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f (x1 , x2 , . . . , xn ).
~r = (x1 , . . . , xn ) , (17.2)
podemos definir uma função de várias variáveis como uma transformação cujo
argumento é um vetor do Rn e a imagem deste vetor pela função é um número
real.
Definição 17.2.
Uma função real de n variáveis é uma transformação que a cada elemento~r 2
Rn associa um único número real f (~r ). Esta transformação pode ser denotada
como f : Rn ! R. Como o contra-domínio destas funções é um corpo, chamamos
funções reais de n variáveis de campos escalares.
A rigor a função deve ser denotada pelo símbolo f enquanto o número real
associado ao vetor ~r pela função é denotado pelo símbolo f (~r ), mas é comum
fazer um abuso de notação e denotar a função por f (~r ) ou por f (x, y) no caso de
funções de duas variáveis. A vantagem do abuso de notação é explicitar a depen-
dência da função, mas é importante tomar cuidado para não confundir a função f
com o número real f (~r ), que são elementos de espaços vetoriais diferentes.
f (x, y) = a · x + b · y (17.4)
Exemplo 17.2.
y Seja f uma função tal que
D f = ( 2, 1) [ (1, 2) . (17.7)
Exemplo 17.3.
No caso da função
p
f (x) = sen(x) , (17.8)
480 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.4.
Seja
com a > 0. O logaritmo pode ser calculado somente nos pontos em que o argu-
mento é positivo, ou seja,
D f = (x, y) 2 R2 | x2 + y2 < a2
(17.11)
Exemplo 17.5.
17.1 Campos escalares 481
No caso da função
p
f (x, y) = a2 x2 y2 (17.12)
D f = (x, y) 2 R2 | x2 + y2 a2
(17.13)
Exemplo 17.7.
O domínio
p da função
f (x, y) = 2
a x y 2 2 é Df =
(x, y) 2 R2 | x2 + y2 a2 . Seja ~r 0 um
elemento da circunferência x2 + y2 = a2 ,
que pertence a D f . Para qualquer d > 0
a bola aberta centrada em ~r 0 contém
pontos tais que x2 + y2 > a2 , ou seja, que
não pertencem a S, mas cuja interseção
com S não é vazia. Portanto os pontos da
circunferência x2 + y2 = a2 são pontos
de fronteira. Como D f contém pontos
que não são interiores, D f não é um
conjunto aberto.
Exemplo 17.8 (Intervalo aberto).
O intervalo (a, b) ⇢ R é um conjunto
aberto. Seja x0 2 (a, b). Seja d =
a x-δ x x+δ b x min (|x0 a|, |x b|), que é um número
positivo. Seja d tal que 0 < d < d.
A bola aberta centrada em x0 de raio d é um intervalo aberto totalmente contido
em x0 , portanto x0 é um ponto interior. Como qualquer elemento de (a, b) é um
ponto interior, intervalos abertos são conjuntos abertos.
Exemplo 17.9 (Bola aberta).
Em qualquer número de dimensões a bola aberta de raio a centrada em ~r 0 é
um conjunto aberto, como no caso do conjunto S = (x, y) 2 R2 | x2 + y2 < a2
ou do intervalo aberto, que são casos particulares de bola aberta.
Exemplo 17.10 (Produto cartesiano).
O produto cartesiano cartesiano dos in-
y
x
positiva a alguma fronteira e uma bola
aberta de raio menor que esta distância
a b
SC = S = {~r 2 Rn |~r 2
/ S} . (17.16)
Exemplo 17.15.
486 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.16.
O domínio p da função
f (x, y) = a2 x2 y2 é
Df = 2 2 2
(x, y) 2 R | x + y a 2
e seu complemento é D f =
(x, y) 2 R2 | x2 + y2 > a2 .
Assim como no exemplo anterior, a fron-
teira do domínio é a circunferência x2 +
y2 = a2 . Como todos os pontos da fron-
teira pertencem a D f , o complemento
contém apenas os pontos exteriores a
D f , que são pontos interiores do com-
plemento D f . Se o complemento possui
apenas pontos interiores, é um conjunto
aberto e pela definição o domínio D f é
um conjunto fechado.
Exemplo 17.17 (Intervalo fechado).
Seja S = [a, b] um intervalo real fechado. O complemento de S é a união
dos intervalos abertos ( •, a) e (b, +•). A união de dois conjuntos abertos é
também um conjunto aberto, portanto o complemento do intervalo fechado [a, b]
é um conjunto aberto. Logo intervalos fechados são conjuntos fechados, como já
esperado pelo nome.
S = (x, y) 2 R2 | a x b e c y d , (17.17)
17.1 Campos escalares 487
x
teira superior e nem a fronteira à direita.
Como S contém pontos de fronteira ele
a b
Exemplo 17.24.
Seja
Como tanto x quando y podem assumir qualquer valor real, a diferença x y não
é limitada superiormente ou inferiormente, portanto Im( f ) = ( •, +•).
Exemplo 17.25.
Seja
f (x, y) = ex y
8(x, y) 2 R2 . (17.21)
Exemplo 17.26.
Seja
x2 y2 z2
f (x, y, z) = e 8(x, y, z) 2 R3 . (17.22)
Por mais que x, y e z possam assumir qualquer valor real, o argumento da expo-
nencial nunca será positivo. Nestas condições Im( f ) = (0, 1].
Exemplo 17.27.
Seja
O domínio agora é um conjunto fechado de área finita. É fácil perceber que f (x, y)
é maior quanto maior for o valor de x e menor for o valor de y, portanto o seu valor
máximo neste domínio ocorre quando x = b e y = c. Da mesma forma, o valor
mínimo de f (x, y) ocorre quando x = a e y = d. Portanto Im( f ) = [a d, b c].
490 Funções reais de várias variáveis
Apesar das aplicações geométricas não terem aplicações práticas, existem di-
versas aplicações em Física e em Engenharia de funções de mais de três variáveis,
especialmente na Termodinâmica e em sistemas mecânicos de várias partículas.
17.1 Campos escalares 493
Exemplo 17.32.
Exemplo 17.33.
Exemplo 17.34.
A imagem desta função é Im( f ) = [0, 1], então podemos escolher qualquer valor
de
p k neste intervalo. A curva de nível é representada implicitamente por k =
1 px2 y2 ou equivalentemente x2 + y2 = 1 k2 , que é uma circunferência de
raio 1 k2 centrada na origem. Escolhendo k = 0, k = 0.2, k = 0.4, k = 0.6,
k = 0.8 e k = 1 temos um conjunto de seis curvas de nível da esfera.
Ao escolher um nível, estamos escolhendo os pontos com altura z constante.
O conjunto de pontos com altura constante é um plano horizontal. Na figura 17.8
exibimos à esquerda diversos planos horizontais, e à direita a interseção destes
planos horizontais com a superfície da esfera, que são curvas.
Olhando apenas as curvas de nível pode ser difícil distinguir um cone de uma
esfera. A diferença está no espaçamento entre as curvas. Escolhendo níveis igual-
mente espaçados, como k = 0, k = 0.2, k = 0.4, k = 0.6, k = 0.8 e k = 1 nos
exemplos anteriores, no caso do cone as circunferências possuem raios igualmente
espaçados, enquanto na circunferência não.
Exemplo 17.37 (Paraboloide de revolução).
Seja f (x, y) = 1 x2 y2 , com domínio D f = (x, y) 2 R2 | x2 + y2 1 e
imagem Im( f ) = [0, 1]. As curvas de nível são dadas por
k=1 x2 y2 =) x2 + y2 = (1 k) , (17.31)
p
ou seja, são circunferências centradas na origem de raio 1 k, como ilus-
trado na figura 17.11 com k = 0, k = 0.2, k = 0.4, k = 0.6, k = 0.8 e k = 1.
Exemplo 17.39.
Voltando ao exemplo f (x, y) = sen(x2 + y2 ) o comportamento circular pode
ser observado de forma mais simples nas curvas de nível. Dependendo do ângulo
de observação e do número de linhas utilizados ao montar o gráfico a superfície
tridimensional pode não exibir um comportamento de forma tão clara quanto as
curvas de nível.
498 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.40.
Assim como no exemplo anterior, a função f (x, y) = sen(x) · sen(y) descreve
uma oscilação, mas neste caso com um comportamento reticulado, o que não é
observado tão bem no gráfico da função. As curvas de nível exibem este compor-
tamento de forma mais explícita.
Exemplo 17.41.
No caso da função f (x, y) = log(3x + 2y), o fato das curvas de nível serem
retas traz a informação de que a dependência nas varíaveis x e y é sempre em uma
combinação linear específica delas, no caso a combinação linear 3x + 2y. Pelas
curvas de nível é difícil observar que a função é um logaritmo desta combinação
linear, esta informação é exibida pelo gráfico da função.
Exemplo 17.42.
Seja
f (x, y, z) = x2 + y2 + z2 , (17.33)
p Assim como no caso de curvas p de nível, existem outras funções, como f (x, y, z) =
x2 + y2 + z2 ou f (x, y, z) = 1 x2 y2 z2 , cujas superfícies de nível são es-
feras concêntricas e a diferença pode ser vista no espaçamento entre as esferas.
Exemplo 17.43.
Seja
f (x, y, z) = x2 + y2 z2 , (17.34)
Os caminhos mais simples que passam pela origem são a reta horizontal y = 0
e a reta vertical x = 0. No caso da reta horizontal parametrizamos o caminho por
~r (t) = (t, 0) e em t = 0 temos~r (0) = (0, 0). Então o limite que queremos calcular
é o limite da composição
t ·0 0
z(t) = f (t, 0) = = =0 (17.39)
t 2 + 02 t2
se t 6= 0. O limite desta composição é
0 ·t 0
z(t) = f (0,t) = = =0 (17.41)
02 + t 2 t2
se t 6= 0. O limite desta composição é
Ao longo desta reta a superfície z = f (x, y) também possui altura constante nula.
Nestes dois caminhos os valores de f (x, y) = x2xy +y2
se aproximam do valor 0 à
medida em que o argumento se aproxima da origem (0, 0), o que sugere que o
limite desta função vale zero quando o argumento se aproxima da origem.
Seja agora a reta inclinada y = mx com m 6= 0, que também intercepta a origem.
Parametrizamos este caminho por~r (t) = (t, mt), com~r (0) = (0, 0). A composição
f (x(t), y(t)) vale
t · mt mt 2 m
f (x(t), y(t)) = = = . (17.43)
t 2 + (mt)2 t 2 + m2t 2 1 + m2
reta cruza a origem. Se o limite tem valores diferentes para caminhos diferentes,
então o limite
xy
lim não existe. (17.45)
(x,y)!(0,0) x + y2
2
Esta não existência é análoga ao caso de funções de uma variável com limites
laterais distintos, e portanto o limite não existe.
xy
Figura 17.16: Gráfico da superfície z = x2 +y2
.
