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RECURSO ESPECIAL Nº 2035111 - SP (2022/0338618-3)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


RECORRENTE : TOTVS S.A.
ADVOGADOS : ANTONIO CELSO FONSECA PUGLIESE - SP155105
NAHÍMA MÜLLER - SP235630
FRANCISCO PEREIRA MACHADO NETO - SP405662
RECORRIDO : LIQ CORP S.A
ADVOGADOS : FELIPE RIBEIRO FROIS - SP329213
RUY JANONI DOURADO - SP128768
GIOVANA CAUCHIOLI - SP434530
THAMIRIS REGINA GIBELLI - SP438074
AGRAVANTE : TOTVS S.A.
ADVOGADOS : ANTONIO CELSO FONSECA PUGLIESE - SP155105
NAHÍMA MÜLLER - SP235630
FRANCISCO PEREIRA MACHADO NETO - SP405662
AGRAVANTE : LIQ CORP S.A
ADVOGADOS : FELIPE RIBEIRO FROIS - SP329213
RUY JANONI DOURADO - SP128768
GIOVANA CAUCHIOLI - SP434530
THAMIRIS REGINA GIBELLI - SP438074
AGRAVADO : TOTVS S.A.
ADVOGADOS : ANTONIO CELSO FONSECA PUGLIESE - SP155105
NAHÍMA MÜLLER - SP235630
FRANCISCO PEREIRA MACHADO NETO - SP405662
THAMIRIS REGINA GIBELLI - SP438074
AGRAVADO : LIQ CORP S.A
ADVOGADOS : FELIPE RIBEIRO FROIS - SP329213
RUY JANONI DOURADO - SP128768
GIOVANA CAUCHIOLI - SP434530

EMENTA

DIREITO CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DA


RECORRENTE LIQ CORP. DESENVOLVIMENTO E
IMPLEMENTAÇÃO DE SOFTWARE EMPRESARIAL ERP
(ENTERPRISE RESOURCE PLANNING). ALEGAÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. EXTINÇÃO DO NEGÓCIO E
PEDIDO DE PERDAS E DANOS. PROPOSITURA DE MONITÓRIA
PELA PARTE FORNECEDORA TOTVS. NEGATIVA DE

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: terça-feira, 23 de maio de 2023


Documento eletrônico VDA36855900 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 22/05/2023 16:16:47
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 76fa7718-d388-4ede-a4f6-b7c2dc2b2ef8
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. ACÓRDÃO QUE
RECONHECE EXPRESSA OCORRÊNCIA DE CULPA
CONCORRENTE DAS PARTES. CLÁUSULA CONTRATUAL QUE
IMPÕE O DEVER DE PAGAR PELOS SERVIÇOS PRESTADOS ATÉ
O MOMENTO DA RESCISÃO. ALTERAÇÃO DAS PREMISSAS
SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL QUE IMPLICA
REEXAME DO MATERIAL DE COGNIÇÃO, INCLUSIVE A SOLUÇÃO
CONTRATUAL PARA O CASO DE RESOLUÇÃO ANTES DA
CONCLUSÃO DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO COMPLETO.
SÚMULAS 5 E 7/STJ. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA
EMPRESA TOTVS. MATÉRIA NÃO VENTILADA NA DECISÃO
RECORRIDA. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DAS SÚMULAS NºS
282 E 354/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICO-JURIDICA. AGRAVO CONHECIDO PARA
CONHECER EM PARTE DO RECURSO ESPECIAL, E, NESSA
EXTENSÃO, NEGAR-LHE PROVIMENTO.

DECISÃO

CONTAX-MOBITEL S.A. sob atual denominação de LIQ CORP S.A. (LIQ)


ajuizou ação de resolução de contrato de implantação de software de gestão
empresarial, com pedido de indenização e apuração de valores a restituir contra
TOTVS S.A., a qual foi julgada procedente para decretar a rescisão dos contratos entre
as partes, condenando a ré a restituir à autora R$ 5.400.771,15 (cinco milhões,
quatrocentos mil, setecentos e setenta e um reais e quinze centavos), multas incorridas
pela não entrega da declaração referente o período de Junho/14 à Outubro/15 (SPED
FISCAL - Escrituração Fiscal Digital), acrescidos de correção monetária desde os
pagamentos mais juros de mora de 1% ao mês, contados estes da citação, relegando
perdas e danos à liquidação, sem prejuízo da imposição das custas, despesas
processuais e honorários de advogado fixados em 10% sobre a condenação. A ação
monitória proposta por TOTVS contra LIQ foi julgada improcedente com o acolhimento
dos embargos monitórios, observada a condenação da embargada no pagamento das
custas, despesas processuais e honorários de advogado fixados em 10% do valor
atualizado da causa da ação monitória.

