COLUNA ANAP

CAROL CARQUEJEIRO

POR PEDRO VILAS BOAS

Presidente Executivo da ANAP.

E-mail: pedrovb@anap.org.br

INDICADORES DO SETOR DE APARAS

E
m função das condições econômicas atuais, além de
vários outros fatores que impactam especificamente
a reciclagem de papel e que já comentamos aqui, os
preços das aparas estão sofrendo forte baixa e, atualmente,
já estão nivelados aos valores que tinham em 2019, ou seja,
há 4 anos, em um período em que a inflação, medida pelo
IPCA, registrou um crescimento de 27,7%, mas na coleta
de material, que é a atividade mais cara do segmento, os
reajustes foram ainda maiores do que a variação do IPCA.
Preços do ondulado II e custos de coleta
Material Unidade Valores em Reais - Março
2019 2023
Ondulado II tonelada 620,00 638,99
Óleo Diesel litro 3,57 5,71
Caminhão1 unidade 258.010,00 625.900,00 142,6%
Pneu2 unidade 1.585,89 2.214,08
IPCA
Fontes: Anguti Estatística, ANP, FIPE e IBGE
¹ Volkswagen 24-280 E Constellation
² 275x80R22,5 – média de várias marcas
Tal situação está exigindo muita atenção de todos, pois a redu-
ção de preços também ocorre na coleta que, dessa forma, já está
totalmente desestimulada com as cooperativas e catadores recla-
mando da baixa remuneração. Com o governo totalmente inserido
na integração social dos menos favorecidos, é bem provável que, a
curto prazo, interfira na cadeia da reciclagem e, como sabemos, as
interferências governamentais sempre são prejudiciais ao sistema.
De qualquer forma, podemos garantir que, na atual conjun-
tura, já estamos com uma grande quantidade de material sendo
encaminhada para o lixo e, havendo uma retomada do consumo,
teremos forte aumento nos preços das aparas, pois será necessá-
rio investir na reestruturação da coleta.
Outro fator que aparentemente não está sendo levado em
conta é a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
que obriga os usuários a recuperarem parte das embalagens
inseridas no mercado, o que tende a não acontecer com os cata-
dores e cooperados desestimulados e buscando melhores alter-
nativas no plástico, por exemplo – esse fato cria um risco para
as fábricas de papel recicladoras que poderão ser cobradas pela
não reciclagem de papel e, no caso, não apenas pelo governo,
mas, o que é pior, pelos seus próprios clientes.
A ideia de que eventual aumento de preços poderá ser
compensado com importações também envolve algum risco.
Var. % Acreditamos que a proibição ou limitação das importações será
uma das primeiras medidas impostas pelo governo, afinal, não
3,1% tem sentido fazer a logística reversa do material de outros países
59,9% quando nossas aparas estão indo para o lixo.
O volume de vendas no comércio brasileiro perdeu força
39,6% no comparativo de fevereiro de 2023 contra igual mês do ano
27,7% anterior, com o IBGE registrando um crescimento de 1,0%, sen-
do que, no comparativo dos primeiros meses do ano, o volume
de vendas cresceu 2,6% na média dos dez segmentos acompa-
nhados pelo Instituto.
A piora no desempenho do comércio fica ainda mais ní-
tida quando observamos o que aconteceu em cada um dos
setores acompanhados pelo IBGE. Se no comparativo ante-
rior tínhamos três no campo negativo, agora encontramos
seis setores que perderam volume de vendas e, mesmo os que
apresentaram crescimento, o percentual foi bem inferior ao
do comparativo anterior.
Os supermercados permaneceram no campo positivo com
um incremento de 1,8% em seu volume de vendas, agora em
fevereiro de 2023 contra igual mês de 2022, o que implica
em mais aparas de papelão ondulado ainda que seu consumo
esteja bastante fraco.