Exemplo 17.45.
Essa questão de limites ao longo de caminhos pode ser ainda mais complicada.
Seja agora
xy2
f (x, y) = . (17.46)
x2 + y4
t(mt)2 m2 t 3 m2t
f (t, mt) = = = (17.49)
t 2 + (mt)4 t 2 + m4t 4 1 + m4t 2
m2 t
lim f (t, mt) = lim =0. (17.50)
t!0 t!0 1 + m4t 2
Ao longo de todas as infinitas retas que passam pela origem a altura da superfície
z = f (x, y) é nula quando t = 0. Se o limite ao longo de infinitos caminhos que
passam pela origem da composição da função é nulo, parece mais seguro afirmar
que o limite de f (x, y) quando (x, y) tende a (0, 0).
Seja agora o caminho ao longo da parábola x = y2 , que também corta a origem.
Podemos parametrizar este caminho pela função vetorial ~r (t) = (t 2 ,t) e ~r (0) =
(0, 0). Ao longo deste caminho a composição f (~r (t)) vale
(t 2 )t 2 t4 1
f (t 2 ,t) = = = (17.51)
(t 2 )2 + t 4 t 4 + t 4 2
se t 6= 0 e portanto
1
lim f (t 2 ,t) = . (17.52)
t!0 2
Este exemplo mostra que é possível que o limite ao longo de infinitos caminhos
sejam iguais e mesmo assim os caminhos ao longo de todos os caminhos não são
necessariamente iguais.
17.2 Limite e Continuidade 505
xy2
Figura 17.17: Gráfico da superfície z = x2 +y4
.
Este exemplo mostra que mesmo testando infinitos caminhos distintos pelos
quais o argumento (x, y) tende a um certo valor (x0 , y0 ) e encontrando o mesmo
valor ainda assim não é possível afirmar que o limite da função existe. Este pro-
blema é análogo ao caso unidimensional da função f (x) = sen px . Se montarmos
uma tabela dos valores de x tendendo a zero pela sequência xk = 1k os valores cal-
2
culados da função tendem a 0. Se montarmos uma tabela com valores xk = 4k+1 os
valores calculados da função tendem a 1. É possível montar infinitas tabelas dis-
tintas que sugerem que a função tende a 0 assim como é possível montar infinitas
tabelas distintas que sugerem que a função tende a 1.
Para evitar este problema, definimos o limite de uma função pelo conceito de
vizinhança. No limite de funções reais de uma variável dizemos que f (x) tende a
L quando x tende a x0 se os valores de f (x) são arbitrariamente próximo de L se
os valores de x forem suficientemente de x0 . Em uma linguagem mais matemática,
dizemos que
Esta definição pode ser extendida para funções de várias variáveis mudando a
expressão para a vizinhança de um ponto no Rn . Seja f : R2 ! R. Novamente
dizemos que o limite de f quando (x, y) tende a (x0 , y0 ) tende a um valor L se os
506 Funções reais de várias variáveis
No exemplo em que
xy
f (x, y) = , (17.61)
x2 + y2
vimos que ao longo da reta y = x existem pontos arbitrariamente próximos da
origem para os quais f (x, y) = 12 . Ao longo da reta y = x existem pontos arbitra-
riamente próximos da origem para os quais f (x, y) = 12 . Portanto qualquer bola
aberta em torno da origem contém pontos nos quais f (x, y) = 12 e f (x, y) = 12 .
Então se e < 12 não existe bola aberta em torno da origem tal que | f (x, y) L| < e
para qualquer ponto desta bola aberta. Portanto o limite
xy
lim (17.62)
(x,y)!(0,0) x2 + y2
não existe.
3x2 y
Exemplo 17.46. Seja f (x, y) = x2 +y2
. Queremos mostrar que
3x2 y
lim =0. (17.63)
(x,y)!(0,0) x2 + y2
Temos que
✓ ◆
3x2 y x2 p
0 = 3|y| 2 3|y| 3 x2 + y2 = 3 k(x, y) (0, 0)k . (17.64)
x2 + y2 x + y2
Para qualquer e positivo podemos escolher algum d tal que 0 < d < 3e . Então
sempre que k(x, y) (0, 0)k < d temos que
3x2 y e
0 3 k(x, y) (0, 0)k < 3 = e , (17.65)
x2 + y2 3
Teorema 17.1.
Seja ~r : R ! Rn um campo vetorial uniparamétrico contínuo em t0 tal que
~r (t0 ) =~r 0 e ~r (t) 6= ~r 0 se t 6= t0 . Seja f uma função de n variáveis com domínio
D f que contém a imagem do campo vetorial uniparamétrico~r (t). Se
Demonstração.
Como f (~r ) tende a L quando~r tende a~r 0 , por definição para todo e > 0 existe
algum d1 tal que | f (~r ) L| < e sempre que 0 < k~r ~r 0 k < d1 . Como o campo
vetorial é contínuo em t0 , para este d1 existe algum d > 0 tal que k~r (t) ~r (t0 )k <
d1 sempre que |t t0 | < d. Como~r (t) 6= ~r 0 se t 6= t0 , temos que
0 < |t t0 | < d =) 0 < k~r (t) ~r (t0 )k < d1 =) | f (~r (t)) L| < e , (17.67)
ou seja,
(a)
(b)
(c)
lim [ f (~r)g(~r)] = L1 L2 ; (17.71)
~r!~r0
(d)
f (~r) L1
lim = se L2 6= 0. (17.72)
~r!~r0 g(~r) L2
Demonstração. Queremos provar que para todo e > 0 existe algum d > 0 tal que
| f (~r) + g(~r) (L1 + L2 )| < e (17.73)
sempre que 0 < k~r ~r0 k < d. Pela desigualdade triangular
| f (~r) + g(~r) (L1 + L2 )| < | f (~r) L1 | + |g(~r) L2 | (17.74)
lim f (~r) = L1 e lim g(~r) = L2 , sabemos que para todo e > 0 existem d1 e
Como ~r!~ r0 ~r!~r0
d2 positivos tais que
e
| f (~r) L1 | < sempre que 0 < k~r ~r0 k < d1 e
2
e
|g(~r) L2 | < sempre que 0 < k~r ~r0 k < d2 .
2
Seja d o menor valor entre d1 e d2 . Então sempre que ~r satisfaz a desigualdade
0 < k~r ~r0 k < d este vetor satisfaz simultaneamente 0 < k~r ~r0 k < d1 e 0 <
k~r ~r0 k < d2 , portanto
e e
| f (~r) + g(~r) (L1 + L2 )| < | f (~r) L1 | + |g(~r) L2 | < + = e , (17.75)
2 2
o que prova o item (a) do teorema.
Para provar o item (b), devemos mostrar que para todo e > 0 existe algum
d > 0 tal que
|a f (~r) aL1 | < e (17.76)
sempre que 0 < k~r ~r0 k < d. Sabendo que ~r!~
lim f (~r) = L1 , para todo e > 0 existe
r0
um d > 0 tal que
e
| f (~r) L1 | < sempre que 0 < k~r ~r0 k < d . (17.77)
1 + |a|
Logo se 0 < k~r ~r0 k < d temos que
|a|
|a f (~r) aL1 | = |a|| f (~r) L1 | < e<e. (17.78)
1 + |a|
510 Funções reais de várias variáveis
Para o item (c), precisamos mostrar que para todo e > 0 existe algum d > 0 tal
que
e
|L2 | |L2 | 1 2
|L2 | < + |g(~r)| =) < |g(~r)| =) < . (17.84)
2 2 |g(~r)| |L2 |
2
Para todo e > 0 existe algum d2 > 0 tal que |g(~r) L2 | < |L22 | e sempre que
0 < k~r ~r0 k < d2 . Seja d o menor valor entre d1 e d2 . Então sempre que 0 <
k~r ~r0 k < d temos que
1 1 L2 g(~r) 1 1 1 2 |L2 |2
= = |g(~r) L2 | < e < e . (17.85)
g(~r) L2 L2 g(~r) |L2 | |g(~r)| |L2 | |L2 | 2
Agora que provamos que ~r!~lim 1 = 1 utilizamos a propriedade (c) deste teorema
r0 g(~r) L2
já demonstrada para concluir que
✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆
f (~r) 1 1 L1
lim = lim f (~r) lim = L1 = . (17.86)
~r!~r0 g(~r) ~r!~r0 ~r!~r0 g(~r) L2 L2
ou seja,
lim x = x0 . (17.89)
(x,y)!(x0 ,y0 )
Para isto queremos mostrar que para qualquer e > 0 existe algum d > 0 tal que
k(x, y) (a, b)k < d =) |x a| < d1 =) |g(x) g(a)| < e =) | f (x, y) f (a, b)| < e ,
(17.108)
provando assim a continuidade de f .
17.2 Limite e Continuidade 517
|g( f (~r )) g( f (~r 0 )| < e sempre que | f (~r ) f (~r 0 )| < d1 . (17.110)
Pela continuidade de f sabemos que para este d1 existe algum d > 0 tal que
Então
GM
V (~r ) = , (17.116)
k~r k
Demonstração.
Se ~r (t) é um campo vetorial contínuo em [a, b] e o campo vetorial f (~r ) é
contínuo em uma região que contém a curva parametrizada pelo campo vetorial,
então a composição f (~r (t)) é uma função real de uma única variável contínua em
[a, b].
Seja ~r (t) = (1 t) ·~r1 + t ·~r 2 a parametrização do segmento de reta que une
~r1 a ~r 2 . Como S é um conjunto convexo, todos os pontos deste segmento estão
contidos em S, portanto a composição F(t) = f (~r (t)) é contínua no intervalo [0, 1]
e para esta composição vale o Teorema do Valor Intermediário para funções reais
de uma variável.
Como F(0) = f (~r 1 ) e F(1) = f (~r 2 ), existe algum t¯ 2 [0, 1] para o qual F(t¯) =
f (~r (t¯)) = K para qualquer K entre f (~r 1 ) e f (~r 2 ). Logo~r 3 =~r (t¯) e o teorema está
demonstrado.
GM
V (~r ) = , (17.118)
k~r k
esta função claramente não está definida na origem, mas podemos tentar calcular
o limite desta função quando~r tende à origem.
