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Módulo

ASSESSORAR OS GOVERNOS LOCAIS NO PROCESSO DE


PLANEAMENTO ESTRATÉGICO (AGL)- Aula 3
Texto 2 do Tópico 1 da Unidade 1: Identificação das capacidades existentes
localmente para a planificação estratégica

1. Os ‘cinco estágios’ do processo de planeamento estratégico


O processo de planeamento estratégico de desenvolvimento económico local é
composto de cinco estágios. Embora esses estágios sejam considerados em separado
para sua apresentação didáctica nesse documento, na realidade o planeamento
estratégico de DEL é um processo flexível. Um estágio pode continuar em paralelo com
o outro, em consonância com as necessidades locais. Problemas detectados durante um
dos estágios podem não ser resultado do trabalho daquele estágio, mas da adequação do
estágio anterior. Estágios anteriores e posteriores podem necessitar de ser refinados ou
retrabalhados para resolver os problemas. A estratégia é um elemento vivo, e deve ser
modificada quando as circunstâncias assim demandarem.
Tabela 1: Sequência dos cinco estágios do processo de planeamento estratégico para
desenvolvimento económico local

Estágio 1: Organização dos Esforços

Estágio 2: Avaliação do Desenvolvimento Local

Estágio 3: Criação das Estratégias

Estágio 4: Implementação das Estratégias

Estágio 5: Revisão das Estratégias

Estágio 1: Organização de Esforços


Agora vamos nos debruçar sobre estágio 1 onde o foco é a organização dos esforços
para garantir o processo de planeamento estratégico.
Para organizar uma estratégia bem-sucedida, visando o desenvolvimento da economia
local, deve-se acertar os acordos institucionais e o envolvimento dos stakeholders
(interessados) num estágio preliminar ao processo de planeamento. Deve-se estabelecer
uma equipe de DEL no município ou no distrito, ou dentro de uma organização parceira,
para gerir inicialmente o processo de planeamento estratégico.

O desenvolvimento económico local bem-sucedido requer o esforço colaborativo dos


sectores público (governamental), privado (empresarial) e não-governamental (ONGs,
OCBs, sindicatos de entre outros).

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Formador: José Sete Mandlhate
Desencadeamento do processo de planeamento estratégico
 O processo de planeamento estratégico começa pela identificação das pessoas,
instituições públicas, empresários, organizações da sociedade civil,
organizações profissionais, instituições de formação e de outros grupos que
constituem ou que produzem impacto no desenvolvimento local.

As habilidades, experiências e os recursos que o grupo de stakeholders traz irão


contribuir para o processo de planeamento estratégico como um todo. O
estabelecimento de relações de trabalho sólidas e de estruturas organizacionais para
apoiar o processo de planeamento estratégico traz benefícios de longo prazo para as
parcerias públicas, privadas e para as organizações não-governamentais. A manutenção
e a sustentação dessas parcerias são os factores críticos e os desafios que sempre
determinam a efectividade dos esforços do DEL.
Considerando que o formando tem orientação profissional orientada para o Planeamento
territorial e do ambiente deve, tomar em consideração no exercício das suas funções que
o desenvolvimento de um território é fortemente condicionado pela vontade e
capacidade dos actores locais, isto é, quanto mais eles forem capazes de identificar
metas especificas possíveis para a sua própria região; instrumentos e recursos para as
atingir, mais próximos estão de estratégias de êxito. Portanto quanto maior for o
consenso sobre os objectivos e a coordenação das acções de apoio, maior êxito terão
essas estratégias. Deve também considerar que o desenvolvimento de um território gira
em torno das capacidades endógenas. Não existe área nenhuma que não possua pelo
menos um recurso explorável, mas o problema consiste na identificação desses recursos;
na política para a sua valorização; e nos instrumentos para o seu desenvolvimento.