Maio/May 2023 • Revista O Papel 23

COLUNA ANAP

Desempenho do comércio brasileiro por ramos de atividade

Fevereiro 2022 / 2021
25,0%

19,7%
20,0%

15,0%

10,0%

4,9%
5,0%
1,0% 1,8%
1,0%
0,0%
-0,7%
-5,0%
-4,5%

-10,0% -9,2%
-9,5%

-15,0% -12,9%
-14,6%

-20,0%
Comércio Varejista Total Móveis
Livros, jornais, revistas e papelaria
Tecidos Vestuário e calçados

Hipermercados e Supermercados

Fonte: IBGE

No acumulado do primeiro bimestre de 2023, o volume de

Desempenho do volume de vendas
vendas cresceu 1,8% no comparativo com igual período do
no comércio brasileiro por estados
ano passado. E, olhando o desempenho em cada uma das uni-
dades da Federação, encontramos 22 no campo positivo, com No ano até fevereiro*
destaque para Tocantins, onde as vendas cresceram 12,4% no PR -1,6%
período considerado e, infelizmente, ainda temos dois grandes RJ -1,5%
PA -1,5%
geradores de aparas, Rio de Janeiro e Paraná, com queda no PE -1,3%
volume de vendas. Além disso São Paulo, que é o grande for- BA -0,1%
SP 0,2%
necedor de aparas para o Brasil, cresceu apenas 0,2%. RN 0,6%
A queda nos preços das aparas marrons não está dando DF 0,6%
RO 0,8%
trégua e, em março passado, os ondulados I e II foram comer-
GO 0,9%
cializados por, em média, R$ 722,72 e R$ 638,99 a tonelada AM 1,0%
fob depósito com redução em relação a fevereiro deste ano de, Brasil 1,8%
PI 2,2%
aproximadamente, 5,5% em ambos os produtos, o que os apro- MG 2,3%
xima ainda mais aos valores praticados em 2019. ES 3,7%
MS 4,6%
Se considerarmos o mês de maio de 2021 quando em fun- CE 5,4%
ção da pandemia os preços das aparas marrons atingiram um SC 6,2%
SE 6,3%
valor recorde próximo a R$ 2.000,00 a tonelada, a queda per- AL 6,3%
centual chega a 65%. AC 6,8%
AP 6,9%
A grande questão é que não temos uma única razão para
MT 7,6%
acreditar em uma reversão neste cenário em curto prazo. PB 7,7%
Historicamente, o segundo trimestre do ano marca o iní- RS 8,0%
RR 9,2%
cio da recuperação no mercado de embalagens de papel. MA 11,3%
Contudo, os sinais não indicam isso, aliás, estão indo em TO 12,4%
sentido contrário, apontando que o Brasil está caminhando -10,0% -5,0% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0%
para uma recessão e, para as aparas, ainda temos a entrada
Fonte: IBGE
no mercado de papel de fibra virgem, que pode aumentar *contra igual período do ano anterior

24 Revista O Papel • Maio/May 2023

 Evolução de preços de aparas marrons

Fonte: Anguti Estatística

com o início de operação de novas e grandes máquinas pro-
dutoras de papel para embalagens a partir do uso da celulose
previsto para os próximos meses.
De concreto observamos que a coleta de aparas marrons
está totalmente desestimulada, com os fornecedores dos
aparistas deixando de encaminhar material para os depósi-
tos, reportando estar mais barato deixá-lo ir para o lixo, o
que nos remete a anos anteriores, quando a recuperação na
demanda exigiu enorme esforço para reestruturar a coleta.
A situação do papel reciclado para produção de embala-
gens também, como de se esperar, é de perda de valor. Em
março último, o papel miolo que é o principal representan-
te da categoria, registrou uma queda de 3,3% em relação a
fevereiro deste ano, encerrando o mês cotado a, em média,
R$ 3.645,00 a tonelada com 18% de ICMS e, neste caso, desde
junho de 2021, auge da pandemia, já perdeu 36% do seu valor.
Interessante observar que os dados de expedição de caixas
e chapa, divulgado pela Empapel, mostra um bom desempe-
nho para o produto que, no primeiro trimestre do ano, foi de
948,1 mil toneladas, em volume 2,0% superior ao do mesmo

Evolução de preços do papel miolo

R$ 6.000
2021 2022 2023
R$ 5.800
R$ 5.600
R$ 5.400
R$ 5.200
R$/t com impostos

R$ 5.000
R$ 4.800
R$ 4.600
R$ 4.400
R$ 4.200
R$ 4.000
R$ 3.800
R$ 3.600
R$ 3.400
R$ 3.200
abr.
set
Fev.
mar

mai

dez

jul.

set.
nov

fev.
ago

out

mar.

maio
jun.

ago.

out.

fev.
nov.

mar.
jan.

abr

jan.

jan.
jun
jul

dez.