Se o limite existir, então o limite ao longo de qualquer caminho que passa
pela origem existe e possui o mesmo valor. O cálculo do limite por caminho não
520 Funções reais de várias variáveis
prova que o limite da função existe, mas se o limite por caminho não existir, então
sabemos que o limite da função não existe.
Escolhendo como caminho no R3 uma reta ao longo do eixo z parametrizada
por ~r (t) = (0, 0,t), que passa pela origem quando t = 0, a composição f (~r (t)) é
dada por
GM GM
f (~r (t)) = = (17.119)
k~r (t)k |t|
e
GM
lim f (~r (t)) = limt ! 0 = •. (17.120)
t!0 |t|
O limite da composição não existe, então o limite da função também não existe.
Não é possível definir V (~0 ) de modo que a função seja contínua na origem. No
entanto o limite da composição não existe porque a composição assume valores
negativos arbitrariamente grandes à medida em que o parâmetro t se aproxima de
0. A curva y = f (~r (t)) possui uma assíntota vertical. Podemos definir limites
envolvendo o infinito para funções de várias variáveis da mesma maneira que
fizemos para funções reais de uma única variável.
Definição 17.13.
Dizemos que ~rlim
!~r 0
f (~r 0 ) = +• se para todo número real M > 0 arbitraria-
mente grande existir uma bola aberta de tamanho d em torno de~r 0 tal que
f (~r ) > M sempre que 0 < k~r ~r 0 k < d . (17.121)
Analogamente dizemos que ~rlim
!~r 0
f (~r 0 ) = • se para todo número real M > 0
arbitrariamente grande existir uma bola aberta de tamanho d em torno de~r 0 tal
que
f (~r ) < M sempre que 0 < k~r ~r 0 k < d . (17.122)
GM
No exemplo do potencial gravitacional V (~r ) = k~r k , seja K um número po-
sitivo arbitrariamente grande.
GM GM GM
V (~r ) < K =) < K =) > K =) k~r k < . (17.123)
k~r k k~r k K
GM
Então escolhendo d < K temos que
sen(x2 + y2 )
f (x, y) = . (17.126)
x2 + y2
Esta função não está definida na origem e queremos calcular, se possível, o limite
desta função neste ponto. Infelizmente o denominador tende a zero e os teoremas
vistos não são válidos neste caso.
O numerador também tende a zero, e no caso de funções de uma variável po-
deríamos utilizar a Regra de l’Hôpital. No entanto ainda não definimos a operação
de derivação de funções de várias variáveis. Mas podemos simplificar o problema
e transformar este problema em um limite de uma função de uma única variável
se encontrarmos uma transformação de coordenadas nas quais a função resultante
dependa apenas de uma das coordenadas.
Neste exemplo podemos utilizar as coordenadas polares,
x = r · cos(q) , (17.127)
y = r · sen(q) , (17.128)
e nestas coordenadas a origem é dada por r = 0. A função é transformada como
sen(r2 ) sen(u)
lim 2
= lim =1 (17.130)
r!0 r u!0 + u
pelo limite fundamental. Portanto
sen(x2 + y2 )
lim =1. (17.131)
(x,y)!(0,0) x2 + y2
Exemplo 17.66.
Seja agora
Esta função é contínua em todos os pontos exceto na origem, onde ela não está
definida. Queremos calcular este limite, se possível. Como as variáveis x e y
ocorrem sempre na forma x2 + y2 , é natural utilizar coordenadas polares e
Assim
log(u)
lim u · log(u) = lim , (17.135)
u!0+ u!0+ 1/u
1/u
lim u · log(u) = lim = lim u=0. (17.136)
u!0+ u!0+ 1/u2 u!0+
Portanto
e se definirmos
(
(x2 + y2 ) · log(x2 + y2 ) se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = (17.138)
0 se (x, y) = (0, 0)
tro sub-retângulos.
a a‾ b
17.2 Limite e Continuidade 523
x
do ponto (a, c). Escrevendo este sub-
retângulo como Q1 = [a1 , b1 ] ⇥ [c1 , d1 ]
a a b =b
c2
x
tido quantas vezes quisermos. Após n
processos obtemos um retângulo Qn =
a a2 b2 b
x
fato de que f é limitada nesta bola aberta,
portanto a função não pode ser simulta-
a α b
vamos esta propriedade por contradição. Suponha que não existe (xM , yM ) em Q
tal que f (xM , yM ) = M. Neste caso a função g(x, y) = M f1(x,y) é contínua em Q,
pois este denominador nunca se anula. Como g é contínua, g é também limitada
em Q, logo existe algum C > 0 tal que g(x, y) < C para todo (x, y) 2 Q. Então
1
M f (x,y) < C =) M f (x, y) < C1 =) f (x, y) < M C1 para todo (x, y) 2 Q.
Consequentemente o número real M C1 é um limite superior da imagem de f
menor que o supremo M, o que contradiz a definição de supremo. Portanto deve
existir (xM , yM ) 2 Q tal que f (xM , yM ) = M, provando a existência do máximo
global. O mesmo argumento prova a existência do mínimo global.
17.3 Diferenciabilidade
17.3.1 Derivada direcional e parcial
Se f é uma função de uma variável, podemos dizer que f é diferenciável em
x0 se a derivada f 0 existe neste ponto, ou seja, se o limite
f (x0 + h) f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim (17.139)
h!0 h
existe. Esta definição é motivada pelo conceito da inclinação do gráfico da curva
representada por y = f (x) no ponto x0 .
Imagine que um pico de uma montanha é bem descrito pelo paraboloide de
revolução
f (x, y) = a2 x2 y2 , (17.140)
cujo gráfico é simétrico por rotação em torno do eixo z. É simples observar que
qualquer direção pela qual chegamos ao topo possui a mesma inclinação.
Já no caso de um elipsoide representado por
r
x2 y2
f (x, y) = c 1 , (17.141)
a2 b2
cujo gráfico não possui a mesma simetria observamos que a dificuldade em escalar
depende da direção percorrida. Neste caso a inclinação é menor ao longo do semi-
eixo maior, o que é corroborado pelas curvas de nível.
Num caso mais geral de uma superfície irregular, o caminho para o topo com
a menor inclinação nem sempre é uma reta. Queremos agora definir o conceito de
derivadas de funções de várias variáveis e descrever a inclinação da superfície em
um certo ponto.
A equação z = f (x, y) representa uma superfície e queremos que o conceito de
derivada expresse a inclinação desta superfície (ou de maneira mais geral, como
uma variação no vetor (x, y) afeta a variação em z). Se imaginarmos que a super-
fície representada por z = f (x, y) descreve a altura de uma montanha que estamos
escalando, no topo da montanha temos uma inclinação nula e num ponto qual-
quer entre a base da montanha sabemos que existem direções nas quais o valor
de z aumenta (se estivermos subindo a montanha), direções nas quais o valor de
z diminui (descendo a montanha) e direções nas quais o valor de z não muda (se-
guindo a curva de nível).
Seja C um caminho parametrizado por um campo vetorial ~r (t) contido no
domínio da função f . A projeção deste caminho na superfície representada por
z = f (x, y) define um caminho cuja última componente tem altura z(t) = f (~r (t)).
526 Funções reais de várias variáveis
Como z(t) é uma função real de uma única variável, sabemos derivar esta função
num valor t0 2 [a, b] e calcular assim o que definimos como derivada da função f
em relação ao caminho C no ponto~r 0 =~r (t0 ).
Exemplo 17.67 (Paraboloide de revolução).
Seja a superfície representada explicitamente por
z = a2 x2 y2 (17.142)
x2
z=1 y2 , (17.146)
4
cujas curvas de nível são elipses. Considere os caminhos C1 e C2 como as retas
y = 0 e x = 0, respectivamente, parametrizadas por
t2
z1 (t) = 1 e z2 (t) = 1 t2 , (17.148)
4
com inclinações
t
z01 (t) = e z02 (t) = 2t . (17.149)
2
A uma mesma distância t da origem a inclinação ao longo de C2 é maior que ao
longo de C1 .
17.3 Diferenciabilidade 527
Exemplo 17.69.
Voltamos agora ao exemplo da superfície representada por
( 2
xy
se (x, y) 6= (0, 0)
z = x2 +y4 (17.150)
0 se (x, y) = (0, 0)
Seja novamente a reta parametrizada por~r (t) = (t · cos(q),t · sen(q)), que in-
tercepta a origem com um ângulo q em relação ao eixo x positivo. A altura ao
longo da superfície neste caminho é
(t cos(q))(t sen(q))2 cos(q) sen2 (q)t
z(t) = z(x(t), y(t)) = =
(t cos(q))2 + (t sen(q))4 cos2 (q) + t 2 sen4 (q)
t
= sen(q) tan(q) (17.151)
1 + t sen (q) tan2 (q)
2 2
ou apenas
at
z(t) = com a = sen(q) tan(q) (17.152)
1 + a2t 2
se t 6= 0 e z(0) = 0. Neste caso
então em cada uma destas retas a curva ao longo da superfície cruza a origem. A
inclinação é dada por
f (x, y) = a · x + b · y (17.159)
com a e b constantes. Se~r 0 = (x0 , y0 ) e~v = (vx , vy ), a composição f (~r (h)) é dada
por
∂f f (x0 + h, y0 ) f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim (17.164)
∂x h!0 h
e a segunda em relação a y
∂f f (x0 , y0 + h) f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = . (17.165)
∂y h
530 Funções reais de várias variáveis
∂f f (x0 + h, y0 , z0 ) f (x0 , y0 , z0 )
(x0 , y0 , z0 ) = lim , (17.166)
∂x h!0 h
∂f f (x0 , y0 + h, z0 ) f (x0 , y0 , z0 )
(x0 , y0 , z0 ) = lim , (17.167)
∂y h!0 h
∂f f (x0 , y0 , z0 + h) f (x0 , y0 , z0 )
(x0 , y0 , z0 ) = lim . (17.168)
∂z h!0 h
Exemplo 17.72 (Transformação linear).
Se f (x, y) = a · x + b · y, as derivadas parciais são
e
∂f ax0 + b(y0 + h) ax0 by0 bh
(x0 , y0 ) = lim = lim =b. (17.170)
∂y h!0 h h!0 h
Exemplo 17.75.
