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A história da Grécia se inicia em Creta, ilha do mar Mediterrâneo, cujas águas banham o sul da Europa, o norte da África

e o oeste da Ásia.
Foi nesse local onde se desenvolveu uma das civilizações mais antigas de todas, a civilização cretense, também chamada
de “minóica” (por causa de Minos, um dos seus reis mais famosos) ou “egéia” (por causa do mar Egeu).
Os cretenses eram descendentes do seu primeiro rei, Creteu, que governou a ilha por volta do ano 3000 AC.
Creteu era um dos coribantes, sacerdotes que através de danças rituais cultuavam Cibele, a deusa frígia da fertilidade.
Os coribantes cretenses, conhecidos como “curetes”, foram os responsáveis por esconder o deus Zeus numa caverna
quando ele ainda era bebê e corria o risco de ser devorado por seu pai, o titã Crono.
Creteu foi o avô de Astério, outro rei de Creta, que por sua vez foi o pai adotivo de Minos, mencionado anteriormente.
Minos ordenou a construção de um labirinto onde eram oferecidos sacrifícios humanos ao Minotauro, monstro com
características de homem e touro.
O Minotauro foi mais tarde decapitado por Teseu, futuro rei de Atenas, uma das cidades-Estado mais importantes da
civilização micênica.
A característica mais marcante da vida cretense era a sua total dependência dos mares que a cercavam.
Sua principal atividade econômica era o comércio marítimo, cujas mercadorias eram transportadas primeiro em canoas de
madeira, que depois foram substituídas por embarcações mais resistentes e velozes.
Os novos barcos permitiram aos cretenses a expansão da sua área de atuação, que passou a incluir o comércio com lugares
mais distantes, como a Mesopotâmia e o Egito.
As trocas culturais geradas por esse intenso comércio marítimo foram importantes para todas as civilizações envolvidas.
Tudo isso fez com que a civilização cretense atingisse o seu auge, que se deu por volta do ano 2500 AC.
Nessa época, enquanto os egípcios construíam as pirâmides de Gizé, Creta contava com várias cidades bem-sucedidas,
todas elas desenvolvidas ao redor de enormes palácios, que eram ao mesmo tempo moradia real, templo religioso e centro
comercial.
Existiam noventa cidades em Creta, mas as duas mais importantes eram Cnossos (a capital) e Festos.
Durante os mil anos em que estiveram no topo, os cretenses dominaram o comércio marítimo no Mediterrâneo e se
destacaram também em outras áreas, como a cerâmica, a escultura e a fabricação de jóias, onde ficam perceptíveis os
temas religiosos.
Os cretenses eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses, mas pouco se conhece sobre a religião dessa
civilização, em parte porque seu sistema de escrita não foi decifrado até hoje.
Contudo, os vestígios que foram preservados indicam uma religião que enfatizava a fertilidade tanto do solo (agricultura)
quanto da mulher (família).
O motivo para o declínio de Creta não é bem conhecido.
A explicação mais popular sugere uma série de conflitos civis que foram piorados por uma erupção vulcânica ocorrida no
ano de 1600 AC.
Cerca de quinhentos anos depois, Creta foi invadida e conquistada pelos micênicos, um grupo de povos que formavam a
civilização micênica.
Enquanto os descendentes de Creteu civilizavam a ilha de Creta, a Grécia continental estava dividida em duas regiões
principais: Arcádia e Tessália.
A Arcádia era habitada pelos pelasgos, descendentes de Pelasgo, herói vindo de Argos que primeiro impôs ordem nessa
região.
Seu governante mais famoso foi Licaão, filho de Pelasgo, rei conhecido por sacrificar seu próprio filho para testar o
conhecimento de Zeus.
A Tessália era habitada pelos súditos do rei Deucalião, elogiado por suas boas obras, como a construção de cidades e
templos.
Quando a impiedade de Licaão despertou a ira de Zeus, ele enviou um dilúvio para destruir a Grécia.
