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Além
dos números
As decisões financeiras estratégicas devem ser tomadas
dentro do contexto total da empresa. Por Peter Leitner
D
esenvolvemos um Modelo de Análise Empresarial para ajudar os gerentes financei-
ros a melhorar a qualidade das decisões que dependem de análises financeiras. O
modelo, que lembra uma pirâmide (veja figura na página seguinte), coloca as decisões
financeiras no contexto global da empresa. Ele é segmentado horizontalmente em três sub-
conjuntos cuja importância cresce a partir da base da pirâmide.
O primeiro subconjunto, que é a base, inclui a principal atividade da empresa, o mercado
e a concorrência, elementos que medem a capacidade da empresa de gerar receita.
O segundo subconjunto inclui as operações e o desempenho, elementos que medem a
capacidade da empresa de criar valor para clientes e acionistas, respectivamente.
Finalmente, a ponta da pirâmide contempla a gestão, o elemento que avalia a qualidade
da liderança da empresa.
A inter-relação desses elementos é o fator que mais influencia as perspectivas gerais da
empresa e particularmente sua capacidade de recuperação em períodos de turbulência. O
modelo enfatiza a avaliação da receita de vendas por-
que esse é o elemento menos controlável pelo analista.
As empresas sempre dependeram das análises Estes são os motivos que esclarecem por que o Mode-
financeiras feitas pelos gerentes de contabilidade lo de Análise Empresarial aperfeiçoa o processo de to-
mada de decisão:
e de finanças. Hoje, elas esperam que esses
Os contadores e os analistas financeiros normalmente
profissionais também assumam o papel de estão mais próximos das fontes de informação que os
estrategistas corporativos. Para tanto, tesoureiros dirigentes e, portanto, sabem quais informações são con-
e diretores financeiros devem ir além dos fatores fiáveis e quais não são.
meramente monetários. Geralmente os analistas dependem do trabalho de ter-
Segundo o autor deste artigo, Peter Leitner, eles ceiros, que, se não for bem feito, pode afetar a análise
têm de analisar as empresas à luz de seis elementos- financeira utilizada nas decisões empresariais.
chave –principal atividade, mercado, concorrência, Há uma diferença entre precisão e exatidão, que pode
operações, desempenho passado e qualidade da ser disfarçada por informações sólidas e pelos sofistica-
dos métodos quantitativos que estão à disposição do
gestão– e entender sua inter-relação. Leitner propõe
analista. É possível ser muito preciso no uso do método,
o Modelo de Análise Empresarial (Business Assessment mas errar muito no resultado.
Model), detalhado a seguir. Preocupação constante Intencionalmente, o Modelo de Análise Empresarial
de profissionais da área financeira, a gestão das não enfatiza os métodos quantitativos porque muitos
finanças com enfoque estratégico vem sendo abordada analistas, já mergulhados em dados e fórmulas, preci-
em diversos artigos de HSM Management. sam de uma estrutura para peneirar e classificar as in-
formações, não de outro algoritmo.
Revisão de termos técnicos: Magda David Além disso, uma vez que as demonstrações financei-
ras simplesmente traduzem decisões e iniciativas para
Peter Leitner é presidente do Waterford Advisors, banco de investimentos com sede uma linguagem contábil, os analistas precisam evitar a
em Nova York, NY, EUA, que atende empresas de saúde e de tecnologia da informação. armadilha comum de não ir além dos números. O Mo-
Ao examinar essas variáveis, o analista leva em consideração os fatores externos que criam
incertezas no campo da receita como também a forma pela qual a empresa pode se proteger
contra esses riscos, se houver.
3. Concorrência: “Quais são as oportunidades e os riscos principais?”
O modelo também permite que o analista exponha os pontos fortes e as vulnerabilidades
da empresa e dos concorrentes. Não basta classificar as empresas concorrentes por valor das
vendas em dinheiro, participação de mercado, cobertura geográfica ou qualquer outro tipo
de medição.
Portanto, o modelo reúne as oportunidades e os riscos de determinado ambiente compe-
titivo em uma matriz que apresenta a empresa em relação aos principais concorrentes, se-
gundo os fatores que influenciam as decisões de compra. Ao identificar a natureza desses
fatores e organizar as informações na matriz, o analista pode avaliar cada um deles individu-
almente, bem como sua inter-relação.
Ao preencher a matriz, o analista obtém dois insights críticos. Primeiro, as vulnerabilida-
des da empresa tornam-se bastante evidentes (e são, coincidentemente, representativas das
vantagens para os concorrentes). Segundo, os pontos fracos de cada concorrente também se
tornam evidentes, o que dá à empresa a oportunidade de explorá-los como vantagens com-
petitivas. O exemplo hipotético a seguir ilustra esse ponto.
“Um fabricante de veículos, a ACME Motors, está pensando em construir uma nova fábrica,
que será financiada com suas reservas em dinheiro e com a emissão de títulos de dívida com
vencimento em 30 anos. A análise do investimento de capital indica que o projeto é viável, mas
qual a segurança do analista quanto à previsão de receita? É provável que a demanda de veícu-
los se mantenha, mas ele não pode prever quem os venderá. Para resolver esse problema,
vamos analisar a situação da ACME em comparação com a de seus concorrentes primários.
Vamos pressupor que todas as empresas produzem um único modelo de veículo.”
A análise (veja matriz na página 120) realça as áreas de oportunidade e de risco da ACME.
As variáveis que influenciam a decisão dos consumidores de adquirir o veículo, surgidas em
uma pesquisa de mercado, estão na primeira coluna.
