís cas CORREIA, BOLDT, LAPÃO ET AL., 2013), gerenciando de
dos profissionais de saúde, (iv) das caracterís cas do(s) forma eficaz a comunicação organizacional de maneira a
método(s) de monitoramento e (v) dos métodos não acarretar uma sobrecarga de comunicação. Importa
u lizados para influenciar o comportamento dos referir que, segundo Barre , Ford e Zhu (2021) os canais
profissionais e dos colaboradores (DONABEDIAN, de comunicação assíncronos como e-mail e correio de
1989). voz agravam a sobrecarga de comunicação, enquanto
Imagem de aaron-bu ner-unsplash

Sabe-se que é fundamental ter uma estrutura teórica e canais síncronos, como reuniões de equipe, a aliviam.

46
O gerenciamento com as comissões obrigatórias e o elaborar, implementar e avaliar planos estratégicos na
acompanhamento do planejamento estratégico ainda área da saúde (ESFAHANI, MOSADEGHRAD &
são áreas pouco inves gadas no campo cien fico. AKBARISARI, 2018), inclusive na promoção de
Contudo, abordam as capacidades operacionais de estratégias para o acompanhamento das ações do
qualidade, flexibilidade, entrega e controle de custos núcleo de segurança do paciente.
consideradas dentro do processo de planejamento Reconhece-se, assim, que o inves mento em esforços
estratégico (BUTLER, LEONG & EVERETT, 1996). O atuais em prol da implementação da qualidade em
planejamento estratégico tem sido posi vamente ins tuições de saúde só será possível se
relacionado ao desempenho organizacional, incluindo a empreendermos um grande e sistemá co esforço para
sa sfação dos profissionais de saúde, funcionários e revisar a forma como são prestados os serviços de
pacientes, associando-se, inclusive, com a saúde, como os profissionais de saúde são formados e
produ vidade organizacional. Compreender os fatores informados e na maneira como será monitorada,
de sucesso do planejamento estratégico permi rá o avaliada e aperfeiçoada a qualidade (CHASSIN &
desenvolvimento de métodos mais eficazes para GALVIN, 1998).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A busca pela implementação de sistemas de saúde de


É de suma importância que as ins tuições de saúde qualidade deve começar por espaços que o mizem os
valorizem e incen vem os seus profissionais e cuidados de saúde em cada contexto, prestando
colaboradores a promoverem boas relações intra e consistentemente cuidados que melhorem ou
inter-hospitalares, que mo vem a formação e mantenham a saúde, sendo valorizados e confiados por
atualização profissional refle ndo-se na verificação de todas as pessoas, com o intuito de responder às
colaboradores orientados e informados, que sejam mudanças e às necessidades da população, com o
implementados comitês de gestão de saúde cuja obje vo de melhorar a assistência e o clima
liderança esteja previamente treinada para monitorar e organizacional (KRUK, GAGE, ARSENAULT ET AL., 2018).
mo var boas prá cas de saúde, e que a qualidade do Desta maneira, buscam-se estratégias que potenciem as
cuidado na vertente humana, cien fica, técnica e no prá cas em prol da inovação e avaliação para refinar e
quadro de valores é co-morais seja uma premissa. estruturar uma conduta é ca de apoio à
E s p e ra - s e q u e a s re l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s , a implementação da qualidade na estrutura
responsabilidade colabora va e a responsabilidade organizacional, profissional e pessoal das ins tuições de
profissional sejam prá cas co dianas e que possam ser saúde (LYNN ET AL., 2007). Assim, será possível vivenciar
reconhecidas como fundamentais em prol da mudanças con nuas na assistência à saúde (CHASSIN &
qualidade. GALVIN, 1998).

47
Adriana Cândido, Me
Mestre em Gerontologia pela Universidade de Aveiro (Portugal); Graduada em Enfermagem pela Universidade de Mogi
das Cruzes; MBA em Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente; Auditora dos Serviços de Saúde; Especialista em
Gerenciamentos dos Serviços de Enfermagem; Avaliadora do Sistema de Gestão e Qualidade em Saúde ONA pelo Ins tuto
Qualisa de Gestão (IQG); Consultora de Saúde pelo Axis Ins tuto.

Andrea Belo, Espec.


Profissional com qualificação em Administração Hospitalar, Gestão Estratégica, Gestão financeira
dos serviços de Saúde, Gestão de Processos, Gestão de Projetos. Pós Graduada em Administração Hospitalar,
Controladoria e Auditoria, MBA em Finanças, pelas ins tuições: Pro-Saúde, IPH Ins tuto de Pesquisas Hospitalares,
Faculdade UNA-BH e Ibmec-MG. Experiência como Diretora Hospitalar, em Hospital de pequeno porte no interior de MG,
Superintendente na Unimed Be m, Gerente de Saúde do Grupo Fiat de Saúde e Bem Estar, e Consultora do Axis Ins tuto.

Fabíola Monteiro, Espec.


Profissional com qualificação em Gestão Pública, Gestão de Processos, Gerenciamento de Projetos, Direito Sanitário,
Gestão para Resultados e Melhoria Con nua da Qualidade. Pós-Graduada em Auditoria em Saúde pela Fundação Unimed
e em Vigilância Sanitária e Epidemiológica pela Universidade de Ribeirão Preto. Experiência como Diretora da Auditoria
Assistencial do Estado de Minas Gerais e Coordenadora da Qualidade da Unimed BH. Publicação do Manual e do
Regulamento da Auditoria Assistencial da Secretaria de Estado de Saúde MG. Consultora do Axis Ins tuto há 10 anos.