A terra foi devastada pela água, mas Deucalião e sua família foram poupados, sobrevivendo graças a uma arca de madeira
construída por eles.
Deucalião teve vários filhos, inclusive um que se chamava Heleno.
Foi ele o ancestral de todos os gregos, que chamavam de “Hélade” a sua terra e de “helenos” a si mesmos.
Heleno, por sua vez, teve três filhos: Doro, Éolo e Xuto.
Doro gerou o povo dório, enquanto Éolo gerou o povo eólio.
Xuto teve dois filhos: Aqueu (que gerou o povo aqueu) e Jon (que gerou o povo jônio).
Esses povos, especialmente os três últimos, foram os responsáveis por repovoar a Grécia continental e constituir a
civilização micênica.
Com o tempo, esses povos estabeleceram cidades pequenas, mas desenvolvidas, capazes de realizarem trocas comerciais e
culturais com os demais povos que habitavam as margens do mar Mediterrâneo, como cretenses, egípcios e fenícios.
Este primeiro povo teve uma influência significativa na organização política dos micênicos, sendo que ambas as
civilizações organizavam suas cidades-Estado em torno dos palácios.
Cada palácio era comandado por um rei, chamado de wanax.
Ele detinha a última palavra nos assuntos militares, políticos e religiosos, mas não era considerado divino.
O palácio mais importante estava localizado na cidade de Micenas, daí o nome de civilização “micênica”.
Além dessa cidade, havia outros centros de poder, como Atenas, Corinto, Esparta, Ítaca, Pilos e Tebas.
Um dos eventos mais importantes da história dos povos micênicos foi a Guerra de Tróia, que durou do ano de 1194 antes
de Cristo até o ano de 1184 antes de Cristo.
O conflito teve início quando Helena, esposa de Menelau (rei de Esparta) e mulher mais bela do mundo, foi raptada por
Páris, príncipe da cidade de Tróia.
Decidido a vingar a honra do irmão insultado, Agamenon, rei de Micenas, mobilizou seus guerreiros e sitiou a cidade de
Tróia durante dez anos.
Muitas batalhas foram travadas nesse tempo, culminando na morte de vários heróis, como Ájax e Aquiles do lado
micênico, e Heitor e Páris do lado troiano.
O fim da guerra veio quando os troianos caíram na armadilha do cavalo de madeira (concebida por Odisseu, rei de Ítaca) e
tiveram sua cidade invadida, saqueada e, depois, incendiada.
Um dos nobres troianos, Enéias, resgatou os demais sobreviventes e os liderou até a península itálica, onde depois ele se
tornou o ancestral de Rômulo e Remo, os irmãos gêmeos que fundaram a cidade de Roma.
Muito do que sabemos sobre a Guerra de Tróia vem das obras Ilíada e Odisséia, ambas de autoria do poeta grego
Homero, nascido cerca de oitocentos anos antes de Cristo.
A Ilíada narra os acontecimentos do último ano da Guerra de Tróia, enquanto a Odisséia narra as aventuras vividas por
Odisseu durante seu retorno à Ítaca.
Os relatos fantásticos contidos na Ilíada e na Odisséia foram confirmados pelas pesquisas do arqueólogo alemão Heinrich
Schliemann, que descobriu as ruínas de Tróia em 1873.
A civilização micênica entrou em declínio por volta do ano de 1100 antes de Cristo, quando ela foi atacada e devastada
pelos dórios.
Os cretenses foram dominados pelos micênicos, que, por sua vez, foram dominados pelos dórios.
Esse povo tinha laços de parentesco bem próximos com os três povos (aqueus, eólios e jônios) que constituíram a
civilização micênica, inclusive sendo originários da região norte da Tessália.
O primeiro rei e legislador dório chamava-se Egímio.
Ele foi contemporâneo do famoso Héracles, conhecido por seus doze trabalhos.
Sua cultura também apresentava semelhanças com a cultura micênica, embora ela fosse menos artística e mais militar.
Essas duas características eram típicas da maneira dória de ser, tanto que foram transmitidas para as colônias que mais
tarde foram fundadas por eles.