A identificação dos interessados no processo de desenvolvimento local


Para o sucesso da planificação estratégica a identificação dos interessados no processo
de desenvolvimento local é crucial. A identificação dos interessados estará muito
dependente da identificação da situação problemática. As acções de desenvolvimento
tentam mobilizar e explorar os recursos na perspectiva de obter resultados precisos, em
prazos determinados e por um determinado orçamento. As acções de desenvolvimento
variam nos seus âmbito, objectivos e duração. As acções de desenvolvimento podem ser
autónomas ou também fazer parte de um programa em que as diferentes partes
contribuem para alcançar um objectivo global. Todavia, o processo de planeamento
estratégico é universal na sua concepção quaisquer que sejam a escala e a natureza.
Identificação das capacidades de competências profissionais a incluir num
exercício de planeamento estratégico visando a integração dos instrumentos de
ordenamento do território

Como qualquer processo, o sucesso da organização dos esforços para a programação de


uma acção de planeamento estratégico, depende sobretudo da sua direcção. Se o
formando for convidado ou encarregue de dirigir, apoiar ou assessorar o processo
deverá considerar etapas preparatórias com destaque para:
Etapa 1: Identificação do líder da equipe e estabelecimento uma equipe de apoio no
município ou no governo distrital.
O líder da equipe, pode em primeiro lugar ser o gestor da área que dirige o processo de
planeamento. Dever-se-á distinguir o líder do Facilitador do processo. O Facilitador

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deverá ser uma pessoa externa das instituições ou organizações envolvidas na
planificação estratégica.

Etapa 2: Desenvolvimento de um grupo de stakeholders ou de interessados na solução


da problemática.
Os stakeholders são todos os actores interessados no processo de planeamento
estratégico, de acordo com a temática em debate, no caso vertente a implementação dos
instrumentos de ordenamento territorial.
O desenvolvimento do referido grupo requer um apuramento (Figura 1) seguido da
avaliação das suas capacidades (Figura 2).
A Figura 1 apresenta um levantamento de potenciais stakeholders que, geralmente
poderão ser identificados quer no sector público, privado ou comunitário. É no seio
destes que serão seleccionados os intervenientes específicos segundo a situação
problemática em análise.
Stakeholders potenciais

Sector público
 Governo municipal, incluindo departamentos técnicos.
 Governo distrital ou provincial.
 Grupos sectoriais

Sector privado
 Grandes empresas.
 Empresários de pequena, média e microescala.
 Agentes imobiliários em geral.
 Bancos e outros

Sector comunitário
 Líderes comunitários.
 Grupos de vizinhança
 Organizações de serviços comunitários
 Instituições locais de educação
 Sector religioso local

Tratando-se de uma questão problemática conhecida a selecção dos interessados será


mais criteriosa e selectiva identificando especificamente e nominalmente instituições,
organizações ou outras entidades. O principal critério será o envolvimento no passado,
no presente e interesse no futuro em relação ao problema que se pretende solucionar
como representado no stakeholders potenciais.
Table 3: Identificação dos stkholders (interessados na problemática) Ex:
Planeamento do Uso da Terra num Município (Cópia)
Etapa 3: Desenvolvimento de um sistema para trabalhar com outros sectores de
desenvolvimento e níveis governamentais.
O sistema para incorporar outros sectores está em parte regulamentado pela Lei e pelo
Regulamento da Lei do Ordenamento do Território que preconiza para a elaboração de
Instrumentos de Ordenamento territorial, no seu artigo 40 na sua alínea b) que se

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elabore a metodologia a adoptar para a coordenação e compatibilização dos diversos
interesses sectoriais, quer autárquicos quer de distritos limítrofes; que se designe a
composição para acompanhar a sua elaboração e as atribuições a serem conferidas aos
órgãos responsáveis pela sua elaboração.
Assim poderão ser estabelecidos os seguintes mecanismos:
Reuniões Sectoriais ou Conjuntas com a participação do Gestor institucional sob
coordenação de um Facilitador externo.
Poderão decorrer no mínimo as seguintes reuniões:
 1ª Reunião para apresentação dos Termos de Referência do Plano e o Papel de
cada representante do sector;
 2ª Reunião Participação no Processo do Diagnóstico – Cada sector contribui
com o conhecimento do sector;
 3ª Reunião Estabelecimento de Estratégias de Desenvolvimento Local e
Territorial.
 4ª Reunião de aprovação do Plano Estratégico.