Se f (x, y, z) = cos(x + y + z),
∂f cos(x0 + h + y0 + z0 ) cos(x0 + y0 + z0 )
(x0 , y0 , z0 ) = lim
∂x h!0 h
cos(x0 + y0 + z0 ) cos(h) sen(x0 + y0 + z0 ) sen(h) cos(x0 + y0 + z0 )
= lim
h!0 h
cos(h) 1 sen(h)
= cos(x0 + y0 + z0 ) lim sen(x0 , y0 , z0 ) lim
h!0 h h!0 h
= sen(x0 + y0 + z0 ) . (17.175)
∂f
(x0 , y0 , z0 ) = sen(x0 + y0 + z0 ) (17.176)
∂y
∂f
(x0 , y0 , z0 ) = sen(x0 + y0 + z0 ) . (17.177)
∂z
✓ ◆✓ ◆
∂2 f ∂ ∂f ∂ ∂
= = f, (17.184)
∂y 2 ∂y ∂y ∂y ∂y
✓ ◆✓ ◆
∂2 f ∂ ∂f ∂ ∂
= = f, (17.185)
∂y∂x ∂y ∂x ∂y ∂x
✓ ◆✓ ◆
∂2 f ∂ ∂f ∂ ∂
= = f. (17.186)
∂x∂y ∂x ∂y ∂x ∂y
∂2 f ∂2 f
As derivadas ∂x∂y e ∂y∂x são chamadas derivadas mistas.
! ✓ ◆
∂2 f ∂ GMx 3 1
= = GMx 2y
∂y∂x ∂y (x2 + y2 )
3
2 2 5
(x2 + y2 ) 2
3GMxy
= 5 , (17.191)
(x2 + y2 ) 2
! ✓ ◆
∂2 f ∂ GMy 3 1
= = GMy 2x
∂x∂y ∂x (x2 + y2 )
3
2 2 5
(x2 + y2 ) 2
3GMxy
= 5 (17.192)
(x2 + y2 ) 2
e
! 3 1
∂2 f ∂ GMy (x2 + y2 ) 2 · 1 (y) · 32 (x2 + y2 ) 2 2y
= = GM
∂y2 ∂y (x2 + y2 ) 2
3
(x2 + y2 )3
(x2 + y2 ) 3y2 GM(x2 2y2 )
= GM 5 = 5 . (17.193)
(x2 + y2 ) 2 (x2 + y2 ) 2
Exemplo 17.78.
Seja
⇣y⌘
f (x, y) = arctan . (17.194)
x
As derivadas parciais de primeira ordem são
∂f ∂ ⇣y⌘ 1 ⇣ y⌘ y
= arctan = = 2 (17.195)
∂x ∂x x 1 + xy
2 x 2 x + y2
e
⇣y⌘ ✓ ◆
∂f ∂ 1 1 x
= arctan = = 2 . (17.196)
∂y ∂y x 1 + xy
2 x x + y2
∂2 f ∂ y 1 2xy
= = y 2 2x = 2 , (17.197)
∂x 2 ∂x x + y
2 2 2
(x + y )2 (x + y2 )2
∂2 f ∂ y (x2 + y2 )( 1) 2y( y) y2 x2
= = = , (17.198)
∂y∂x ∂y x2 + y2 (x2 + y2 )2 (x2 + y2 )2
17.3 Diferenciabilidade 535
( 2 2
xy xx2 +yy2 se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = (17.201)
0 se (x, y) = (0, 0)
∂f y(x4 + 4x2 y2 y4 )
(x, y) = . (17.202)
∂x (x2 + y2 )2
Ao longo da reta x = 0 temos
∂f y5
(0, y) = 4 = y (17.203)
∂x y
e a derivada parcial em relação a y desta última função vale
∂2 f
(0, y) = 1 . (17.204)
∂y∂x
Em particular na origem temos
∂2 f
(0, 0) = 1 . (17.205)
∂y∂x
A derivada em relação a y da função original vale
∂f x(x4 4x2 y2 y4 )
(x, y) = . (17.206)
∂y (x2 + y2 )2
Ao longo da reta y = 0 temos
∂f x5
(x, 0) = 4 = x (17.207)
∂y x
536 Funções reais de várias variáveis
✓ ◆
∂u 1 ∂ 2 ∂u
= 2 r . (17.212)
∂t r ∂r ∂r
Calculando a derivada parcial em relação a t encontramos
2 ✓ ◆
∂u n 1 r2
n r2 r n r2
= nt e 4t +t e 4t = u(r,t) + . (17.213)
∂t 4t 2 t 4t 2
Agora calculamos o lado direito da equação que a função u deve satisfazer.
∂u r2 2r 1 n 1 r2
= t ne 4t = rt e 4t . (17.214)
∂r 4t 2
Multiplicando por r2 temos
∂u 1 3n 1 r2
r2 = r t e 4t . (17.215)
∂r 2
Derivando esta função em relação a r temos
✓ ◆ ✓ ◆
∂ 2 ∂u ∂ 1 3 n 1 r2 3 2n 1 r2 1 3n 1 r2 2r
r = r t e 4t = r t e 4t r t e 4t
∂r ∂r ∂r 2 2 2 4t
17.3 Diferenciabilidade 537
(17.216)
A equação
✓ ◆
∂u 1 ∂ 2 ∂u
= 2 r (17.218)
∂t r ∂r ∂r
implica
✓ ◆ ✓ ◆
n r2 3 r2
+ u(r,t) = + u(r,t) . (17.219)
t 4t 2 2t 4t 2
∂2 u ∂2 u
+ =0, (17.220)
∂x2 ∂y2
que descreve o potencial gravitacional ou eletrostático no vácuo, a equação de
difusão
∂u ∂2 f
=a 2 , (17.221)
∂t ∂x
que descreve a propagação de calor em uma barra, ou a equação de onda
1 ∂2 f ∂2 f
= , (17.222)
v2 ∂t 2 ∂x2
que como o próprio nome indica descreve a propagação de uma onda unidimensi-
onal.
538 Funções reais de várias variáveis
∂f f (0 + h, 0) f (0, 0) 1 1
(0, 0) = lim = lim =0 (17.224)
∂x h!0 h h!0 h
e
∂f f (0, 0 + h) f (0, 0) 1 1
(0, 0) = lim = lim =0. (17.225)
∂y h!0 h h!0 h
Todo plano não vertical que intercepta o ponto (x0 , y0 , z0 ) deve possuir esta
equação. Mas entre estes infinitos planos o plano tangente é aquele que melhor
aproxima a superfície numa vizinhança de (x0 , y0 ).
17.3.6 Incrementos
Com a definição de plano tangente podemos finalmente extender a definição
de diferenciabilidade para funções de duas variáveis. Seja (x0 , y0 , z0 ) um ponto da
superfície S representada explicitamente pela equação z = f (x, y) com derivadas
parciais existentes em (x0 , y0 ), e que portanto admite um plano tangente. Seja o
incremento em~r dado por
Neste caso dizemos que a superfície S é bem aproximada pelo plano tangente e
que a função f é diferenciável neste ponto. A equação (17.240) pode ser escrita
como
✓ ◆
∂f ∂f
e1 · Dx+e2 · Dy = f (x0 +Dx, y0 +Dy) f (x0 , y0 ) (x0 , y0 )Dx + (x0 , y0 )Dy .
∂x ∂y
(17.243)
Isolando o termo f (x0 + Dx, y0 + Dy)) temos a seguinte definição de diferenciabi-
lidade.
Definição 17.18. Uma função de duas variáveis é diferenciável em (x0 , y0 ) se
existirem funções e1 e e2 tais que
∂f ∂f
f (x0 + Dx, y0 + Dy) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )Dx + (x0 , y0 )Dy + e1 Dx + e2 Dy
∂x ∂y
(17.244)
e
lim e1 = lim e2 = 0 . (17.245)
(Dx,Dy)!(0,0) (Dx,Dy)!(0,0)
17.3 Diferenciabilidade 543
lim ek = 0 (17.247)
D~r!~0
para todo k = 1, . . . , n.
Exemplo 17.82 (Forma quadrática).
Seja a forma quadrática
d f = 0 · Dx + 0 · Dy = 0 . (17.255)
O erro da aproximação é
y + Δy
incremento D f temos
D f = [ f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 + Dx, y0 )]
y
x
x x +Δx
Pelo teorema do valor médio, existe algum ȳ no intervalo [y0 , y0 + Dy] para o
qual
∂f
[ f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 + Dx, y0 )] = (x0 + Dx, ȳ)Dy . (17.257)
∂y
17.3 Diferenciabilidade 545
∂f
[ f (x0 + Dx, y0 ) f (x0 , y0 )] = (x̄, y0 )Dx . (17.258)
∂x
Então
∂f ∂f
f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 , y0 ) = (x̄, y0 )Dx + (x0 + Dx, ȳ)Dy . (17.259)
∂x ∂y
∂f ∂f
Subtraindo ∂x (x0 , y0 )Dx + ∂y (x0 , y0 )Dy dos dois delas desta última equação temos
∂f ∂f
f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 , y0 ) (x0 , y0 )Dx (x0 , y0 )Dy = (17.260)
∂x ∂y
∂f ∂f ∂f ∂f
(x̄, y0 ) (x0 , y0 ) Dx + (x0 + Dx, ȳ) (x0 , y0 ) Dy .
∂x ∂x ∂y ∂y
Definindo
∂f ∂f ∂f ∂f
e1 = (x̄, y0 ) (x0 , y0 ) e e2 = (x0 + Dx, ȳ) (x0 , y0 ) Dy (17.261)
∂x ∂x ∂y ∂y
podemos escrever
∂f ∂f
f (x0 + Dx, y0 + Dy) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )Dx + (x0 , y0 )Dy + e1 Dx + e2 Dy
∂x ∂y
(17.262)
encerrando a demonstração.
Como consequência deste teorema, se as derivadas parciais de uma função
f forem contínuas em um conjunto aberto A, então em qualquer ponto ~r 0 2 A as
condições do teorema são satisfeitas e a função f é diferenciável, o que nos motiva
a seguinte definição.
Definição 17.19.
Seja f uma função definida em um conjunto aberto A ⇢ Rn . Dizemos que f
é de classe C1 em A ( ou f 2 C1 (A) ) se todas as derivadas parciais de f forem
contínuas em A.
546 Funções reais de várias variáveis
Demonstração.