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h ps://doi.org/10.4236/ .2017.83015.

48
GESTÃO HOSPITALAR

Com foco em ações e resultados, o trabalho do AXIS INSTITUTO contribui

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para a melhoria do desempenho em termos qualita vos e quan ta vos,
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Gestão Estratégica:
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obje vos e seus desdobramentos - Gestão de Conflitos
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MULHERES EM CARGOS DE GESTÃO E LIDERANÇA:


A EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO CRISTÓVÃO COLOMBO - ICC -
“MISSÃO SCALABRINIANA”

Por Paula Leão, Me.1

1 - Assistente Social – Especialista em Administração e Gestão Eclesial - Coordenadora Geral do ICC.

50
Igreja Católica Romana: espaço feminino?

Há uma diversidade de atuações femininas na Igreja Católica


Romana; as congregações femininas se destacaram ao longo
da história, por desempenhar importantes ações e abrir
diversas portas para as mulheres contemporâneas,
movimentos que não aconteceram sem desafios e limitações.
Mas, há uma ampla diversidade: quando falamos em história,
precisamos localizar o cenário e o espaço de cada mulher.
Ao se pensar o papel das mulheres na Igreja Católica
Apostólica Romana no Brasil podemos desenrolar um
emaranhado novelo que se cruza com a ambiência
colonizadora e escravocrata desse país. Destaco, aqui, o
Nesse ar go faremos uma breve reflexão sobre fundamental surgimento e atuação das Missionárias de Jesus
o papel da mulher em cargos de gestão e Crucificado, a primeira congregação brasileira a permi r a
liderança nos espaços confessionais que se entrada de jovens negras e indígenas, ainda que de forma
abrem para uma gestão profissional. No bastante desigual.
primeiro momento, traremos algumas
A história das Irmãs Negras e Indígenas Missionárias de Jesus
elucidações do papel da mulher na história da
Crucificado – MJC, descreve a ocupação de um espaço de fé,
Igreja católica romana e o desenvolvimento
com resistência, gestação, transformação, buscando
desse “lugar”, em especial com as recentes
mudanças e novos espaços para a diversidade dentro da
colocações do Papa Francisco. Posteriormente,
Igreja. Recomendo a leitura do livro “Tecendo memórias,
versaremos sobre gestão enquanto espaço
gestando o futuro”, um importante registro que Padre José
feminino de atuação, seus enfrentamentos,
Oscar Beozzo escreve “com” as Irmãs Missionárias Maria
desafios e oportunidades. Por fim,
Raimunda R. Costa, Maria Fidêncio E. Santo e Geralda F. Silva.
apresentaremos a experiência de coordenação
O livro relata o papel de servidão designado às irmãs
no Ins tuto Cristóvão Colombo “Missão
indígenas e negras, bem como da ocupação de tarefas
Scalabriniana de Proteção à Criança e
domés cas que só termina com o Concílio do Va cano II,
Adolescente Migrantes”.
ainda com transição paula na, mas que foi rompendo a
divisão de classes na Congregação.
O gênero feminino não é prevalecente nas decisões do Clero,
como o próprio Papa Francisco diz em resposta a Kerry Weber
em 22 de novembro de 2022, em entrevista concedida a cinco
representantes da América Media. Papa Francisco nos mostra
que é uma questão teológica e ministerial, provinda de uma
Igreja Petrina. Ou seja, as designações, a cultura na Igreja
Católica Apostólica Romana, são eminentemente masculinas,
fruto das relações, ou seja, um sistema social baseado em
uma cultura e estruturas que deram preponderância ao papel
dos homens, isso não somente na Igreja, e, inclusive,
vivenciadas por mulheres que ainda não romperam com essa
perspec va.

2 - BEOZZO, José Oscar (et alli). Tecendo memórias, gestando futuro: história das Irmãs Negras
e Indígenas Missionárias de Jesus Crucificado (MJC). São Paulo: Paulinas, 2009.
51
O princípio petrino se funda nos sucessores de Hans Urs von Balthasar, um dos mais
Pedro, na função do Bispo Romano na missão e no importantes teólogos do século XX
ministério. Sua permanência é atestada pela mais apresentou a polaridade dos princípios
an ga tradição literária da Igreja, contemplando marianos x petrino, que se perpetua nas
uma realidade profunda, que está em relação reflexões até os dias atuais. Pensar esse
essencial com o seu próprio mistério de comunhão papel de mulher sob o princípio Mariano
e de salvação. A Igreja, desde o início, entendeu pode colocar a mulher em um lugar
que assim como existe a sucessão dos Apóstolos secundário, porém, sob outra interpretação,
no ministério dos Bispos, assim também o pensamos a relação de confiança de Deus
ministério da unidade, confiado a Pedro, pertence em Maria, em gestar seu filho, em gerir a
à estrutura da Igreja de Cristo e que esta sucessão família e ser presença.
está fixada na sede do seu mar rio. As alusões no plano figura vo, seja ele um
Contudo, o Papa Francisco vai além, e diz que há apelo simbólico ou de uma metáfora a ser
outro princípio ainda mais importante, do qual seguida, con nuam presentes. Por trás
quase não falamos, que é o princípio mariano, o daquilo que é definido como princípio
princípio da feminilidade na Igreja, da mulher na mariano, há uma compreensão específica da
Igreja, onde a Igreja vê um espelho de si mesma fundamental caracterização “maternal” e
porque é mulher. Segundo Francisco, a Igreja é “domés ca” do papel das mulheres, em
mais do que um ministério. É todo o povo de Deus. estreita vinculação de uma compreensão
A Igreja é, também, “mulher”. Portanto, a antropológica e social da obje ficação
iden dade da mulher é espelhada dessa maneira – feminina em termos de apagamento das
nas palavras do Papa. capacidades de estar à frente de processos.