Interpostas apelações pelas partes, o Tribunal de Justiça do Estado de São


Paulo deu parcial provimento ao recurso de TOTVS e negou provimento ao de LIQ,
conforme acórdão da relatoria do Desembargador MORAIS PUCCI, assim ementado

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Prestação de serviços. Ação de rescisão contratual c. c. indenização
por danos materiais e monitória julgadas em conjunto. Sentença de
procedência da ação e de improcedência da monitória.
Contrato de licença de uso de software e serviços de suporte.
Tomadora dos serviços que suspendeu a prestação deles sob a
alegação de falha. Perito judicial que não constatou falha no programa
de computador, evidenciando que o sistema não teve aplicação de
maneira satisfatória devido a falhas no gerenciamento das tarefas de
implantação das equipes das duas partes.
Contrato que deve ser rescindido, devendo a autora pagar os serviços
até então prestados, sem penalidade a qualquer das partes pelo
inadimplemento devido ao reconhecimento da culpa concorrente de
ambas.
Embargos monitórios em apenso, processo n. 1108997-
95.2016.8.26.0100, julgados parcialmente procedentes para constituir
o título executivo em R$ 5.400.077,15.
Recurso da ré Totvs parcialmente provido, desprovido o da autora
Contax (e-STJ, fls. 3120).

Os embargos de declaração opostos por TOTVS S.A (TOTVS) foram


REJEITADOS (e-STJ, fls. 3153/3161 e 3194/3198). Segundos embargos de declaração
opostos por TOTVS também foram rejeitados (e-STJ, fls. 3254/3258 e 3261/3269).
Apresentou embargos de declaração a LIQ, os quais não foram acolhidos (e-STJ, fls.
3194/3198).

Nas razões de seu apelo nobre, interposto com base no art. 105, III, alíneas
a e c, da CF, LIQ alegou a violação aos arts. 371, 1.022 do CPC; 186, 395, 402, 475, e
944, todos do CC; 476 e 884 do CC; 492 e 700, do CPC; 291, 292, § 3º, do NCPC; ao
sustentar/sustentarem que (1) por ter sido o acórdão omisso em relação a matérias
invocadas nos embargos de declaração; (2) em razão da não conclusão do projeto de
implantação de software (ERP e seus módulos) não poderia ser afastada a
condenação de TOTVS ao ressarcimento da integralidade dos valores desembolsados
pela parte prejudicada pelo inadimplemento obrigacional de resultado; (3) a
condenação de LIQ no pagamento de R$ 5.400.077,15 (cinco milhões, quatrocentos
mil e setenta e sete reais e quinze centavos) por serviços comprovadamente não
prestados gera enriquecimento sem causa; (4) embora reconhecido que o pagamento
deva corresponder a serviços efetivamente prestados, foi imposto à LIQ, de maneira
contraditória, uma condenação com base numa estimativa de horas, não prevista em
contrato e que também não encontra respaldo nas notas fiscais que aparelharam a
ação monitória; (5) houve equívoco na correção do valor da causa para R$
30.000.907,28 (trinta milhões, novecentos e sete reais e vinte e oito centavos), pois o
conteúdo econômico da discussão corresponde ao inadimplemento da TOTVS
estimado em R$ 8.128.331,08 (oito milhões, cento e vinte e oito mil, trezentos e trinta e
um reais e oito centavos); (6) há dissenso jurisprudencial (REsp 1731193/SP, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe

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25/09/2020).

Houve apresentação de contrarrazões (e-STJ, fls. 3346/3389) e a TOTVS


S.A. (TOTVS) reiterou em petição apartada sua manifestação em contrarrazões sobre a
ausência de prevenção pelo REsp 1.747.248/SP, de minha relatoria.

A Presidência da Seção de Direito Privado inadmitiu o trânsito ao recurso


especial (e-STJ, fls. 3464/3467).

Inconformada, LIQ apresentou agravo em recurso especial defendendo (1)


não ser possível em juízo de prelibação a análise de mérito recursal; (2) que a análise
das violações aos arts. 186, 395, 402, 475, 476, 884 e 944, do CC e arts. 291, 292, §
3º, e 700 do CPC, não depende do reexame dos fatos ou provas, o que afasta o óbice
da Súmula nº 7/STJ; (3) incontroversa a não implementação integral do ERP pela
recorrida; (4) não há incidência da Súmula nº 284/STF; (5) encontra-se performado o
dissidio jurisprudencial.

Foi apresentada contraminuta por TOTVS (e-STJ, fls. 3541/3584)

É o relatório.

Decido.

O agravo é espécie recursal cabível, foi interposto tempestivamente e com


impugnação adequada aos fundamentos da decisão recorrida.

CONHEÇO, portanto, o agravo e passo ao exame do recurso especial, que


na parte conhecida, merece prosperar parcialmente.

Da distribuição por prevenção pelo REsp nº 1.747.248/SP.

Sustenta TOTVS que como o anterior recurso especial nº 1.747.248/SP,


interposto por LIQ, de minha relatoria, teve sua extinção sem resolução de seu mérito,
a distribuição do presente apelo nobre deveria se dar livremente.

Contudo, pela leitura das regras de regência da matéria não decorre tal
ilação sobre a natureza do provimento jurisdicional emanado no julgamento do primeiro
recurso.

Conforme disciplina o Código de Processo Civil sobre a matéria


Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno do
tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a
publicidade.
Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal
tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente
interposto no mesmo processo ou em processo conexo (sem
destaque no original).

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A par disso, o art. 71, caput do Regimento Interno do Superior Tribunal de
Justiça - RISTJ estabelece que: A distribuição da ação, do recurso ou do incidente
torna preventa a competência do relator para todos os feitos posteriores referentes ao
mesmo processo ou a processo conexo, inclusive na fase de cumprimento de decisão;
a distribuição do inquérito e da sindicância, bem como a realizada para efeito da
concessão de fiança ou de decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência
anterior à denúncia ou queixa, prevenirá a da ação penal.

