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Planejamento epara

Preparando-se Organização
Execução
Pessoal
da no Trabalho
Gestão Municipal

12
Módulo
Módulo

Desenvolvimento
Políticas Pessoal
Públicas Setorias
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Rodrigo Morais Lima Delgado, (Conteudista, 2021).

Enap, 2021
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
1. Unidade 1: Entendendo as políticas públicas................................................... 5

2. Unidade 2: Acessando políticas públicas federais......................................... 12

3. Unidade 3: Planejando a cidade........................................................................ 17

4. Referências.......................................................................................................... 21
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Módulo

2 Introdução às políticas públicas e


ao planejamento municipal

1. Entendendo as políticas públicas

Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer como são estruturadas
as políticas públicas e as principais características do chamado “ciclo de políticas
públicas”.

Para começar o estudo sobre como são estruturadas as políticas públicas, assista ao
vídeo com o professor Rodrigo Delgado:

Vídeo 3 – O ciclo de políticas públicas e por que definir bem um problema é crucial

https://cdn.evg.gov.br/cursos/481_EVG/videos/modulo00_video03.mp4

O ciclo das políticas públicas

Em um contexto de desconfiança generalizada com relação à ação governamental,


os governos se veem desafiados a lidar com os problemas complexos e precisando,
cada vez mais, dar respostas mais adequadas às demandas e necessidades das
pessoas.

É nesse cenário desafiador, e ainda mais desafiador para a gestão municipal, que
a Administração Pública precisa elaborar boas políticas públicas e implementá-las
efetivamente. Para que isso ocorra da melhor forma, várias tarefas precisam ser
realizadas. E isso precisa ser feito de forma sistemática e compreensiva.

As políticas públicas tratam de resolver problemas coletivos, e o processo de escolha


e aplicação de medidas para resolver esses problemas é descrito como ciclo de
políticas públicas. Esse ciclo abrange várias funções inter-relacionadas:

• reconhecimento e definição do problema;


• formulação e seleção da política pública;
• implementação da política pública;
• monitoramento e avaliação de políticas públicas.

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Esse ciclo é bastante útil para ajudar a pensar como são estruturadas políticas
públicas e identificar como atuar, a depender do momento em que se encontra
a política. Na literatura sobre políticas públicas, há outras variações desse ciclo,
com autores incluindo, por exemplo, uma etapa de legitimação da política após a
formulação.

Na vida real, essas etapas podem não ocorrer de forma tão organizada ou podem
ocorrer de forma não linear. Por exemplo: uma implementação não ser monitorada
de forma adequada ou não possuir uma avaliação, o que não permitirá identificar
se a política alcançou os objetivos, resolveu os problemas que a motivaram e o que
precisará ser aperfeiçoado.

Ainda que possua essas ressalvas, o ciclo de políticas públicas é uma visualização
de como essas funções se relacionam e permitem identificar quais ações serão
necessárias em cada etapa desse processo. E uma atuação não adequada em uma
dessas etapas pode comprometer toda a política.

Fique atento! Políticas públicas falham no seu elo mais frágil!

A seguir, vamos falar rapidamente de cada uma dessas etapas, para deixar claro
suas principais características.

Reconhecimento e definição do problema

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Para se elaborar uma política pública, a Administração Pública primeiramente
precisa reconhecer o problema e defini-lo.

Reconhecimento e definição de problema são, provavelmente, as mais importantes


funções do ciclo de políticas públicas. Por isso, tenha sempre em mente uma frase
célebre de Albert Einstein:

Dessa forma, um problema não reconhecido, ou definido de forma


equivocada, é um problema não resolvido, ou resolvido de forma
errada.

Vamos pensar um pouco nesse exemplo:

O Brasil possui um problema de as pessoas não possuírem renda?

Quais as causas do problema da ausência de renda no Brasil?

• Ocorrência da pandemia?
• Baixa formalização dos trabalhadores?
• As pessoas não poupam?
• Sistema de proteção social frágil?

Perceba que a maneira como definimos o problema determinará a forma como


ele será explicado e enfrentado. Do mesmo modo, a depender de quais causas são

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definidas como as mais críticas do problema, a política a ser desenhada para atacá-
las terá características bem distintas.

Formulação de políticas públicas

Após a definição do problema, os formuladores de políticas precisam explorar


as soluções para resolvê-lo. A formulação de políticas compreende duas tarefas
distintas:

• Geração de alternativas para resolver o problema, que devem ser meios para
solucionar as causas identificadas na explicação do problema em questão.