Não é nosso obje vo refle r sobre o lugar da mulher nas funções eminentemente religiosas,
mas nas funções administra vas. Nesse lugar, há uma esperançosa possibilidade de atuação
quando vemos as ações do Papa Francisco em observância à valorização do feminino.

Papa Francisco nos apresenta uma terceira via:


“(...) Existe uma terceira via: a via administra va. A via ministerial, a via
eclesial, digamos, mariana, e a via administra va, que não é uma coisa
teológica, é algo da administração normal. E, nesse aspecto, acho que
temos que dar mais espaço para as mulheres. Aqui no Va cano, os lugares
onde colocamos as mulheres estão funcionando melhor. Por exemplo, no
Conselho para a Economia, onde há seis cardeais e seis leigos. Há dois
anos, indiquei cinco mulheres entre os seis leigos, e isso foi uma revolução.
A vice-governadora do Va cano é uma mulher. Quando uma mulher entra
na polí ca ou administra as coisas, geralmente ela se sai melhor. Muitos
economistas são mulheres e estão renovando a economia de forma
constru va. (Papa Francisco em entrevista concedida a cinco
representantes da América Media em sua residência em Santa Marta, no
Va cano em 22 de novembro de 2022)”

52
A inserção de mulheres nos quadros administra vos tem sido uma decisão inclusiva de Francisco;
ele tem inserido mulheres em quadros de destaque. Dessa forma, elas podem ocupar espaços que,
antes, eram reservados somente aos homens. Até um tempo atrás, isso seria impensável dentro do
organograma de uma ins tuição gerenciada eminentemente por padres. E isso já tem acontecido.

“Elas estão mais atentas à proteção do meio


ambiente, seu olhar não está voltado para o
passado, mas para o futuro. As mulheres sabem que
dão à luz com dor para alcançar uma grande alegria:
dar vida e abrir vastos e novos horizontes.’’ .
Papa Francisco
Imagem: Pixabay

A gestão enquanto espaço feminino de atuação em ins tuições confessionais


Não faremos aqui uma discussão conceitual de gestão, Pensar ou racionalizar o trabalho, administrar, gerir,
mas aproximaremos a interpretação de gestão adjunta exigem uma dimensão que se pactua entre as relações
de administração, da qual compreendemos ser a existentes, sob uma coordenação do esforço humano
u lização racional de recursos para fins determinados. cole vo, entendendo, assim, a coordenação, como
O primeiro passo para compreender o papel da gestão é uma relação estabelecida através de uma diretriz
iden ficar a necessidade dela no mundo acordada entre as pessoas na busca dos obje vos
contemporâneo, onde administração e contabilidade definidos. Ou seja, iden ficar a necessidade de gestão
são necessidades estabelecidas, vez que toda e qualquer é uma mentalidade – uma forma de compreender a
ins tuição e organização precisam racionalizar seus realidade!
recursos visando sua sobrevivência na sociedade civil e Para pensar a gestão, se faz necessário a apreensão do
na vida religiosa. espaço sico, cultural e ideológico em que se
Gestar é planejar visando um trabalho cole vo que desempenha as ações. Uma sociedade capitalista, um
requer pensar e organizar uma ação eminentemente país escravocrata, racista, machista, uma história
humana e que sempre se fará presente nas ações em que colonizadora, são conceitos que se fazem ausentes
se pretende a ngir obje vos, definindo e u lizando em qualquer livro best seller de lideranças
recursos de forma racional. Os recursos referem-se aos corpora vas nas bancas sicas ou digitais. Porém, são
elementos: humano e material, que serão u lizados para fundamentais para dar “luz com dor”, parafraseando
a ngir a finalidade proposta. o Papa Francisco, na gestão.