Como exemplo máximo podemos citar Esparta, a cidade-estado grega que até hoje é lembrada por seus exércitos de fama
lendária.
E foi justamente essa ênfase dada aos assuntos militares que conferiu aos dórios a ferocidade necessária para conquistar
os micênicos, eles mesmos bastante íntimos com a arte da guerra.
Diante dos invasores do norte, muitos aqueus, eólios e jônios abandonaram as cidades costeiras e fugiram para o interior,
abrigando-se no campo.
Alguns permaneceram, mas acabaram pagando com a escravidão pela sua resistência.
Depois de abaixadas as poeiras da conquista, os dórios iniciaram sua ocupação do território grego, estabelecendo-se
sobretudo na região do Peloponeso e reproduzindo ali o tipo de sociedade no qual viviam antes das migrações para o sul
da Grécia.
Cada guerreiro dório se apropriou de um pedaço de terra e nele se estabeleceu com a sua família e os seus escravos,
formando um genos.
O genos era a base dessa nova sociedade grega, que diferia bastante do que havia existido anteriormente.
Os palácios foram destruídos e os genoi tornaram-se os novos centros de poder.
Os reis deixaram de governar, pois agora os patriarcas que comandavam os genoi eram as autoridades incontestes dentro
dos seus domínios.
O cultivo de plantas e a criação de animais passou a ocupar o centro da economia, acarretando o abandono da maioria das
rotas comerciais.
Esse encolhimento do comércio fez com que muitas cidades ficassem desertas e contribuiu também para colocar a escrita
micênica (chamada de Linear B) quase em desuso, uma vez que a sua função principal era manter registro das trocas
comerciais.
Tudo isso provocou uma diminuição na população grega, que se tornou mais dispersa.
Voltando ao genos, é importante lembrar ainda que nele a autoridade era passada de pai para filho.
Os descendentes dos conquistadores dórios constituíam uma casta nobre e eram chamados de eupátridas.
Os gregos de nascimento comum nem sempre tinham terras suficientes para o seu sustento, o que estimulava a migração
para outras áreas ainda inexploradas.
As transformações acarretadas pelas invasões dórias provocaram uma diminuição na população grega.
Os gregos de nascimento comum, isto é, aqueles que não descendiam dos conquistadores dórios, nem sempre possuíam as
terras necessárias para sustentar suas famílias, e por isso lançavam-se ao mar Egeu em busca de novas paragens onde
pudessem cultivar plantas e criar animais.
Surgiram assim as primeiras colônias gregas.
Séculos depois, com a estabilização do modo de vida dório, a população voltou a crescer, fazendo com que a terra se
tornasse uma riqueza ainda mais valiosa.
Novas levas de exploradores içaram suas velas, dando origem a colônias em lugares distantes como Málaga (na atual
Espanha) e Dioscúridas (na atual Geórgia).
Junto com eles foi a cultura grega, agora baseada noutra invenção desse mesmo período: a pólis, a cidade-Estado grega.
Cada pólis tinha uma organização social específica, mas quase todas elas possuíam uma ásty e uma khóra.
A ásty era a área urbana e murada.
Nela ficava a ágora e a acrópole.
A primeira era o local onde as mercadorias eram comerciadas, onde os criminosos eram julgados e onde as questões
políticas eram debatidas.
Já a segunda era o local onde os deuses eram adorados, cada um em seu próprio templo.
A khóra era a área rural localizada fora das muralhas, onde agricultores e pastores livres ou escravos garantiam o sustento
alimentar dos demais habitantes da pólis.
As duas poleis (plural de pólis) mais famosas foram Atenas e Esparta.
Contudo, é difícil imaginar duas sociedades mais diferentes.
Atenas foi fundada pelos jônios, enquanto Esparta foi “fundada” (reconstruída) pelos dórios.
Atenas estava localizada no litoral, numa região quente e plana, enquanto Esparta estava localizada no interior, numa
região fria e montanhosa.