Estágio 2: Avaliação do Desenvolvimento Local


A avaliação do Desenvolvimento Local comporta (i) Análise da Situação; (ii) A análise
do Contexto do desenvolvimento; (iii) Os Meios de subsistência dos indivíduos, das
famílias e das comunidades, e (iv) As Necessidades, obstáculos e recursos necessários.

(i) Análise da situação


A análise da situação pressupõe examinar cuidadosamente o problema inscrito no seu
contexto e como tal percebido pelas partes envolvidas. Trata-se de determinar a
capacidade e as potencialidades da situação para:
 Contribuir para o bem-estar e os meios de subsistência dos indivíduos, das
famílias e da colectividade;
 Favorecer o desenvolvimento económico harmonioso do tecido social;
 Garantir a duração das mudanças necessárias.

Os métodos de diagnóstico rápido são particularmente bem adaptados para fazer esta
análise da situação. Estes permitem:
 Uma grande elasticidade e uma flexibilidade importante;
 Uma forte recepção às ideias novas e inesperadas;
 Mudanças e comunicação entre o conjunto das partes envolvidas;
 O reforço do poder dos membros da comunidade; em particular dos mais
desfavorecidos;
 A validação da informação durante a sua colheita.

Para a análise da situação, deverão ser definidos os diferentes factores que estão na
origem do problema, apreciar os obstáculos existentes e os recursos que devem ser
mobilizados para resolver o mesmo problema, tudo respondendo às expectativas e às
prioridades das diferentes partes envolvidas, nomeadamente: (i) A análise do contexto
do desenvolvimento; (ii) os meios de subsistência das comunidades, das famílias e dos
indivíduos e, (iii) As necessidades e as obrigações, assim como os recursos necessários
para remediar.

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(i) A análise do Contexto do desenvolvimento
O contexto do desenvolvimento oferece uma visão global do funcionamento da
comunidade. De facto, é indispensável conhecer bem o quadro em que se inscrevem as
dificuldades e onde a acção tem de desenrolar-se. Trata-se de apreciar as tendências dos
diferentes factores socioeconómicos que prevalecem, assim como as suas
interdependências. Aliás, para esta fase serão identificadas as instituições, os grupos
locais e as outras partes envolvidas que influenciem o ambiente institucional. Aqui estão
algumas perguntas relativas:
 Quais são as características do ambiente interno e externo institucional?
 Qual é a organização da sociedade?
 Quais são as instituições presentes?
 Que mudanças se produziram durante o tempo?

(ii) Os Meios de subsistência dos indivíduos, das famílias e das comunidades


O conhecimento dos meios de subsistência das comunidades e das famílias, assim como
dos seus membros, permite compreender as estratégias existentes para satisfazer as
necessidades e contribuir para os interesses de todos e de cada um, pois põe em
evidência os papéis de dada parte envolvida e as relações entre elas, que aclaram os
mecanismos de decisão e de gestão do poder.

(iii) As Necessidades, obstáculos e recursos necessários


Graças à análise do contexto do desenvolvimento e dos meios de subsistência das
partes, mencionam-se a seguir as causas do problema. Numa abordagem participativa,
estes resultados são sistematicamente apresentados e discutidos com as partes, para:
 Validar e interpretar as informações recolhidas;
 Procurar as omissões;
 Identificar as novas pistas de pesquisa.

O exame de todos esses dados conduz a:


 Examinar em detalhe as causas do problema e, portanto, a identificar as
necessidades das partes;
 Compreender os efeitos, portanto as contrariedades das partes;
 Emitir soluções potenciais, ou seja, os recursos a mobilizar.