53
As ins tuições confessionais estão se abrindo para a
organicidade dos processos gerenciais, contando com
leigos e leigas que se capacitaram para a função na
sociedade. Há aí uma necessidade e uma oportunidade
de novos conhecimentos e prá cas operacionais,
externas ao ambiente religioso. Contudo, para muitos
religiosos, isso ainda soa como processos de
desconfiança, burocrá cos e paralisantes.
Não se trata de paralisar as ações, em especial as
a vidades que são realizadas na sociedade civil, na qual
há outros entes parceiros na prestação de serviços; há,
aí, uma obrigação legal a ser atendida, ou seja,
regulamentada por leis no Código Civil; isso obriga o
economato a se apropriar das exigências e pra cá-las
nas relações.
Na vida religiosa o Código de Direito Canônico também
prevê a racionalidade das ações, bem como a
manutenção e preservação do patrimônio que provê as
obras. Assim, pensar a gestão e administração visando à
profissionalização das prá cas é fundamental e
irreversível. A boa gestão consegue ampliar as
possibilidades existentes de atuação, a par r do
propósito, do planejamento financeiro e da gestão de
pessoas, que tem aí outro grande desafio - construir
esse lugar em uma relação profissional e é ca com
leigos capacitados para essa função, entendendo que
esses também precisam rever e atualizar seus
conhecimentos e, principalmente, respeitar o papel do
religioso na missão e condução dos trabalhos.
Racionalizar, coordenar e viabilizar todos os processos
exige que todos os princípios anteriormente
mencionados sejam considerados. A mulher, nessa
posição, encontra muitos entraves, dentre eles: o
silenciamento de sua autoridade na responsabilidade
Imagem: Pixabay

de racionalizar os processos, a insubordinação velada, a


desqualificação da sua posição, a necessidade de outras
validações ou, até mesmo, de posturas assediadoras.

54
A coordenação geral no ICC

Em 2017, quando o Ins tuto Cristóvão Colombo – ICC


assume nova direção, encontrou os desafios de uma
administração confessional que ainda não atendia
plenamente os processos gerenciais exigidos pela
administração civil. Diante da necessidade contratou os
serviços de uma consultoria de gestão, abrindo-se para
uma primeira ação gerencial que não fosse somente pela
via eclesial.
Iniciou-se aí, um diagnós co de todos os processos do
ICC, das ações desenvolvidas, dos fluxos e processos de
trabalho, uma verdadeira revolução, visando à
ra c i o n a l i d a d e d a s a çõ e s d e s e m p e n h a d a s e o
aprimoramento técnico dos processos de trabalho. Foi
quando a função de coordenação foi sugerida pelo Axis
Ins tuto, vez que a presença co diana do vice-diretor era
inviável diante das demandas da Congregação, frente aos
desafios administra vos, de gestão das/os
trabalhadoras/es e da manutenção do patrimônio
ins tucional, o que inviabilizava as trocas necessárias na
direção do ins tuto. A aprovação dessa nova função foi
levada para reflexão entre os demais religiosos e a
aprovação aconteceu, visando o desejo de
aprimoramento dos processos ins tucionais do ICC.
A assessoria de gestão, juntamente com a direção,
desenvolveu a descrição do Cargo e Função e executou o
processo de seleção, de forma imparcial, com a captação
de currículos, prova de conhecimento específico,
elaboração de plano de ação, testes psicológicos e
entrevistas; nesse processo havia diversos profissionais,
tanto homens como mulheres, das mais dis ntas áreas de
conhecimento; ao final do processo, somente uma pessoa
foi selecionada, uma mulher.
Os cargos de gestão e liderança da Ins tuição, há 124 anos
(a coordenação surge em 2019), haviam sido sempre
exercidos por homens; o desafio maior foi lidar com os
funcionários/as, em uma cultura preponderantemente
masculina. As ações e as posturas flexíveis adotadas pela
coordenação foram mais efe vas do que o embate.
Atualmente as mulheres são maioria no espaço de
trabalho, referendam as mudanças ins tucionais e
possuem lugar de fala em uma gestão democrá ca e
par cipa va.

55
O diretor con nua com o poder de decisão, Não se trata de uma “guerra entre sexos”;
respaldado pelo conhecimento e trata-se da qualificação necessária para
referenciamento das trabalhadoras e desempenhar cargos e funções na ins tuição;
trabalhadores que estão diretamente o que se tem notado, por exemplo, é que as
ligadas/os às ações co dianas; a coordenação mulheres ocupam mais matrículas do que os
faz uma mediação das relações blindando, homens em universidades, o que pode
inclusive, o diretor, em situações em que, por traduzir uma propensão das mulheres a
parte das funcionárias e funcionários, se buscarem formações con nuadas e se
tende a prevalecer o apelo religioso em conectarem com as transformações do
detrimento do profissional. mundo do trabalho.
Até pouco tempo, as noções de lideranças As lideranças femininas tendem a ter outra
reme am às caracterís cas do perfil perspec va em relação à orientação das
masculino. Neste momento, em que a própria pessoas, cooperação, inclusão, empa a,
humanidade está em processo de cria vidade e liderança democrá ca.
transformação, as lideranças precisam abrir Com a consultoria, fomos adentrando nos
espaço ao diálogo e conscien zação para que processos de gerenciamento dos trabalhos
as competências masculinas e femininas sociais, administra vos, patrimoniais,
sejam complementares na construção de contábeis, gestão de pessoas e financeiros,
processos produ vos e com ambientes até o momento que o ICC decidiu que já havia
flexíveis e mais saudáveis, equilibrando ação condições de encaminhar e racionalizar os
social, saúde financeira e bem-estar. processos sem o assessoramento.

56
Imagem: h ps://sescmg.com.br/servico/mesa-brasil-sesc-redes-de-arrecadacao/

O ICC enquanto Missão Scalabriniana, ainda está no processo


de aprimoramento de gestão e já iniciou os primeiros passos
para uma administração profissional. Está assessorando os
trabalhos sociais de associações coirmãs e tem se tornado um
modelo de sucesso entre parceiros como o “Mesa Brasil – Sesc
São Paulo” e outras organizações do setor, o que nos respalda
alegremente, indicando que estamos no caminho certo.