• Avaliação da utilidade das alternativas para resolver determinado problema.


A formulação de políticas demanda uma série de passos:

1. Definir o objetivo.
Ex.: garantir renda para os setores da sociedade afetados pela pandemia.

2. Gerar opções.
Ex.: transferência de recursos; distribuições de alimentos; uso de bancos públicos e
privados para disponibilizar crédito barato.

3. Avaliar as opções propostas.

4. Selecionar a opção ou as opções mais efetivas para solução do problema, sem


perder de vista a eficácia e a eficiência das ações escolhidas.

É importante ressaltar que, mesmo seguindo o passo a passo correto, será inevitável
enfrentar desafios na formulação das políticas públicas. Veja alguns exemplos:

• Quando as alternativas envolvem mudanças profundas, novos atores e ideias são


necessários.

• Considerar todas as opções, especialmente as mais “fora da caixa”, requer


informação adicional, tempo e capacidade analítica.

• A tarefa de gerar alternativas frequentemente é dada a pessoas com baixa


experiência e baixa autoridade. O efeito disso é o risco de gerar uma proposta de
política pública impossível de se executar, ou com baixa efetividade na solução do
problema principal.

• Consultar parceiros, especialistas e a sociedade em geral é difícil, apesar de


necessário.

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Implementação de políticas públicas

A implementação é a concretização da política pública. Contudo, nem sempre as


políticas públicas são implementadas da maneira como se pretendia inicialmente.
Por quê?

• Políticas públicas não acontecem automaticamente: é preciso um esforço deliberado


de implementação para que isso ocorra, ou seja, a gestão precisa criar rotinas e
mecanismos, como pontos de controle, relatórios sobre andamento e criação de
espaços para solução de conflitos, com o objetivo de concretizar a política.

• Frequentemente, a política que será implementada não é tão clara, abrindo espaço
para interpretações e ajustes, a depender das características e da capacidade de
gestão do município.

• Envolve muito atores públicos e privados, assim como diferentes órgãos, o


que requer um esforço de coordenação e governança com a participação e
responsabilização desses atores."

• É um processo dinâmico, em que a própria política pública e seus objetivos são


reinterpretados e, se necessário, atualizados à medida que ocorre a implementação."

• É um processo político em que pode haver perdedores no processo de formulação


e tomada de decisão, que acontecem nas etapas iniciais do ciclo. Esses atores
insatisfeitos com a decisão das escolhas e a proposta final tentarão frustar ou
refazer política.

Avaliação e monitoramento de políticas públicas

Você sabe qual é a diferença entre “avaliação” e “monitoramento”? O monitoramento


de uma política pública é o esforço para se determinar como um ou mais programas
responsáveis pela sua operacionalização estão funcionando na prática. Já a avaliação
de uma política pública refere-se aos efeitos (específicos ou gerais) do programa ou
dos programas.

Avaliação:

A avaliação de uma política pública pode ocorrer em dois estágios do ciclo de


políticas:

Avaliação ex ante

Também conhecida como análise de política pública. Essa avaliação permitirá a


identificação de qual problema a política pretende atacar, assim como apontará o

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desenho necessário para que isso ocorra, com a definição de quais recursos serão
necessários, os resultados e impactos esperados. Analisará também as questões
relacionadas ao processo de monitoramento e o impacto fiscal da política pública.

Avaliação ex post

Frequentemente chamada de avaliação de política pública. Essa avaliação permitirá


identificar quais os resultados e impactos obtidos com a implementação da política.
Essa avaliação trará muitos elementos para uma revisão e aperfeiçoamento da
política.

Fique atento! O governo federal lançou dois guias de avaliação de


políticas públicas, um de análise ex ante e outro de análise ex post.
Acesse os guias nos endereços a seguir:

- Guia de análise ex post

- Guia de análise ex ante

Monitoramento:

O monitoramento é um procedimento utilizado para produzir informação sobre o


status da implementação de um programa. Ele é tipicamente visto como uma parte
da implementação. Contudo, pode ser uma efetiva ferramenta de avaliação, pois a
produção sistemática de informações sobre a execução de uma política trará vários
insumos para a avaliação e o aperfeiçoamento da política.

