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Carta de Atenas de outubro de 1931

I - Doutrinas. Princípios Gerais.

Nos casos em que uma restauração pareça indispensável devido a deterioração ou destruição, a
conferência recomenda que se respeite a obra histórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo
de nenhuma época.

[...] a conferência constatou que nos diversos Estados representados predomina uma tendência geral
a abandonar as reconstituições integrais, evitando assim seus riscos, pela adoção de uma manutenção
regular e permanente, apropriada para assegurar a conservação dos edifícios.

Preocupação voltada não somente para a reconstituição integral do bem, como também para um
trabalho de conservação. Deste modo, o bem resistiria às ações do tempo e não precisa passar por
obras grandes e dispendiosas de restauro, nem ocorre sua deterioração.

A conferência recomenda que se mantenha uma utilização dos monumentos, que assegure a
continuidade de sua vida, destinando-os sempre a finalidades que o seu caráter histórico ou artístico.

Há o entendimento que o monumento deve inserir-se no cotidiano das populações, ressaltando sua
importância social, através de ações educativas para que haja o reconhecimento de sua importância
artística e histórica. Ações como essa reforçam a mentalidade de preservação!

II - Administração e legislação dos monumentos históricos.

A conferência aprovou unanimemente a tendência geral que consagrou nessa matéria um certo
direito da coletividade em relação à propriedade privada.

O Direito da coletividade foi priorizado em detrimento da propriedade privada, e há um


reconhecimento da dificuldade de articulação desses interesses. O decreto-lei 25-37 possui traços
inspirados nas recomendações da carta.

III - A valorização dos monumentos

A conferência recomenda respeitar, na construção dos edifícios, o caráter e a fisionomia das cidades,
sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos [...]

Em certos conjuntos, algumas perspectivas particularmente pitorescas devem ser preservadas [...]

As intervenções não ocorrem apenas no bem, mas incidem no entorno do bem. Mais uma vez,
identificamos a consonância do decreto-lei 25-37 com a carta. O cenário coopera a fim de evitar a
desconfiguração do patrimônio. Vemos aqui, o direito da coletividade sobrepondo-se ao direito
privado.
Recomenda-se, sobretudo, a supressão de toda publicidade, de toda presença abusiva de postes ou
fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés, na vizinhança ou na
proximidade dos monumentos, de arte ou de história

Há um destaque na importância do reconhecimento da inserção deste bem, assim como seu contexto.
O entono deve respeitá-lo!

IV – Os materiais de Restauração

Eles aprovaram o emprego adequado de todos os recursos da técnica moderna e especialmente, do


cimento armado.

V - A deterioração dos monumentos

1 º - A colaboração em cada país dos conservadores de monumentos e dos arquitetos com os


representantes das ciências físicas, químicas e naturais para a obtenção de métodos aplicáveis em
casos diferentes.

O documento reconhece a importância da mobilização da comunidade científica internacional e


propõe a cooperação entre as nações, uma vez que o patrimônio não pertence apenas ao país ou ao
povo em que está inserido, mas sim um bem comum de toda civilização.

[...] A conferência, no que concerne à conservação da escultura monumental, considera que retirar a
obra do lugar para o qual ela havia sido criada é, em princípio, lamentável[...]

VI - Técnica da conservação

Quando se trata de ruínas, uma conservação escrupulosa se impõe, com a recolocação em seus
lugares dos elementos originais encontrados (anastilose), cada vez que o caso o permita; os materiais
novos necessários a esse trabalho deverão ser sempre reconhecíveis.

Anastilose consiste em restaurar o bem através dos fragmentos originais, distinguindo o que é original
e o que foi refeito, evitando pastiches e falsos históricos, a chamada reconstrução mimética.
Requalifica o espaço, destacando e distinguindo o antigo e novo. Na prática, é uma questão
controversa, já que no campo das restaurações, temos bons, como o Tesouro de Atenas, Grécia, em
2004 e péssimos exemplos, como a restauração da Torre Medieval de Cádiz, projeto do arquiteto
espanhol Carlos Quevedo Rojas em 2011.

[...] análise escrupulosa das moléstias que os afetam [...]

Um estudo das patologias que acometem o edifício deve ser realizado antes de qualquer intervenção
no bem.

VII - A conservação dos monumentos e a colaboração internacional

Os membros da conferência, após haverem visitado, no curso de seus trabalhos e no correr dos
estudos desenvolvidos nessa ocasião, muitos dos principais campos de escavações e dos monumentos
antigos da Grécia, foram unânimes em prestar homenagem ao governo grego que, há muitos anos, ao
mesmo tempo em que executava ele mesmo trabalhos consideráveis, aceitou a colaboração de
arqueólogos e especialistas de todos os países.
2 º - Cada Estado constitua arquivos onde serão reunidos todos os documentos relativos a seus
monumentos históricos;

A carta é criada para fornecer parâmetros internacionais no restauro dos monumentos, respeitando
a autonomia de cada país e respectivas legislações. Cabe ao Estado fazer um inventário, uma
documentação desses bens.

b) O papel da educação e o respeito aos monumentos.

[...] a melhor garantia de conservação de monumentos e obras de arte vem do respeito e do interesse
dos próprios povos, considerando que esses sentimentos podem ser grandemente favorecidos por
uma ação apropriada dos poderes públicos[...]

Carta de Atenas de 1933

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