Atenas tinha no comércio (principalmente marítimo) sua principal forma de sustento, enquanto Esparta tinha na
agricultura sua principal forma de sustento.
Atenas contava com uma poderosa marinha, enquanto Esparta contava com um poderoso exército.
Atenas era mais democrática e tanto nobres quanto plebeus participavam da política, enquanto Esparta era mais
aristocrática e só os nobres participavam da política.
Diante de todas essas diferenças, não é surpresa que as formas de pensamento tenham sido elas também contrastantes.
Em Atenas vigorava uma sociedade civil, onde eram cultivados valores como a diplomacia, a inteligência e a retórica.
Isto é, uma sociedade voltada para a contemplação e para a filosofia.
Enquanto isso, em Esparta, vigorava uma sociedade militar, onde eram cultivados valores como a coragem, a força e o
laconismo.
Isto é, uma sociedade voltada para a ação e para o belicismo.
Os gregos não eram os únicos que pensavam em expandir seus domínios.
Havia também os persas, os fundadores de um dos maiores impérios da Idade Antiga (3000 AC - 476 DC).
Tal império chamava-se Império Aquemênida e estendia-se por uma área com cerca de 5,5 milhões de quilômetros
quadrados (o Brasil possuí uma área com cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados).
Por volta do ano de 500 AC, nada parecia poder deter o avanço persa na região do Mar Mediterrâneo, mas ainda havia a
Grécia no meio do caminho.
E se ontem ela não estivesse ali, hoje nós não estaríamos aqui.
As origens das guerras entre gregos e persas remontam ao ano de 499 AC, quando Aristágoras, governante de Mileto,
embarcou numa expedição para conquistar Naxos.
Ele recebeu apoio persa, mas foi derrotado e por isso iniciou uma revolta contra seus antigos aliados.
A revolta durou seis anos e foi vencida pelos persas, que agora estavam decididos a conquistar a Grécia como forma de
vingança.
Em 492 AC, as forças do rei Dário conquistaram a Trácia e a Macedônia, fazendo com que todas as poleis aceitassem a
sua autoridade.
Nem todas: Atenas e Esparta não aceitaram ajoelhar-se perante o monarca considerado divino.
E junto com o desafio veio o primeiro triunfo, conquistado no ano de 490 AC, na Batalha de Maratona, pois foi ali onde
um pequeno exército ateniense conseguiu repelir um inimigo três vezes maior.
Dário morreu quatro anos depois, mas seu gosto pela conquista foi herdado por seu filho, Xerxes, que em 480 AC reuniu
o maior exército visto até então para escravizar os gregos de uma vez por todas.
Três batalhas decisivas selaram o destino dos combatentes.
A primeira foi a Batalha das Termópilas, onde sete mil gregos (liderados pelo rei de Esparta, Leônidas, e seus trezentos
soldados de elite) barraram o avanço de uma força persa composta por trezentos mil homens.
A segunda foi a Batalha de Salamina, onde a marinha ateniense liderada pelo general Temístocles (371 barcos) impôs
uma derrota humilhante à marinha persa liderada pela rainha Artemísia (1207 barcos).
O que restou das embarcações persas foi mais tarde destruído na Batalha de Mícale, outro golpe que acelerou a derrocada
dos invasores.
E a terceira foi a Batalha de Platéia, onde a infantaria grega, liderada pelo general espartano Pausânias e composta por
hoplitas de várias poleis diferentes, conseguiu derrotar a cavalaria persa liderada pelo general Mardônio, morto em
combate.
E assim os gregos preservaram a sua liberdade.
Após sua vitória contra os persas, a Grécia entrou no período de sua história que atualmente é chamado de “clássico”.
Esse adjetivo pode abarcar muitos significados, mas todos eles denotam qualidade, alguém ou algo que é caracterizado
pelo seu valor, especialmente se esse valor for resistente à passagem do tempo.
Nesse sentido, poderíamos dizer que a história grega como um todo é clássica, afinal ela é um dos quatro pilares que
sustentam nossa civilização, a civilização ocidental.