Vários atores podem ser envolvidos no monitoramento e na avaliação de políticas


públicas. Entre eles, podemos destacar:

Unidades especializadas

Unidades especializadas dentro das secretarias municipais, como quem cuida dos
dados de vigilância em saúde, vigilância na assistência social.
Órgãos centrais

Órgãos centrais com responsabilidade para realizar avaliações. O município pode


criar, por exemplo, uma comissão de monitoramento das políticas públicas ligada
ao gabinete do prefeito ou à secretaria de planejamento, e essa comissão poderá
organizar as informações das diversas políticas públicas em andamento no município.

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Servidores

Servidores da ponta, que rotineiramente escrevem relatórios sobre o andamento


do programa.

Consultores

Consultores externos, que podem ser contratados pelo município para a produção
de informações específicas sobre uma determinada política.

Pesquisadores

Pesquisadores que estejam realizando estudos sobre políticas públicas existentes


no município. Nesse caso, a gestão municipal pode mapear quais pesquisas podem
ser realizadas e promover o intercâmbio de informações entre pesquisadores e
gestores das diversas secretarias.

Jornalistas

Jornalistas, cidadãos, organizações não governamentais nacionais e internacionais.

Como você pode ver, a política pública é sempre desafiadora, e ter atenção às
grandes ideias é tão importante quanto aos detalhes específicos.

Lembre-se: uma política pública será tão efetiva quanto maior for
sua capacidade de processar o problema do seu elo mais fraco,
e, para fazer isso, é preciso um processo robusto de seleção do
problema, explicação das suas causas, formulação das soluções
mais adequadas, implementação, monitoramento, avaliação e
aperfeiçoamento ao longo do ciclo de execução dessa política.

Praticidade e viabilidade, não a perfeição, é o que é desejado. Evidência, lógica e


bom senso complementam os fatores mais importantes no desenho de políticas
públicas.

2. Acessando políticas públicas federais

Objetivo de aprendizagem

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Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as estratégias para acessar as
políticas públicas federais e implementá-las no município.

Para compreender melhor sobre como acessar as políticas públicas federais, assista
primeiramente ao vídeo no qual o professor Rodrigo Delgado apresenta essa
temática, focando especialmente nas políticas sociais (educação, saúde e assistência
social):

Vídeo 4 – Políticas sociais: acesso a recursos federais e governança local.

https://cdn.evg.gov.br/cursos/481_EVG/videos/modulo00_video03.mp4

Municipalização de políticas públicas

Diversos estudos discutem qual tem sido o papel dos municípios de países federalistas
na implementação de políticas públicas. No caso brasileiro, a literatura aponta que,
por um lado, após a Constituição Federal de 1988 (CF/88), a descentralização de
responsabilidades aos municípios resultou em um papel de implementador das
políticas públicas desenhadas no âmbito do governo federal. Por outro lado, há
estudos que apontam para um fortalecimento do papel dos municípios na decisão
sobre como são implementadas essas políticas.

A realidade é que o processo de descentralização das políticas públicas, promovido


pela CF/88, cria uma certa divisão entre o papel de implementador (para os
municípios) e de definidor do desenho das políticas públicas (para a União).

Contudo, estudos têm apontado que os municípios implementam as


políticas públicas desenhadas no âmbito federal de modos distintos,
dependendo especialmente de sua capacidade administrativa e da
forma como a política foi sendo estabelecida em cada município.

Dito isso, os gestores e as gestoras municipais, especialmente de municípios que


possuem menor poder de arrecadação e de caixa para investir, precisam identificar
quais políticas federais são hoje implementadas no território municipal e quais não
estão sendo implementadas, como forma de:

• mapear quais áreas podem estar mais ou menos cobertas;


• definir se há algum setor específico que demandará algum investimento com
recursos próprios do município.

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Como exemplo da questão dos investimentos municipais, podemos destacar o que
acontece com a política pública da saúde, especialmente nos municípios com gestão
plena. Para esses municípios, os recursos federais tendem a ser insuficientes para
cobrir as despesas para custeio das equipes de Estratégia Saúde da Família (ESFs).

Nesse caso e em outros, como recursos para os hospitais locais, especialmente em


municípios médios e maiores, a diferença entre o repasse federal e o custo efetivo
do serviço precisará ser coberta pelo município, que, em muitas situações, precisará
arcar com os atendimentos de média e alta complexidade, exames e consultas
especializadas Como esses problemas batem à porta da prefeitura, os municípios e
os prefeitos não têm outra escolha que não atender às demandas, inclusive naquilo
que está fora da gestão plena, como os hospitais, fazendo com que o gasto municipal
com saúde seja muito superior aos 15% da receita corrente líquida previsto pela
Constituição Federal.

