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Democracia deliberativa procedimentalista – Habermas

Democracia deliberativa substancialista – Rawls

Modelo liberal – modelo agregativo


Modelo republicano – modelo integrativo
Modelo deliberativo

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2008. Cap. 9.

[...] descreverei em primeiro lugar os dois modelos de democracia (polêmicos,


quando contrapostos), sob o ponto de vista dos conceitos de “cidadão do Estado” e
“direito”, e segundo à natureza do processo político de formação da vontade (p. 296)

A diferença decisiva reside na compreensão do papel que cabe ao processo


democrático. Na concepção “liberal”, esse processo cumpre a tarefa de programar o
Estado para que se volte ao interesse da sociedade [...] (p. 296-270)

Segundo a concepção “republicana”, a política não se confunde com essa função


mediadora; mais do que isso, ela é constitutiva do processo de coletivização social
como um todo (p. 270)

Em primeiro lugar diferenciam-se as concepções de cidadão do Estado. Segundo a


concepção liberal, determina-se o status dos cidadãos conforme a medida dos
direitos individuais de que eles dispõem em face do Estado e dos demais cidadãos.
[...] Dessa maneira, os cidadãos, como membros do Estado, podem controlar se o
poder estatal está sendo exercido em favor do interesse dos cidadãos na própria
sociedade (p. 271)

De acordo com a concepção republicana, o status dos cidadãos não é determinado


segundo o modelo das liberdades negativas, que eles podem reivindicar como
pessoas em particular. Os direitos de cidadania, direitos de participação e
comunicação são, em primeira linha, direitos positivos. [...] A força origina-se, isso
sim, do poder gerado comunicativamente em meio à práxis de autodeterminação
dos cidadãos do Estado e legitima-se pelo fato de defender essa mesma práxis
através da institucionalização da liberdade pública (p. 272)

Sobre o conceito de direito:

Segundo a concepção liberal, o sentido de uma ordem jurídica consiste em que ela
possa constatar em casa caso individual quais são os direitos cabíveis a que
indivíduos; em uma concepção republicana esses direitos subjetivos se devem a
uma ordem jurídica objetiva, que possibilite e garanta a integridade de um convívio
equitativo, autônomo e fundamentado sobre o respeito mútuo (p. 273)

Sobre a natureza do processo político:

Segundo a concepção liberal, a política é essencialmente uma luta por posições que
permitam dispor do poder administrativo. O processo de formação da vontade e da
opinião pública, tanto em meio à opinião pública como no parlamento, é determinado
pela concorrência entre agentes coletivos agindo estrategicamente e pela
manutenção ou conquista de posições de poder. (p. 275)

Segundo a concepção republicana, a formação de opinião e vontade política em


meio à opinião pública e no parlamento não obedece às estruturas de processos de
mercado, mas às renitentes estruturas de uma comunicação pública orientada ao
entendimento público. Para a política no sentido de uma práxis de autodeterminação
por parte de cidadãos do Estado, o paradigma não é o mercado, mas sim a
interlocução. (p. 275)

O conceito de uma política deliberativa só ganha referência empírica quando


fazemos jus à diversidade das formas comunicativas na qual se constitui uma
vontade comum, não apenas por um autoentendimento mútuo de caráter ético, mas
também pela busca de equilíbrio entre interesses divergentes e do estabelecimento
de acordos, da checagem da coerência jurídica, de uma escolha de instrumentos
racional e voltada a um fim específico e por meio, enfim, de uma fundamentação
moral (p. 277)
A teoria do discurso acolhe elementos de ambos os lados e os integra no conceito
de um procedimento ideal para o aconselhamento e tomada de decisões. Esse
procedimento democrático cria uma coesão interna entre negociações, discursos de
autoentendimento e discursos sobre a justiça, além de fundamentar a suposição de
que sob tais condições se almejam resultados ora racionais, ora justos e honestos
(p. 278)

[...] a teoria do discurso concebe os direitos fundamentais e princípios do Estado de


direito como uma resposta consequente à pergunta sobre como institucionalizar as
exigentes condições de comunicação do procedimento democrático. [...] A teoria do
discurso conta com a intersubjetividade mais avançada presente em processos de
entendimento mútuo que se cumprem, por um lado, na forma institucionalizada de
aconselhamento em corporações parlamentares, bem como, por outro lado, na rede
de comunicação formada pela opinião pública de cunho político. (p. 280)

As implicações normativas são evidentes: o poder socialmente integrativo da


solidariedade, que não se pode mais tirar apenas das fontes da ação comunicativa,
precisa desdobrar-se sobre opiniões públicas autônomas e amplamente espraiadas,
e sobre procedimentos institucionalizados por via jurídico-estatal para a formação
democrática da opinião e da vontade; além disso, ele precisa também ser capaz de
afirmar-se e contrapor-se aos dois outros poderes, ou seja, ao dinheiro e ao poder
administrativo (p. 281)

Ao conceito de discurso na democracia, por outro lado, corresponde a imagem de


uma sociedade descentralizada, que na verdade diferencia e autonomiza com a
opinião pública um cenário propício à constatação, identificação e tratamento de
problemas pertinentes à sociedade como um todo. (p. 283)

[...] a autocompreensão normativa da política deliberativa exige para a comunidade


jurídica um modo de coletivização social; esse mesmo modo de coletivização social,
porém, não se estende ao todo da sociedade em que se aloja o sistema político
constituído de maneira jurídico-estatal. (p. 283-284)
[...] A política deliberativa, realizada ou em conformidade com os procedimentos
convencionais da formação institucionalizada da opinião e da vontade, ou
informalmente, nas redes da opinião pública, mantém uma relação interna com os
contextos de um universo de vida cooperativo e racionalizado. (p. 284)

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