O método empregue de entre outros é o do uso da ferramenta conhecida por árvore de
problemas. Trata-se efectivamente de uma metodologia baseada na hierarquização dos
problemas tendo como suporte a análise causa e efeito dos mesmos. O diagrama 1
apresenta a hierarquização de problemas que o formando poderá analisar e, no futuro
poder equacionar em exercícios de planeamento estratégico orientado para o
ordenamento do território, no caso retratado procurando incorporar a dimensão espacial
na planificação distrital.
A análise da situação pode ser resumida no diagrama 1 – Árvore de Problemas no
âmbito da Dimensão Espacial na Planificação Distrital:

Figure 2: Árvore de Problemas ( Cópia)

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Pelo digrama apresentado, o formando pode claramente notar que o problema principal
é Uso insustentável do espaço territorial e do potencial da terra e outros recursos
naturais. Ainda pelo diagrama poderá distinguir as causas dos e os efeitos dos
problemas localizados abaixo e por cima do problema central respectivamente.

Estágio 3 - Criação das Estratégias


A criação de estratégias advém do diagnóstico sectorial e da visão institucional
alivanhada nos encontros sectoriais.
A Priorização de desenvolvimento das partes
O conhecimento das ligações de causa/efeito do problema associado a orientações
possíveis de acção permite encontrar opções de desenvolvimento, que serão
hierarquizadas em função de critérios como: o custo, o tempo, a capacidade. Esta
hierarquização permite estabelecer as prioridades de desenvolvimento precisando:
• Os recursos mobilizáveis junto da comunidade: conhecimentos, saber-fazer, dinheiro,
trabalho ou outras modalidades;
• Os recursos a mobilizarem para o exterior da comunidade: apoio, financiamento,
recursos humanos, etc.
Mas, colocar-se-á uma questão para o formando. Como estabelecer as prioridades. Estas
serão identificadas na base da conversão do nosso diagrama 1 – árvore de problemas
como se demonstra no diagrama 2 – árvore de objectivos.

Figure 3: Árvore de Objectivos (Cópia)

O formando poderá compreender pelo diagrama 2 fazendo comparação com o diagrama


1 que, o problema principal foi transformado no objectivo principal. Igualmente os
problemas de nível inferior foram assim também transformados em objectivos, com a
diferença de que estes são classificados como objectivos específicos para o processo de
desenvolvimento. Logo abaixo dos objectivos específicos estão localizados os
resultados pretendidos para o desenvolvimento.

Este exercício finaliza com a priorização dos objectivos a atingir. A priorização será
baseada na escolha de objectivos específicos que tenham viabilidade técnica, ambiental,
financeira e capazes de serem implementados com a intervenção de técnicos e de
soluções quanto mais locais melhor. Poderão também ser associados vários objectivos
específicos. Na melhor opção, na presença de recursos humanos, materiais e financeiros
suficientes pode-se claramente avançar para a implementação de todos os objectivos
específicos identificados na árvore de objectivos.

Antes de conseguir um consenso junto da comunidade, pode ser preferível consultar


cada grupo de partes para facilitar o seu envolvimento e a sua associação aos benefícios
gerados. Antes de passar à etapa seguinte de formulação estratégica, uma lista de
controlo permite verificar se a etapa de identificação de recursos pra a planificação foi
conduzida correctamente.
Estágio 4: Implementação das Estratégias
A implementação das Estratégias estará dependente dos processos de operaconalização
do Plano Estratégico. No caso particular de Moçambique a inscrição das intenções nos
Planos Económicos e Sociais das distintas instituições a diferentes níveis é a melhor

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forma de garantir a implementação das Estratégias. Este exercício deverá ser
complementado com a dotação de recursos financeiros respectivos.

Estágio 5: Revisão das Estratégias


A revisão das estratégias poderá decorrer sempre que necessário, mas sobretudo
passados os cinco anos de vigência do Plano Estratégico em referência. Os principais
motivos para a revisão do Plano poderão ser as grandes mudanças que decorrem quer
nos processos de desenvolvimento político, económico, social e de transformações
territoriais.
Exercícios de auto-avaliação

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