As informações reunidas na matriz sugerem várias coisas sobre as perspectivas de vendas
da ACME. Primeiro indicam que a decisão de adquirir um carro novo é fortemente influen-
ciada por quatro fatores –confiabilidade, preço comparado, acesso a concessionárias e pro-
paganda na televisão. Depois, permitem que a ACME conheça mais seus três concorrentes:
O concorrente A é o que apresenta a taxa mais alta de crescimento devido a: excelente
confiabilidade do produto, preço, acesso a concessionárias e propaganda adequada.
O concorrente B é o que apresenta uma situação mais parecida com a da ACME Motors,
pelo menos da perspectiva do consumidor. Há apenas uma diferença marginal entre confi-
abilidade do produto, acesso a concessionárias, gasto com propaganda e crescimento das
vendas unitárias.
O concorrente C parece estar sobrevivendo devido ao enorme gasto com propaganda e a
uma reputação que no passado lhe permitia cobrar preços mais altos; entretanto, sua baixa
taxa de crescimento e a confiabilidade sofrível do produto indicam claramente que
é um concorrente enfraquecido.
Para ter certeza de que a receita e os fluxos de caixa conseguirão sustentar a nova fábri-
ca, a ACME precisa confirmar se conseguirá ganhar e sustentar um market share adequado.
Entre as iniciativas que oferecem essa certeza estão os compromissos assumidos pelos diri-
gentes de melhorar a confiabilidade do produto, manter ou reduzir os preços, aumentar o
número de concessionárias e manter o gasto com propaganda nas redes de TV.
Se os dirigentes não se comprometerem com essas iniciativas, deverá ser reavaliada a pre-
visão de receita em longo prazo, a partir da qual são feitas as análises do valor presente
líquido e da taxa interna de retorno para justificar o investimento.
4. Operações: “Como a empresa ganha dinheiro?”
Com essa pergunta, o analista identifica em que ponto do ciclo operacional da empresa o
valor é criado pela oferta de um benefício essencial ou da solução para uma necessidade
básica. Nesse contexto, o valor é definido a partir da perspectiva do cliente. O analista pode
considerar todas as operações da empresa como sistemas em que os recursos –como dinhei-
Margem bruta
V – CMV
V
em que:
V = vendas
CV = custos variáveis
CMV = custo das mercadorias vendidas
Dessas duas medições, a margem de contribuição deve ser preferida porque realça a capa-
cidade da empresa de cobrir encargos fixos, os quais se tornam particularmente importan-
tes em firmas em recuperação, em início de atividade ou altamente alavancadas. Entretanto,
a margem bruta é uma excelente substituta quando as informações sobre os custos variáveis
não estão disponíveis de imediato ou quando a empresa tem poucos custos variáveis (como
é comum nas empresas de tecnologia da informação).
Retorno sobre capital. O índice de retorno sobre capital (ROC, do inglês return on capital)
informa como está a saúde financeira global da empresa e indica o nível de eficiência com
que ela utiliza o total do capital confiado aos dirigentes para gerar lucros, independente-
mente de o capital provir de acionistas ou de instituições de empréstimo. Além disso, con-
forme afirmação do livro básico Graham & Dodd’s Security Analysis, “a medida mais abrangen-
te do sucesso de uma empresa é a porcentagem auferida sobre o capital investido”.
Essa análise deixa claro que as empresas precisam obter um retorno aceitável sobre o
capital, caso contrário suas perspectivas começarão a se desvanecer muito rapidamente. A
fórmula para calcular esse índice é a seguinte:
Retorno sobre capital
EBIT
Capital
em que:
EBIT = lucro antes dos juros e impostos (“lucro operacional”), sigla de earnings before
interest and taxes em inglês
Capital = patrimônio + LTD + impostos diferidos
Patrimônio = ação preferencial + ação ordinária + lucros retidos – ações em tesouraria
LTD = dívida de longo prazo + vencimentos atuais de dívida de longo prazo
Se for utilizada para financiar ativos em longo prazo, devem ser incluídas na LTD as dívi-
das de curto prazo, como debêntures e títulos negociáveis. Todos os títulos e valores inter-
mediários também devem ser incluídos na LTD.
Em termos gerais, um alto retorno sobre capital diminui a dependência da empresa de fontes
externas de capital e lhe dá maior flexibilidade financeira. É essencial, no entanto, comparar o
ROC da empresa com o de seus concorrentes, bem como o ROC médio de seu setor com o de
outros setores, para que o desempenho seja avaliado na íntegra. São relevantes também a matu-
ridade da empresa e de seu setor e o nível de investimento intensivo em ativos fixos do setor.
O mais importante para nossos propósitos, no entanto, é que o índice ROC permite ao analis-
ta determinar não apenas o retorno real do capital investido, mas também se a empresa está
criando ou destruindo o valor corporativo. Ao compararmos o ROC da empresa com a média
ponderada do custo do capital (WACC, na sigla de weighted average cost of capital, em inglês), que
inclui o custo do patrimônio e os custos dos juros da dívida, a meta universal de criar valor para os
acionistas poderá ser medida de forma inequívoca. Essa relação é expressa por:
Se ROC > WACC, cria-se valor.
Se ROC < WACC, destrói-se valor.
6. Dirigentes: “Eles estão à altura da tarefa?”
A avaliação dos dirigentes é elemento menos preciso e mais difícil de qualquer avaliação
empresarial, embora seja o mais crítico. Os investidores profissionais, principalmente os
especializados em transações que envolvem alto nível de falta de liquidez, capital de risco e
aquisições alavancadas, geralmente concordam em que a qualidade dos dirigentes é o me-
lhor indicador do sucesso ou fracasso de uma empresa.
VENDA
(Concessionárias 35 15 50 20
/1 milhão de habitantes)
PROMOÇÃO
(Verba para propaganda US$ 80 US$ 85 US$ 150 US$ 80
em TV) milhões milhões milhões milhões