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Departamento de Engenharia Mecânica

GUIA DO USUÁRIO DO LABORATÓRIO DE MATERIAIS


(Campus Coração Eucarístico)

Profa. Dra. Sara Silva Ferreira de Dafé


5. Ensaio de Tração

5.1. Introdução

O ensaio de tração é um dos ensaios mecânicos mais utilizados para se


determinar propriedades mecânicas dos materiais na engenharia devido à sua
facilidade de execução e reprodutividade dos resultados.

O ensaio baseia-se na aplicação de uma carga uniaxial a um corpo de prova,


devidamente preparado conforme norma, provocando o alongamento da amostra na
direção paralela ao eixo de aplicação da carga até a sua ruptura.

5.2. Objetivos

Comparar as propriedades mecânicas, tais como tensão de escoamento, de


resistência à tração e de ruptura, alongamento percentual, módulo de elasticidade e
expoente de encruamento “n” de um aço SAE 1020 trefilado a frio e outro trefilado a
quente. Também se sugere a análise outros aços com médio e alto teor de C, além
do cobre e do latão.

5.3. Revisão Bibliográfica

A tensão “” pode ser definida como a carga “F” que um material suporta por
área “A” quando este é submetido a um esforço qualquer. Esta tensão é positiva
quando o material é submetido à tração e, negativa, quando submetido à compressão.

Seja o corpo de prova da Figura 5.1, com seção transversal “A0”, diâmetro útil
“d0” e comprimento útil “L0”, submetido a um esforço de tração axial “F”. A tensão de
tração média que este corpo de prova irá suportar será, portanto, descrita por:

𝐹
𝜎=𝐴 Equação 5.1
0

A usinagem do corpo de prova segue normas nacionais ou internacionais


(ABNT/MB-4, ASTM E8, etc.). Todavia, como regra geral para corpos de prova
cilíndricos, o comprimento útil deve ter pelo menos cinco vezes a medida do diâmetro
útil (𝐿0 ≥ 5𝑑0).

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A deformação “e” causada pelo esforço de tração está relacionada com
alongamento “L” e o comprimento inicial “L0”, conforme a Equação abaixo:

∆𝐿 𝐿𝐹 −𝐿0
𝑒= 𝐿0
= 𝐿0
Equação 5.2

onde LF é o comprimento final.

d
0

A
0

Figura 5.1. Corpo de prova de ensaio de tração.

A curva tensão-deformação convencional ou de engenharia é obtida como


resultado deste ensaio, conforme mostra a Figura 5.2.

Deformação
até a fratura
Deformaçã
o uniforme
Tensão
(MPa)

Tensã
o Tens
de ão
Escoa Tens
de
mento ão
Resis
De
tênci
rupt
a
ura
0,2 Deformação (%)

Figura 5.2. Curva tensão x deformação convencional.


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A partir desta curva (Figura 5.2) é possível obter algumas propriedades
mecânicas importantes. A região linear caracteriza o regime elástico, no qual a
deformação é recuperável caso a carga externa seja removida. A Equação 5.3
descreve este regime:

𝜎 = 𝐸𝑒 Equação 5.3

onde E é o módulo de Young, o qual é determinado pela inclinação da reta e indica a


resistência do material à deformação elástica.

Para os aços, traçando-se uma reta paralela ao regime elástico em 0,2% de


deformação, conforme indica a Figura 5.2, tem-se o a tensão ou limite de escoamento
do material tracionado. Esta propriedade indica a tensão a partir da qual o material sai
do regime elástico para o plástico, ou seja, a partir deste ponto a deformação é
permanente. Todavia, existem metais que não apresentarão o limite de escoamento
de forma contínua. Alguns deles podem apresentar limite de escoamento descontínuo,
como mostra a Figura 5.3 (a). Isto ocorre quando átomos intersticiais, como carbono
e nitrogênio, migram para baixo das linhas das discordâncias para anular o estado de
tensão gerado por estas. Estes átomos intersticiais formar atmosferas, ou “clusters”,
que dificultam a movimentação das discordâncias (atmosferas de Cottrel). Quando a
discordância é travada a tensão de tração aumenta e, de maneira análoga, uma vez
que ela é liberada a tensão cai novamente. Este processo que ocorre sucessivamente
gera o serrilhado na curva tensão-deformação, ou patamar de escoamento e pode
provocar o aparecimento das chamadas bandas de Lüders na superfície do material
(Figura 5.3 (b)).

A tensão máxima que o material irá suportar é chamada tensão ou limite de


resistência e, para valores de deformação inferiores a este ponto, a deformação é
distribuída de forma uniforme no corpo de prova. O limite de resistência indica o ponto
a partir do qual a deformação plástica deixa de ser uniforme e passa a ser não
uniforme, ocorrendo de forma localizada em torno pescoço que é formado, até a
ruptura. A tensão de ruptura será a tensão para a qual o material irá fraturar. A Figura
5.4 mostra o passo a passo da deformação.