Clique aqui para acessar o artigo de Rodrigo Carro, publicado no site do Observatório
de Informações Municipais, sobre os gastos das prefeituras com educação e saúde
em 2020.

Governança das políticas públicas

Um aspecto importante do processo de identificação das políticas públicas em curso


no município é mapear quais atores municipais estão envolvidos nesse processo,
pois, para além da secretaria municipal responsável por aquela política, certamente
há alguns atores relevantes a serem identificados, sejam eles associações, sindicatos,
lideranças e pessoas impactadas pela política.

Há diversas formas de se realizar um mapeamento dessa natureza, como a aplicação


de mapas de atores, como os exemplificados abaixo:

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E esse mapeamento, que pode ser realizado pela secretaria responsável pela
política pública, dará uma visão importante sobre quais atores estão envolvidos
com determinada política. Desse modo, permitirá que a gestão municipal estabeleça
estratégias que permitam otimizar a implementação dessa política com maior
clareza sobre como envolver atores-chave no processo.

Para além dessa visão mais ampla de como ocorrem o envolvimento e a participação
de determinados atores na implementação das políticas públicas, há um fórum de
diálogo com a sociedade civil específico muito relevante e que possui um papel
central em várias políticas públicas. Estamos falando dos conselhos municipais.

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Os conselhos municipais, também conhecidos como conselhos de políticas públicas,
consistem em um espaço de participação social e são previstos em diversas políticas,
como as de saúde e de assistência social. Esses conselhos podem ser divididos em
dois grandes grupos, os conselhos consultivos e os conselhos deliberativos:

Conselhos consultivos

Os conselhos consultivos, apesar de se constituírem como um espaço importante


para a reflexão, tendem a ter um poder menor de construção da política pública.
Suas decisões, assim, tendem a não vincular a ação do município.

Conselhos deliberativos

Já os conselhos deliberativos tendem a ser espaços cujas decisões repercutem na


implementação da política pública. Desse modo, suas decisões podem vincular a
ação do gestor público municipal.

Fique atento! Para saber se um determinado conselho municipal


possui caráter consultivo ou deliberativo, consulte a legislação
municipal que criou o respectivo conselho.

Abaixo, temos um gráfico (publicado no site www.politize.com.br, em 2016) que


nos dá uma dimensão de quais são as políticas públicas com o maior número de
conselhos implantados no Brasil.

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Políticas de educação, saúde e assistência social

Algumas políticas públicas, especialmente as de saúde e assistência social,


vinculam a realização de repasses de alguns dos seus programas à existência e ao
funcionamento dos respectivos conselhos municipais. E não somente à existência
de conselhos, mas também à elaboração de um plano municipal e à constituição de
um fundo municipal.

A criação desses três instrumentos, carinhosamente conhecida


como CPF (conselho, plano e fundo), garante ao município repasses
de recursos. Por isso, gestor e gestora municipal, é importante saber,
junto aos secretários municipais, se algum repasse não está sendo
realizado em função da inexistência de um desses instrumentos!

Os ministérios responsáveis por essas políticas possuem canais de atendimento


especializados para tratar desses assuntos. Assim, solicite aos seus secretários:

• um levantamento dos recursos federais disponíveis em cada política pública;

• um levantamento de quais condições precisam ser cumpridas para que o município


consiga acessar recursos tão importantes para o seu desenvolvimento.

Também é importante destacar que cada ministério possui sistemáticas distintas


para o repasse de recursos, que também variam de acordo com os programas.
Contudo, tanto no caso dos Ministérios da Saúde e da Cidadania (responsáveis,
respectivamente, por repasses de recursos dos programas do Sistema Único de
Saúde – SUS – e dos programas do Sistema Único de Assistência Social – SUAS) quanto
no caso do Ministério da Educação, a maior parte dos recursos sob responsabilidade
desses órgãos está vinculada à oferta de serviços das respectivas políticas pelos
municípios. E esses repasses comumente ocorrem por meio da transferência de
recursos de fundos nacionais para fundos municipais.

Lembre-se de que o repasse dos recursos dessas políticas está


fortemente atrelado ao funcionamento dos conselhos municipais,
que são responsáveis por elaborar pareceres sobre o efetivo
funcionamento das políticas no município e que podem interferir
nos repasses de recursos da União para os municípios.