Paula Leão, Me.

Assistente social pela UNESP, especialista em administração e gestão eclesial pela FASBAM, mestre e
doutoranda em Serviço Social pela PUCSP. Atuou como secretária municipal de assistência social em
Inconfidentes - MG, foi consultora pela UNESCO no plano decenal de assistência social 2016-2026
da cidade de São Paulo, atualmente é coordenadora geral do Ins tuto Cristóvão Colombo - ICC
"Missão Scalabriniana de Proteção à Criança e Adolescente Migrantes".

57
Imagem: Unsplah

GOVERNANÇA E GESTÃO
Seminário Axis em Roma (2023)

O Seminário “Governança e Gestão”, ministrado pelo AXIS em Roma, apresenta importantes discussões
e contribuições para as Congregações, os Ins tutos de Vida Consagrada e outros entes eclesiás cos.

GESTÃO
GOVERNANÇA Gestão Integral e Estratégica
Conceitos-Chave As Orientações Canônicas, as Leis Civis e a Gestão
Princípios O valor social do dinheiro
PROGRAMA

Resgatando a Iden dade Congregacional O papel da gestão no Programa de Governança


Relação com Gestão e Planejamento Estratégico Princípios da Boa gestão
Relevância do Monitoramento Áreas fundamentais da Gestão (Financeira,
Aplicabilidade às Congregações Patrimonial, etc)
Introdução à compliance e à Gestão de riscos Pessoas e Processos
Relevância para o futuro das Congregações Mecanismos de Controle
08 a 10 de novembro/2023

Público alvo LOCAL


Superioras(es), Conselheiras(os), Provinciais, Ecônomas(os), Piazza di Ponte S. Angelo, 28,
Secretárias(os) e demais membros religiosos. 00186 - Roma RM, Itália

O evento será ministrado em português O deslocamento até o local do curso


com tradução simultânea para o italiano. será por conta do par cipante.

Sebas ão Venâncio Castro, Dr. Márcio de Souza Moreira, Mestre


ASSESSORES: (Psicólogo, Biólogo) (Contador, Auditor)

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Imagem: Acervo da Autora

CENTENÁRIOS FRANCISCANOS

Por Orietta Borgia, Dra1

1 - Doutora em Filosofia pela Universitá degli Studi di Roma, Diretora de Teatro e Tradutora.

60
O ano de 2023 traz dois importantes centenários ligados a
um dos santos mais amados da cristandade: o oitavo
centenário da Regra Franciscana Bulada, ditada pelo Santo,
em Fonte Colombo, e o oitavo centenário do primeiro
presépio, ins tuído por São Francisco, em Greccio. Estas
localidades se encontram na Sabina, um an quíssimo e
vasto território da Itália central que se estende em boa
parte na região do Lácio e, em medida menor, nas regiões
de Abruzo e Úmbria. Nesta úl ma encontra-se Assis,
cidade natal de São Francisco.

A Sabina entrou na história sobretudo pelo famigerado


rapto das Sabinas. Conta a lenda que Rômulo, fundador e
rei de Roma, no quinto ano de seu reinado tentou
estabelecer alianças com as populações vizinhas, para
obter esposas com as quais procriar e povoar a nova
cidade. Não conseguindo as alianças desejadas, recorreu a
um ardil. Organizou um grande espetáculo para atrair os
habitantes da região, já por si curiosos de conhecer a nova
cidade, e sequestrar então suas mulheres. Alguns
historiadores afirmam que não houve violência contra as
mulheres, pelo contrário; Rômulo quis que as sabinas
escolhessem livremente seus maridos romanos e
prometeu a elas plenos direitos civis e propriedades. Ele
mesmo se casou com Hersília, filha de Tito Tácio, rei dos
Sabinos. A guerra entre os dois reis era inevitável. Nem
Rômulo nem Tito Tácio, porém, sabiam do que são capazes
as mulheres quando um perigo ameaça seus rebentos.

61
Tito Lívio e Plutarco assim descrevem um dos momentos mais emocionantes da história de Roma:

Tito Livio: Plutarco:


“As mulheres sabinas, com os cabelos soltos e “Corriam as filhas dos Sabinos raptadas, quem
as vestes rasgadas, derrotado pelo mal o medo para um lado quem para o outro, aos prantos e
feminino, se a raram sob a chuva de dardos, gritos no meio de armas e cadáveres, como
rogando pais e maridos que não manchassem fossem possuídas por um demônio. Muitas
com o assassínio de conjuntos sua progênie e traziam seus filhos ao colo [...] todas chamando
clamavam: Se detestais a parentela recíproca com os nomes mais doces ora os Sabinos ora os
ou o casamento, dirigi contra nós vossas iras. Romanos. Ficaram comovidos, uns e outros, e
Somos nós o mo vo da guerra, nós somos a r e t r o c e d e r a m p a r a d e i xa r e s p a ç o à s
causa das feridas e da morte de maridos e pais. mulheres”.3
FONTE: Acervo da Autora

Melhor será para nós morrer que viver viúvas e


órfãs”.2
Imagem: Acervo da Autora

As Sabinas (1794-1799) - Jacques-Louis David (1748 – 1825)


Museo do Louvre

Este rapto, sobre cuja veracidade os historiadores ainda não chegaram a um acordo, acontecia por volta
do ano 750 a.C., ou seja, 1973 anos antes que Francisco, em 1223, ditasse a Regra Franciscana Bulada.4
Parece muito tempo, não? Mas o que é o tempo? Uma roda infinita onde corremos inu lmente como
cobaias? Ou um longo caminho cheio de imprevistos do qual conhecemos apenas a invisível meta final?