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Tensão (MPa)
Limite
superiorLimite
inferior

Deformação (%)

(a) (b)

Figura 5.3. (a) Limite de escoamento descontínuo. (b) Bandas de Lüders na


superfície de um corpo de prova polido.

Tensã
o
de
Tensão (MPa)

Resist
ência
estric
ção
A partir da tensão
de resistência
começa a ocorrer a
estricção no corpo
de prova. A(%)
Deformação tensão
se concentra nesta
região levando o
material à ruptura.

5.4. Curva tensão x deformação convencional, ou de engenharia, indicando


formação da estricção ou empescoçamento.

O alongamento percentual é outra propriedade importante do ensaio e pode ser


calculado segundo a Equação 5.4, assim como a redução de área transversal descrita
pela Equação 5.5.

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𝐿𝑓 −𝐿0
𝐴= × 100 Equação 5.4
𝐿0

L0 é o comprimento inicial e Lf é o comprimento final.

𝐴0− 𝐴𝑓
𝜑= × 100 Equação 5.5
𝐴0

A0 é a área da seção transversal inicial e Af é a área da seção transversal final.

É importante verificar que, na prática, devido à redução de área da seção


transversal, os valores de tensão deveriam aumentar continuamente até a ruptura, de
𝐹
acordo com a relação 𝜎 = . Portanto, a curva “tensão-deformação convencional ou
𝐴

de engenharia” não representa de forma precisa as características de deformação do


metal. Assim, faz-se necessária a correção matemática, levando em consideração a
área instantânea do corpo de prova, de forma a obter-se os valores de “deformação
verdadeira” (ev) e “tensão verdadeira” (v), conforme indicam as equações 5.6 e 5.7.

𝑒𝑣 = 𝑙𝑛(1 + 𝑒) Equação 5.6

𝜎𝑣 = 𝜎(1 + 𝑒) Equação 5.7

A tensão verdadeira e a deformação verdadeira estão relacionadas pela


Equação de Hollomon:

𝜎𝑣 = 𝐾. 𝑒𝑣𝑛 Equação 5.8

onde “K” é a constante plástica de resistência e “n” é o expoente de encruamento.

A Figura 5.5 mostra as curvas tensão-deformação verdadeira e de engenharia.

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Figura 5.5. Curvas tensão-deformação verdadeira e de engenharia. Os pontos
M e M’ indicam a tensão de resistência.

5.4. Metodologia

5.4.1. Materiais

Os corpos de prova que serão ensaiados são do aço SAE 1020, sendo um
inicialmente trefilado a frio e o outro trefilado a quente. Estes devem ser medidos
inicialmente quanto aos diâmetros e seus respectivos comprimentos úteis.

5.4.2. Procedimentos experimentais

Será utilizada a máquina de tração WOLPERT, mostrada na Figura 5.6 (a).


Para iniciar o ensaio, inicialmente deve-se acionar a chave cinza no painel eletrônico
(Figura 5.6 (b)), localizado na parede à esquerda do painel de carga, colocando-a na
horizontal. Em seguida, deve-se acionar a chave cinza atrás do painel de carga,
girando-a para a posição “I” (Figura 5.6 (c)). Por fim, deve-se então girar a chave da
frente do painel de carga (Figura 5.6 (d)), pressionando-a e girando-a para a direita,
de forma que ela fique na horizontal e assim, ligar o botão branco com o símbolo “I”
ao lado (Figura 5.6 (d)).

Primeiramente, deve-se aliviar a carga do ensaio anterior, abrindo-se a válvula


preta às esquerda no painel de carga (Figura 5.6 (d)), girando-a no sentido anti-
horário. Uma vez que a parte superior da máquina de tração voltou à posição inicial,
descendo a garra superior até o “zero” indicado pela régua ao lado da mesma (Figura
5.6 (e)), a válvula de alívio de carga deve ser fechada.

O corpo de prova deve ser preso, pelas cabeças, nas garras da máquina de
tração (Figura 5.6 (a)) e estas devem ser adequadas aos corpos de prova cilíndricos
ou de chapas. Para trocar as garras basta deslizá-las para frente ou para trás. Uma
vez colocadas as garras, para prender o corpo de prova deve-se posicionar o corpo
de prova na altura das garras e usar os botões à direita no painel de carga (Figura 5.6
(d)), abrindo-as ou fechando-as. Muito cuidado nesta etapa para evitar acidentes,
como prender os dedos ou a mão! Caso a altura das garras não esteja adequada,
esta deve ser regulada utilizando os pedais abaixo da máquina de tração.

