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Brasília - DF
JUNHO 2022
CONTRIBUIÇÃO DA SCOPING REVIEW NA COLISÃO ENTRE DIREITOS
FUNDAMENTAIS EM PACIENTES ADEPTOS Á RELIGIÃO TESTEMUNHA DE JEOVÁ
Brasília - DF
JUNHO 2022
CONTRIBUIÇÃO DA “SCOPING REVIEW” NA COLISÃO ENTRE DIREITOS
RESUMO
Objetivo : Análisar os dilemas bioéticos envolvendo pacientes praticantes da religião testemunha de Jeová frente a
recusa de transfusões sanguíneas e como a scoping review ( revisão de escopo ) pode contribuir com as evidências
científicas disponíveis na literatura. Método : Através dos procedimentos recomendados pelo instituto Joanna Briggs
( IJB) busca-se mapear as principais evidencias disponíveis na literatura sobre a conflito bioético envolvendo a
liberdade religiosa e o direito à vida , quando praticantes da seita testemunha de Jeová estão envolvidos. Com base nesta
temática foram realizados buscas na seguintes bases de dados nacionais e internacionais: PubMed , Cochrane database
of systematic review, Biblioteca virtual de saúde,Scielo , Foram Utilizados os seguintes descritores: Tranfusão de
sangue, liberdade religiosa, Testemunhas de Jeová , princípio da autonomia , Colisão de direitos fundamentais. Dos 57
estudos encontrados , foram selecionados 8 estudos para leitura na íntegra. Resultados: As 8 publicações analisadas
foram publicadas entre 2005 e 2021. Os estudos selecionados trazem um abordagem reflexiva sobre o conflito bioético
em situações onde o direito à vida e a liberdade religiosa colidem . Conclusão: Nota-se que a literatura é conflitante no
que se refere ao tema trasnfusão de sangue em pacientes testemunhas de Jeová. A análise do princípios bioéticos da
beneficiencia e da autonomia , bem como a ponderação e o sopesamento em cada caso concreto são de extrema
Descritores: Tranfusão de sangue, liberdade religiosa, Testemunhas de Jeová , princípio da automia , Colisão de
direitos fundamentais.
Keywords: Blood transfusion, religious freedom, Jehovah's Witnesses, principle of autonomy, Collision of fundamental
rights.
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Trata-se de uma revisão da literatura utilizando o método scoping review para
identificar a principais referências sobre o tema em questão. Os principais sites de busca
dos artigos foram PubMed , Cochrane database of systematic review, Biblioteca virtual de
saúde,Scielo e os descritores envolvidos foram: Tranfusão de sangue, liberdade religiosa,
Testemunhas de Jeová , princípio da autonomia, Colisão de direitos fundamentais. Foram
incluidos artigos publicados entre 2005 e 2021 , excluido-se, artigos mais antigos ou
envolvendo outros conflitos bioético que não abordavam o conflito entre o direito a vida e
a liberdade religiosa envolvendo adeptos da religião testemunha de Jeová.
RESULTADOS
Após pesquisa na literatura foram selecionados 8 estudos que tratam sobre o
dilema bioético envolvendo pacientes adeptos a religião testemunha de Jeová que
necessitavam de transfusões sanguíneas e corriam risco iminente de morte. Ainda na
pesquisa bibliográfica foi identificado relevantes argumentos na interpretação dos dilemas
bioéticos no livro “princípios de ética bioética”de autoria de Beauchamp e Childress
(2011). A obra traz reflexões importantes sobre os princípios bioéticos e como podem ser
aplicados nos casos concretos. Comentários relevantes sobre beneficência , não
maleficência e paternalismo foram fundamentais para aprofundar a discussão da temática
apresentada neste trabalho.
DISCUSSÃO
O direito a vida e a dignidade da pessoa humana caminham em conjunto. Para
atingir a plenitude da dignidade e vida precisa estar garantida, não podendo-se falar em
dignidade se o indivíduo não estiver vivo. A vida é tutelada pelo direito desde a concepção
do indivíduo traduzindo-se como bem jurídico fundamental e indisponível. Em paralelo,
caminha outro direito fundamental, qual seja a liberdade. Os indivíduos são livres para
bem decidirem quaisquer atos, exceto o que a lei condena. Baseado nisso , o estado não
tem o condão de obrigar qualquer indivíduo a realizar um tratamento contra os ditames de
sua consciência, violando sua dignidade e fé. O estado tem o dever de proteger os bens
tutelados pela carta magna garantindo a qualquer o indivíduo o direito de gozá-los em sua
plenitude.
Os pacientes testemunhas de Jeová possuem uma interpretação singular de
passagens bíblicas e recusam-se veementemente a receberam derivados de sangue.
