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Tibete Debate Sucessão Do Dalai-Lama e Prevê Confronto de China e Índia
Tibete Debate Sucessão Do Dalai-Lama e Prevê Confronto de China e Índia
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/09/tibete-debate-sucessao-do-dalai-lama-88-e-preve-confronto-de-china-e-india.shtml
O líder espiritual tibetano disse que planeja viver além dos 113 anos e deve abordar
a questão de sua reencarnação —incluindo se ele será reencarnado ou não— daqui
a dois anos, quando completar 90.
"Estou determinado a servir a todos nas próximas décadas", disse ele a uma grande
multidão de exilados tibetanos e indianos, quando falou sobre sua missão e
brincando sobre o fato de ainda ter todos os dentes. "Vocês também devem fazer
suas orações pela minha longa vida."
Seria uma disputa que também poderia envolver a Índia e os Estados Unidos,
tornando a saúde do laureado com o premiê Nobel e suas perspectivas de
longevidade uma questão de crescente interesse internacional, muito além do centro
de exílio de Dharamshala.
Enquanto isso, exilados tibetanos e analistas dizem que a China, que afirma ter a
palavra final sobre a nomeação, está consolidando os preparativos para seu próprio
processo de seleção paralelo. Eles acreditam que isso pode ser uma repetição de sua
instalação de um panchen lama —o segundo líder espiritual do budismo tibetano—
, em 1995. Exilados dizem que o panchen lama não é reconhecido pela maioria dos
tibetanos.
A transição, quando ocorrer, poderá se tornar uma nova e potente fonte de atrito entre
a China e a Índia, que tem hospedado o dalai-lama desde que ele fugiu para o exílio
em 1959, em um momento em que os dois gigantes asiáticos estão em desacordo em
relação à sua fronteira.
Certamente terá repercussões nos EUA em um momento de rivalidade sino-
americana já intensa. O atual dalai-lama conta com apoio bipartidário: a Lei de
Política e Apoio ao Tibete, aprovada em 2020, pede a imposição de sanções a
quaisquer autoridades chinesas que interfiram no processo de seleção de líderes
tibetanos. Em dezembro, Washington impôs sanções a dois funcionários chineses
por supostas "graves violações dos direitos humanos" no Tibete.
Mas, na realidade, enquanto a China diz ter trazido maior desenvolvimento e turismo
para a região, críticos afirmam que ela a governou com mão de ferro, mantendo uma
censura rigorosa, controlando o ensino religioso e prendendo dissidentes.
"Se houver dois dalai-lamas, isso dependerá de como as pessoas dentro do Tibete
reagirão", diz Tansen Sen, professor da Universidade de Nova York em Xangai. "No
final, eles [o partido] serão capazes de convencer o povo tibetano?" Consultar os
tibetanos, acrescenta ele, "não é algo em que eles tenham investido muito tempo".
O atual dalai-lama foi identificado em 1937, quatro anos após a morte de seu
antecessor, na vila agrícola de Taktser, na atual província chinesa de Qinghai, então
às margens da região tibetana de Amdo.
Um lama reencarnado pode ser localizado com base em visões de clérigos budistas
seniores ou por meio de outras práticas rituais. Os seguidores do falecido visitarão
certas crianças para ver se elas são atraídas por eles ou estão familiarizadas com os
pertences do falecido.
Ao ouvir falar de uma criança local de dois anos chamada Lhamo Thondup, a equipe
visitou sua família. Eles ficaram impressionados quando o menino puxou um rosário
que o líder da equipe estava usando no pescoço e o identificou corretamente por seu
nome budista.
Em uma segunda visita, de acordo com o biógrafo do dalai-lama, Alexander
Norman, eles foram recebidos pelo menino, que identificou corretamente objetos
que haviam pertencido ao falecido 13º dalai-lama, incluindo um rosário, uma
bengala, um pedaço de tecido e um tambor.
O dalai-lama deixou claro que a China não deve ter voz em sua reencarnação. Em
comunicado divulgado em 2011, disse que, quando tiver "cerca de 90 anos",
consultará lamas de alto escalão, o público tibetano e outros seguidores e "reavaliará
se a instituição do dalai-lama deve continuar ou não".
Ele disse que era "particularmente inapropriado" para os comunistas chineses, que
rejeitam explicitamente a ideia de vidas passadas e futuras, "interferirem no sistema
de reencarnação e especialmente nas reencarnações do dalai-lama e dos panchen
lamas".
Pequim promove essas obras como um meio de elevar os baixos padrões de vida em
uma das regiões mais pobres do país, mas analistas afirmam que também têm
objetivos militares estratégicos. "Acredito que isso não é apenas para a prosperidade
do povo, mas também porque o Tibete é muito vasto, muito grande", diz Qian Feng,
diretor do departamento de pesquisa do Instituto de Estratégia Nacional da
Universidade Tsinghua, em Pequim. "Usamos uma boa infraestrutura para proteger
nossas fronteiras e não queremos que nenhum poder estrangeiro tome nosso
território novamente."
Apesar da adesão do PC Chinês ao ateísmo —há oito anos, o líder Xi Jinping disse
que os membros devem ser "ateus marxistas inabaláveis"—, a liderança chinesa tem
se inserido constantemente nos assuntos da metempsicose, ou transmigração das
almas.
No início da década de 1990, Pequim indicou que permitiria que os tibetanos
usassem processos tradicionais para selecionar lamas reencarnados, reservando-se o
direito de confirmá-los. Mas, em 1995, a postura do partido se endureceu. Naquele
ano, depois que o dalai-lama escolheu um novo panchen lama, Pequim sequestrou o
menino e sua família. Eles não foram vistos desde então, o que tem gerado pedidos
regulares por sua libertação. Pequim instalou seu próprio panchen lama.