Mesmo assim, existem momentos que se destacam mesmo quando rodeados de outros momentos de igual importância e
justamente por isso capturam a imaginação dos homens.
E o período clássico da história grega, que se estende do fim das Guerras Greco-Pérsicas (479 AC) até o início da Guerra
do Peloponeso (431 AC), foi um momento desses.
Caso se queira uma prova desse fato, basta lembrar que o período clássico do qual falamos foi uma das grandes
influências da civilização romana, sendo ela mesma outro dos quatro pilares que sustentam nossa civilização.
É preciso lembrar ainda que esse momento não esteve rigidamente enclausurado entre as duas guerras mencionadas.
As datas citadas são apenas marcos colocados para organizar os estudos.
Quando falamos da Grécia Clássica, falamos especialmente de Atenas, pois nenhuma outra cidade-Estado grega
conseguiu igualar seu nível de produção cultural.
Atenas foi a grande vitoriosa das guerras contra os persas. Enquanto as outras poleis gregas emergiram do conflito mais
ou menos semelhantes ao que eram antes, Atenas emergiu como uma potência política e militar.
Péricles, um general que governou a cidade-Estado entre 461 AC e 429 AC, foi um dos principais responsáveis pela
ascensão ateniense.
Ele ordenou a construção de inúmeros monumentos públicos, inclusive a Acrópole (conjunto de templos localizado no
local mais alto da pólis) e o Partenon (templo dedicado a Atena, deusa da sabedoria e protetora da pólis).
Também reformou a Liga de Delos, que havia sido criada no ano de 478 antes de Cristo para enfrentar o Império
Aquemênida caso ele decidisse continuar lutando após a Batalha de Platéia.
Sob a tutela de Péricles, a Liga de Delos foi ampliada para acolher cerca de 330 poleis, mais que o dobro das 150
originais.
Essa aliança militar foi o principal instrumento utilizado por Atenas para expandir a sua influência por toda a Grécia,
embora houvesse resistências significativas, como as de Esparta e Tebas, que se recusaram a participar.
O poder da Liga de Delos era o maior símbolo do ápice de Atenas, mas também já prenunciava a guerra que iria provocar
um declínio irreversível em toda a civilização grega.
Um conflito entre Atenas e Corinto, aliada de Esparta, foi o pretexto para o início de uma guerra entre atenienses e
espartanos.
Na verdade, estavam em jogo, de um lado, o império marítimo de Atenas e, do outro, o interesse de Esparta em diminuir o
poderio desse império.
Por essa razão, Esparta lutava pela independência das poleis submetidas pela Liga de Delos.
Em 431 AC, os espartanos invadiram a Ática, destruindo as terras agrícolas localizadas fora das muralhas atenienses.
Os camponeses refugiaram-se na cidade e Esparta acabou retrocedendo, pois não conseguiu conquistar Atenas.
Os espartanos lançaram uma nova ofensiva no ano seguinte, mas foram frustrados por uma epidemia que assolava os
atenienses e clamou a vida de Péricles.
Em 425 AC, Atenas conseguiu atacar e derrotar Esparta, apenas para ter boa parte do seu exército destroçada pelos
espartanos três anos depois.
Ambas não tinham perspectivas: Atenas possuía uma marinha melhor, mas Esparta possuía um exército superior.
Um armistício, a Paz de Nícias, foi assinado em 421 AC.
Contudo, o motivo central do conflito permanecia e por isso os combates foram retomados oito anos depois.
Esparta construiu uma poderosa esquadra com dinheiro persa e usou-a para derrotar Atenas na Batalha de Egospótamo.
Em 404 AC, os atenienses tiveram de render-se.
Era o fim da hegemonia de Atenas sobre o mundo grego, que agora seria liderado por Esparta.
O verdadeiro vitorioso foi o Império Aquemênida, que realizou seu sonho de ver Atenas e praticamente toda a Grécia
destruídas.
