Você está na página 1de 3

CASO CLÍNICO

Dona M. é uma mulher de 47 anos, moradora do interior do estado do Rio Grande do


Sul. Internada há mais de um mês na unidade oncológica do hospital de sua cidade, M.
foi diagnosticada com neoplasia de fígado, com metástase no pâncreas e no peritônio.
Um mês antes de ser internada, Dona M passou por uma grande perda, a morte de seu
marido, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Mãe de dois filhos, de 25 e 27 anos,
respectivamente, Dona M. não vê seus filhos desde sua internação, devido aos horários
de trabalho dos filhos. Seu estado de saúde é crítico, com níveis de dor em 6/10 (escala
numérica de intensidade de dor), com demais sinais vitais estáveis. Por conta de sua
intensa dor, a paciente não faz mais alimentação sólida, por inapetência, mas se recusa
a iniciar procedimentos de nutrição enteral. Dona M. também possui dificuldades de
movimentação, e mesmo que a fisioterapeuta tenha recomendado caminhadas fora de
seu quarto, as técnicas de enfermagem orientam que ela permanecesse deitada sem
sair de seu leito. Por conta das restrições que ainda são impostas pela pandemia, a
paciente tem seus horários de visita reduzidos, que não coincidem com os horários
disponíveis para os filhos lhe visitarem, já que ambos têm horários de trabalho não
convencionais. Dona M. relata sentir muita saudade dos filhos, além da dor de
vivenciar o luto pela perda súbita do marido. Além disso, a paciente frequentava,
periodicamente, uma igreja no seu bairro, e sente falta desse espaço de acolhimento e
espiritualidade. Em uma das conversas com um dos profissionais da equipe de
tratamentos da unidade, Dona M. pediu para ver seus filhos em um momento fora do
horário disponível para as visitas, porém esse profissional lhe negou o pedido. Já em
outro momento, em conversa com a equipe, outro profissional trouxe à tona a ideia de
disponibilizar um aparelho para vídeo-chamadas com os filhos, porém a equipe não
chegou a um consenso sobre a possibilidade. A paciente relata se sentir triste,
desanimada e solitária, e sente falta de um contato humano, principalmente com
pessoas que faziam parte do seu convívio social antes do seu adoecimento. Ela tem
medo da morte, principalmente de passar esse momento sozinha.
Em relação ao Caso Clínico de Dona M. apresentado, qual sua opinião sobre as
diferentes condutas profissionais realizadas? Segundo sua interpretação qual seria a
melhor estratégia de ação para a paciente e em relação à equipe multidisciplinar.

CASO CLÍNICO – DONA M.

Nome: Giovanna Pinheiro Curso: Psicologia

No que diz respeito a cuidados paliativos, é importante que exista uma boa
comunicação tanto com o paciente, quanto com a sua família, a fim de conduzir
melhor o tratamento e lidar melhor com dúvidas, medos e sentimentos conflituosos
que um novo contexto vivido pelo paciente traz (Rodrigues, 2018). Nesse sentido, é
relevante considerar aspectos emocionais, culturais e espirituais, bem como o
entendimento do paciente sobre o morrer. No caso em questão, Dona M. passou por
um luto recente que ainda está sendo elaborado por ela, além de relatar ter medo da
morte e, principalmente, medo de passar por esse momento sozinha.

É importante que, a partir disso, a equipe multidisciplinar, especialmente o


atendimento psicológico, trabalhe questões de morte e de luto com Dona M., também
associando a vivência atual à família, da qual ela sente muita falta, e procurando
alternativas de aproximar o convívio familiar da paciente, tentando, talvez, encontrar
horários que sejam acessíveis aos filhos de Dona M., e não recusando um pedido
antes de discutir com a equipe e levantar essa possibilidade de fato, por exemplo. Isso
porque o acolhimento familiar tende a promover o sentimento de independência e
bem-estar, melhorando a qualidade de vida do paciente em condição de terminalidade
(Melin-Johansson et al. apud Hoffmann, Santos & Carvalho, 2021).

Além disso, as vontades e desejos da paciente devem ser respeitados, bem


como a sua autonomia. Assim, a recusa de Dona M. a iniciar procedimentos de
nutrição enteral deve ser levada em consideração mas, se não houver outras
alternativas, uma conversa clara e objetiva com a paciente mostra-se essencial. Aliado
a isso, é interessante que exista uma atenção às suas dores intensas, a fim de tentar
diminuí-las de alguma forma para que esse processo seja o mais cuidadoso e o
sofrimento seja o mais amenizado possível. Sobre as dificuldades de movimentação, é
notável, talvez, uma falta de comunicação entre a equipe multiprofissional, ao dar à
Dona M. recomendações conflitantes, o que pode gerar ainda mais dúvidas na
paciente. É fundamental que haja essa comunicação, a fim de integrar as áreas da
saúde envolvidas e trabalhar conjuntamente em uma dinâmica de pensamento
multidisciplinar. Ainda, é fundamental que essa comunicação seja contínua e
conclusiva, discutindo os prós e contras de disponibilizar um aparelho para
vídeo-chamadas para a paciente, por exemplo.

Dessa maneira, para Rodrigues (2018), o paciente tem responsabilidade sob o


seu tratamento e acompanhamento da doença e, ainda, tem direito a conduzir o
processo de terminalidade em todos os aspectos que, para ele, sejam importantes.
Tais processos incluem crenças, religiosidade, escolhas, desejos, interromper
procedimentos, acompanhamento de familiares ou não, entre outros. Nessa
perspectiva, a espiritualidade de Dona M. deve ser levada em consideração durante o
seu processo de cuidados paliativos, visto que ela mesma relata que sente falta desse
espaço de acolhimento. Por fim, para atender aos sentimentos de tristeza, solidão e
desânimo apresentados por Dona M., deve-se trabalhar a validação dessas emoções,
proporcionando um lugar de escuta e ressignificação e um acompanhamento
psicológico para essas demandas.

REFERÊNCIAS

Hoffmann, L. B., Santos, A. B. B. & Carvalho, R. T. (2021). Sentidos de Vida e Morte:


Reflexões de Pacientes de Cuidados Paliativos. Psicologia USP, vol. 32, pp. 1-10.
https://doi.org/10.1590/0103-6564e180037.

Rodrigues, K. M. (2018). Princípios dos Cuidados Paliativos. Porto Alegre. SAGAH.

Você também pode gostar