Seja (x0 , y0 ) um elemento qualquer de A. Como A é aberto, existem Dx e
Dy pequenos o suficiente de modo que o retângulo fechado Q = [x0 , x0 + Dx] ⇥
[y0 , y0 + Dy] esteja contido em A. Seja
F(Dx, Dy) = f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 + Dx, y0 ) f (x0 , y0 + Dy) + f (x0 , y0 ) ,
(17.268)
podemos escrever
Como esta diferença possui o valor de x fixo em x1 , podemos definir outra função
de uma variável H(y) = ∂∂xf (x1 , y) e escrever
∂f ∂f
0 H(y1 + h) H(y1 ) ∂x (x1 , y1 + h) ∂x (x1 , y1 ) ∂2 f
H (y1 ) = lim = lim = (x1 , y1 ) .
h!0 h h!0 h ∂y∂x
(17.274)
Portanto
∂2 f
F(Dx, Dy) = (x1 , y1 ) · Dx · Dy . (17.275)
∂y∂x
Agora voltamos à expressão original para F(Dx, Dy) que rearranjamos como
F(Dx, Dy) = f (x0 + Dx, y0 + Dy) f (x0 , y0 + Dy) f (x0 + Dx, y0 ) + f (x0 , y0 ) .
(17.276)
∂f ∂f
0 N(x2 + h) N(x2 ) ∂y (x2 + h, y2 ) ∂y (x2 , y2 ) ∂2 f
N (x2 ) = lim = lim = (x2 , y2 ) .
h!0 h h!0 h ∂x∂y
(17.281)
Assim escrevemos
∂2 f
F(Dx, Dy) = (x2 , y2 ) · Dx · Dy . (17.282)
∂x∂y
∂2 f ∂2 f
(x1 , y1 ) = (x2 , y2 ) (17.283)
∂y∂x ∂x∂y
para algum (x1 , y1 ) 2 Q e algum (x2 , y2 ) 2 Q. No limite em que (Dx, Dy) ! (0, 0),
temos que (x1 , y1 ) ! (x0 , y0 ) e (x2 , y2 ) ! (x0 , y0 ) pelo Teorema do Confronto.
Pela continuidade das derivadas mistas temos que
∂2 f ∂2 f
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) (17.284)
∂y∂x ∂x∂y
Este teorema pode ser extendido para funções de 3 ou mais variáveis ou para
derivadas mistas de ordem maior que 2.
dy = f 0 (x)dx . (17.285)
Expressões como esta aparecem por exemplo nas operações de mudança de variá-
vel nas integrais de funções de uma única variável.
550 Funções reais de várias variáveis
∂f ∂f
dz = dx + dy . (17.286)
∂x ∂y
Estas expressões serão comuns no cálculo de integral de linhas e nas soluções de
equações diferenciais exatas.
Exemplo 17.84.
Se z = f (x, y) = xye (x2 +y2 ) , as derivadas parciais são
Como g(t) é uma função de uma variável, podemos utilizar as técnicas do cálculo
de funções de uma única variável para saber se g é diferenciável em um certo t0 .
No entanto, mesmo que a derivada g0 (t0 ) ao longo de um certo caminho exista,
nada garante que a derivada da composição existe ao longo de outros caminhos,
pois vimos que mesmo que infinitas derivadas ao longo de caminhos distintos
existam no mesmo ponto, f (~r ) não é necessariamente diferenciável neste ponto.
O resultado que permite concluir a diferenciabilidade da composição g(t) =
f (~r (t)) a partir da diferenciabilidade de f (~r ) e~r (t) chama-se regra da cadeia.
Então
g(t0 + Dt) = f x(t0 ) + x0 (t0 )Dt + ex Dt, y(t0 ) + y0 (t0 )Dt + ey Dt . (17.296)
552 Funções reais de várias variáveis
∂f ∂f
g(t0 + Dt) = f (x0 , y0 ) + (x0 ,t0 )Dx + (x0 ,t0 )Dy + e1 Dx + e2 Dy , (17.297)
∂x ∂y
onde
onde
lim et = 0 (17.301)
Dt!0
pois é uma combinação de funções limitadas com funções que tendem a zero, o
que prova que a função g é diferenciável em t0 e que
∂f ∂f
g0 (t0 ) = (x(t0 ), y(t0 ))x0 (t0 ) + (x(t0 ), y(t0 ))y0 (t0 ) . (17.302)
∂x ∂y
17.3 Diferenciabilidade 553
n
d ∂ f dxk
f (~r (t)) = Â . (17.303)
dt k=1 ∂xk dt
Esta somatória pode ser escrita como o produto escalar de dois vetores. O segundo
vetor tem componentes
✓ ◆
dx1 dx2 dxn
, ,..., (17.304)
dt dt dt
∂ ∂f
f (x, y, z) = (x, y, z) , (17.310)
∂z ∂z
podemos definir o gradiente de uma função como a aplicação do operador nabla
✓ ◆
~— = ∂ ∂ ∂
, ,..., (17.311)
∂x1 ∂x2 ∂xn
Demonstração.
No caso de funções de duas variáveis,
✓ ◆
~— (a · f (x, y) + b · g(x, y)) = ∂ , ∂ (a · f (x, y) + b · g(x, y))
∂x ∂y
✓ ◆
∂ ∂
= (a · f (x, y) + b · g(x, y)) , (a · f (x, y) + b · g(x, y))
∂x ∂y
✓ ◆
∂f ∂g ∂ f ∂g
= a +b ,a +b
∂x ∂x ∂y ∂y
✓ ◆ ✓ ◆
∂f ∂f ∂g ∂g
= a· , +b· ,
∂x ∂y ∂x ∂y
= a · ~— f (x, y) + b · ~—g(x, y) . (17.314)
Demonstração.
A derivada direcional é definida como a derivada da composição f (~r (t)) quando
~r (t) parametriza a reta que passa por~r 0 com vetor diretor ~v . Se~r (t) =~r 0 + t ·~v ,
a reta passa por~r 0 em t = 0 e a derivada direcional é dada por dtd f (~r 0 + t ·~v ) t=0 .
Pela regra da cadeia,
d
f (~r 0 + t ·~v ) = ~— f (~r 0 + t ·~v ) ·~r 0 (t) . (17.315)
dt
O vetor tangente vale~r 0 (t) =~v . Calculando esta expressão em t = 0 temos
d
f (~r 0 + t ·~v ) = ~— f (~r 0 ) ·~v . (17.316)
dt t=0
Teorema 17.13.
O gradiente de uma função diferenciável de n variáveis f aponta na direção de
maior crescimento, isto é, a derivada direcional de f em~r 0 é maior se a direção
~v aponta na direção do gradiente.
Demonstração.
Pelo teorema anterior, a derivada direcional vale
d
f (~r 0 + t ·~v ) = ~— f (~r 0 ) ·~v = ~— f (~r 0 ) · k~v k · cos(q) , (17.318)
dt t=0
f (~r ) = k , (17.326)
pois o lado direito é a derivada de uma constante. Pela regra da cadeia escrevemos
ou
~— f (~r 0 ) ·~r 0 (t0 ) = 0 . (17.330)
∂f ∂f ∂f
(x0 , y0 , z0 )(x x0 )+ (x0 , y0 , z0 )(y y0 )+ (x0 , y0 , z0 )(z z0 ) = 0 (17.331)
∂x ∂y ∂z
ou apenas
Esta última fórmula pode ser extendida para um número de dimensões arbitrário.
558 Funções reais de várias variáveis
x2 + y2 + z2 = a2 . (17.333)
A representação
q explícita não é capaz de obter um plano tangente nos pontos
em que a2 x02 y20 = 0, isto é, nos pontos em que z0 = 0 que forma a linha
do equador. Nestes pontos a função f (x, y) não é diferenciável, apesar de ser
contínua.
Além desta abordagem podemos descrever a esfera de raio a como a superfície
de nível da função
g(x, y, z) = x2 + y2 + z2 (17.338)
ou
∂g ∂g ∂g
(x0 , y0 , z0 )(x x0 )+ (x0 , y0 , z0 )(y y0 )+ (x0 , y0 , z0 )(z z0 ) = 0 (17.340)
∂x ∂y ∂z
17.3 Diferenciabilidade 559
ou ainda
Nos pontos em que z0 = 0 esta equação resulta num plano vertical, como esperado
do plano tangente a uma esfera nos pontos pertencentes ao equador. Acima do
equador podemos dividir esta equação por 2z0 e obter a equação
x0 y0
z z0 = (x x0 ) (y y0 ) (17.342)
z0 z0
q
e substituindo z0 = a2 x02 y20 obtemos
x0 y0
z z0 = q (x x0 ) + q (y y0 ) , (17.343)
a2 x02 y20 a2 x02 y20
que é a equação do plano tangente obtida pela representação explícita, mas com
contas mais simples.
Exemplo 17.88 (Derivada total).
A regra da cadeia nos diz que para uma função de duas variáveis
d ∂ f dx ∂ f dy
f (x(t), y(t)) = + . (17.344)
dt ∂x dt ∂y dt
Seja uma representação paramétrica cujo parâmetro é a própria variável x, ou seja,
O vetor tangente é
✓ ◆
0 dy
r (x) = 1, (17.346)
dx
df ∂ f ∂ f dy
= + . (17.347)
dx ∂x ∂y dx
Esta derivada é chamada de derivada total da função f em relação a x. A derivada
total de f em relação a y é
df ∂ f ∂ f dx
= + . (17.348)
dy ∂y ∂x dy
560 Funções reais de várias variáveis
df ∂ f ∂ f dy ∂ f dz
= + + . (17.349)
dx ∂x ∂y dx ∂z dx
f (x, y) = k . (17.350)
df ∂ f ∂ f dy
= + =0, (17.351)
dx ∂x ∂y dx
∂f
pois o lado direito é uma constante. Se no ponto em questão ∂y 6= 0, podemos
dy
isolar o termo dx como
dy ∂ f/∂x
= . (17.352)
dx ∂ f/∂y
com
lim ek = 0 8k = 1, . . . , n (17.354)
D~r !~0
17.3 Diferenciabilidade 561
com
Teorema 17.14.
Se f : R ! R é n + 1 vezes diferenciável em uma vizinhança de x0 , então
podemos nesta vizinhança aproximar
n
1
f (x) = Â k! f (k)(x0)(x x0 )k + En (x) (17.359)
k=0
com
x
1
ˆ
En (x) = (x t)n f (n+1) (t)dt . (17.360)
n! x0
17.3 Diferenciabilidade 563
Demonstração.
Este teorema é provado por indução. Para o caso n = 1 temos
ou
ou apenas
ˆ x
E1 (x) = (x t) f 00 (t)dt , (17.366)
x0
n
1 1
f (x) = Â k! f (k)(x0)(x x0 )k +
(n + 1)!
f (n+1) (x0 )(x x0 )n+1 + En+1 (x) .
k=0
(17.368)
564 Funções reais de várias variáveis
1
En+1 (x) = En (x) f (n+1) (x0 )(x x0 )n+1 . (17.369)
(n + 1)!