Bem se vê que tanto a Lei como o Regimento Interno deste Tribunal não
abrem espaço para critérios outros que não o meramente objetivo cronológico.
Quisesse a Lei dispor sobre a natureza do pronunciamento do primeiro relator sorteado
como critério para gerar prevenção recursal, teria mencionado que se tornará prevento
o primeiro relator que nele decidir.

Ademais, muitas vezes, recursos de ambas as partes são protocolados em


questão de diferença de minutos e nem por isso se demanda do intérprete aguardar o
status de julgamento ou de decisão do primeiro recurso protocolado para só então
aferir-lhe a prevenção em relação ao recurso subsequente.

Bem por isso, em nome da necessária agilidade no trato da voracidade


recursal, já advertiu a doutrina que: Como deflui da literalidade do texto legal, a
prevenção se fixará pelo simples protocolo do recurso, valendo, portanto, mesmo para
as hipóteses em que o recurso não chega sequer a ser conhecido ou indeferido
liminarmente (ALVIM, Angélica A. Comentários ao código de processo civil. São Paulo:
Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547222239. Disponível em:
https://stj.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547222239/ pág. 1089 - Acesso em: 12
mai. 2023).

Essa, portanto, foi a ideia condensada no Novo Código de Processo Civil ao


encampar para parágrafo único do art. 930 regra já assemelhada em diversos
regimentos internos das Cortes estaduais do país.

Em verdade, como a regra processual geral e, inclusive a do Regimento


Interno desta Corte, preveem de modo claro a independência do pronunciamento do
relator no recurso previamente interposto, a aferição de prevenção decorre do mero
cotejo dos aspectos objetivos do protocolo e da anterioridade.

Logo, prevalece hígido o termo de distribuição que atribui a este relator a


prevenção para conhecer do presente recurso diante por prevenção do processo REsp
1747248/SP (e-STJ, fls. 3592).

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(1) Da violação dos arts. 371, 1.022 do CPC pela negativa de prestação
jurisdicional.

Na perspectiva de LIQ, os dispositivos infraconstitucionais acima


mencionados foram violados porque o acórdão estadual não se debruçou sobre: as
alegadas falhas e atrasos na instalação do programa; ausência de formação de culpa
concorrente; valor apurado pelo perito que não corresponde aos serviços efetivamente
prestados; correção do valor da causa excessiva e equivocada.

Todavia, o Tribunal estadual em sua análise do conjunto fático-probatório,


deixou assentado que o aumento do valor da causa de ofício, não se dera de modo
arbitrário, mas pela autorização legal do art. 292, II e VI, do NCPC, ao afirmar que
Entretanto, segundo o art. 292, incisos II e VI, do CPC, à essa ação
deve ser atribuído o valor que corresponda à soma do (a) valor total do
contrato que se pretende rescindir, (b) do valor condenatório no
pagamento em devolução do valor já pago pela Contax à Totvs, e (c)
do valor da indenização postulada.
No caso, o valor do contrato é de R$ 21.529.078,76 (f. 185), a autora
alegou que já pagou R$8.128.331,08 e, devido ao inadimplemento da
ré, pretende a rescisão contratual com restituição de valores e
indenização por danos materiais de R$343.497,44.
Desta forma, de ofício, corrijo o valor da causa paraR$30.000.907,28,
devendo a autora proceder o recolhimento da diferença das custas
iniciais, considerando este valor, sendo observado o máximo de 3.000
UFESPs, que é de R$27,61 para 2020 (e-STJ, fls. 3196).

Da mesma forma quanto as alegadas falhas, atrasos e culpa concorrente,


também se apoia o acórdão no laudo do perito ao mencionar expressamente que
(...) que as falhas na implantação do projeto decorreram de culpa
concorrente de ambas as partes.
Também foi evidenciado que aquele sistema de gestão integrada
(ERP) era o padrão, que deveria ter customizações para a adequação
às atividades de cada empresa, o que é normal e não caracteriza a
inadequação do produto.
Ademais, também foi evidenciado que os programas objeto dos
aditivos do contrato inicial (SMO, RH e Jurídico) não foram
implementados devido ao pedido da autora de suspensão dos
trabalhos (e-STJ, fls. 3197 – sem destaque no original).

Sobre a correspondência entre os valores cobrados e os serviços


efetivamente prestados, também se houve o Tribunal a quo com a fundamentação
pormenorizada, inclusive, salientando nos embargos de declaração manejados por
TOTVS para ainda estender as cobranças, o seguinte
Embora neste aditivo contratual tenha constado em separado o valor
das licenças; valor do suporte e manutenção e valor dos serviços,
como já mencionado no v. acórdão foi acolhido o valor apurado pelo
perito que considerou todo o trabalho até então prestado, pois assim
estipulado no contrato, razão pela qual foi reduzido o valor cobrado na
ação monitória.
O valor apurado no laudo pericial já abrangeu todo o serviço

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efetivamente prestado até a rescisão, inclusive as licenças de uso
de software e serviços de suporte e manutenção. Sem razão a
embargante, portanto, em sua pretensão de recebimento do valor em
sua integralidade como pediu na inicial da monitoria (e-STJ, fls.
3268/3269 – sem destaque no original).

