Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2020 / 2023
Vice-Presidente
Alessandra Cristina Marcolin
Secretária
Sheila Koettker Silveira
Membros
Elias Ferreira de Melo Junior
Liduina De Albuquerque Rocha E Souza
Márcia Maria Auxiliadora de Aquino
Mirela Foresti Jimenez
Ricardo Porto Tedesco
Stênia dos Santos Lins
Stênia Lins Leão Lima
Tenilson Amaral Oliveira
Descritores
Parto; Assistência ao paciente; Gravidez de alto risco; Gestante de risco habitual
Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Assistência
ao parto da gestante de risco obstétrico habitual. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo
FEBRASGO-Ginecologia, n. 94/Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento,
Parto e Puerpério).
Introdução
Trabalho de parto (TP) e parto são processos fisiológicos nos quais
ocorrem as fases clínicas do parto e que têm por objetivo a expulsão
de feto e placenta, da cavidade uterina, com mais de 20 semanas de
idade gestacional (IG). A “hospitalização” do parto, a partir do século
XIX, foi uma estratégia tomada para garantir melhores condições de
assistência à mãe e ao recém-nascido (RN) e, assim, reduzir as eleva-
das taxas de morbimortalidade materna e perinatais existentes na
época. Considera-se que o parto em ambiente hospitalar se associe
a condutas e procedimentos com potencial de torná-lo mais seguro
para a mulher e seu filho. Se, por um lado, isso contribuiu para redu-
zir resultados adversos, por outro permite o estabelecimento de um
modelo que considera a gravidez, o parto e o nascimento doenças,
Assistência baseada em
evidências nas fases do TP
Antecedendo as fases clínicas do parto, existe o período preparatório
ou pródromo do TP. Na sequência, há a fase de dilatação (primeiro
período), a fase de expulsão (segundo período), a dequitação (tercei-
ro período) e, por fim, o quarto período ou de Greenberg. É importan-
te salientar que os conceitos apresentados a seguir levam em consi-
deração a gestação em seu termo (após a 37a semana).
Cuidados na admissão da
parturiente na fase ativa
Os cuidados iniciais na humanização do parto envolvem anamnese
dirigida que deve ser complementada com dados do prontuário e/ou
cartão de PN. Exames físico geral e obstétrico devem ser efetuados,
exame especular apenas se houver suspeita de corioamniorrexe,
sangramento genital ou corrimento vaginal e toque vaginal para ava-
liar condições do colo uterino, apresentação, variedade de posição
e altura do feto, caso haja contrações uterinas. Quando presente a
rotura das membranas ovulares, é preciso definir há quanto tempo
e descrever o aspecto do líquido amniótico. Características dos san-
Protocolos Febrasgo | Nº94 | 2021
9
Assistência ao parto da gestante de risco obstétrico habitual
Suporte contínuo
Suporte contínuo deve ser oferecido à parturiente ao longo de to-
das as fases clínicas do parto, seja por profissional de saúde, seja
por acompanhante de sua escolha. É obrigação da equipe a garantia
de “ambiente” para sua permanência, tendo como padrão, quando
possível, o sistema PPP (salas pré-parto, parto e puerpério imediato).
Essa conduta, além de atender à Lei Federal no 11.108 (7/4/2005), que
trata do direito à acompanhante no TP, traz claros benefícios: menos
necessidade de analgesia de parto, menores taxas de partos vaginais
instrumentalizados e cesáreas, menor risco de Apgar < 7 no quinto
minuto, menor duração do TP e mais satisfação com o parto.(16,17)
Alimentação
Durante a fase ativa do TP, as mulheres podem ingerir líquidos, de
preferência soluções isotônicas ou água de coco, em vez de somente
água para prevenir cetose e desidratação. Mulheres que não estejam
com analgesia farmacológica nem apresentem fatores de risco para
anestesia geral podem ingerir dieta leve com baixo teor de resíduos.
Caso seja indicado jejum (por mais risco de cesárea) ou a pacien-
te não consiga ingerir fluidos via oral, a prescrição de infusão de soro
glicofisiológico a 5% deve ser realizada, como conduta de exceção.