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Com isso, finalizamos esta aula e esperamos que o gestor e a gestora públicos
garantam as condições de trabalho dos conselhos de políticas públicas, assim
como consigam manter a oferta de serviços de políticas importantes para o
desenvolvimento local.

3. Planejando a cidade

Objetivo de aprendizagem
Ao final desta unidade, você será capaz de listar as principais características dos
instrumentos de gestão da cidade que podem apoiar o desenvolvimento do
município.

As cidades são os espaços onde as pessoas relacionam-se, vivem, deslocam-se e


trabalham. Como gestor e gestora municipal, você conhece muito bem os desafios
relacionados à gestão da cidade. Para iniciar nosso estudo sobre o planejamento da
cidade e os instrumentos para sua gestão, assista ao vídeo a seguir, com o professor
Rodrigo Delgado:

Vídeo 5 – Gerindo a cidade, principais instrumentos de planejamento

https://cdn.evg.gov.br/cursos/481_EVG/videos/modulo00_video05.mp4

Gerindo a cidade – o papel do plano diretor

Assim como a gestão de uma cidade apresenta grandes desafios nas áreas de
habitação, saneamento, mobilidade, gestão ambiental e planejamento, ela é uma
oportunidade para o município superar problemas históricos, como ampliação
do acesso à água e ao tratamento de resíduos, redução do déficit habitacional e
aumento da regularização fundiária, além do aperfeiçoamento do tratamento dos
resíduos. A gestão que é capaz de enfrentar esses problemas pode colher bons
dividendos políticos.

Fique atento! A solução desses problemas contribui para o


desenvolvimento municipal, e muitos desses investimentos
reduzirão custos em outras políticas. Segundo a ONU, para cada
dólar investido em acesso à água de qualidade e saneamento, são
economizados U$ 4,3 em custos com saúde.

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Muitos dos investimentos nas políticas de desenvolvimento urbano são de
grande monta. Por isso, como gestor municipal é importante ficar atento ao que é
disponibilizado pelo governo federal para as políticas dessa área, assim como para
as oportunidades de parcerias locais, regionais e até mesmo internacionais que
podem ser realizadas.

Considerando as ações do governo federal, é importante que as secretarias


responsáveis pelas políticas de habitação, saneamento, mobilidade, gestão ambiental
e planejamento entendam como funcionam os programas atualmente disponíveis e
quais requisitos devem ser cumpridos pelo município para acessar esses recursos.

Para uma visão mais ampla dos desafios da cidade que evite sobreposição de ações
e promova sinergia entre as diversas secretarias municipais, é muito importante que
a gestão municipal possua uma carta de orientação do desenvolvimento da cidade.

Atualmente, essa carta é o Plano Diretor Municipal. A obrigatoriedade para


elaboração dos Planos Diretores foi estabelecida pela Lei nº 10.257/2001 (Estatuto
da Cidade), e passou a ser obrigatório para as cidades:

a) com mais de vinte mil habitantes;

b) integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

c) onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no §


4º do artigo 182 da CF/88, qualquer que seja a população;

d) integrantes de áreas de especial interesse turístico; e

e) inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo


impacto de âmbito regional ou nacional.

As cidades com menos de 20 mil habitantes que não se enquadram


em algumas dessas circunstâncias acima descritas não são
obrigadas a elaborar o plano, mas isso não significa que não devem!

A elaboração de um instrumento que orientará o uso de ocupação do solo municipal


e dará diretrizes para a garantia da função social da propriedade garante mais
clareza para onde a gestão municipal deve caminhar.

Para quem está assumindo municípios que já possuem plano diretor, é muito
importante consultar o que está definido no documento e lembrar que, pelo menos

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a cada dez anos, o plano deve ser revisto.

Informações sobre como elaborar ou revisar o plano diretor


de seu município estão disponíveis no site do Ministério do
Desenvolvimento Regional.

Uma visão ampla dos desafios para o desenvolvimento da cidade é muito importante
e com ela ficará mais fácil orientar outras políticas, como as de habitação e de
saneamento.

Política de habitação

Assim como a política de desenvolvimento urbano, a política de habitação, no âmbito


federal, também está sob gestão do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Na página do Ministério, há um conjunto amplo de informações sobre os diversos
programas habitacionais existentes.