Em tais condições, aplicou o aresto impugnado a cláusula 15ª. do contrato, a


qual reza sobre o dever de pagamento dos serviços prestados até a rescisão, daí julgar
devido em favor da TOTVS o importe de R$ 5.400.077,15, também pelo que colheu do
laudo pericial integrante dos autos (e-STJ, fls. 3134).

Assim, tendo aquela Corte estadual indicado as razões de seu


convencimento, não é possível aferir na espécie os vícios elencados no art. 371 do
NCPC e, sobretudo, no art. 1.022 do mesmo Diploma Legal, sendo forçoso reconhecer
que a pretensão recursal ostenta caráter nitidamente infringente, visando rediscutir
matéria que já foi analisada.

Nesse sentido, confira-se os seguintes precedentes


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 489 DO
CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. NOVA INTERPRETAÇÃO
DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE. SÚMULA
5/STJ.
1. Ação de restituição de valores.
2. É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que não há
ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 quando o Tribunal de origem,
aplicando o direito que entende cabível à hipótese soluciona
integralmente a controvérsia submetida à sua apreciação, ainda
que de forma diversa daquela pretendida pela parte.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e
fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a
prestação jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 489 do
CPC/2015.
4. [...]
5. Agravo interno no agravo em recurso especial não provido.
(AgInt no AREsp n. 2.040.491/RS, relatora Ministra NANCY
ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado em 27/6/2022, DJe de 29/6/2022,
sem destaque no original.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO


DE SAÚDE. COBERTURA. OMISSÃO OU CONTRADIÇÃO
INEXISTENTES. ACÓRDÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO.
CONCLUSÃO NO SENTIDO DA AUSÊNCIA DE URGÊNCIA OU
EMERGÊNCIA A FIM DE ENSEJAR A ANULAÇÃO DA CLÁUSULA
PREVENDO O PERÍODO DE CARÊNCIA. SÚMULAS 5 E 7/STJ.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Não há nenhuma omissão ou mesmo contradição a ser sanada
no julgamento estadual, portanto inexistentes os requisitos para
reconhecimento de ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015. O acórdão
dirimiu a controvérsia com base em fundamentação sólida, sem
tais vícios, tendo apenas resolvido a celeuma em sentido
contrário ao postulado pela parte insurgente.

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2. [...]
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp n. 2.077.212/SP, relator Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, julgado em 27/6/2022, DJe de 29/6/2022,
sem destaque no original.)
Afasta-se, portanto, a alegada violação.

(2) Da violação dos arts. 186, 395, 402, 475, e 944 do Código Civil pela
alegada resolução por inadimplemento da contratada.

Pela perspectiva de que foi parte prejudicada pela imperícia de TOTVS na


lida com a implantação de software de gerenciamento empresarial (ERP e seus
módulos), aduz LIQ que outra não poderia ser a conclusão do julgado senão a
imputação da responsabilidade integral de TOTVS pelo insucesso dessa verdadeira
obrigação de resultado que assumiu contratualmente.

Os requerimentos de resolução do contrato, indenização por perdas e danos


e extinção da ação monitória (formulado nos embargos monitórios) estão fundados,
essencialmente, na alegação de que a TOTVS teria descumprido a obrigação
contratualmente assumida.

A esse respeito, o TJSP, examinando a prova pericial, concluiu que o


sistema de computadores foi entregue e implementado, ainda que de forma parcial,
donde a necessidade de ser TOTVS ressarcida até aquele ponto de ruptura.

Confira-se, a propósito, a seguinte passagem do voto vencedor.


A perícia técnica não constatou falha no programa de computador
que foi adquirido pela autora.
Ao contrário, foi apurado que o sistema ERP era apropriado para as
atividades da empresa autora, mas que não teve aplicação de maneira
satisfatória devido a falhas no gerenciamento das tarefas de
implantação das equipes das duas partes.
Ou seja, o perito concluiu em seu laudo que as falhas na implantação
do projeto decorreram de culpa concorrente de ambas as partes.
Também foi evidenciado que aquele sistema de gestão integrada
(ERP) era o padrão, que deveria ter customizações para a adequação
às atividades de cada empresa, o que é normal e não caracteriza a
inadequação do produto.
Ademais, também foi evidenciado que os programas objeto dos
aditivos do contrato inicial (SMO, RH e Jurídico) não foram
implementados devido ao pedido da autora de suspensão dos
trabalhos.
Entretanto, como as partes pretendem a rescisão contratual, a
tomadora, Contax, já tinha suspendido a prestação dos serviços,
apesar de ter havido culpa de ambas as partes no atraso na
implantação do sistema, e a Totvs que ingressou com a monitória em
apenso pretendendo o pagamento dos valores firmados nos contratos,
deve ser observada a cláusula décima quinta do contrato (f. 83) que
estabelece que, em caso de rescisão, deverá ocorrer o pagamento dos
serviços efetivamente prestados até a data da rescisão.
Portanto, é devido ainda o valor apurado pelo perito de R$
5.400.077,15 pelos serviços até então prestados, com correção
monetária desde a data da elaboração do laudo que apurou tal valor