Esses pacientes recorrem a ampla pesquisa literária a fim de encontrar métodos
alternativos a hemotransfusão como eritropoetina recombinante, cell saver , expansores
de plasma, etc. Quando esses métodos não são suficientes para salvar a vida do paciente
e o uso de derivados do sangue impõem-se como única alternativa para salvar a vida ,
estamos diante de um conflito bioético importante , no qual a autonomia do paciente está
colidindo com o direito a vida.
Respeitar a autonomia do paciente é premissa básica de qualquer atendimento
médico. Pessoas autônomas em sua plena capacidade intelectual e volitiva tem o poder
de decidir sobre ser ou não submetida a tratamento médico. É dever do médico orientar e
esclarecer sobre as possibilidades de tratamento e as consequências advindas da recusa
a transfusão de hemoderivados. A quebra da autonomia do paciente pode ensejar em
crime de constrangimento ilegal tipificado no código penal brasileiro no artigo 135. É
importante ressaltar que em situações extremas com grave e ameaçador perigo de vida,
onde a transfusão de sangue consiste no único método eficaz para salvar a vida do
doente, o médico poderá ser isentado de responsabilidade , pois tem o dever moral de
salvar vidas. Porém, ainda encontramos na literatura posições que condenam a
transfusão de sangue em pacientes em iminente perigo de vida por acreditarem que o
paciente perdeu a autonomia de decidir, frente ao paternalismo do médico.
Ainda mais intrigante passa a ser quando menor incapaz está envolvido no choque
entre direitos fundamentais. Devido ao pátrio poder, os filhos menores de 16 anos estão
sujeitos as decisões emanada dos pais. A pesquisa literária já relacionou diversos casos
onde a recusa a transfusão de sangue foi proferida pelos pais, levando , inclusive, em
alguns casos , ao óbito da criança. O grande questionamento é saber se uma decisão de
tamanha relevância que pode implicar na vida dessa criança e que, muitas vezes , não
tem o discernimento sobre o seguimento de determinado credo ou religião. Decidir por um
terceiro, ainda que filho , pode configurar abuso ao direito à crença religiosa com
consequências deletérias para os pais e, principalmente, para a criança.
Ainda sobre considerações bioéticas , os autores Beauchamp e Childress advogam
que todos os princípios Bioéticos são prima facie, não há hierarquia entre eles. Da mesma
forma que o médico que prescreve uma transfusão sanguínea deve respeitar a autonomia
do paciente , também deve seguir os ditames do princípio bioético da beneficência. Ainda
refletindo sobre o pensamento dos autores citados previamente faz necessário discorrer
sobre a diferença entre beneficência e benevolência. Enquanto este é tratado com uma
característica pessoal em prol de beneficiar as pessoas, aquele refere-se a uma
obrigação moral de agir em benefício de outros. Uma aplicação interessante do princípio
da beneficência pode ser exemplificado quando um menor incapaz portador de anemia
falciforme, filho de pais adeptos a religião testemunha de Jeová, necessita de transfusão
sanguínea. O dilema bioético se impõem quando existe a negativa dos pais em autorizar
a transfusão de sangue frente a vontade do médico de salvar o menor por entender que a
transfusão de sangue é a única forma de evitar a morte. Aplicar a transfusão de sangue ,à
revelia dos pais, pode configurar crime de constrangimento ilegal, além de causar
sofrimento psicológico pela possibilidade de ser excluído da comunidade ao qual
participam. Uma ideia interessante, ainda segundo Beauchamp e Childress , seria a
aplicação da transfusão de sangue seguido o princípio da beneficência , uma vez que o
médico agiria moralmente de acordo com os ditames da consciência, protegendo e
defendendo o direito a vida. O que se pode inferir sobre tal conduta é que salvando a vida
dessa criança poderia dar a liberdade dessa criança vim a decidir , quando plenamente
capaz, se seguirá os preceitos religiosos da religião testemunha de Jeová ou não.
CONCLUSÃO
A temática é paradoxal e bastante intrigante e não se pretende esgotar a discussão
do tema com o trabalho. A interpretação da bíblia pelos adeptos da religião testemunha de
Jeová está é a principal referência doutrinária para essas pessoas. Recusar sangue não
traduz falta de autonomia, como poderia se pensar. A rejeição configura um modo
particular de pensamento que alinha-se com autonomia do praticante e a vontade se
seguir fielmente os preceitos religiosos visando a salvação da alma. Diante de situações
conflituosas entre médicos e pacientes testemunhas de Jeová que necessitam receber
hemoderivados deve imperar o respeito a autonomia do paciente . Situações extremas
onde o risco de vida é iminente e não há alternativa a salvação da vida, a literatura revela
que os profissionais hierarquizam o princípio da beneficência e direito a vida em
detrimento da vontade religiosa. Diante desses conceitos apresentados , faz-se
necessário conhecimento ampliado dos princípios bioéticos pelos profissionais de saúde a
fim de que seja evitado o paternalismo, bem como o pré julgamento dos pacientes
testemunhas de Jeová que defendem o respeito incondicional a sua condição religiosa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS