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características e mixagens
Por Estéfani Martins
"A dança é uma expressão perpendicular de um desejo horizontal."
(George Bernard Shaw)
“A dança, por sua vez, também possui vinculações étnicas, culturais e históricas, bem como
relações de gênero a serem discutidas na escola.”
(Orientações curriculares do Ensino Médio - MEC)
A dança é uma das linguagens artísticas mais antigas até pela sua pouca
exigência quanto a aparatos tecnológicos e mesmo formação acadêmica para ser
realizada ainda que em um nível muitas vezes rudimentar. Entretanto, desde as
formas de dança mais eruditas como o Balé Clássico até as danças populares
como o Frevo e a Quadrilha, em todas há elementos que as constroem como
manifestações artísticas e corporais. Segundo a pesquisadora Judith Lynne
Hanna, os elementos da linguagem da dança, que combinados permitiriam a
compreensão da dança de acordo com o estilo, a escola ou mesmo a função, são:
• Espaço: direção, nível, amplitude, foco, ordem e forma.
• Ritmo: tempo, duração, ênfase e compasso.
• Dinâmica: força, energia, tensão, relaxamento e fluxo.
• Forma: relação estabelecida entre quem dança com o outro, com o espaço e
com objetos.
• Locomoção: caminhar, pular, correr, saltar, rolar, estirar-se, rodopiar, etc.
• Gesto: movimentos como rotação, flexão, extensão e vibração.
• Frase corporal: movimentos em sequência capazes de denotar uma afirmação
específica.
• Motivo: parte do movimento apresentada de maneiras distintas: rápido ou
lento, forte ou suave, etc.
Quanto à razão
“3.4 Dança
3.4.1 Código
Elementos morfológicos
O corpo humano, entendido como totalidade (mente e físico), ativado e
capacitado para explorar suas possibilidades de movimento e assim
desenvolver-se como inteligência múltipla.
Tempo coreográfico, espaço coreográfico e qualidade do movimento – seus
componentes espaciais (direções, planos, dimensão, caminho realizado), seus
componentes temporais (velocidade, duração, acentuação e periodicidade de
incidência desses fatores) e os componentes de sua intensidade (peso, esforço,
fluxo e impulso).
Estruturas sintáticas
Organização do movimento a partir da priorização de um dos seus
elementos, como desenho simétrico/assimétrico; velocidade
rápida/moderada/lenta; fluxo solto/conduzido, contínuo/descontínuo; assim
como impulso central/periférico. Organização do movimento a partir da
combinação desses elementos, resultando em ações básicas como empurrar,
socar, torcer, deslizar, etc. Organização em grupos funcionais de movimento:
gestos, formas de andar, corridas, saltos, giros, quedas e recuperação.
Composição a partir de células, repetições, variações, blocos, cânones, simetrias,
assimetrias, polirritmia. Criação a partir de diversos estímulos: materiais,
imaginários, emocionais, factuais, individualmente ou em grupo.
Tradicionalmente o tempo, o espaço, a forma e o movimento sempre
foram considerados elementos da dança. É importante lembrar que a forma é,
de fato, o resultado da composição dos aspectos espaciais, temporais e de
intensidade do movimento, não constituindo, portanto, propriamente um
elemento. Isso não significa dizer que não se possa, ou mesmo se deva pensar,
organizar, criar o movimento em função de sua forma.
Essa seria mais uma possibilidade de organização e estudo do
movimento, incluída nas possibilidades citadas anteriormente. A organização
dos elementos da dança compõe a estética da obra, e essa organização variou ao
longo da história, por vezes caracterizando escolas, por vezes desconstruindo
essas caracterizações. Dessa forma, o estudo de seus elementos é um
instrumento eficaz tanto para a experimentação do fazer criativo na dança
quanto para a análise dos estilos e das manifestações culturais dessa linguagem.
Na organização espaço-temporal da dança, o ser humano revela sua relação com
o mundo: a dança constitui, então, além de um instrumento para o
autoconhecimento, um instrumento para o conhecimento do outro em seu
espaço, para a compreensão vivencial da natureza (aqui incluída a natureza
cultural humana) e, conseqüentemente, para a compreensão da própria
sociedade.
A abordagem artística dos movimentos corporais propiciada pela dança,
baseada na expressão da experiência vivencial do mundo pelo indivíduo, é uma
faceta específica do conhecimento do próprio mundo. Não basta “saber” o
mundo e viver nele para conhecê-lo; é preciso sentir e perceber como se
relacionar com ele, como imaginar essa relação, traduzindo tudo isso em uma
criação expressiva.
O conhecimento do mundo passa, pois, pela vivência corporal dos seus
elementos, nos aspectos físico-objetivos, sensoriais, pré-simbólicos e
simbólicos. Daí a importância do estudo corporal-criativo do tempo, de espaço,
da intensidade do movimento e da forma deles resultante na educação escolar.
Exemplificando: não basta saber sobre o espaço (estudado em Geografia, Física,
História, ainda que de forma interdisciplinar); é preciso vivenciá-lo
corporalmente, sentir como nos relacionamos com ele, como podemos organizá-
lo, reorganizá-lo, transformá-lo por meio do sensível, por meio de uma
consciência estética.
3.4.2 Canal
O corpo humano, em sua aparição fenomenológica.
O corpo humano virtualizado, digitalizado pelas diversas mídias
contemporâneas: televisão, vídeo, cinema, computador.
A aparição presencial do dançarino é, ainda hoje, em tempos de
virtualização intensa – e talvez por isso mesmo –, um aspecto importante dessa
linguagem artística, além de fundamental na função educativa da dança tanto
do ponto de vista do aluno-espectador quanto do aluno-criador. É no instante
do “aqui e agora” que trocas sensoriais, estéticas e éticas se dão entre espectador
e dançarino. O corpo humano virtualizado, no entanto, é um importante canal
de experimentação e pesquisa da dança atual e deve estar presente na educação
escolar, principalmente no ensino médio, quando os alunos deparam mais
intensamente com as mídias citadas anteriormente. Esse “dançar mediado” traz
especificidades resultantes do diálogo da dança com as demais linguagens,
entendendo aqui, como linguagem, também as novas tecnologias.
3.4.3 Contexto
• Do texto, da obra
Identificar o contexto em que as obras coreográficas são criadas é
fundamental para ampliar a compreensão das relações existentes entre esse
contexto e a organização dos movimentos na obra. Toda composição traz
marcas do seu criador, do seu tempo, dos seus condicionantes. O exercício dessa
contextualização, além de dar acesso ao conhecimento da história da dança, sua
origem, seus determinantes socioculturais e sua evolução, instrumentaliza o
aluno para a compreensão do seu próprio fazer na dança.
• Do ensino médio
Dar acesso ao conhecimento da diversidade da produção coreográfica,
das diferentes formas de organização do código estético-motor praticado por
diferentes culturas e estratos sociais é objetivo fundamental do estudo da
Dança. No entanto, não se deve privar o aluno adolescente ou adulto das
importantes descobertas que o processo criativo em dança propicia para aquele
que o pratica, descobertas essas que não se extinguem com as primeiras
experiências, mas constituem novos desafios e desejos expressivos a cada nova
fase da vida humana. Processo e produto estão em permanente transformação,
pois assim está o ser humano, modificando-se a partir de si, do outro, das
influências sociais, culturais, científicas
e, principalmente, a partir do próprio processo criativo.”
“Duas sistematizações no ensino da Dança merecem atenção. Em uma
perspectiva, tem-se o desenvolvimento da consciência corporal, utilizando os
conceitos oriundos da educação somática, entendida como atividade em que o
corpo é trabalhado de modo que integre todos os aspectos que o compõem:
social, espiritual, psíquico, físico, etc. Desenvolvem-se práticas baseadas nas
técnicas de Alexander e Feldenkrais, tais como a Body-Mind-Centering,
Eutonia, entre outras.No Brasil, Klauss Vianna e José Antonio Lima
representam essa vertente.
Outra influência marcante é a da criação coreográfica que utiliza a
exploração espacial baseada nos preceitos de Rudolf von Laban (1879-1958).
Este coreógrafo austro-húngaro criou um movimento que revolucionou a
maneira de se pensar o corpo em movimento. Ele desenvolveu um método de
análise do movimento definindo os elementos que o compõem. Elaborou
igualmente um método de escrita em dança, a Labanotiation. Seu trabalho tem
diferentes aplicações, que vão da educação e da criação coreográfica ao trabalho
terapêutico, sendo introduzido no Brasil por Maria Duschenes.”