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(junho/2019 f. 2715) e com juros de mora de 1% ao mês a contar da
citação na ação monitória.
O pedido de indenização por danos materiais, ressarcimento das
multas aplicadas pela Receita Federal, não merece acolhimento.
O Perito não constatou falha no programa de computador e não
há prova nos autos de que o atraso ou a não entrega da declaração
referente ao período de junho/14 a outubro/15 (Sped Fiscal
Escrituração Fiscal Digital) se deu em razão da implantação do
programa (e-STJ, fls. 3134/3135)

Nas razões do recurso especial afirmou LIQ que, de acordo com perícia, o
insucesso contratual da compra do software de gestão empresarial ocorre na medida
em que nada do trabalho realizado pela TOTVS pôde ser aproveitado, e, por isso,
estariam violados os arts. 186, 395, 402, 475, 476, 884 e 944, todos do CC; bem como
291, 292, § 3º, 492 e 700, do NCPC.

Sob esse ponto de vista, ao justificar o descumprimento contratual pelo


prisma eminentemente quantitativo de sua implantação, olvida-se LIQ de que o
principal fundamento adotado pelo Tribunal recorrido para a reforma da sentença se
deu pela interpretação das relações de causa do problema alegado e não somente
pelos efeitos aduzidos pela contratante.

É o que se depreende da leitura do acórdão guerreado.

Dentro da moldura fática trazida a julgamento, a Corte estadual deixou de


imputar o inadimplemento contratual única e exclusivamente à conduta da contratada
TOTVS. Assim o fez por vislumbrar falhas no gerenciamento das tarefas de
implantação das equipes das duas partes, o que acarretou na constatação clara da
culpa concorrente que afasta a responsabilização unilateral e sinaliza para utilização da
solução contratual em caso de resolução anômala do negócio jurídico.

Nesse sentido, com suporte no laudo pericial incorporado ao julgado, o


Tribunal a quo deixou bem salientado que (i) o software (Protheus) tinha condições de
atender as exigências da empresa com módulos padrões, mediante as customizações
necessárias aos negócios de LIQ; (ii) até mesmo o prazo para implantação e conclusão
do projeto foi de responsabilidade das duas equipes; (iii) o gerenciamento do
andamento dos processos coube às duas equipes; (iv) mesmo diante da necessidade
de replanejamentos, tais alterações tiveram a responsabilidade compartilhada pelos
contratantes participantes; (v) as falhas no atraso do cronograma, gestão do tempo, de
escopo, devem ser atribuídas às duas equipes porque são tarefas divididas entre elas.

Assim, se o Tribunal recorrido em sua interpretação soberana das provas e


fatos concluiu pela existência de culpa concorrente de ambas as partes contendoras,
para infirmar tais premissas seria imprescindível o reexame do conjunto fático-

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probatório, pretensão essa que não prospera diante do óbice das Súmulas nºs 5 e
7/STJ desta Corte Superior segundo as quais: A simples interpretação de clausula
contratual não enseja recurso especial; A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial.

Nesse sentido

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 3/STJ. INÉPCIA DA INICIAL. NECESSIDADE DE
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
SÚMULA 7/STJ. CULPA CONCORRENTE. REVISÃO DO VALOR DA
INDENIZAÇÃO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ. REVISÃO DA
VERBA HONORÁRIA. NECESSIDADE DE REEXAME DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
O Tribunal de origem ao proceder a análise da matéria, observou que
não estavam presentes quaisquer dos critérios previstos no art. 330,
§1º, do CPC/2015, quais sejam: i) a ausência de pedido ou da causa
de pedir; ii) o pedido indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais
em que se permite o pedido genérico; iii) da narração dos fatos não
decorrer logicamente a conclusão iv) pedidos incompatíveis entre si.
Observa-se que para modificar o entendimento proferido pela
Corte a quo seria necessário o revolvimento da matéria fático-
probatória dos autos, inclusive operando-se o cotejamento de
peças processuais, procedimento inviável em sede do recurso
especial em razão do óbice da Súmula 7/STJ.
Melhor sorte não ocorre com a irresignação recursal voltada à suposto
malferimento aos arts. 43, 884, 944 e 945 do CC/2002, normas
relacionadas aos requisitos da responsabilização civil, das
situações de culpa concorrente em evento ilícito gerador de dano,
bem como dos critérios de estipulação do valor da indenização.
A instância ordinária considerou o acervo cognitivo do autos para
concluir pela necessidade de reparação dos danos causados, inclusive
com análise de laudo pericial, assim, os fatos alegados foram
analisados pelo Tribunal a quo, sendo que a exame das razões da
recorrente, no sentido de se apurar a própria ocorrência dos supostos
atos ilícitos e do dano moral, bem como a existência de nexo causal,
demandaria necessariamente o reexame do conjunto fático-probatório
dos autos, procedimento inviável em sede de recurso especial ante o
óbice previsto na Súmula 7/STJ: A pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial.
Por outro lado, como já dito na decisão recorrida, apenas nos casos
excepcionais de irrisoriedade e exorbitância do valor da indenização,
este Sodalício está autorizado a rever o montante indenizatório,
situação que não ocorre do presente caso.
Verifica-se que o valor da indenização em R$ 20.000,00, foi fixado com
base na análise das provas constantes nos autos, de modo que não há
como o STJ infirmar as conclusões a que chegou o Tribunal de origem,
sob pena de violação da Súmula 7/STJ.
A Corte de origem utilizou-se dos critérios factuais constantes das
alíneas a, b e c, do §3º, do art. 20 do CPC1973, para fixar o valor da
verba honorária, o que impede a avaliação da questão por esta Corte
Superior eis que vedado pela Súmula 7/STJ o reexame da matéria
fático-probatória em sede de recurso especial.
Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp n. 1.415.079/PE, relator Ministro Mauro Campbell