2 - “Ab urbe condita” [Da fundação da cidade] do filósofo e historiador romano Tito Lívio (Patavium, 59 a.C. – 17, d. C.)
3 - “Vidas Paralelas, vida de Rômulo” – do filósofo, biógrafo e sacerdote grego Plutarco (Queroneia, 46 – Delfos, 120)
4 - Inscrição em argila, metal macio ou lacre posta em documentos como auten cação e proteção contra as violações.

62
E qual é o elo que une as mulheres sabinas e São Francisco? Não tenho a mínima ideia,
mas as duas histórias me fascinam e certamente algo em comum devem ter, nem que
seja apenas a mesma terra, a Sabina, da qual saíram, as mulheres e o santo, rumo à
mesma cidade, Roma. Umas para povoar uma Cidade Nova, o outro para aprovar a
Regra de uma Ordem Nova. O amor das mulheres sabinas pôs fim a uma guerra
fratricida. O amor de São Francisco, 1973 anos depois, deu início a um novo es lo de
vida fraterna.

SOBRE FRANCISCO DE ASSIS


Padroeiro da Itália, da Úmbria, dos ecologistas, dos animais, dos comerciantes e dos escoteiros, ele é
também o primeiro poeta da literatura italiana. Parece até ironia da história, pois Francisco se
autodefinia “homo sine li eris” (homem sem letras). Valeu-lhe este tulo o “Cân co das Criaturas”,
primeiro poema escrito em Vulgar5. Francisco nasceu em Assis, provavelmente em 1182, numa das
famílias mais privilegiadas da cidade, mas não se sabe com certeza nem o dia nem o mês de seu
nascimento. Ainda muito jovem buscou as glórias militares, mas logo compreendeu que ele devia servir
só o Senhor. Abandonou, então, a família e os bens para se dedicar a uma vida de penitência e solidão.

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.


Imagem: Acervo da Autora

Onde há ódio, que eu leve o amor.


Onde há ofensa, que eu leve o perdão.
Onde há discórdia, que eu leve a união.
Onde há dúvida, que eu leve a fé.
Onde há erro, que eu leve a verdade.
Onde há desespero, que eu leve a esperança.
Onde há tristeza, que eu leve a alegria.
Onde há trevas, que eu leve a luz.
Fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
é morrendo que se vive para a vida eterna.

São Francisco em meditação (1606) São Francisco de Assis


Caravaggio (1571-1610)

5 - Vulgar ou Vernáculo, língua inicialmente só oral derivada do la m, falada na Europa ocidental e meridional na Idade Média pelo povo (Vulgus)
e de uso familiar (Vernacúlus). Sua evolução levou às atuais línguas neo-la nas.

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Em 1209, uma nova inspiração o fez deixar a vida solitária para
pregar o Evangelho nas cidades. Em todo o lugar onde ele chegava
acorriam mul dões e muitos começaram a segui-lo como
discípulos, que ele chamava frades, ou seja, irmãos.

“O Senhor me deu irmãos. Eles são imprescindíveis. Deus nos


criou diferentes e irrepe veis, únicos. A Fraternidade não
nega a iden dade pessoal, pelo contrário, protege-a do
individualismo; não destrói a pessoa, mas a enriquece,
dando-lhe um espaço mais amplo [...] E quando o Senhor me
deu o cuidado dos frades ninguém me mostrou o que fazer.
Mas, o próprio Al ssimo revelou-me que eu devia viver a
norma do Santo Evangelho. E isso eu escrevi com poucas e
simples palavras e o Papa o confirmou”6.

A Regra Franciscana Bulada é a versão defini va da primeira regra,


Propositum Vitae 7 , que é seu fundamento, e que contém
simplesmente, sem nenhuma elaboração teológica, “uma fórmula
de vida”, seguir o Evangelho, e poucas disposições necessárias para
“viver de modo uniforme”8.

6 - São Francisco: Fontes Franciscanas 116 e Testamento.


7 - Propósito de vida, primeira regra franciscana cons tuída por vários escritos de São Francisco entre 1209 e 1210.
8 - Fontes Franciscanas 1061.

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A CAMINHO DE ROMA

Quando a pequena comunidade que vivia na O que há de mais simbólico e representa vo da


Porciúncula9 alcançou o simbólico número de 12 condição humana do que percorrer um
membros, como os apóstolos, Francisco decidiu ca m i n h o ? A fa d i ga d a ca m i n h a d a , o s
enfrentar com eles a longa caminhada até Roma, imprevistos, as dúvidas, as encruzilhadas,
para encontrar o Papa Inocêncio III e pedir o montes a superar, rios a atravessar e... a meta. A
reconhecimento da Regra. meta que é anseio e medo. A meta que é
esperança e solidão. A meta que é fim do
caminho. Ou o início?