Protocolos Febrasgo | Nº94 | 2021
10
CNE em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério
Controle da dor
Antes da analgesia farmacológica, os métodos não farmacológicos
para alívio da dor devem ser oferecidos. São simples, de baixo custo,
não invasivos e geralmente sem contraindicações ou efeitos adver-
sos. Promovem redução da ansiedade e permitem colaboração ativa
da paciente, postergando a analgesia medicamentosa.(20-25) Porém,
esses métodos promovem limitado alívio da dor. As instituições que
oferecem assistência ao parto devem disponibilizar analgesia farma-
cológica à parturiente sempre que os métodos não farmacológicos
forem insuficientes e/ou for seu desejo (independentemente da fase
do TP e da dilatação cervical). Apesar de aumentar a complexidade
da assistência e demandar frequentes reavaliações maternas e fetais,
o método farmacológico é mais efetivo no controle da dor.(26) Esse
assunto é abordado com mais detalhes em protocolos específicos.
Monitorização fetal
Nas parturientes de risco habitual, não é necessária monitorização
eletrônica contínua da frequência cardíaca fetal no segundo perío-
do.(28) Não existem estudos com fortes evidências para definir o me-
lhor intervalo entre as auscultas fetais. Recomenda-se avaliar a fre-
quência cardíaca fetal a cada 15 minutos nos casos de risco obstétrico
habitual e a cada cinco minutos no alto risco.(41)
Expulsão fetal
Após desprendimento do polo cefálico, deve-se checar a presença de
circular cervical de cordão umbilical, que deve ser desfeita através
de alça anterior pela cabeça ou pelo corpo do feto (conforme este
for sendo expulso). Caso seja muito apertada, o cordão necessita ser
apreendido em dois locais próximos, com pinças e cortado entre elas,
Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias
no SUS – CONITEC. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 2016.
2. World Health Organization (WHO). WHO recommendations: intrapartum care for a
positive childbirth experience. Geneva: WHO; 2018.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área técnica de
Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2001.
4. Marowitz A. Caring for women in early labor: can we delay admission and meet
women’s needs? J Midwifery Womens Health. 2014;59(6):645–50.
5. Nelson DB, McIntire DD, Leveno KJ. False labor at term in singleton pregnancies:
discharge after a standardized assessment and perinatal outcomes. Obstet
Gynecol. 2017;130(1):139–45.
6. Cunningham FG, Leveno KJ, Bloom SL, Dashe JS, Hoffman BL, Casey BM, et al.
Williams obstetrics. . 25th ed. McGraw-Hill Education; 2018.
7. Friedman EA. Primigravid labor; a graphicostatistical analysis. Obstet Gynecol.
1955;6(6):567–89.
8. Friedman EA. Labor in multiparas; a graphicostatistical analysis. Obstet Gynecol.
1956;8(6):691–703.
9. Zhang J, Landy HJ, Ware Branch D, Burkman R, Haberman S, Gregory KD, et al.;
Consortium on Safe Labor. Contemporary patterns of spontaneous labor with
normal neonatal outcomes. Obstet Gynecol. 2010;116(6):1281–7.
10. American College of Obstetricians and Gynecologists. Obstetric care consensus
no. 1: safe prevention of the primary cesarean delivery. Obstet Gynecol.
2014;123(3):693–711.
11. Kauffman E, Souter VL, Katon JG, Sitcov K. Cervical Dilation on Admission in
Term Spontaneous Labor and Maternal and Newborn Outcomes. Obstet Gynecol.
2016;127(3):481–8.
12. Bailit JL, Dierker L, Blanchard MH, Mercer BM. Outcomes of women presenting in
active versus latent phase of spontaneous labor. Obstet Gynecol. 2005;105(1):77–9.
13. Devane D, Lalor JG, Daly S, McGuire W, Cuthbert A, Smith V. Cardiotocography
versus intermittent auscultation of fetal heart on admission to labour ward
for assessment of fetal wellbeing. Cochrane Database Syst Rev. 2017
Jan;1:CD005122.