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Máquina
de tração
Painel
de carga

Garr
as

Cha
ve
Chav
e

(a) (b) (c)

Alívio Carga
Desligar
Ligar Régua

Abre/Fecha
Chave superior
Fecha/Abre
inferior

(d) (e)

Figura 5.6. (a) Máquina de tração; (b) primeira chave de acionamento; (c)
segunda chave de acionamento; (d) painel de controle; (e) régua para acompanhar
subida e descida da parte superior.

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Para coleta dos dados do ensaio de tração, o software DINA TEST deve ser
utilizado no computador ao lado da máquina. O programa encontra-se na área de
trabalho.

Uma vez aberto o DINA TEST, deve-se: clicar em “opções”; clicar em “ensaio”;
selecionar a opção “cilíndrico”, caso o corpo de prova sejam uma barra; em “detalhes
do corpo de prova” informar o diâmetro do corpo de prova cilíndrico, geralmente 10
mm. Ainda em “opções”, selecionar “relatório”, escolher o diretório onde serão salvos
os arquivos gerados e, para finalizar clicar em “aplicar” e “ok”.

Para iniciar o ensaio, deve-se clicar nos 3 botões “conectar”, iniciando pelo
superior.

Em seguida, deve-se aplicar a pré-carga de forma a garantir que o corpo de


prova não irá deslizar das garras durante o ensaio. Para tal, deve-se abrir lentamente
a válvula preta da direita no painel de carga (Figura 5.6 (d)) e observar a
movimentação do componente superior da máquina de tração, até que ela atinja
aproximadamente a posição 0,3 mm na régua. Uma vez atingida, a válvula de carga
deve ser fechada.

Voltando ao software, deve-se agora clicar nos 3 botões “zerar”, iniciando pelo
superior, de forma que o programa associe esta posição como sendo a inicial. Por fim,
pode-se então iniciar o ensaio clicando no botão “iniciar ensaio” e abrindo a válvula
de carga para que o carregamento comece e seja registrado simultaneamente pelo
programa. Sugere-se tentar manter a taxa de carregamento em torno de 10 a 20 kN/s,
abrindo ou fechando a válvula conforme necessário. A taxa de carregamento é
mostrada no visor na parte superior do painel de carga (Figura 5.6 (a)).

Após o término do ensaio, quando o corpo de prova se rompe, deve-se fechar


a válvula de carga e retirar as partes do corpo de prova presas nas garras usando os
botões à direita no painel.

Uma vez retiradas as partes do corpo de prova, deve-se uni-las sobre uma
mesa para medir o diâmetro e o comprimento útil final, com o auxílio de um
paquímetro. Estes dados, juntamente com as dimensões iniciais, deverão ser
inseridos no software na janela se abre após o fim do ensaio. Estas informações serão

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aplicadas e em seguida será possível gerar uma planilha Excel com os dados ou um
relatório. Para a primeira opção, deve-se clicar em: “dados”; “exportar”; selecionar
arquivo “.csv”; nomear o arquivo; salvar no diretório desejado. Já para o relatório,
deve-se clicar em: “dados”; “gerar relatório”; selecionar arquivo “.doc” (Word); nomear
o arquivo; salvar no diretório desejado.

Para abrir a planilha gerada, abra o Excel e depois clique em “arquivo” e no tipo
de arquivo peça para mostrar “todos os arquivos” ou arquivos de texto. Na planilha os
valores de tensão (MPa) são fornecidos, bem como os dados do deslocamento do
cabeçote (encoder), que devem ser somados ao comprimento inicial em cada ponto
∆𝐿
para se obter o comprimento instantâneo e, assim, calcular a deformação (𝑒 = =
𝐿0
𝐿𝐹 −𝐿0
).
𝐿0

Por fim, deve-se desligar a máquina de tração apertando o botão vermelho na


frente do painel de carga (Figura 5.6 (d)) e voltando as 3 chaves (utilizadas para ligar)
para a posição inicial (Figuras 5.6 (d), (c) e (b)).

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11. Referências Bibliográficas

BHADESHIA, H., HONEYCOMBE R. Steels: Microstructure and Properties. Editora


Hardcover, 2006, 360 p.
CALLISTER JR., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. Editora
LTC, 2012, 844 p.

CHIAVERINI, V. Aço e Ferros Fundidos. Editora ABM, 2012, 599 p.

COLPAERT, H. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns. Editora Edgard


Blucher, 2008, 672 p.

KRAUSS, G. Steels: Processing, Structure, And Performance. Editora Hardcover,


2005, 613 p.
SOUZA, S. A. Ensaios Mecânicos dos Materiais Metálicos. Editora Edgard Blucher,
2004, 304 p.

Norma ASTM E-140

Norma ABNT/MB-4

Norma ASTM E8

Norma ASTM A255

Norma ABNT NBR 6339:1982

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