Pela hipótese de indução, substituímos En (x) pela expressão que queremos provar
que é verdadeira, obtendo
x
1 1
ˆ
En+1 (x) = (x t)n f (n+1) (t)dt f (n+1) (x0 )(x x0 )n+1 . (17.370)
n! x0 (n + 1)!
portanto
x x
1 1 (n+1)
ˆ ˆ
n (n+1)
En+1 (x) = (x t) f (t)dt f (x0 ) (x t)n dt . (17.372)
n! x0 n! x0
que é a fórmula que queremos provar. Por indução esta fórmula é válida para todo
n 1.
17.3 Diferenciabilidade 565
Com esta expressão para a aproximação de Taylor com resto podemos deduzir
uma expressão semelhante para funções de duas ou mais variáveis. Sejam ~r e ~r 0
elementos de A. Queremos aproximar o valor de f (~r ) por um polinômio de até
segunda ordem, isto é, por uma função constante somada a uma transformação
linear e a uma forma quadrática, em alguma vizinhança de~r 0 .
Seja C o segmento de reta que une ~r 0 e ~r , que podemos parametrizar por
~r (t) = (1 t)~r 0 + t~r com t 2 [0, 1]. Nesta parametrização ~r (0) =~r 0 e ~r (1) =~r .
Escrevendo ~r = ~r 0 + D~r . Neste caso a parametrização do segmento de reta é
~r (t) =~r 0 + tD~r , com~r 0 (t) = D~r .
Seja a composição
1
1
ˆ
0
g(1) = g(0) + g (0) (1 0) + (1 t)2 g00 (t)dt . (17.377)
2 0
Pelo teorema do valor médio para integrais existe c 2 [0, 1] tal que
1
g(1) = g(0) + g0 (0) + g00 (c) , (17.378)
2
ou seja,
d 1 d2
f (~r 0 + D~r ) = f (~r 0 ) + [ f (~r (t))] + [ f (~r (t))] . (17.379)
dt t=0 2 dt 2 t=c
d
g0 (0) = [ f (~r (t))] = ~— f (~r (t)) ·~r 0 (t) = ~— f (~r 0 ) · Dr . (17.380)
dt t=0 t=0
Em duas dimensões,
∂f ∂f
g0 (0) = (x0 , y0 )Dx + (x0 , y0 )Dy . (17.381)
∂x ∂y
566 Funções reais de várias variáveis
1 00 1 d2
g (c) = f (x(t), y(t))
2 2 dt 2 t=c
✓ ◆
1 d ∂f ∂f
= (x(t), y(t))Dx + (x(t), y(t))Dy
2 dt ∂x ∂y
✓ 2 2 ◆ t=c
1 ∂ f ∂ f
= (x(t), y(t))Dx + (x(t), y(t))Dy Dx (17.382)
2 ∂x2 ∂y∂x
✓ 2 ◆
∂ f ∂2 f
+ (x(t), y(t))Dx + 2 (x(t), y(t))Dy Dy
∂x∂y ∂y t=c
1 ∂2 f 2 ∂2 f 1 ∂2 f
= (x(c), y(c))Dx + (x(c), y(c))DxDy + (x(c), y(c))Dy2 .
2 ∂x2 ∂x∂y 2 ∂y2
Com estas expressões podemos finalmente escrever a aproximação de Taylor
de primeira ordem
∂f ∂f
f (x0 + Dx, y0 + Dy) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )Dx + (x0 , y0 )Dy + E2 (Dx, Dy)
∂x ∂y
(17.383)
1 ∂2 f 2 ∂2 f 1 ∂2 f
E2 (Dx, Dy) = (x(c), y(c))Dx + (x(c), y(c))DxDy + (x(c), y(c))Dy2 ,
2 ∂x2 ∂x∂y 2 ∂y2
(17.384)
∂f ∂f
f (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x x0 ) + (x0 , y0 )(y y0 ) + E2 (x, y) (17.385)
∂x ∂y
onde estas derivadas parciais de terceira ordem são calculadas em algum ponto
entre (x, y) e (x0 , y0 ).
Esta forma quadrática pode ser escrita matricialmente como
0 2 1
∂ f ∂2 f ✓ ◆
1 00 1 ∂x 2 (x ,
0 0y ) (x ,
∂y∂x 0 0 A y ) Dx
g (0) = Dx Dy @
∂2 f 2 . (17.398)
2 2 (x0 , y0 ) ∂ 2f (x0 , y0 ) Dy
∂x∂y ∂y
com a > 0. Esta função descreve uma densidade de probabilidade em duas dimen-
sões. O máximo global desta função ocorre na origem, onde f (x, y) = 1. Em torno
da origem podemos calcular uma aproximação de Taylor. As derivadas parciais
são
∂f a(x2 +y2 ) ∂f a(x2 +y2 )
= 2axe e = 2aye . (17.403)
∂x ∂y
As derivadas parciais de segunda ordem são
∂2 f ∂2 f ∂2 f
(0, 0) = 2a , (0, 0) = 0 e (0, 0) = 2a . (17.406)
∂x2 ∂x∂y ∂y2
570 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.93.
Seja agora
f (x, y) = 1 + x2 x4 y2 . (17.409)
⇣ ⌘
Queremos aproximar esta função em torno dos pontos de interesse (0, 0), p12 , 0
⇣ ⌘
1
e p
2
, 0 . As derivadas parciais de primeira ordem são
∂f ∂f
= 2x 4x3 e = 2y . (17.410)
∂x ∂y
As derivadas parciais de segunda ordem são
∂2 f ∂2 f ∂2 f
=2 12x2 , =0e 2 = 2. (17.411)
∂x2 ∂x∂y ∂y
Em torno da origem temos
1
f (x, y) = 1 + 0 · x + 0 · y + + 2 · x2 + 0 · xy 2 · y2 + E(x, y) (17.412)
2
ou
✓ ◆ " ✓ ◆ ✓ ◆ #
5 1 1 1 2 1 2
f (x, y) = + 0 · x ⌥ p + 0 · y + 4· x⌥ p 0· x⌥ p y 2y + E(x, y)
4 2 2 2 2
(17.414)
17.3 Diferenciabilidade 571
Exemplo 17.94.
Imagine que a função
2 y2
f (x, y) = xyex (17.416)
é complicada demais para ser calculada no ponto (x, y) = (1.1, 0.9), o que é ver-
dade se não temos uma calculadora a disposição. Esta função é uma combinação
de exponencial com polinômios, e é uma função de classe C2 em todo o R2 , o que
nos permite calcular a aproximação de Taylor de segunda ordem.
No ponto (x0 , y0 ) = (1, 1) a função é facilmente calculada como
2 12
f (1, 1) = 1 · 1 · e1 = 1 · e0 = 1 . (17.417)
∂2 f 2 2 2 2
= 6xyex y + 4x3 yex y , (17.420)
∂x 2
∂2 f 2 2 2 2
= 6xyex y + 4xy3 ex y , (17.421)
∂y 2
∂2 f 2 2 2 2 2 y2 2 y2
= ex y + 2x2 ex y 2y2 ex 4x2 y2 ex . (17.422)
∂x∂y
Calculando no ponto (x0 , y0 ) = (1, 1) temos
∂f
(1, 1) = 1 · e0 + 2 · 12 · 1 · e0 = 3 , (17.423)
∂x
∂f
(1, 1) = 1 · e0 2 · 1 · 12 · e0 = 1 (17.424)
∂y
572 Funções reais de várias variáveis
e
∂2 f
(1, 1) = 6 · 1 · 1 · e0 + 4 · 13 · 1 · e0 = 10 , (17.425)
∂x2
∂2 f
(1, 1) = 6 · 1 · 1 · e0 + 4 · 1 · 13 · e0 = 2 , (17.426)
∂y2
∂2 f
(1, 1) = e0 + 2 · 12 · e0 2 · 12 · e0 4 · 12 · 12 · e0 = 3 . (17.427)
∂x∂y
A aproximação de Taylor de segunda ordem
∂f ∂f
f (x, y) = f (1, 1) + (1, 1)(x 1) + (1, 1)(y 1) (17.428)
∂x ∂y
1 ∂2 f 2
∂ f 1 ∂2 f
+ (1, 1)(x 1)2 + (1, 1)(x 1)(y1 ) + (1, 1)(y 1)2 + E(x, y)
2 ∂x2 ∂x∂y 2 ∂y2
é dada por
f (x, y) = 1+3(x 1) 1(y 1)+5(x 1)2 3(x 1)(y 1) 1(y 1)2 +E(x, y)
(17.429)
Uma calculadora nos mostra que esta função vale aproximadamente 1.47691 cal-
culando com cinco casas decimais. O erro desta aproximação é por volta de
7 ⇥ 103 , o que se espera de uma aproximação de segunda ordem.
17.3 Diferenciabilidade 573
Definição 17.21.
Seja f : Rn ! R uma função definida num conjunto S. Dizemos que ~r 0 2 S é
o máximo global de f (~r ) em S se
Definição 17.22.
Seja f : Rn ! R uma função definida num conjunto aberto A. Dizemos que
~r 0 2 S é um máximo local de f (~r ) se existir uma vizinhança B(~r 0 , d) tal que
O teorema a seguir mostra uma condição necessária para que um ponto seja
um máximo ou mínimo local.
Teorema 17.15.
Se f é uma função de classe C1 no conjunto aberto A e ~r 0 2 A é um máximo
local ou mínimo local de f (~r ), então ~— f (~r 0 ) = ~0 .
Demonstração.
No caso de funções de duas variáveis, seja o ponto (x0 , y0 ) um máximo ou
mínimo local de f (x, y) em alguma vizinhança de (x0 , y0 ). Fixando a variável
y = y0 definimos a função
∂f
(x0 , y0 ) = 0 . (17.436)
∂x
Repetindo este raciocínio fixando a variável x = x0 concluímos que
∂f
(x0 , y0 ) = 0 . (17.437)
∂y
Assim todas as componentes do gradiente de f devem se anular, mesmo no caso
de funções de n variáveis.
Exemplo 17.95.
Assim como no caso unidimensional, a recíproca deste teorema não é verda-
deira. Uma função pode ter gradiente nulo num ponto que não é máximo e nem
mínimo local. Seja por exemplo
f (x, y) = xy , (17.438)
Na origem o gradiente é nulo, mas qualquer vizinhança deste ponto contém ele-
mentos dos quatro quadrantes, ou seja, contém elementos em que f (x, y) > f (0, 0)
e elementos em que f (x, y) < f (0, 0). Este ponto não é máximo ou mínimo local,
mesmo tendo gradiente nulo.