14. Reveiz L, Gaitán HG, Cuervo LG. Enemas during labour. Cochrane Database Syst
Rev. 2013 Jul;(7):CD000330.
15. Basevi V, Lavender T. Routine perineal shaving on admission in labour. Cochrane
Database Syst Rev. 2014 Nov;(11):CD001236.
16. Hodnett ED, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C. Continuous support for women during
childbirth. Cochrane Database Syst Rev. 2013 Jul;7:CD003766.
17. Bohren MA, Hofmeyr GJ, Sakala C, Fukuzawa RK, Cuthbert A. Continuous
support for women during childbirth. Cochrane Database Syst Rev. 2017
Jul;7(7):CD003766.
18. Singata M, Tranmer J, Gyte GM. Restricting oral fluid and food intake during labour.
Cochrane Database Syst Rev. 2013 Aug;(8):CD003930.
19. Lawrence A, Lewis L, Hofmeyr GJ, Styles C. Maternal positions and mobility during
first stage labour. Cochrane Database Syst Rev. 2013 Oct;(10):CD003934.
20. Jones L, Othman M, Dowswell T, Alfirevic Z, Gates S, Newburn M, et al. Pain
management for women in labour: an overview of systematic reviews. Cochrane
Database Syst Rev. 2012;2012(3):CD009234.
21. Madden K, Middleton P, Cyna AM, Matthewson M, Jones L. Hypnosis for pain
management during labour and childbirth. Cochrane Database Syst Rev. 2016
May;(5):CD009356.
22. Santana LS, Gallo RB, Ferreira CH, Duarte G, Quintana SM, Marcolin AC.
Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) reduces pain and postpones
the need for pharmacological analgesia during labour: a randomised trial. J
Physiother. 2016;62(1):29–34.
23. Gallo RB, Santana LS, Marcolin AC, Duarte G, Quintana SM. Sequential application
of non-pharmacological interventions reduces the severity of labour pain, delays
use of pharmacological analgesia, and improves some obstetric outcomes: a
randomised trial. J Physiother. 2018;64(1):33–40.
24. Simkin P, Klein MC. Nonpharmacologic approaches to management of labor pain.
In: UpToDate; 2018. [cited 2021 Sept 15]. Available from: www.uptodate.com
25. Smith CA, Collins CT, Levett KM, Armour M, Dahlen HG, Tan AL, et al. Acupuncture
or acupressure for pain management during labour. Cochrane Database Syst Rev.
2020 Feb;2(2):CD009232.
26. Committee on Practice Bulletins—Obstetrics. Practice Bulletin No. 177: Obstetric
Analgesia and Anesthesia. Obstet Gynecol. 2017;129(4):e73–89.
27. Danilack VA, Nunes AP, Phipps MG. Unexpected complications of low-risk
pregnancies in the United States. Am J Obstet Gynecol. 2015;212(6):809.e1–6.
28. Alfirevic Z, Devane D, Gyte GM, Cuthbert A. Continuous cardiotocography (CTG)
as a form of electronic fetal monitoring (EFM) for fetal assessment during labour.
Cochrane Database Syst Rev. 2017 Feb;2:CD006066.
29. ACOG Committee Opinion No. ACOG Committee Opinion No. 766: Approaches to
Limit Intervention During Labor and Birth. Obstet Gynecol. 2019;133(2):e164–73.
30. Downe S, Gyte GM, Dahlen HG, Singata M. Routine vaginal examinations for
assessing progress of labour to improve outcomes for women and babies at term.
Cochrane Database Syst Rev. 2013 Jul;(7):CD010088.
31. Locatelli A, Regalia AL, Patregnani C, Ratti M, Toso L, Ghidini A. Prognostic value
of change in amniotic fluid color during labor. Fetal Diagn Ther. 2005;20(1):5–9.
32. Grobman WA, Bailit J, Lai Y, Reddy UM, Wapner RJ, Varner MW, et al.; Eunice Kennedy
Shriver National Institute of Child Health and Human Development (NICHD)
Maternal-Fetal Medicine Units (MFMU) Network. Association of the duration of
active pushing with obstetric outcomes. Obstet Gynecol. 2016;127(4):667–73.
