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PORTUGUÊS / 9º ano
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Análise da Proposição
Camões está decidido a tornar conhecido em todo o mundo o valor do povo português
(“o peito ilustre lusitano”). E para isso estrutura a sua Proposição em duas partes:
- nas duas estâncias (estrofes) iniciais: enuncia os heróis que vai cantar – 1.ªparte
O facto de o seu herói ser coletivo e a sua ação se estender por um intervalo de tempo
muito vasto permite-lhe desdobrá-lo em subgrupos, conforme verificaremos a seguir. O plural
utilizado para designar cada um deles confirma o carácter coletivo do herói: “barões
assinalados”, “Reis”, “aqueles”.
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Os Lusíadas – Análise da PROPOSIÇÃO (Canto I, 1-3)
Ano Letivo 2019/2020
PORTUGUÊS / 9º ano
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A inversão da ordem sintática nessa primeira frase, que engloba as duas estâncias iniciais,
pode tornar difícil, à primeira leitura, a compreensão do texto. A ordem normal seria esta:
Cantando, espalharei por toda a parte as armas e os barões...
Através da poesia,
os homens ilustres
todos os Portugueses
Pelo esquema, vemos que Camões apresenta três grupos de agentes (“agentes” e não heróis,
porque herói é “o peito ilustre lusitano”).
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Os Lusíadas – Análise da PROPOSIÇÃO (Canto I, 1-3)
Ano Letivo 2019/2020
PORTUGUÊS / 9º ano
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No terceiro grupo incluem-se todos os demais, todos os que se tornaram dignos de
admiração pelos seus feitos, quaisquer que eles sejam.
No entanto, este terceiro aparece como um grupo aberto: nele se incluem não
apenas heróis passados, mas todos aqueles que se venham a evidenciar no futuro.
Note-se que, para os dois primeiros grupos, o poeta utiliza o pretérito perfeito,
enquanto aqui recorre ao presente perifrástico— “vão”.
Ao contrário das epopeias primitivas, aqui o herói é coletivo, o que o próprio título
logo indica — Os Lusíadas.
Nota:
Lusíadas é uma palavra que foi inventada por Garcia de Resende que, a partir do mito de Luso,
filho ou companheiro de Baco, considerado como povoador e primeiro rei-pastor da última
Tule (terras raras-ilha do norte da Europa, hoje Islândia) teria dado o nome de Lusitânia e o de
Lusos, Lusitanos, aos habitantes.
Garcia de Resende criou-a por imitação de Virgílio que, de Aenas – Eneias –, formou Aenades –
Eneida. Embora, um neologismo, Camões escolheu este vocábulo para título do seu poema por
causa do seu cunho épico. Este queria designar o herói, tal como, nas epopeias clássicas, mas
agora um herói coletivo, pois os feitos dos portugueses assim o mereciam.
A Proposição não é uma simples indicação dos seus heróis, mas obedece já a uma
estratégia de engrandecimento dos Portugueses: A expressão “por mares nunca dantes
navegados” evidencia o carácter inédito das navegações portuguesas; observe-se o destaque
dado à palavra “nunca”. A exaltação continua com a referência ao esforço desenvolvido,
considerado sobre-humano (“esforçados / Mais do que prometia a força humana”).
E quase a concluir, uma nota final , na mesma linha: “... eu canto o peito ilustre
lusitano, / A quem Neptuno e Marte obedeceram”. A submissão do deus do Mar e do deus
da Guerra aos Portugueses (“o peito ilustre lusitano”) é uma forma concisa e muito expressiva
de exaltar o valor do seu herói.
Por tudo isto, o Poeta ordena que “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que
outro valor mais alto se alevanta.” Ou seja, a Musa moderna vai vencer a Musa antiga,
porque os Portugueses são um povo a quem os próprios deuses do Mar e da Guerra se
curvaram.
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Sinédoque – figura de estilo que consiste em se tomar a parte pelo todo, o todo pela parte ou
o plural pelo singular, o singular pelo plural.
Antonomásia – figura de estilo que consiste no uso de um nome ou frase sugestivos, em lugar
do nome próprio.
FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA
Conjugação Perifrástica
Ex. “Daqueles Reis que foram dilatando”
“De África e de Ásia andaram devastando”
“Se vão da lei da morte libertando”
Bom estudo!
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Os Lusíadas – Análise da PROPOSIÇÃO (Canto I, 1-3)