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Vermelho

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22/12/2011

Crítica ao Positivismo Jurídico
Numa sociedade complexa social e institucionalmente – onde as diversas formas de
contradições sociais ganham caráter estrutural –, não podemos prescindir de meios de
mediação das relações sociais. O direito é o instrumento que cumpre essa função. O direito
realiza a mediação entre as diversas manifestações das relações sociais.

Uma Constituição, por exemplo, é o resultado da correlação de forças de dada sociedade que
institucionaliza as relações de poder, regulamentando a forma do Estado se relacionar com a
sociedade civil organizada. Nessa perspectiva, o direito deve estar apto a responder às
necessidades dos seres humanos organizados em sociedade, caso contrario poderá dar
respaldo para o arbítrio.

O modelo epistemológico dominante no campo do direito é o positivismo jurídico. Tal
modelo tem por fundamento a neutralidade científica, que se expressa na busca pela
“purificação” da ciência jurídica, tentando afastar tudo que lhe seja “estranho”. Em outras
palavras o positivismo jurídico opta pela dimensão normativa do direito (a lei), afastando
todas as demais, criando, dessa forma, uma cisão no discurso jurídico. O direito é divido em
dois campos estanques: a ciência e a axiologia. Ao primeiro campo ficariam as questões
candentes e mais importantes na esfera do direito. Já ao segundo, caberiam apenas meras
especulações, distante das questões práticas do direito. Fica evidente que o chamado campo
científico possui, para o positivismo jurídico, mais importância, ficando o campo axiológico
em segundo plano. Aos cientistas do direito cabe a tarefa de tratar o ordenamento jurídico,
sua lógica, sua validade; aos filósofos caberia apenas uma reflexão isolada acerca do conceito
do direito na atualidade e de como ele poderia ser no futuro. Aos primeiros é dada toda a
importância, cabendo­lhes o poder decisório nas questões do direito; enquanto que para os
segundos cabem apenas especulações e divagações.

A cisão no discurso jurídico deu origem ao formalismo jurídico, onde a forma não tem
relação com o conteúdo. O direito, nessa perspectiva, pode disciplinar toda e qualquer
conduta humana, não importando os reflexos causados junto à sociedade. No formalismo
jurídico a norma busca legitimidade na própria norma, apresentando o direito como se tivesse
vida própria. O direito é definido apenas pela sua estrutura formal, ficando completamente
dissociado da experiência humana. Cria­se, assim, um mundo a parte da experiência humana:
o mundo do direito. Um mundo ideal, sem contradições, sem antagonismos, sem história e
sem vida. Restando apenas a forma pela forma. Entretanto, a forma jurídica é uma construção
humana, “o impulso para a legislação nasce da dupla exigência de pôr ordem no caos do
direito primitivo e de fornecer ao Estado um instrumento eficaz para intervenção na vida
social” (BOBBIO, 2006) (1).

Ora, não há sentido numa forma sem conteúdo, é pensar em algo que não existe. A forma não
é razão da matéria, ao contrário, é a matéria que fundamenta a existência da forma. Não há
como pensar a norma (forma) sem seu suporte material (as relações sociais), ou seja, a
matéria. A humanidade já conheceu o extremo a que se pode chegar com uma ordem jurídica
que busca legitimidade apenas no aspecto formal. O Estado nazista, analisado apenas pela
lógica do formalismo jurídico, foi um Estado de direito, visto que suas ações estavam
amparadas numa ordem constitucional perfeita. Esse exemplo dramático vivido pela
humanidade serve de alerta para que entendamos os limites e perigos do positivismo jurídico
enquanto modelo epistemológico. A forma não pode estar dissociada do conteúdo, não
podemos nos contentar com uma lógica formal, distanciada dos interesses e dos valores mais
nobres da sociedade.
 
Fica evidente que esse modelo epistemológico, que busca a “pureza científica” sem
compromisso com a realidade social, possibilita desdobramentos que acabam por prejudicar
o desenvolvimento da própria sociedade. O direito, nessa visão, não precisa estar em
consonância com o momento histórico, com as necessidades mais importantes de
determinada sociedade. Nessa perspectiva, o direito pode ser – como já foi – um instrumento
de legitimação do arbítrio e do terror.
 
Os aspectos apresentados denotam o que se convencionou chamar de crise do direito.
Contudo, essa crise não é do direito ­ enquanto mecanismo de mediação e orientação das
relações sociais ­, mas sim do modelo epistemológico do positivismo jurídico, enquanto
modelo científico dominante nas ciências jurídicas. A crise do positivismo jurídico é uma
crise sistêmica, onde os preceitos metodológicos dominantes nas ciências jurídicas não dão
conta de uma realidade cada vez mais complexa, pluridimensional, repleta de contradições e
antagonismos. O positivismo jurídico já teve seu tempo, mas está superado. A concepção de
neutralidade não serve mais aos interesses da maioria da sociedade, devemos buscar uma
ciência jurídica comprometida com o desenvolvimento social.
 
(1) BOBBIO, Norberto. O positivismo Jurídico. Lições de Filosofia do Direito. São Paulo:
Ícone Editora, 2006. p. 120.

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