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Marques, Segunda Turma, julgado em 23/5/2019, DJe de 28/5/2019 –
sem destaque no original)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ART. 489
DO CPC/2015. ART. 1.022 DO CPC/2015. VIOLAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS.
DESÍDIA. DANOS MATERIAIS E MORAIS. EXISTÊNCIA. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
NÃO CONFIGURAÇÃO. REEXAME. SÚMULA Nº 7/STJ.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL PREJUDICADA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ).
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de
origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a
controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à
hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte.
3. Na hipótese, não há como rever o entendimento firmado pelas
instâncias ordinárias quanto ao reconhecimento da inexistência
de danos morais e materiais devido à desídia na prestação dos
serviços advocatícios sem a análise de fatos e provas,
procedimento inviável em recurso especial em virtude da
incidência da Súmula nº 7/STJ.
4. O tribunal de origem não vislumbrou que a recorrida tenha praticado
conduta a ensejar o reconhecimento da litigância de má-fé, o que não
pode ser revisto por esta Corte sem a análise de circunstâncias fáticas
dos autos, haja vista do óbice da Súmula nº 7/STJ
5. A necessidade do reexame da matéria fática impede a admissão
do recurso especial tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do
permissivo constitucional. Precedente.
6. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp n. 1.381.483/RS, relator Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, julgado em 18/11/2019, DJe de 21/11/2019 –
sem destaque no original)

De fato, em sede de Recurso Especial é verdadeiramente inviável novo e


minucioso reexame de provas, mormente da prova pericial, que é uma prova técnica,
para se verificar se eventual desacerto na valoração foi feita pela Corte Estadual.
Função da Corte Superior é examinar o caso apresentado à luz das normas, sendo-lhe
vedado o reexame da matéria probatória.
Uma vez conhecido o recurso, o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça está autorizado a examinar os fatos do
caso tal como estabelecidos pela decisão recorrida. Isso quer dizer
que as questões impugnadas mediante recurso extraordinário ou
recurso especial devem ser julgadas à luz da verdade ou falsidade
estabelecida pela decisão recorrida a respeito das alegações de fato.
(...) Estabelecer a verdade ou a falsidade das alegações de fato
constitui tarefas sobre as quais as Cortes de Justiça têm a última
palavra em nosso sistema jurídico - esse é o sentido que deve ser
outorgado aos enunciados das Súmulas 279 do STF e 7 do STJ.
(LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL MITDIIERO. Recurso
Extraordinário e Recurso Especial. Do Juss Litigaroris ao Jus
Constitutionis. São Paulo: RT, 2019, p. 189).

Portanto, no ponto o recurso não poderia ser conhecido pelo óbice sumular.

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Das perdas e danos requeridas.

Com relação às perdas e danos requeridas, também se revela impossível


ultrapassar as conclusões do acórdão recorrido quanto à ausência de provas do nexo
de causalidade entre os prejuízos alegados e a conduta ilícita imputada à TOTVS sem
reexaminar o acervo fático carreado aos autos, o que encontra obstáculo na Súmula nº
7/STJ.

Confira-se, a propósito, o que consignado pela Corte bandeirante a respeito


desse tema
O pedido de indenização por danos materiais, ressarcimento das
multas aplicadas pela Receita Federal, não merece acolhimento.
O Perito não constatou falha no programa de computador e não há
prova nos autos de que o atraso ou a não entrega da declaração
referente ao período de junho/14 a outubro/15 (Sped Fiscal
Escrituração Fiscal Digital) se deu em razão da implantação do
programa.
Em relação a esta questão o perito consignou que:

28. Após o término da implantação do ERP havia falhas


nos processos fiscais?
R. Apesar de a Contax ter assinado o Termo de
Encerramento fls. 617 atestando que todos os processos
foram validados e estavam com conformidade com o
escopo, ainda assim há diversos chamados relatando
falhas nos processos fiscais, porém com possibilidades de
ajustes e acertos (f. 1890).
29. A TOTVS concluiu a implantação do Sped Contábil?
R. Apesar de a CONTAX ter assinado o Termo de
Encerramento fls. 617 atestando que todos os processos
foram validados e estavam em conformidade com o
escopo, há diversos chamados relatando problemas com a
utilização do Sped Contábil (f. 1890).
30. A CONTAX recebeu autuação fiscal devido a falhas no
sistema?
R. Foi solicitada a equipe da CONTAX os autos da
infração, mas não foram entregues (f. 1890).
Quesitos complementares da autora:
9. Analisando os chamados abertos, as falhas
apresentadas pelo sistema impediram com que a Contax
cumprisse com algumas obrigações fiscais (Sped
Contribuições, Sped Fiscal etc.)?
R. Não há documentos que comprovem que o sistema
impediu que a CONTAX cumprisse com algumas
obrigações fiscais (SPED Contribuições, SPED Fiscal
etc,), inclusive foi solicitado a CONTAX o envio de laudos
da receita que atestasse tal infração, mas até o término do
laudo não foi enviado (f. 1929).
10. Qual o valor total das perdas com atuações fiscais da
incorridas pela CONTAX em razão do mal funcionamento
do sistema (SPED Contribuições, SPED Fiscal etc.)?
R. Como respondido no quesito anterior não há
documentos que comprove as autuações fiscais (f. 1930).