O historiador grego Tucídides, que participou da guerra como general, escreveu uma obra chamada História da Guerra
do Peloponeso, onde buscou responder porque a superioridade de Atenas não havia lhe garantido a vitória.
Tucídides conclui que a morte de Péricles privou os atenienses de um líder à altura do desafio enfrentado, abrindo
caminho para toda sorte de políticos interesseiros.
Ou seja, a derrota de Atenas ocorreu mais na política interna do que no campo de batalha.
De fato, a Guerra do Peloponeso marcou o fim do Período Clássico da história grega e o declínio da grandeza das poleis,
que agora guerreavam quase incessantemente entre si para conquistar uma hegemonia cada vez menos duradoura.
Ocupados em lutar contra os seus próprios irmãos, os gregos pareciam não perceber que os persas não eram o único povo
com sede de conquista a pairar no horizonte das suas cidades-Estado.
O vulto do maior conquistador que o mundo conheceria até então aproximava-se vindo das montanhas do norte.
A Macedônia estava localizada ao norte da Tessália, região da Grécia habitada pelos eólios.
Sua sociedade estava organizada em tribos e sua cultura era mais primitiva do que a cultura grega.
Os macedônios possuíam um rei, que decidia o que era realizado nos campos militar, político e religioso.
Todas as terras macedônicas lhe pertenciam, mas ele as presenteava para a classe nobre, que era também a classe
guerreira.
Ela prestava um juramento de fidelidade e tinha como dever auxiliar o rei na administração do reino.
A agricultura e a pecuária eram as bases da economia macedônica.
O trabalho era realizado por camponeses livres que recebiam porções de terra dos nobres e em troca deviam cultivá-las,
entregando uma parte da produção.
Praticamente não havia escravos na Macedônia.
Em 359 AC, subiu ao trono Filipe II, que iniciou uma reforma no exército macedônico.
Ele buscava uma saída para o Mediterrâneo e sabia que isso o colocaria num conflito com a Grécia.
Filipe II aproveitava sua proximidade com os gregos (os dois povos são aparentados) para estudar seus exércitos e aplicar
o que neles havia de melhor nas suas próprias tropas.
Também passou a interferir cada vez mais na política das poleis da Tessália, interferência esta que despertou a
desconfiança de Atenas.
Atenas buscava reagir, mas precisava preocupar-se com o Império Aquemênida, que havia reconquistado seu poder na
região após o debacle da Guerra do Peloponeso.
Os gregos continuavam guerreando entre si em busca de uma hegemonia que não era mais possível.
Tal estado de coisas beneficiava Filipe II, que assinou um tratado de paz com Atenas em 346 AC.
Contudo, os atenienses logo mudaram de idéia e aderiram à Liga Helênica, aliança militar liderada pelo orador
Demóstenes que procurava impedir o avanço macedônico no norte da Grécia.
Em 340 AC, Atenas e Macedônia lançaram-se numa guerra que terminou com a derrota de Atenas na Batalha de
Queronéia.
Esparta também foi dominada por Filipe II, que submeteu a Grécia e uniu suas poleis na Liga de Corinto.
Os gregos, que nunca haviam possuído um governo centralizado, estavam agora sob a tutela de Filipe II.
O próximo passo era enfrentar o Império Aquemênida, razão pela qual a Liga de Corinto havia sido criada.
Boa parte do sucesso militar da Macedônia provinha da forma como seu exército estava organizado.
O núcleo era composto por hoplitas que portavam lanças longas, com seis metros de comprimento, chamadas sarissai.
A infantaria de lanceiros era flanqueada pela cavalaria, que se locomovia principalmente através de bigas e carros de
guerra.
Tal inovação, desenvolvida por Filipe II, fez das falanges macedônicas uma força quase imbatível, capaz de golpes
precisos e velozes.
A poderosa marinha ateniense foi integrada às forças armadas da Macedônia, fator este que contribuiu em muito para a
ampliação da capacidade bélica do outrora primo pobre da Grécia.
