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A NECESSIDADE DE COMBATER A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL

Em “Pai nosso?”, documentário produzido pela Netflix, é relatado o caso de um médico


estadunidense que utilizava o próprio sêmen para inseminar mulheres sem o consentimento
das pacientes, que vieram a descobrir a violência sexual após três décadas do acontecido,
através de uma investigação feita pelos mais de 94 meios-irmãos. O autor, no entanto, foi
condenado a apenas uma multa de 500 dólares. No contexto nacional, tal caso reflete
diretamente no cenário de impunidade e escasso exercício de denúncias da violência
obstétrica do Brasil, em viés da falta de discursos representativos e insuficiência de leis.

Deve-se pontuar, de início, a impunidade como grande responsável pela complexidade do


tema. A esse respeito, o jornalista brasileiro Gilberto Dimenstein diz em sua obra “O cidadão
de papel” que o aparato legal do país mantém a efetividade de muitas leis apenas na teoria.
Dessa forma, é perceptível que a garantia dos direitos para as mulheres que sofreram um tipo
de violência obstétrica é uma ilusão, uma vez que grande parte das acusações desse crime
hediondo não é devidamente levada à sério, e se sim, aos culpados são concebidas
condenações injustas e intoleráveis para as vítimas.

Por conseguinte, a falta de denúncias também configura um entrave ao que tange o problema,
já que para Djamila Ribeiro, tirar um problema da invisibilidade é importante para que
medidas sejam pensadas. No sentido da sociedade contemporânea, a falta de discursos nas
redes sociais que motivem o exercício da denúncia e investigação da violência contra a mulher,
especificamente no período de gravidez, configura o fenômeno da “espetacularização da vida”,
onde o silenciamento do problema é feito com a intenção de influenciar as pessoas, criando a
ideia que a prática desse crime não é algo recorrente.

Portanto, urge que esse cenário seja mitigado. Para tanto, a Delegacia da Mulher com apoio do
Ministério das Comunicações deve lançar propagandas e debates em todas as mídias sociais
acerca do assunto, voltado para as mulheres vítimas ou não da violência obstétrica, de modo a
encorajá-las a praticarem a denúncia e que as representem. Paralelamente, o Senado Federal
deve tornar inafiançável este crime, estabelecendo reclusão de cinco a dez anos, a fim de
condenar os culpados e devidamente cumprir com o seu papel diante da sociedade. Desse
modo, a população pode trabalhar junta para que a impunidade e a injustiça presentes no caso
dos 94 meios-irmãos jamais voltem a acontecer, fazendo com que os direitos das mulheres
existam também na prática.

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