Fonte: Anguti Estatística

Maio/May 2023 • Revista O Papel 25

COLUNA ANAP

Fluxo internacional de aparas de papel

45.000

Exportação Importação
40.000

35.000

30.000
toneladas

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0
jan./21

jan./22

jan./23
ago.

nov.

ago.

nov.
out.

out.
abr.
maio

jul.

abr.
maio

jul.

abr.
jun.

jun.
dez.

dez.
fev.
mar.

set.

fev.
mar.

set.

fev.
mar.
Fonte: Secex Obs.: inclui todos os tipos de aparas

período de 2022, o que deveria, no mínimo, manter o valor está em 3,6 mil toneladas, na verdade, as importações, a exce-
de mercado do papel miolo. ção de fevereiro passado, vêm superando as exportações desde
Na verdade, esta diferença de tendências reforça a nossa teo- agosto de 2022, mesmo considerando que os preços no mercado
ria de que uma grande quantidade de papel produzido a partir interno estão bastante deprimidos.
de fibras virgens está entrando no mercado em substituição à No mercado externo, as aparas de papelão ondulado fecha-
fibra reciclada. ram o mês de abril valendo, em média, € 83,92 a tonelada, com
Pelo segundo mês consecutivo as importações de aparas alta de 10,8% em relação aos valores praticados em março deste
superaram as exportações. Foram 3,8 mil toneladas vindas do ano, e as curvas de projeção de preço divulgadas pela Norexeco,
exterior contra 1,5 mil toneladas encaminhadas para outros paí- indicam que o produto poderá chegar a € 95 a tonelada nos pró-
ses e, no acumulado do ano, o saldo favorável às importações ximos meses.

Fluxo internacional de papel miolo e testliner

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

Importação Exportação

Fonte: Secex

26 Revista O Papel • Maio/May 2023

 Evolução de preços de aparas brancas

4.000,0

2021 2022 23
2023
3.500,0

3.000,0

2.500,0

2.000,0

1.500,0

1.000,0

500,0

Branca I Branca II Branca III

Fonte: Anguti Estatística

As exportações de papel miolo e testliner estão se
mantendo na faixa das 5,0 mil toneladas mensais, sendo
que o testliner, que já atingiu a marca de 7,4 mil toneladas
exportadas em junho de 2022, hoje não chega a 500 tone-
ladas ou menos de 10% das nossas exportações de papel
reciclado para caixas de papelão ondulado.
Outro fato que vem ocorrendo é que, com a diminuição
das vendas para a Argentina, outros países, como Equador
e México, vêm se destacando como destino re-
gular do nosso material e, considerando apenas
o papel miolo, foram exportadas, em abril pas-
sado, 4,8 mil toneladas que majoritariamente
saíram de São Paulo (52,0%) e Santa Catarina (37,0%).
A celulose continua perdendo valor tanto no mercado europeu
quanto no mercado chinês. Na Europa, que baliza os valores pratica-
dos aqui, a matéria-prima virgem encerrou o mês de março cotada, em
média, a US$ 1.285 a tonelada com uma queda de 4,0% em relação aos
valores praticados em fevereiro e, como o dólar vem apresentando um
valor estável em relação ao real, os preços no mercado interno também
estão perdendo valor.
A consequência deve ser queda nos preços das aparas brancas no
mercado interno, o que, no caso da branca de primeira ainda não ob-
servamos em março, mas as demais registraram perdas, com a branca
II e a branca III sendo comercializadas por, em média, R$ 1.541,47
e R$ 1.028,52 a tonelada fob depósito, com redução de 7,4% e 12,1%
em relação ao mês de fevereiro, respectivamente.        

A ANAP é uma instituição sem fins lucrativos de âmbito nacional, que congrega empresas que se dedicam ao
comércio de aparas de papel. Foi criada em 17 de fevereiro de 1981 em São Paulo-SP, sucessora de outras
Associações como a ABRAP – Associação Brasileira dos Aparistas de Papel, com sede no Rio de Janeiro, e a
Associação do Comércio de Papel, com sede em São Paulo. Saiba mais em: www.anap.org.br

Maio/May 2023 • Revista O Papel 27