33. Gupta JK, Sood A, Hofmeyr GJ, Vogel JP. Position in the second stage of labour
for women without epidural anaesthesia. Cochrane Database Syst Rev. 2017
May;5(5):CD002006.
34. Walker KF, Kibuka M, Thornton JG, Jones NW. Maternal position in the second
stage of labour for women with epidural anaesthesia. Cochrane Database Syst
Rev. 2018 Nov;11:CD008070.
35. Cluett ER, Burns E, Cuthbert A. Immersion in water during labour and birth.
Cochrane Database Syst Rev. 2018 May;5(5):CD000111.
51. Moore ER, Anderson GC, Bergman N, Dowswell T. Early skin-to-skin contact for
mothers and their healthy newborn infants. Cochrane Database Syst Rev. 2012
May;(5):CD003519.
52. McDonald SJ, Middleton P, Dowswell T, Morris PS. Effect of timing of umbilical cord
clamping of term infants on maternal and neonatal outcomes. Cochrane Database
Syst Rev. 2013 Jul;(7):CD004074.
53. Committee on Obstetric Practice. Committee Opinion No. 684: Delayed Umbilical
Cord Clamping After Birth. Obstet Gynecol. 2017;129(1):e5–10.
54. Vesoulis ZA, Liao SM, Mathur AM. Delayed cord clamping is associated with
improved dynamic cerebral autoregulation and decreased incidence of
intraventricular hemorrhage in preterm infants. J Appl Physiol (1985). 2019;
127(1): 103–10.
55. Dombrowski MP, Bottoms SF, Saleh AA, Hurd WW, Romero R. Third stage of labor:
analysis of duration and clinical practice. Am J Obstet Gynecol. 1995;172(4 Pt
1):1279–84.
56. Begley CM, Gyte GM, Devane D, McGuire W, Weeks A. Active versus expectant
management for women in the third stage of labour. Cochrane Database Syst Rev.
2015 Mar;(3):CD007412.
57. Oladapo OT, Okusanya BO, Abalos E, Gallos ID, Papadopoulou A. Intravenous
versus intramuscular prophylactic oxytocin for reducing blood loss in the third
stage of labour. Cochrane Database Syst Rev. 2020;11:CD009332.
58. Gülmezoglu AM, Lumbiganon P, Landoulsi S, Widmer M, Abdel-Aleem H, Festin M,
et al. Active management of the third stage of labour with and without controlled
cord traction: a randomised, controlled, non-inferiority trial. Lancet. 2012
May;379(9827):1721–7.
59. Chen M, Chang Q, Duan T, He J, Zhang L, Liu X. Uterine massage to reduce
blood loss after vaginal delivery: a randomized controlled trial. Obstet Gynecol.
2013;122(2 Pt 1):290–5.
60. Organização Pan-Americana da Saúde. Recomendações assistenciais para
prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília (DF):
OPAS; 2018.
61. Elharmeel SM, Chaudhary Y, Tan S, Scheermeyer E, Hanafy A, van Driel ML.
Surgical repair of spontaneous perineal tears that occur during childbirth versus
no intervention. Cochrane Database Syst Rev. 2011 Aug;(8):CD008534.
62. Kettle C, Dowswell T, Ismail KM. Continuous and interrupted suturing techniques
for repair of episiotomy or second-degree tears. Cochrane Database Syst Rev.
2012 Nov;11(11):CD000947.
63. Kettle C, Dowswell T, Ismail KM. Absorbable suture materials for primary repair
of episiotomy and second degree tears. Cochrane Database Syst Rev. 2010
Jun;2010(6):CD000006.
64. Bonet M, Ota E, Chibueze CE, Oladapo OT. Routine antibiotic prophylaxis after
normal vaginal birth for reducing maternal infectious morbidity. Cochrane
Database Syst Rev. 2017 Nov;11(11):CD012137.
65. World Health organization (WHO). WHO recommendation on: Routine antibiotic
prophylaxis for women undergoing operative vaginal birth. Genève: WHO; 2021.