Este exemplo justifica as seguintes classificações de pontos com gradiente
nulo.
Definição 17.23.
Se f é diferenciável em ~r 0 e ~— f (~r 0 ) = ~0 , dizemos que ~r 0 é um ponto crítico
de f . Um ponto crítico que não é um máximo local ou mínimo local é chamado
de ponto de sela.
De acordo com o análogo do Teorema de Fermat para funções de várias va-
riáveis, todo ponto de máximo local ou mínimo local é um ponto crítico. Então
podemos procurar pelos máximos e mínimos de uma função procurando pelos
pontos em que ~— f (~r ) = ~0 , o que envolve resolver um sistema de equações não
lineares, e testar um por um se este ponto é máximo ou mínimo local.
Exemplo 17.96.
Seja
f (x, y) = 1 + x2 x4 y2 . (17.441)
∂f
= 0 =) 2y = 0 =) y = 0 . (17.444)
∂y
⇣ ⌘ ⇣ ⌘
Os pontos críticos desta função são (0, 0), p12 , 0 e p1 , 0 . Se anali-
2
sarmos o gráfico da função podemos observar que a origem é um ponto de sela
enquanto os demais pontos são máximos locais.
576 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.97.
Seja agora a função
f (x, y) = x3 3xy2 , (17.445)
que é um polinômio e, como tal, diferenciável no R2 . O gradiente desta função é
~— f = 3x2 3y2 , 6xy . (17.446)
Procurando pelos pontos em que o gradiente é nulo temos
∂f
= 0 =) 3x2 3y2 = 0 =) x2 = y2 =) x = ±y . (17.447)
∂x
∂f
= 0 =) 6xy = 0 =) x = 0 ou y = 0 . (17.448)
∂y
Substituindo x = ±y na equação 6xy = 0 temos
±6y2 = 0 =) y = 0 . (17.449)
O único ponto em que o gradiente é nulo é a origem. Queremos agora determinar
se este ponto é um máximo local, mínimo local ou ponto de sela. Podemos clas-
sificar este ponto analisando as curvas de nível. Seja k = 0. As curvas deste nível
são
p
f (x, y) = 0 =) x3 3xy2 = 0 =) x x2 3y2 = 0 =) x = 0 ou x = ± 3y .
(17.450)
A curva de nível f (x, y) = 0 é um conjunto de três retas que interceptam a origem.
Estas curvas de nível separam regiões em que f (x, y) > 0 e f (x, y) < 0. Como
pode ser observado na figura, qualquer vizinhança da origem contém regiões em
que f (x, y) > f (0, 0) e f (x, y) < f (0, 0), portanto a origem é um ponto de sela.
Exemplo 17.98.
Analisamos agora a função
f (x, y) = 1 x2 , (17.451)
que também é diferenciável no R2 e possui gradiente dado por
~— f = ( 2x, 0) . (17.452)
Qualquer ponto da reta x = 0 é um ponto crítico da função e em cada um destes
pontos a função vale f (x, y) = 1. Como a imagem da função é o intervalo ( •, 1],
todos estes pontos são máximos locais e máximos globais de f .
17.3 Diferenciabilidade 577
Nos três exemplos vistos foi necessário visualizar o gráfico da função, as cur-
vas de nível da superfície ou a imagem da função. Estes procedimentos podem
ser simples no caso de funções de duas variáveis, mas não são adequados para
funções de três ou mais variáveis. Precisamos de um critério melhor para estudar
tais funções ou para analisar os máximos e mínimos a partir de um algoritmo.
Assim como no caso de funções reais de uma única variável, o critério para
classificar os pontos críticos da função envolve a segunda derivada de f . Vimos
já que pela aproximação de Taylor de segunda ordem podemos aproximar o valor
da função na vizinhança do ponto crítico~r 0 por
1
f (~r 0 + D~r ) f (~r 0 ) = D~r T H[ f (~r 0 )]D~r + E(D~r ) . (17.454)
2
Como o erro tende a zero mais rápido que a forma quadrática, podemos determinar
se o ponto crítico é um máximo local, um mínimo local ou um ponto de sela pelo
sinal da forma quadrática.
Teorema 17.16.
Seja Q(~r ) uma forma quadrática associada à matriz real simétrica A, isto é,
Então
Demonstração.
A demonstração deste teorema é feita no curso de Álgebra Linear.
Teorema 17.17.
Seja f uma função de classe C3 num conjunto aberto que contém o ponto
crítico ~r 0 . Seja H[ f (~r 0 )] a matriz hessiana de f calculada no ponto crítico ~r 0
com autovalores não nulos. Então:
(a) ~r 0 é um mínimo local de f se todos os autovalores de H[ f (~r 0 )] forem posi-
tivos;
(b) ~r 0 é um máximo local de f se todos os autovalores de H[ f (~r 0 )] forem ne-
gativos;
(c) ~r 0 é um ponto de sela de f se H[ f (~r 0 )] tiver algum autovalor negativo e
algum autovalor positivo.
Demonstração.
Consideramos o caso bidimensional por simplicidade. Como já visto, o erro da
aproximação de Taylor de segunda ordem é uma função cúbica dos incrementos
Dx e Dy na forma
E(Dx, Dy) = ADx3 + BDx2 Dy +CDxDy2 + DDy3 , (17.456)
onde os termos A, B, C e D são múltiplos das derivadas parciais de terceira ordem
de f calculadas em~r 0 . Podemos escrever este erro como uma forma quadrática
✓ ◆✓ ◆
exx exy Dx
E(Dx, Dy) = Dx Dy (17.457)
eyx eyy Dy
onde cada elemento desta matriz associada ao erro tende a zero quando D~r tende
a zero.
Sejam l1 e l2 os autovalores da matriz hessiana H[ f (~r 0 )], que são positivos
no caso (a). Seja h o menor de todos estes autovalores. Para qualquer u < h posi-
tivo os números reais (l1 u) e (l2 u) são autovalores da matriz real simétrica
H[ f (~r 0 )] u11. Portanto a forma quadrática D~r T [H[ f (~r 0 )] u11] D~r é positiva
para todo D~r 6= 0, o que implica
D~r T H[ f (~r 0 )]D~r > D~r T [u11] D~r = u kD~r k2 . (17.458)
Em particular, se escolhermos u = h2 ,
h
D~r T H[ f (~r 0 )]D~r >= kD~r k2 . (17.459)
2
Seja E a matriz de erros associada à forma quadrática (17.457). Como a matriz de
erros tende a zero, existe um d > 0 tal que
h
D~r T ED~r < kD~r k2 sempre que 0 < kD~r k < d , (17.460)
2
17.3 Diferenciabilidade 579
o que implica
f (~r 0 + D~r ) f (~r 0 ) = D~r T H[ f (~r 0 )]D~r D~r T ED~r > 0 , (17.462)
f (~r 0 + D~r ) > f (~r 0 ) sempre que 0 < kD~r k < d , (17.463)
Demonstração.
Os autovalores da matriz hessiana são soluções do polinômio característico
l2 tl + D = 0 , (17.465)
l1 + l2 = t e l1 · l2 = D . (17.466)
que é uma matriz nula na origem que obviamente possui determinante nulo.
Exemplo 17.100.
No caso da função
f (x, y) = 1 x2 , (17.470)
17.3 Diferenciabilidade 581
todo ponto com coordenada x nula é um máximo local. A matriz hessiana desta
função é
✓ ◆
2 0
H( f ) = (17.471)
0 0
Exemplo 17.101.
Seja a sela de cavalo
f (x, y) = xy , (17.472)
Exemplo 17.102.
Voltamos à função
f (x, y) = 1 + x2 x4 y2 , (17.475)
A matriz hessiana é
✓ ◆
12x2 4
H[ f (x, y)] = (17.485)
4 12y2
17.3 Diferenciabilidade 583
Exemplo 17.104.
Seja f (x, y) = 3x + 2y definida no domínio Q = [0, 1] ⇥ [0, 2]. Este domínio é
fechado, então pelo teorema de Weierstrass, existe um máximo global de f (x, y)
em Q assim como um mínimo global. Se estes pontos estiverem no interior do
retângulo, que é uma região aberta, então ~— f (x, y) = (0, 0) nestes pontos. Mas no
caso desta função, ~— f (x, y) = (3, 2) para qualquer ponto do interior de Q. Então
não existem pontos de máximo ou mínimo no interior do retângulo. O máximo
e o mínimo global, cuja existência é garantida pelo teorema de Weierstrass, deve
então estar na fronteira do retângulo.
Exemplo 17.105.
Imagine por exemplo que conhecemos a função temperatura T (x, y, z) no con-
junto S = (x, y, z) 2 R3 | x2 + y2 + z2 a2 , que é um conjunto fechado. Além
de procurar os pontos em que o gradiente é nulo no interior da esfera, devemos
procurar por máximos e mínimos na p esfera em si. Se representamos o hemisfé-
rio norte pela equação z = f (x, y) = a2 x2 y2 , podemos definir a composi-
ção t(x, y) = T (x, y, f (x, y)) e calcular os máximos e mínimos desta função pelos
métodos já conhecidos. No entanto pode ser mais prático trabalhar com a repre-
sentação implícita da esfera x2 + y2 + z2 = a2 , que é capaz de descrever a esfera
inteira.
Exemplo 17.106.
Queremos encontrar o valor máximo e o valor mínimo da função
f (x, y) = ax + by (17.496)
sob o vínculo x2 + y2 = 1.
O gráfico desta função é um plano inclinado. O vínculo x2 + y2 = 1, que é
uma circunferência no domínio, define uma elipse inclinada que é a interseção do
plano inclinado com o cilindro x2 + y2 = 1. Neste exemplo temos
~— f (x, y) = (a, b) e ~— g(x, y) = (2x, 2y) . (17.497)
O gradiente de g é nulo apenas na origem, mas não em pontos da curva C. Assim
~— f (x, y) = l · ~— g(x, y) =) (a, b) = (2lx, 2ly) , (17.498)
de onde escrevemos
a b
x= e y= . (17.499)
2l 2l
Podemos determinar o valor de l substituindo estes valores de x e y no vínculo
x2 + y2 = 1, resultando em
p
a2 b2 a2 + b2
+ = 1 =) l = ± . (17.500)
4l2 4l2 2
Cada sinal nos dá um ponto crítico. O primeiro deles é
✓ ◆ ✓ ◆
a b a b
(x0 , y0 ) = , = p ,p (17.501)
2l 2l a2 + b2 a2 + b2
e o segundo é
✓ ◆
a b
(x1 , y1 ) = p , p . (17.502)
a2 + b2 a2 + b2
Testando o valor da função nestes dois pontos temos
a2 b2
f (x0 , y0 ) = ax0 + by0 = p +p >0 (17.503)
a2 + b2 a2 + b2
e
a2 b2
f (x1 , y1 ) = ax1 + by1 = p p <0. (17.504)
a2 + b2 a2 + b2
Portanto (x0 , y0 ) é o máximo global de f (x, y) na curva C enquanto (x1 , y1 ) é o
mínimo global de f (x, y) na curva C.
