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Paraná

INÍCIO  POLÍTICA

ESPECIAL FAKE NEWS

Fake news levam a


mortes e revolta de
familiares
Muitas mortes por Covid-19 no Brasil
aconteceram pela crença em tratamentos
ineficazes e pela negação à vacina

Ana Carolina Caldas


Curitiba (PR) | 28 de Outubro de 2021 às 10:45

Brasil é o 3.º em ranking de países mais afetados


por fake news sobre vacinas e Covid-19 -
Divulgação

Em março de 2020, com a pandemia


reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), a população começou a receber
as primeiras informações sobre como se
proteger do novo vírus. Ao mesmo tempo,
pesquisadores, cientistas e médicos corriam
contra o tempo buscando tratamentos e
respostas sobre a Covid-19. E, infelizmente,
uma pandemia de desinformação também
começou a acontecer. As fake news e
informações não comprovadas também se
provaram mortais.

Entre as mais de 600 mil mortes decorrentes


da contaminação pelo coronavírus no Brasil,
muitas destas aconteceram em decorrência
da crença em tratamentos ineficazes e não
comprovados cientificamente, do
menosprezo da letalidade do vírus e/ou da
negação à vacina.

Para o médico sanitarista e professor do


Curso de Medicina da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Guilherme Albuquerque,
as medidas necessárias para combater a
pandemia foram bem estabelecidas pela
ciência, porém acabaram sabotadas pelos
próprios governantes do país.

“No Brasil, apesar do trabalho dos cientistas


e profissionais da saúde, as autoridades
políticas sabotaram as medidas simples de
prevenção, inclusive divulgando fake news,
levando grande parte da população a seguir,
colocando sua saúde em risco e ocasionando
mortes pela Covid-19”, afirma.

Crença em remédios ineficazes

O advogado paranaense Luiz Antonio


Leprevost, de 69 anos, foi uma dessas
vítimas. Ao saber que estava infectado pelo
coronavírus, adotou, por conta própria, o
uso de hidroxicloroquina e ivermectina. Ao
demorar para  buscar atendimento médico,
veio a óbito em 9 de abril de 2020. Ele é o
pai do atual secretário de Justiça, Família e
Trabalho do Paraná, o ex-deputado estadual
Ney Leprevost.

O filho, que integra o governo Ratinho


Junior (PSD), que apoia o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido), contou em suas
redes sociais sobre o arrependimento do pai:
“Ele desabafou e disse ter se arrependido  de
ter acreditado nos remédios.”

Outro filho, o vereador  Alexandre Leprevost


(PSD), foi mais crítico em discurso na
Câmara Municipal de Curitiba. “Meu pai,
apesar de induzido pelas falas do nosso líder
maior, sempre se cuidou. Mas estava na
crença ferrenha do tratamento precoce.
Falava disso como se fosse médico. Quando
começou a ficar em pé, do nada, ele
começou a ficar fraco novamente, com uma
coloração amarela. Voltou ao hospital e
entrou em coma. Dessa vez os problemas
estavam no fígado, no rim, e podem ter sido
gerados pelo excesso de remédios como
ivermectina e a cloroquina, que já tomava
antes mesmo de contrair a doença”, relatou.

Bolsonaro foi um dos principais defensores


de tratamentos usando ivermectina e
cloroquina, comprovadamente ineficazes
contra a Covid-19. Foi Bolsonaro também
quem disseminou inúmeras fake news,
como  a de que  quem pegou Covid-19 não
precisa se vacinar, e, recentemente, que a
vacina gera AIDS, levando o Facebook,
Instagram e Youtube a retirarem do ar o
vídeo com essa sua fala.

Revolta com as falas do presidente

Letícia Cruz, 22 anos, do município de


Campo Largo (PR), diz se sentir revoltada
com as falas do presidente que levaram
muitos a acreditar nele. “Minha madrinha
não se vacinou por acreditar nas besteiras
que o Bolsonaro falou sobre a vacina. Dizia
que o presidente estava certo em chamar de
'país de maricas', porque tinham medo de
uma 'gripezinha'", conta.

Sua madrinha, a professora aposentada Célia


dos Santos Constatino, 54, faleceu de Covid-
19 em janeiro de 2021. “Foi intubada, sem
poder se despedir da família”, diz  Letícia.

Estudo realizado na Austrália  por


epidemiologistas e especialistas em
infodemia  mapeou o impacto de notícias
falsas na sociedade. Num ranking dos 52
países mais afetados por fake news sobre
vacinas e Covid-19, o Brasil ocupa o terceiro
lugar, atrás apenas dos Estados Unidos e da
Índia.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini

Este conteúdo foi originalmente


publicado na versão impressa (Edição
235) do Brasil de Fato Paraná.

Confira a edição completa

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