Nesta aula, daremos destaque a duas ações importantes e estruturantes do ponto


de vista da política de habitação. A primeira é a adesão do município ao Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS). Conforme disposto no site do
MDR:

O SNHIS tem como objetivo principal implementar políticas e


programas que promovam o acesso à moradia digna para a
população de baixa renda, que compõe a quase totalidade do
déficit habitacional do País. Além disso, esse Sistema centraliza
todos os programas e projetos destinados à habitação de
interesse social.

Para aderir ao SNHIS, o município deve cumprir alguns requisitos, como a elaboração
de seu plano local de habitação de interesse social, e constituir o conselho e o fundo
municipal de habitação de interesse social. No site do MDR, é possível verificar se
seu município cumpriu com os requisitos para adesão ao SNHIS e como fazer para
se regularizar.

A segunda ação no âmbito da política de habitação é o Programa Casa Verde e


Amarela. O objetivo desse programa está na descrição disponível no site do MDR:

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O Programa Casa Verde e Amarela, do Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR), vai facilitar o acesso da
população a uma moradia digna, garantindo mais qualidade de
vida. A partir de medidas que darão mais eficiência à aplicação
dos recursos, a meta é atender a 1,6 milhão de famílias de
baixa renda com o financiamento habitacional até 2024, um
incremento de 350 mil. Isso será possível com a redução na
taxa de juros para a menor da história do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS) e mudanças na remuneração do
agente financeiro.

Esse programa traz algumas modificações com relação ao programa de habitação


anterior, e um dos primeiros passos é a adesão do município ao programa. Você
pode acessar todas as informações necessárias para a adesão ao programa clicando
aqui.

Política de saneamento

• abastecimento de água potável;

• esgotamento sanitário;

• coleta de lixo e manejo de resíduos sólidos;

• drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.

Atualmente, as ações e o programa de saneamento do governo federal utilizam


o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) como referência para lidar
com os desafios colocados pelos quatro componentes.

O atual PLANSAB estabelece metas para o período de 2023 a 2033. Segundo


informações publicadas na página do MDR na internet, “são 29 metas que envolvem,
entre outros, 08 indicadores para o componente abastecimento de água, 06 para
esgotamento sanitário e 08 de resíduos sólidos urbanos.”

Para a gestão municipal, é muito importante ter conhecimento


dessas metas e identificar como seu município irá contribuir para
o seu atingimento.

Quanto aos recursos disponíveis, há dois programas em curso no âmbito do MDR


que podem contribuir:

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Avançar Cidades – Saneamento

Esse programa realiza seleções públicas de empreendimentos para contratação de


crédito para financiamento de ações de saneamento básico ao setor público. Para
maiores informações sobre esse programa, clique aqui.

ProEESA - Projeto de Eficiência Energética no Abastecimento de Água

Esse projeto pode ser interessante especialmente para os municípios que possuem
prestadores locais de água, os quais, segundo dados do Sistema Nacional de
Informações do Saneamento (SNIS 2014), correspondem a 25% dos municípios
brasileiros. Esse projeto possui uma página própria na qual a gestão municipal
poderá obter uma séria de informações: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/
saneamento/proeesa.

Como podemos observar, a agenda de gestão da cidade é muito ampla e se trata de


um dos maiores desafios para a gestão local.

Antes de finalizarmos esta aula, uma última dica aos gestores


municipais é acessar a página de projetos prioritários do MDR, onde
serão encontradas informações sobre programas do Ministério
que podem receber recursos de emendas parlamentares. Isso
pode ser muito útil no diálogo com o deputado federal ou senador
da região, com objetivo de obter recursos a fundo perdido para
novos convênios do município com a União. Para acessar mais
informações, clique aqui.

Referências

LASSANCE, A. O que é uma política e o que é um programa: uma pergunta simples


e até hoje sem resposta clara. Boletim de Análise Político-institucional, IPEA,
Brasília, n. 27. mar. 2021.

WU, X.; RAMESH, M.; HOWLETT, M. Guia de políticas públicas: gerenciando


processos. Brasília: Enap, 2014.

LAVALLE, A. G.; RODRIGUES, M.; GUICHENEY, H. Agência local e indução federal: a


operação da política municipal de habitação em Recife e Curitiba. Revista Sociologia
Política, Paraná, v. 27, n.71, e003, 2019.

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LAVALLE, A. G.; RODRIGUES, M.; GUICHENEY, H. Agência local e indução federal: a
operação da política municipal de habitação em Recife e Curitiba. Revista Sociologia
Política, Paraná, v. 27, n. 71, 2019.

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