Assim, não há que se falar em indenização por danos materiais (e-


STJ, fls. 3135/3136).

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(3) e (4) Da violação dos arts. 476 e 884 do CC; 492 e 700, do CPC.

Sustentou LIQ que o acórdão viola dos dispositivos infraconstitucionais


indicados na medida em que não poderia TOTVS exigir a implementação de
pagamento da parte contrária antes da satisfação da obrigação que lhe competia no
contrato. Daí, a condenação de LIQ no pagamento de mais R$ 5.400.077,15 (cinco
milhões, quatrocentos mil e setenta e sete reais e quinze centavos) por serviços
comprovadamente não prestados gera enriquecimento sem causa. Pondera, ainda, que
mesmo da hipótese de serem devidas tais quantias, é certo que a condenação foi
imposta com base numa estimativa de horas, não prevista em contrato e que também
não encontra respaldo nas notas fiscais que aparelharam a ação monitória.

Contudo, não vinga o reclamo neste quesito, pois a toda evidência, não
houve no acórdão recorrido o enfrentamento de tais questões em conformidade com os
fundamentos explicitados no recurso especial, e, a par disso, não houve oposição dos
embargos de declaração com o objetivo de sanar o vício, o que atrai para o caso a
incidência das Súmulas n.ºs 282 e 356 do STF.

(5) Da ofensa aos arts. 291, 292, § 3º, do NCPC.

O alegado equívoco da alteração do valor da causa pelo Tribunal a quo não


merece prosperar, pois o órgão colegiado explanou os motivos e fundamentos com
base na Lei e nas particularidades dos casos trazidos à lume.

Daquela Corte estadual, confira-se


Por tais razões, de ofício, corrijo o valor da causa da ação rescisória
cumulada com devolução do valor pago e indenizatória para R$
30.000.907,28 e determino que a autora Contax proceda o
recolhimento da diferença das custas iniciais no primeiro grau, sob
pena de comunicação da dívida ao Fisco para as providencias
cabíveis, e dou parcial provimento ao apelo da ré Totvs para julgar
parcialmente procedente a ação apenas para rescindir o contrato e
julgar parcialmente procedente os embargos opostos à ação monitória
em apenso, processo n. 1108997-95.2016.8.26.0100, para constituir o
título executivo no valor de R$ 5.400.077,15, com correção monetária
desde junho/2019 (data da elaboração do laudo) e com juros de mora
de 1% ao mês a contar da citação na ação monitória.
Na ação de rescisão do contrato cumulada com indenização, a Contax
pediu a rescisão do contrato, a devolução de R$ 8.128.331,08 e
indenização por danos materiais R$ 343.497,44 (Sped Fiscal). (e-STJ,
fls. 3136).

Sendo assim, havendo necessidade de adequar o valor da causa quando


não corresponder efetivamente ao conteúdo patrimonial, ou o proveito econômico
perseguido pelo autor, foi adequada a decisão da Corte recorrida, conforme, inclusive,

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já se decidiu nesta Corte de precedentes
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
PARCERIA AGRÍCOLA. EMBARGOS DE TERCEIRO. VALOR DA
CAUSA. INTERESSE ECONÔMICO. INTERPRETAÇÃO
CONTRATUAL. REEXAME. PROVA. SÚMULAS NºS 5 E 7/STJ.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ).
2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido
de que, constatada a discrepância entre o benefício econômico
pretendido pelos autores e o valor atribuído à causa, é possível
que se determine, de ofício, a correção do valor a ela atribuído.
3. No caso concreto, em que o tribunal de origem apontou
expressamente o valor do bem objeto de constrição, que
corresponderia ao real benefício econômico pleiteado nos embargos
de terceiros opostos, o acolhimento da pretensão recursal implicaria,
necessariamente, uma nova análise dos termos do negócio firmado
entre as partes, procedimento inviável em recurso especial devido ao
disposto nas Súmulas nºs 5 e 7/STJ.
4. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp n. 1.452.335/GO, relator Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, julgado em 24/8/2020, DJe de 31/8/2020 –
sem destaque no original)

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. VALOR DA


CAUSA. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM
PEDIDO DE INDENIZAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. TAXA
JUDICIÁRIA. VALOR DO CONTRATO. ATO JUDICIAL.
INOCORRÊNCIA DE TERATOLOGIA. PRECEDENTES.
1. Controvérsia em torno do valor da causa, em ação ordinária de
rescisão de contrato de promessa de compra e venda cumulada com
perdas e danos, para efeito de recolhimento da taxa judiciária.
2. Previsão legal tanto do CPC/73 (art. 259, V), como do CPC/2015
(art. 292, II), de que o valor da causa será, "na ação que tiver por
objeto a existência, a validade, o cumprimento, a modificação, a
resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato
ou o de sua parte controvertida."
3. Possibilidade de determinação da correção de ofício pelo juiz do
"valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo
patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo
autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas
correspondentes. (§ 3º do art. 292 do CPC/2015).
4. Legalidade do ato judicial atacado.
5. Precedentes do STJ acerca do valor da causa.
6. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
(RMS n. 56.678/RJ, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, julgado em 17/4/2018, DJe de 11/5/2018 – sem
destaque no original)

(6) Do dissenso jurisprudencial.