Quando tudo parecia certo para a campanha que coroaria os esforços de Filipe II e o tornaria um dos maiores imperadores
de todos os tempos, algo imprevisto aconteceu: o rei da Macedônia foi assassinado, morrendo sem realizar seu sonho de
invadir e conquistar o Império Aquemênida.
Quem assassinou Filipe II?
Ninguém sabe ao certo e as opiniões divergem, mas alguns suspeitam que sua esposa, Olímpia, e seu filho, Alexandre,
estavam implicados no crime.
Seja como for, o trono do reino da Macedônia foi ocupado pelo jovem de 20 anos de idade que ficaria conhecido para a
posteridade não apenas pelo seu nome, mas também pelo seu epiteto: Alexandre, o Grande.
O novo rei macedônio herdou de seu pai um reino de tamanho considerável, cuja extensão, ainda assim, não chegava nem
perto das ambições cultivadas por Alexandre.
A notícia da morte de Filipe II causou furor no mundo grego e estimulou revoltas nas cidades de Atenas e Tebas, bem
como nas regiões da Tessália e da Trácia.
Alexandre, utilizando seu exército de forma rápida e eficaz, logo conseguiu pacificar os revoltosos, feito que lhe garantiu
a liderança da Liga de Corinto.
Tais vitórias lhe concederam ainda mais autoridade e Alexandre prosseguiu dando continuidade ao projeto de seu pai de
conquistar o Império Aquemênida.
Em 334 AC, o exército macedônico invadiu a região da Anatólia, que logo foi dominada.
Em seguida, Alexandre e seus soldados derrotaram os persas na Fenícia, mandando as tropas do rei Dário III em retirada.
O terceiro a cair foi o Egito, uma das satrápias (províncias) mais ricas do Império Aquemênida.
Em 332 AC, foi fundada ali, no delta do Nilo, a cidade de Alexandria (batizada assim por motivos óbvios), que se tornou
o centro comercial e cultural mais importante de todo o Mediterrâneo.
A biblioteca de Alexandria era a maior e mais completa coleção de manuscritos da Antiguidade.
A derrota definitiva dos persas veio um ano depois, na Batalha de Gaugamela, quando toda a região da Mesopotâmia foi
integrada ao sempre crescente Império Macedônico.
Alexandre apoderou-se então das mais importantes capitais do Império Aquemênida: Susa, Persépolis e Pasárgada.
Grande admirador dos gregos e da sua cultura, Alexandre (que até os 16 anos foi aluno do maior dos filósofos gregos,
Aristóteles) destruiu completamente a cidade de Persépolis para vingar a destruição de Atenas causada pelos persas
durante as Guerras Greco-Pérsicas.
O ouro e a prata encontrados nos tesouros dos palácios persas foram postos em circulação nos sistemas de câmbio, o que
enriqueceu grandemente o comércio do Mediterrâneo.
Alexandre incentivou a união entre macedônios e persas, e casou-se com Estatira, uma das filhas de Dário III.
Também adquiriu certos costumes da monarquia aquemênida e passou a ser considerado um governante com origens
divinas.
Isso desgostou uma parte dos gregos, que consideravam tal idéia como autoritária e exagerada.
A marcha militar de Alexandre continuou e estendeu-se até as fronteiras da Índia, que também teve uma boa parte do seu
território conquistada no ano de 326 AC.
Dono de um império tão extenso, Alexandre foi um governante relativamente leniente.
As regiões sob seu domínio eram administradas pela nobreza local, mas sempre fiscalizadas por representantes
macedônios da confiança do jovem imperador.
Alexandre desejava continuar avançando e alcançar o local onde o mundo acaba, mas teve de ceder aos apelos de seus
soldados, saudosos de suas casas após uma campanha que já durava dez anos.
Retornando, Alexandre morreu aos 32 anos, enquanto fazia uma pausa na Babilônia, cidade que ele pretendia tornar a
capital de seu império.
Os preparativos para o funeral demoraram dois anos para ficarem prontos.
Nesse meio tempo, o corpo de Alexandre, o Grande, foi mumificado e depois coberto de ouro para que não apodrecesse.

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