Imagem: Acervo da Autora

Caminho de Francisco no Vale Santo


Imagem: Acervo da Autora

“O caminho do peregrino é uma coisa muito


boa, mas é estreito. Porque a estrada que nos
leva à vida é estreita; por outro lado, a estrada
que leva à morte é larga e espaçosa.” 10
A Porciúncula

Quando Francisco de Assis e seus doze sequazes chegaram em Roma, não encontraram
um Papa disponível ao diálogo e à escuta. Inocêncio III, famoso por ter dado à Igreja a
grandeza e o poder de um sen do polí co, era ainda mais famoso pelo seu caráter
intolerante e violento. O pequeno grupo de frades tocou com mão esta péssima fama,
pois o Papa os deixou quase três meses à espera de uma audiência. Neste longo e
duríssimo período eles dormiram na rua e viveram de esmolas, pois sem a autorização
do Papa os guardas pon cios impediam aos frades o ingresso no Palácio Laterano, a
então residência pon cia adjacente à Basílica de São Giovanni in Laterano11.

9 - Em italiano Porziuncola, pequena igreja nos arredores de Assis, hoje con da na grande Basílica de Santa Maria dos Anjos, construída para proteger e
venerar a pequena igreja, centro do Franciscanismo.
10 - Codex Calix nus, manuscrito atribuído ao Papa Calisto II, mais provavelmente escrito por vários autores entre 1130 e 1160. É considerado a mais an ga
guia para os peregrinos que faziam o Caminho de San ago de Compostela.
11 - São João de Latrão, Catedral da Diocese de Roma e Sé episcopal oficial do Bispo de Roma, ou seja, o Papa.

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Algumas fontes referem que a reação do papa ao ver A riqueza e os excessos do alto clero eram uma
aquele frade e seus companheiros sujos e mal ves dos provocação e uma ofensa à miséria do povo, e a
foi terrível: “Vá embora frade, volta aos teus porcos proliferação de grupos heré cos14, o sinal forte do mal
semelhantes a e entrega a eles tua regra e também tua estar. A reforma da Igreja era urgente e, de alguma
pregação”12. São Boaventura também afirma, na sua forma, aqueles frades maltrapilhos foram interpretados
biografia de São Francisco, que Inocêncio III por Inocêncio III como uma resposta. A Igreja também
inicialmente expulsou com desdém, como um enviaria um sinal claro, mostrando que as coisas
importuno, aquele visitante esquisito. Apesar da começavam a mudar e que mesmo no seio da Igreja era
mediação da cúria, parece que o Papa se convenceu a possível viver aqueles ideais de simplicidade e pobreza
conceder a audiência principalmente graças a um sonho defendidos por alguns grupos de heré cos. Foi esta,
que ele teve: “O Papa via um homem magro e franzino, sobretudo, a chave que abriu aos franciscanos as portas
no qual ele reconheceu o Pobre de Assis, colocar seu da Santa Sé. E assim Papa Inocêncio III, com muitas
ombro sob a Basílica Lateranense para suportá-la e reservas e precauções, sem poupar cortes e ajustes,
impedir que desmoronasse completamente”13. Quando aprovou aquela Proposta de Vida:
o Pon fice recebeu o pequeno grupo de frades,
Francisco soube manter, com insistência e humildade, “Francisco e sua Ordem têm a liberdade de
um profundo diálogo com o Papa. No entanto, atuar sua Regra e licença para pregá-la”.
terminada a exposição do Propositum Vitae, feito de
A primeira Regra estava aprovada, mas sem Bula. Ou
frases evangélicas e normas de vida, o Pon fice ficou
seja, ela podia ser atuada, mas sem a Bula exigida pelo
perplexo, considerando inviável aquela Regra que,
Direito Canônico não nha nenhum valor oficial.
certamente, seria muito mal vista pela Igreja de Roma.
Inocêncio III, porém, além do péssimo caráter possuía Sucessivamente o texto original do Propositum Vitae foi
também uma refinada inteligência polí ca e muita perdido, talvez voluntariamente, durante as diatribes
familiaridade com o poder, visto o grande número de que surgiram na Ordem Franciscana após a morte de
Papas descendentes de sua família. Naqueles dias a São Francisco.
Igreja não estava navegando em boas águas.
Imagem: Acervo da Autora

Imagem: Acervo da Autora

O sonho do Papa Inocêncio III Inocêncio III confirma a regra


Gio o (1267- 1337) afrescos dedicados a São Francisco (1290-1295)

12 - (cf. Tes monia minora saeculi XIII de s. Francisco, Roma, 1908)


13 - Legenda Maior (1263), biografia e história de São Francisco por São Boaventura (Bagnoregio 1217 – Lion 1274)
14 - Movimento cristão de ascese extrema na Europa ocidental entre os séculos XII e XIII. Esta crença incen vou a igualdade
de gênero, a reencarnação, o vegetarianismo e o suicídio.