17.3 Diferenciabilidade 587
Exemplo 17.107.
Seja agora
f (x, y) = x2 + y2 (17.505)
ax + by = c , (17.506)
la2 lb2 2c
+ = c =) l = 2 . (17.509)
2 2 a + b2
Só existe um ponto crítico com coordenadas
ac bc
x= e y= (17.510)
a2 + b2 a2 + b2
que são as coordenadas do ponto da reta em questão mais próximo da origem.
Caso 2: Superfícies no R3
Este problema é análogo ao caso de curvas do R2 por envolver apenas um
vínculo. Seja f : R3 ! R uma função diferenciável em uma região aberta que
contém a superfície representada implicitamente pelo vínculo g(x, y, z) = 0.
No caso bidimensional vimos que a curva g(x, y) = 0 intercepta a curva de
nível f (x, y) = f (x0 , y0 ) apenas no ponto crítico (x0 , y0 ). No caso de funções de
três variáveis temos uma superfície de nível f (x, y, z) = f (x0 , y0 , z0 ).
Seja por exemplo a transformação linear f (x, y, z) = ax + by + cz. As superfí-
cies de nível desta função são planos paralelos. Se g(x, y, z) = 0 representa uma
esfera, como no caso g(x, y, z) = x2 + y2 + z2 R2 , a interseção da esfera com al-
guma superfície de nível pode ser uma circunferência, pode ser vazia ou pode ser
apenas um ponto. Nos casos em que a interseção é apenas um ponto há um ponto
588 Funções reais de várias variáveis
crítico da função f (x, y, z) na esfera g(x, y, z) = 0. Além disso nestes pontos a su-
perfície de nível é o plano tangente à esfera no ponto crítico, portanto as equações
representam o mesmo plano, o que implica que os vetores ~— f (~r 0 ) e ~— g(~r 0 ) são
linearmente independentes. Se ambos os gradientes são não nulos existe algum l
diferente de zero tal que
~— f (~r 0 ) = l~— g(~r 0 ) , (17.512)
Teorema 17.20.
Seja f : R3 ! R um campo escalar diferenciável em um conjunto aberto A
que contém uma superfície S representada implicitamente por g(x, y, z) = 0 com
~— g(~r ) 6= ~0 em cada ponto de S. Um ponto ~r 0 é um máximo ou mínimo local de
f (~r ) na superfície S somente se existir um número real l tal que
Demonstração.
Seja C uma curva contida na superfície S parametrizada por~r (t). Como C está
contida em S, a composição g(~r (t)) = 0.
Seja ~r 0 um máximo local de f (~r ) em S. Logo existe uma bola aberta B cen-
trada em~r 0 tal que
A equação g(~r (t)) = 0 para todo t implica que a derivada desta função é também
sempre nula, ou seja,
~— g(~r 0 ) ·~r 0 (t0 ) = 0 . (17.516)
Exemplo 17.108.
Queremos encontrar o ponto pertencente ao plano
ax + by + cz = d (17.518)
mais próximo da origem. Neste caso basta encontrar o ponto pertencente a este
plano que minimiza a função
f (x, y, z) = x2 + y2 + z2 . (17.519)
Neste caso
~— f (x, y, z) = (2x, 2y, 2z) e ~— g(x, y, z) = (a, b, c) . (17.520)
Caso 3: Curvas no R3
Sejam S1 e S2 duas superfícies contidas no R3 representadas implicitamente
pelos vínculos g1 (x, y, z) = 0 e g2 (x, y, z) = 0, respectivamente. Se os vetores ~— g1
590 Funções reais de várias variáveis
Exemplo 17.109.
Seja C a interseção do cilindro x2 + y2 = R2 com o plano horizontal z = h.
Queremos encontrar o valor máximo e o valor mínimo da transformação linear
f (x, y, z) = ax + by + cz (17.531)
a2 R b2 R p
f (~r 0 ) = p +p + ch = R a2 + b2 + ch (17.537)
a2 + b2 a2 + b2
e
a2 R b2 R p
f (~r 1 ) = p + p + ch = R a2 + b2 + ch . (17.538)
a2 + b2 a2 + b2
Claramente ~r 0 é o máximo global de f (~r ) em C e ~r 1 é o mínimo global de f (~r )
em C.
592 Funções reais de várias variáveis
✓ ◆
~— f = ∂f ∂f ∂f
, , . (17.541)
∂x ∂y ∂z
Cada componente é uma função de três variáveis. Então o gradiente de uma fun-
ção associa a cada elemento do R3 um vetor de três componentes. O gradiente de
uma função de três variáveis é um campo vetorial do R3 no R3 .
Exemplo 17.112.
Se o domínio for restringido pelos pontos em que o campo vetorial pode ser
calculado, podemos analisar cada componente como um campo escalar indepen-
dente e definir o domínio do campo vetorial como a interseção dos domínios de
cada componente. Seja por exemplo
⇣ p ⌘
~F (x, y) = log(x2 + y2 1), 4 x2 y2 . (17.544)
DQ = (x, y) 2 R2 | x2 + y2 4 . (17.548)
D~F = DP \ DQ , (17.549)
então
h i h i
~ (~r ) = L~1 + L~2
lim ~F (~r ) + G e ~ (~r ) = L~1 · L~2 . (17.554)
lim ~F (~r ) · G
~r !~r 0 ~r !~r 0
Definição 17.25.
Dizemos que o campo vetorial ~F (~r ) é contínuo em~r 0 se ~F (~r 0 ) existe e se
lim ~F (~r ) = ~F (~r 0 ) . (17.555)
~r !~r 0
~ (~r )
H ~ (~r 0 ) < e
H sempre que k~r ~r 0 k < d . (17.556)
Sabemos que para todo e > 0 existe algum d1 > 0 tal que
~ (~r ) e ~u 0 = G
Escrevendo ~u = G ~ (~r 0 ) escrevemos a condição acima como
~ (~r ))
~F (G ~ (~r 0 ) < e
~F (G sempre que ~ (~r
G ~ (~r 0 < d1 . (17.558)
G
~ (~r )
G ~ (~r 0 ) < d1
G sempre que k~r ~r 0 k < d . (17.559)
Então
k~r ~r 0 k < d =) G
~ (~r ) ~ (~r 0 ) < d1 =) ~F (G
G ~ (~r )) ~ (~r 0 ) < e ,
~F (G
(17.560)
A segunda matriz é uma matriz de erros que deve tender a zero quando D~r tende
a zero para que o campo vetorial seja diferenciável.
0 1
ePx ePy ePz
E = @ eQx eQy eQz A . (17.566)
eRx eRy eRz
17.4 Campos vetoriais 597
Definição 17.26.
Dizemos que o campo vetorial ~F : Rn ! Rm é diferenciável no ponto ~r 0 se
existir uma matriz de erros E tal que
h i
~F (~r 0 + Dr) = ~F (~r 0 ) + J ~F (~r 0 ) D~r + ED~r (17.567)
com a matriz de erros tendendo à matriz nula quando o incremento D~r tende a
zero.
O número de linhas da matriz jacobiana é igual ao número de componentes
do campo vetorial. O número de colunas é igual ao número de variáveis das quais
o campo vetorial depende (ou o número de componentes da variável vetorial ~r ).
Estes números não precisam ser iguais.
No caso particular em que ~F só possui uma componente, a matriz jacobiana
é o gradiente desta única componente de ~F . Podemos observar também que cada
linha da matriz jacobiana é o gradiente de alguma componente de ~F .
Exemplo 17.113 (Função identidade).
A função identidade é uma função ~F : Rn ! Rn tal que
~F (~r ) =~r (17.568)
para todo ~r 2 Rn . Em duas dimensões a função identidade é a transformação
linear
~F (x, y) = (x, y) . (17.569)
O jacobiano desta transformação é
! ✓ ◆
∂ ∂
∂x x ∂y x 1 0
J(~F ) = ∂ ∂ = . (17.570)
∂x y ∂y y
0 1
onde a matriz EH tende à matriz nula quando Dr tende a zero. De acordo com a
composição,
⇣ ⌘
H(~r 0 + Dr) = ~F G~ (~r 0 + D~r ) . (17.574)
Como G ~ é diferenciável em~r 0 , existe uma matriz de erros EG que tende à matriz
nula quando D~r tende ao vetor nulo tal que
⇣ ⌘
H(~r 0 + Dr) = ~F G ~ (~r 0 )]D~r + EG Dr .
~ (~r 0 ) + J[G (17.575)
~F = m d~v , (17.584)
dt
sendo esta derivada no tempo uma derivada total. Se as componentes do campo
vetorial ~v são
✓ ◆
dx dy dz
~v = (vx , vy , vz ) = , , , (17.585)
dt dt dt
600 Funções reais de várias variáveis
✓ ✓ ◆ ✓ ◆
d~v ∂vx ∂ ∂ ∂ ∂vy ∂ ∂ ∂
= + vx + vy + vz vx , + vx + vy + vz vy ,
dt ∂t ∂x ∂y ∂z ∂t ∂x ∂y ∂z
✓ ◆ ◆
∂vz ∂ ∂ ∂
+ vx + vy + vz vz .
∂t ∂x ∂y ∂z
Imagine que a força que o fluido está contido num bloco de dimensões Dx, Dy e Dz
com volume DV = Dx · Dy · Dz. Se o bloquinho for pequeno o suficiente, podemos
aproximar a densidade do fluido por uma constante e a massa do fluido dentro do
bloquinho é
A força que age no bloquinho de fluido é dada pela pressão do fluido e pelo campo
gravitacional. A componente x da força devido à pressão é igual à pressão em
cada parede vezes a àrea de cada parede. Denotamos uma força positiva como
uma força que aponta para a direita. Então na parede da esquerda localizada em
x = x0 a força que age dentro do bloco é P(t, x0 , y, z)DyDz. Na parede da direita
localizada em x = x0 + Dx a força que age dentro do bloco é P(t, x0 + Dx, y, z).
A componente x da força devido à pressão que age no bloco é
A força gravitacional é
~F G = m~g = r~g DxDyDz . (17.594)