Alegou LIQ que o caso trazido a julgamento se adapta perfeitamente ao


anterior recurso especial nº 1.731.193/SP, no qual esta Terceira Turma reconheceu a
ausência de cumprimento parcial da obrigação pela empresa TOTVS, e, com isso, a
necessidade de imposição da resolução do contrato, com a determinação de restituição
das partes ao estado anterior.

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Entretanto, ao contrário do que bem frisado no acórdão bandeirante aqui
recorrido, no mencionado paradigma apreciado por este órgão fracionário do STJ, não
houve o reconhecimento expresso e inequívoco da culpa concorrente da parte
Universal Automotive Systems S/A, então contratante dos serviços de software de
gestão empresarial desenvolvido por TOTVS.

Pelo que se confere do excerto do acórdão estadual trazido na


fundamentação do próprio recurso especial nº 1.731.193/SP, a moldura fática e a
leitura do Tribunal foi a seguinte
Por fim, quanto ao pedido de rescisão dos contratos de consultoria,
implementação do sistema, customização do software, incluindo a
integração e migração do sistema legado, ainda que parciais,
mantendo, no entanto a cessão de uso de software com a manutenção
das atualizações deste e a entrega do código fonte, é inegável, ante o
conjunto probatório dos autos, que houve um aumento do escopo
inicialmente apresentado para o projeto, com a necessidade de
propostas adicionais para a customização, integração e
implantação do sistema, incluindo funções que, embora esperadas
originalmente pela contratante, aparentemente não integravam o
produto inicialmente desenvolvido, como foi o caso com os sistemas
para importação e exportação, embora o projeto original fosse para a
implantação do sistema no Centro de Distribuição da contratante,
empresa que atua internacionalmente. Para além destes fatos, no
entanto, temos que os sistemas foram desenvolvidos, implantados e
estão em uso pela Universal Automotive Systems S/A, sem
reclamações feitas à contratada após o término do projeto de
implantação, e, com os problemas relatados pela documentação da
exordial, concentrando-se principalmente no período de
desenvolvimento e implantação. Ainda não fosse este o caso, a parte
autora admitiu que uma vez entregues os códigos fonte, passou a
realizar as alterações que julgou serem necessárias ao sistema, o que
dificulta a averiguação de seu funcionamento, inclusive frente à
ausência de documentação quanto às atualizações bug-fixes por parte
da requerida, aparentemente devida ao fato de não haver não
conformidades explicitadas pela autora.
O laudo pericial identificou que houve um despreparo da contratante,
quanto à definição do escopo, aliado a uma falta da análise de
aderência que deveria ter sido realizada pela contratada, tendo o
projeto, no entanto sido levado à sua conclusão, segundo a requerida
e tendo parcela significativa dos sistemas sido personalizada e
implantada, embora, de acordo com a documentação, grande parte
não e tenha sido implementada até o momento. Assim, não há
elementos que substanciem uma rescisão contratual, sendo sua
manutenção necessária, pelo princípio da pacta sunt servanda,
bem como em atendimento ao próprio interesse da parte autora
pela manutenção e atualização dos sistemas que adquiriu (e-STJ,
fls. 1.404/1.405 - sem destaque no original).

Logo, muito embora reconhecido no acórdão estadual recorrido no recurso


especial paradigma (REsp nº 1.731.193/SP) algum despreparo quanto à definição de
escopo da contratante (Universal) e falta de análise de aderência que deveria ser feita
pela contratada (TOTVS), tais ilações passam ao largo do que ocorre no caso em

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concreto, no qual o Tribunal de maneira categórica imputou à própria LIQ (contratante)
parcela de culpa pelo insucesso da implantação do software de gestão.

Em outras palavras, o julgado colegiado atribuiu à própria LIQ a condição de


sabotadora dos próprios interesses, donde a inevitável conclusão de lhe imputar a
cláusula contratual décima quinta que estabelece a obrigação de pagamento dos
serviços efetivamente prestados até a data da rescisão (e-STJ, fls. 3134).

Nessas condições, CONHEÇO do agravo para CONHECER em parte do


recurso especial, e, nessa extensão, NEGAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO.

MAJORO em 1% o valor dos honorários advocatícios anteriormente fixados


em favor de TOTVS, nos termos do art. 85, § 11, do NCPC.

Por oportuno, previno que a interposição de recurso contra esta decisão, se


declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente, poderá acarretar
condenação às penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, ou 1.026, § 2º, ambos do
NCPC.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 12 de maio de 2023.

Ministro MOURA RIBEIRO


Relator

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