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A REGRA NÃO BULADA A REGRA BULADA

De volta em Assis, Francisco estabeleceu-se com seus A primeira Regra, Propositum Vitae, é “filha” de um
companheiros na Porciúncula, que se tornou o centro Francisco que se sente, e deseja ser, um reformador. Um
do franciscanismo. O movimento franciscano estava se jovem de 28 anos, forte no sico e na mente, cheio de
alargando até superar os confins da Itália. O santo, o mismo e de entusiasmo pelas suas possibilidades
então, começou a reunir seus frades em Capítulos reformistas, pelos seus sonhos de paz e amor, pelos
Gerais, na Porciúncula, para discu r a organização da sequazes que aumentam dia após dia, prontos a
Ordem. O Capítulo de 1217 foi subdividido em 12 encorajar o santo e reforçar seus propósitos de uma vida
províncias, incluindo também as casas na Pales na e em de fraternidade.
Marrocos. Sucessivamente, em 1221, depois que São
Francisco renunciou ao governo da Ordem Franciscana,
foi convocado um Capítulo Geral que entrou na história Bem diferente é o Francisco da Regra Bulada. Em 1223,
como o Capítulo das Esteiras. Naquela ocasião ocorreu o quando dita a terceira Regra, em vigor ainda hoje,
importante encontro entre Francisco de Assis e Antônio Francisco é um homem de 41 anos, fisicamente cego e
de Pádua, na época ainda frade menor desconhecido cheio de sombras dentro de si. Fraco, doente,
aos demais. Sobre ele sabia-se apenas que era originário decepcionado pelos seus sonhos de paz não realizados,
de Portugal e que uma tempestade misteriosa o havia pela sua experiência nas Cruzadas, que sempre acabam
encalhado nas costeiras da Sicília. Neste capítulo foi mal, pelos seus companheiros, mais preocupados com
redigida a segunda Regra, a Regra não Bulada, que as ambições de comando que com o amor por todas as
nunca foi subme da ao Pon fice. Faltando-lhe o criaturas. Esmagado entre as exigências dos irmãos e a
reconhecimento formal de uma Bula Papal, ela não luta em defesa de sua intuição original.
podia ter a força de Regra Oficial da Ordem.
Imagem: Acervo da Autora

Imagem: Acervo da Autora

O mais an go afresco de São Francisco São Francisco chorando XIII sec.


Autor desconhecido Autor desconhecido

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“[...] aumenta o número de irmãos aos quais já não basta o Evangelho para guiar sua vida.
Querem normas prá cas que possam orientá-la com mais precisão, pedem regulamentos
com os quais cobrir a nudez do Evangelho [...]. As dúvidas pesam em seu coração. Deseja
ver e não pode. Sente que já não tem a força e a lucidez necessárias para guiar os frades.
Francisco renuncia a seu papel de guia espiritual e volta ao ermo. As sombras crescem e
acontece a coisa mais triste: a doçura de viver em fraternidade se faz amargura”16.

Francisco sente que perdeu os rastros do Mestre, volta ao


silêncio, escuta como no início a palavra do Evangelho que o
chama à confiança, à coragem das origens. Francisco recupera na
sua memória o beijo ao leproso, e mais uma vez encontra ali sua
cura e a força para retomar o caminho da fraternidade:
“Não é possível viver sem irmãos. Sem eles não há Deus”.
“É perdoando que somos perdoados
Um raio de sol basta para afugentar muitas sombras
Toda a escuridão do mundo não apaga a luz de uma única vela
É dando que recebemos”17

A REGRA BULADA
“Observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de
próprio e em cas dade. Frade Francisco promete
obediência e obséquio ao Papa Honório III e seus
sucessores canonicamente eleitos e à Igreja
Romana. E os outros frades devem obedecer ao
Frade Francisco e seus sucessores”.

Começa assim a Regra ditada por São Francisco em Fonte


Colombo18 ao Cardeal Ugolino de Anagni, futuro Papa Gregório IX,
que corrigiu alguns aspetos e deu-lhe uma forma jurídica. No dia
29 de novembro de 1223, Papa Honório III aprova, com a Bula
solene “Solet annuere”, a Regra Franciscana que, a par r desta
data, será a Forma de Vida válida para todos os Frades Menores.

16 - Ra o Forma onis, IV.I, 46,47 – OFMCap


17 - Frases de São Francisco
18 - Um do quatro santuários do Caminho de São Francisco no Vale Santo, situado na parte mais escondida do bosque de azinheiras seculares,
no monte Rainiero, onde se encontrava a gruta escolhida por Francisco para escrever a Regra.

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Imagem: Acervo da Autora

Regra Bulada – Honório III Imagem: Acervo da Autora Ermo dos cárceres

Os centenários mencionados no início do ar go fazem parte de um único projeto temá co


que a Família Franciscana quis iniciar para celebrar, unida, os acontecimentos culminantes dos
úl mos anos da vida do Fundador. Aos centenários da Regra Bulada e do Presépio de Greccio
(1223-2023) seguirão O Dom dos Es gmas (1224-2024), O Cân co das Criaturas (1225-2025)
e A Páscoa19 de Francisco de Assis (1226-2026).

A celebração dos Centenários visa também dirigir o olhar para o futuro e reforçar, de modo
carismá co, a iden dade franciscana e é uma ocasião propícia para apoiar, como Família
Franciscana, a reforma eclesial que o Papa Francisco está levando adiante em seu pon ficado.

19 - A palavra deriva do hebraico Pesah, ou seja, passar além.

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